ABIMDE prevê investimentos de 120 bilhões em Defesa no Brasil até 2030

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Associação quer ampliar a participação da indústria brasileira nesse montante, visando dobrar o número de empregos e avançar ao 15º lugar no ranking mundial do setor. O Poder Naval esteve na apresentação dos planos da ABIMDE, em São Paulo, e traz os detalhes para você.

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Hoje, se todas as empresas brasileiras do mercado de defesa fossem somadas, não chegariam a ocupar o 80º lugar no ranking mundial do setor. E boa parte dessa soma é representada pela Embraer, que está na 87ª posição (pesquisa Defense News Top 100). A ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) trabalha para que, até 2030, a soma das nossas empresas do setor alcance o 15º lugar, mantendo no Brasil uma parcela cada vez maior dos investimentos que, no longo prazo, podem alcançar 120 bilhões de reais.

Como? Por meio de estratégias que estão sendo desenvolvidas junto ao Governo, e que a Associação apresentou num encontro realizado na quarta-feira, 6 de dezembro, no Centro Cultural da Marinha em São Paulo. Os editores do Poder Naval e revista Forças de Defesa, Alexandre Galante e Fernando “Nunão” De Martini, estiveram presentes ao evento em que também foi feita uma homenagem a Ozires Silva, um dos fundadores (e ex-presidente) da Embraer.

Antes da apresentação e da homenagem, jornalistas, profissionais ligados ao setor de Defesa, além de militares da ativa e da reserva aproveitaram para trocar experiências e contatos, enquanto provavam o “brunch” no salão do Centro Cultural e ouviam o marinheiro Souza ao violino, que entre outras peças tocou o “Cisne Branco”.

Mais tarde, enquanto se realizava a homenagem a Ozires Silva no térreo, a imprensa especializada assistiu no andar superior à apresentação do presidente da ABIMDE, Orlando José Ferreira Neto (também vice-presidente da Embraer Defesa e Segurança).

 

Na apresentação, Orlando destacou que o setor de defesa no Brasil está em ascensão. Apesar dos cortes no orçamento da Defesa de 2011 (contingenciamento liberado há pouco), que fizeram recuar o nível de investimento em relação a 2010, a perspectiva é que os investimentos sejam retomados em 2012 e superem os atuais em 6 a 8% (mesmo levando em conta contingenciamentos que normalmente ocorrem todos os anos). Assim, pode-se pensar em aproximadamente 14 bilhões de reais em investimento no ano que vem, para um orçamento total do Ministério da Defesa superior a 60 bilhões.

Esses números são importantes, mas o que a ABIMDE planeja é que, a cada ano, uma parcela maior desses recursos beneficie as empresas nacionais do setor. Para isso, trabalhou a favor da Medida Provisória (MP) 544, de setembro deste ano (um desdobramento do Plano Brasil Maior para aumento da competitividade industrial brasileira).

O processo de regulamentação da MP deverá trazer algumas mudanças, mas para a Associação a base do texto, que caracteriza o Produto Estratégico de Defesa e a Empresa Estratégica de Defesa, já começa a funcionar como marco regulatório para o mercado. Com isso, e com a nivelação da tributação interna frente às isenções de impostos para importações de material de defesa, espera-se que a base da pirâmide da nossa “Base Industrial de Defesa”, onde está a Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D), seja reforçada. Para saber mais sobre o processo político envolvido na MP 544, veja entrevista exclusiva com o líder da Frente Parlamentar de Defesa na revista Forças de Defesa nº3.

Para o reforço da base da pirâmide, a palavra-chave é inovação: porque não faz sentido empresas brasileiras desenvolverem e entregarem às Forças Armadas produtos que não sejam adequados ao nível tecnológico que estas necessitam. Esses produtos também devem ser avançados e competitivos internacionalmente, para ir além da substituição de importações e conquistar mais clientes internacionais, gerando assim mais escala e capacidade de investimento privado em P&D. Esse investimento privado vem crescendo, mas é pouco quando comparado ao de outros países. E, levando-se em conta que cada real investido em defesa (segundo a Embraer) gera dez vezes esse valor em divisas de exportação, é imprescindível ampliar esse potencial. Como exemplo de retorno, foi mostrado o programa AMX e a aplicação dual das tecnologias envolvidas. O conhecimento em integração de sistemas e tecnologia “Fly-by-Wire” desse programa militar, mesmo levando vários anos até atingir o retorno, contribuiu para o desenvolvimento de aeronaves civis que se tornaram sucessos de exportação.

 

 

Assim, há estratégias sendo desenvolvidas junto ao Governo para ampliar o grau de inovação na indústria de defesa brasileira. A princípio, o Estado age como indutor dessa inovação, para em seguida dar cada vez mais lugar ao investimento privado em P&D, com o aumento no número de empresas inovadoras. Entre as prioridades para inovação, estão sistemas e softwares – ou seja, tirar o principal foco de desenvolvimento do “material bruto”(o casco do navio, a estrutura do avião, o chassi e a carroceria da viatura de combate), embora sem deixar de lado sua importância, e investir mais em sistemas de controle e navegação (por exemplo, para Aeronaves Remotamente Pilotadas – ARP), sensores, na criação de nossos próprios códigos-fonte para os produtos locais, o que mantém o controle nacional das futuras modernizações e integrações tanto nos produtos utilizados pelas nossas Forças Armadas quanto nos equipamentos exportados.

Os objetivos para médio e longo prazo levam em conta projeções baseadas em planos de reequipamento das Forças Armadas que não podem mais ser adiados, e nas possibilidades que a indústria brasileira tem para conquistar parte desses contratos. Nos próximos 20 anos, os investimentos no setor devem somar 120 bilhões de reais (40 bilhões em programas já anunciados – veja mais clicando nas imagens mostradas nesta matéria). Com a ampliação da participação nacional nesse bolo, até 2020 o objetivo é passar dos atuais 25.000 empregos diretos (e 100.000 indiretos) do setor de Defesa para 48.000 diretos e 190.000 indiretos. E, para 2030, as expectativas são de 60 mil empregos diretos e 240 mil indiretos.

São planos para trazer resultados a médio e longo prazo, mas e no curto? Perguntado sobre como estão sendo encarados os desafios atuais, levando em conta a atratividade do mercado para empresas internacionais (ainda que buscando parcerias locais) que também focam nas prioridades dos grandes eventos dos próximos anos (Copa, Olimpíadas), Orlando disse que a perspectiva da ABIMDE não é ingênua. É inevitável que boa parte do investimento beneficie empresas estrangeiras, para responder a necessidades que a indústria nacional não tem hoje condições de atender. Mas assegurou que a briga é acirrada no curto prazo para se conquistar os benefícios no médio e no longo.

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