Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores britânico afirmou nesta quinta-feira que o governo respeita o direito do Brasil de negar acesso portuário a um navio da Real Marinha que faz o patrulhamento das ilhas Malvinas, território disputado entre britânicos e argentinos.

O Brasil não concedeu autorização diplomática para o navio britânico HMS Clyde fazer uma parada no Rio de Janeiro, no início do mês.

“Respeitamos o direito do Brasil de tomar esta decisão”, afirmou o porta-voz, tentando minimizar o incidente que aconteceu poucos dias depois da posse da nova presidente Dilma Rousseff.

O porta-voz afirmou ainda que o Reino Unido tem “uma estreita relação com o Brasil” e que o tratado de cooperação bilateral em termos de defesa assinado em setembro passado pelos governos de ambos países é “um bom exemplo dos sólidos vínculos atuais”.

Em Buenos Aires –que disputa a soberania das Malvinas com Londres–, o chanceler argentino Héctor Timerman destacou, por sua parte, o gesto do Brasil, alegando que o mesmo se devia às boas relações existentes entre os dois países.

“Essa medida mostra nossa relação tão próxima e faz parte de uma aliança estratégica e de irmandade, que não apenas é demonstrada através do comércio, como também através deste reconhecimento da soberania argentina sobre as ilhas”, declarou Timerman à rádio América.

PRIMEIRA VEZ

Segundo o governo britânico, o barco HMS Clyde, que trabalha permanentemente na proteção das ilhas, foi forçado a reprogramar sua rota e, em troca, fez uma parada no Chile, onde a Marinha Britânica “segue desfrutando de boas relações”.

Londres confirmou que essa foi a primeira vez que o Brasil negou a permissão para um navio inglês entrar em um de seus portos. As ilhas Malvinas –conhecidas na Inglaterra como ilhas Falkland–, são um território inglês, pela qual a Argentina reclama posse desde o século 19.

A imprensa britânica comentou que a atitude brasileira é “um indicativo” sobre o novo governo da presidente Dilma, que segundo eles, apoia a Argentina na soberania das ilhas Malvinas.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou na quarta-feira que a decisão do governo brasileiro é “padrão”. Segundo ele, o Brasil tomou essa medida porque reconhece a soberania da Argentina sobre as Malvinas. Na véspera, o Itamaraty informou a permissão para que navios britânicos atraquem em portos brasileiros será tomada caso a caso.

Em 1982, Argentina e Reino Unido travaram uma guerra por seu domínio e, mesmo que o Reino Unido tenha sido vencedor, o governo argentino ainda reclama seus direitos sobre as ilhas.

Em 2006, a Argentina pediu aos países vizinhos que não facilitassem o uso de portos e aeroportos a navios ou aeronaves britânicas com destino ao disputado arquipélago do Atlântico sul.

Desde o ano passado, a tensão entre ambos países se reativou devido aos exercícios militares britânicos e pelo início da prospecção petroleira nessa zona, que a chancelaria argentina considerou na semana passada como “um obstáculo intransponível” para a continuidade dos acordos bilaterais nas Malvinas.

Em setembro passado, ocorreu um incidente similar no Uruguai, cujo governo também negou o acesso ao porto de Montevidéu para abastecimento do navio HMS Gloucester, que se dirigia para patrulhar as Malvinas, dentro dos esforços uruguaios para melhorar suas relações com a Argentina.

FONTE: Folha de São Paulo / France Presse

NOTA DO PODER NAVAL: Em nossa opinião, a decisão brasileira é completamente equivocada. Nós podemos apoiar a discussão sobre a soberania das Malvinas, sem tomarmos partido e prejudicarmos um lado.

Se o Reino Unido resolver, por exemplo, embargar peças de reposição para aeronaves e navios brasileiros que são de procedência britânica, a Marinha do Brasil será imensamente prejudicada. O Brasil depende muito mais do Reino Unido que da Argentina.

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GUPPY

A declaração oficial do governo inglês sobre o episódio é inteligente, diferentemente da reação italiana ao caso Batistti, porque mantem-se bem com o Brasil e continua com amplas possibilidades de nos vender muitos navios e outros equipamentos militares assim que formos às compras.

Antonio M

Apesar da esquizofrenia que tomou conta do Itamaraty no atual governo, os casos italiano e inglês são bem diferentes. No caso italiano, o Brasil rompeu um tratado formal de extradição entre os dois países devido à amizade e empatia ideológica de integrantes do atual governo com o sr. Battisti. Mas isso ainda não acabou. Os ingleses estão sendo pragmáticos pois o Brasil poderia optar pela recusa devido a uma posição em relação ao conflito já tomada e conhecida bem antes do acontecimento envolvendo a referida embarcação. E se os ingeleses quiserem retaliar o Brasi futuramente, será com o mesmo pragmatismo… Read more »

Elizabeth

Na pratica muda algo nas relações com o governo inglês? Nada, os ingleses como adultos que são, sabem bem reconhecer um adolescente e suas crises de identidade. Não haverá retaliação tão pouco qualquer tipo de aprofundamento do tema. Afinal porque os ingleses irão perder qualquer tipo de contrato com o governo brasileiro em troca de uma besteira destas. E com o governo argentino? Nada, já fizemos sacrificios politicos maiores pelos argentinos no passado e nada tivemos em troca. Quando muito é assunto de uma ou duas semanas para o governo de Buenos Aires explorar. No foclore politico argentino é mais… Read more »

GUPPY

É que eu não gostaria que o Brasil fosse preterido quando as Type 23 forem disponibilizadas. Até as Type 22 Batch 3 servem e é bom estarmos bem com os britânicos senão o Chile ou outro leva.
Abs

Cinquini

Senhoras e senhoress, Na época do meu Trabalho de Conclusão de Curso eu cheguei a pesquisar algo sobre questão parecida. O que ocorre é que na política externa se por um acaso você dá abrigo a uma embarcação estrangeira e, mesmo sem saber, essa embarcação sai do seu porto e ataca outra embarcação ou país, esse país a qual cedeu o uso do porto para parada técnica acaba se tornando co-autor da ação beligerante e podendo sofrer sanções internacionais ou militares da nação agredida. Na política externa nada é simples, e os nossos amigos britânicos, que fazem guerra desde o… Read more »

daltonl

Cinquini… o que vc escreveu acima, por acaso não seria válido se houvesse hoje um estado de guerra entre britanicos e argentinos ? Algo semelhante ao que aconteceu ao “Graf Spee” quando entrou em Montevideu ? No mais, a probabilidade de alguém atacar alguém, é quase nula aliás, este navio só está por estas bandas devido a invasão argentina de 1982, então, não haveria problema em receber o navio britanico do ponto de vista que vc analisou. Preferiria que ficassemos neutros nesta questão, mas o governo brasileiro já manifestou sua opinião, então, não trata-se de uma precaução legal e sim… Read more »

GHz

Endosso que não vai mudar nada nas nossas relações com os britânicos.
O Brasil tem apoiado o pleito argentino pelas Falklands/ Malvinas pelo menos desde a reaproximação entre os países nos governos Figueiredo-Videla.
Se nem o empréstimo de Bandeirulhas brasileiros para a Argentina durante o conflito de 1982 estremeceu a nossa diplomacia com eles, não vai ser este episódio de agora.

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GHz

GHz

“com eles” = com os ingleses.

Cesar

Foi a Argentina que invadiu as Malvinas em 82, foi o país agressor, fruto da decisão de um regime militar combalido, liderado pelo general alcoólatra Leopoldo Galtieri. Os ingleses contra-atacaram, ganharam o conflito e mantiveram o domínio das Falklands. O Brasil apoiou veladamente a Argentina, enquanto os chilenos foram mais “abertos” no apoio aos britânicos. Há um episódio interessante, no qual o Brasil agiu sabiamente, que foi a interceptação e retenção do bombardeiro Vulcan no Rio de Janeiro, durante o conflito. O Brasil sofreu pressões da Argentina para entregar o Vulcan e o seu armamento, mas o reteve até o… Read more »

Rafael Oliveira

apoio alegremente uma postura mais firme apoio uma aliança regional devemos sim tomar partidos a fim de ajudar nossas soberanias estrategicamente não é legar ter terras inglesa aqui no nosso estreito do sul onde é muito importante, a NOTA DO PODER NAVAL sim é muito bem valida mas já está na hora de nos começarmos a desenvolver e criar sistemas completamente independentes.
já o Chile não tem meu apoio nem meu respeito por suas atitudes traiçoeiras, espero que o Chile perca todo território conquistado da Bolívia.

Mateo Munoz

seria conveniente acabar sim com essa milonga de confundir maliciosamente as dificuldades financeiras de uma Nação com o sentimento patrio. Gostaria ver o que o Brasil faria, mesmo com as dificuldades atuais, se o arquipelago de Fernando de Noronha posse colonia inglesa… kkkkkk que me dizem…