AVIAÇÃO NAVAL BRASILEIRA

Beechcraft Model 18 / D18S

Aerofotogrametria


A e r o n a v e s

D18S

2830*

* ver observações no texto


E s p e c i f i c a ç ã o   o r i g i n a l

Origem: EUA (Beech Aircraft Corp.)
Dimensões: comprimento: 14,52 m; envergadura: 10,43 m; altura: 2,79 m; Superfície alar: ___ m2.

Pesos: vazio: 2.494.76 kg; máximo na decolagem: 3.968,93 kg.

Motores: dois motores radiais Pratt & Whitney R-985-25 "Wasp junior" de 9 cilindros, desenvolvendo 450 HP, refrigerado a ar.

Desempenho: velocidade máxima: 331,5 km/h; velocidade de cruzeiro: 317 km/h, velocidade de pouso: 104,61 km/h; razão inicial de subida: ____ m/min; teto de serviço: 6.096 m; Alcance: 1.609 km.
Armamento: ausente.

Tripulação: dois pilotos e até 8 tripulantes na cabina principal


H i s t ó r i c o

Projeto e desenvolvimento

Walter H. Beech foi um dos vários personagens dos primórdios da aviação. Em 1924-1925, juntou-se com os projetistas Lloyd Stearman e Clyde Cessna para fundar a empresa Travel Air Manufacturing. No início da década de 1930, Beech deixou a vice-presidência da Travel Air Manufacturing para criar sua própria empresa de construção aeronáutica. A Beech Aircraft Corporation foi fundada em 1932 em parceria com a sua esposa Olive Ann Beech (1) e tendo a ajuda do projetista Ted Wells.

 

O primeiro projeto da jovem empresa era uma aeronave de ligação rápida e potente para atender executivos privados. O projeto recebeu o nome Beech Model 17 e o primeiro exemplar voou em novembro de 1932. Posteriormente, outras variantes dessa aeronave foram produzidas.

Enquanto os primeiros exemplares do Model 17 eram fabricados, a Beech já planejava uma aeronave de maior porte. Designado Model 18, o avião era um bimotor monoplano de asa baixa, de construção metálica semi-monocoque, para seis passageiros e dois pilotos. Com exceção da deriva dupla, o desenho era bastante convencional para a época e manteve-se basicamente inalterado ao longo dos mais de trinta anos de fabricação. Por outro lado, a motorização sofreu várias modificações com o tempo, sempre buscando o aumento da carga útil e uma maior velocidade.

O protótipo voou pela primeira vez em 15 de janeiro de 1937. O avião não despertou muito interesse nos EUA inicialmente, mas foi um sucesso imediato no Canadá, onde foi adquirido por companhias aéreas de transporte. Ainda na década de 1930 o modelo foi aperfeiçoado e cinco versões diferentes surgiram com três tipos de motores (Wright, Jacobs e Pratt & Whitney) (1).

Os primeiros modelos de uso militar foram exportados para as Filipinas, onde foram equipados especialmente para missões de aerofotogrametria. Também a China interessou-se pelo Model 18 e adquiriu alguns exemplares modificados para bombardeiro leve. Com o início da II Guerra Mundial as encomendas pelo Model 18 dispararam. A USAAF, principal usuário do Model 18, adquiriu diferentes versões (1). As principais eram o C-45 (ligação e transporte), o AT-7 (treinamento de navegação), o AT-11 (bombardeiro de treinamento) e o F2 (fotografia e reconhecimento).

A construção e o aprimoramento do projeto continuaram após término da guerra. Em 1945 surgiu a primeira versão comercial do pós-guerra denominado Model D18S. Esta versão estava equipada para transportar oito passageiros, possuía um alcance maior e aumento da carga útil (1).

Na Marinha do Brasil

Após o encerramento da II Guerra Mundial, a Marinha retomou seus trabalhos de cartografia para a confecção de cartas náuticas, muitas delas de origem estrangeira e baseadas em levantamentos muito antigos (2). Necessitando de levantamentos aerofotogramétricos e não dispondo de aeronaves, a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), Organização Militar da Marinha responsável pelos levantamentos hidrográficos no Brasil, firmou contratos com empresas civis especializadas.

No entanto, os serviços privados não atendiam à contento as necessidades da Marinha. A DHN resolveu então adquirir sua própria aeronave em 1946 (2). O avião escolhido foi um Beechcraft Model 18 da primeira série de construção do pós-guerra (A-1 a A-1035). Pelo número de construção (A-125) e o ano de aquisição (1946), acredita-se que o mesmo tenha sido adquirido diretamente do fabricante.

modelo

nº do fabricante

Matrícula FAB* - 

data da entrega

Data da 

baixa

Beechcraft D18S

A-125

2830 - ??/??/1946(?)

04/11/1952

A princípio a aquisição ocorreu sem maiores problemas ou impedimentos por parte do Ministério da Aeronáutica. O problema surgiu na hora de registrar a aeronave no Brasil. A mesma não poderia constar no RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro), pois não era uma aeronave civil. Por outro lado também não poderia se registrada como aeronave militar, pois não era de propriedade da FAB, única operadora de aviões militares no Brasil naquela época.

Uma solução completamente esdrúxula, porém totalmente conciliadora, foi encontrada entre os dois ministérios. O avião foi entregue ao Ministério da Aeronáutica, onde recebeu designação (UC-45F) e matrícula (2830) militar. A operação também ficou a cargo da FAB, embora a aeronave fosse propriedade da Marinha (2).

Em relação à designação adotada pela FAB (UC-45F), cabe o seguinte esclarecimento, cujo propósito é evitar confusões. Esta designação era comumente adotada pela USAAF durante a guerra para os modelos C18S, do qual mais de 1.000 foram encomendados (3). O modelo D18S adquirido pela Marinha não possui relação com o modelo UC-45F da USAAF.  

 

A aeronave trabalhou nos levantamentos aerofotogramétricos da Baía de Guanabara, entre o litoral de Búzios e Cabo Frio, na Enseada de Jacuacanga (Ilha Grande, local onde afundou o encouraçado Aquidabã)  e no braço norte do Rio Amazonas. Este último, um dos trabalhos mais árduos e difíceis até então executados pelo DHN, ocorreu entre os anos de 1952 e 1955, e foi executado pelo antigo NHi Rio Branco (4). Em face a todas estas dificuldades no levantamento do braço norte do Rio Amazonas, a utilização do Beech D18S era essencial. No entanto, o mesmo participou apenas dos trabalhos iniciais. Em uma das viagens de retorno do Amapá para o Rio de Janeiro a aeronave acidentou-se com perda total.

Com a perda do único Beechcraft D18S, a Marinha ficou novamente sem aeronave. Para tapar a lacuna deixada, a FAB passou a atender a DHN com aeronaves B-17G. 


P e r d a s / A c i d e n t e s / B a i x a s

04 nov. 1952 O Beechcraft D18S, matrícula 2830, decolou de uma escala em Belo Horizonte com destino ao Aeroporto de Santos Dumont. As condições meteorológicas sob o Rio de Janeiro eram ruins e a aeronave, já durante os procedimentos de pouso, colidiu com a Serra da Estrela. Morreram no acidente um tenente aviador, um sargento mecânico (ambos da FAB) e dois funcionários civis do DHN (2).


F o t o s

A única foto conhecida do D18S, tirada em Macapá FOTO: INCAER


P e r f i l 

Acredita-se que a aeronave possuía toda sua superfície com acabamento em metal polido e as cores nacionais na deriva. Possivelmente a identificação do modelo e a matrícula também ficassem na deriva, conforme padrão da FAB. Porém, a insígnia e outras marcações típicas da FAB não devem ter sido aplicadas.


B i b l i o g r a f i a

 

(1) TAYLOR, M. J. H. (Ed.) Jane's Encyclopedia of Aviation. Crescet Books. Nova York, 1989. p.124-125

(2) INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA. Parte IV - Discordância doutrinária. In: História Geral da Aeronáutica Brasileira. GR3 comunicação & design, Rio de Janeiro: 2005. v. 4, p. 402-403.

(3) NATIONAL MUSEUM OF THE USAF. Beechcraft UC-45F. disponível em:  <http://www.nationalmuseum.af.mil/factsheets/factsheet.asp?id=3336>, acesso em 14 jan. 2008.

(4) VIDIGAL, A. A. F., et all. Amazônia Azul, o mar que nos pertence. Ed. Record, Rio de Janeiro: 2006. p . 220.