Ainda em 2012, a USP terá à sua disposição duas novas embarcações para estudos oceanográficos: o Alpha Crucis e o Alpha Delphini. Os recursos que possibilitaram as aquisições vêm da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O Alpha Crucis foi comprado nos Estados Unidos e, no último dia 30 de março, saiu de Seattle, onde passou por reformas e adaptações, rumo ao Brasil. A previsão é de que o navio chegue ao Porto de Santos no dia 10 de maio.

O Alpha Crucis irá substituir o navio oceanográfico Prof. W. Besnard, do IO, construído em 1967, na Noruega, e que está fora de operação. A nova embarcação pertenceu à Universidade do Havaí e seu nome original era Moana Wave. Na página do IO, é possível acompanhar, em tempo real, a viagem do navio ao Brasil (http://www.io.usp.br).

O diretor científico do Conselho Técnico Administrativo da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, conta que o processo de compra teve início em 2010, atendendo a um projeto de pesquisa do IO para aumentar a capacidade de pesquisas oceanográficas. Brito Cruz estima que o Alpha Crucis esteja em operação no Brasil ainda neste primeiro semestre.

Em relação os custos da embarcação, os recursos da Fapesp investidos na reforma giraram em torno de US$ 7 milhões. A USP investiu US$ 4 milhões em equipamentos para a modernização do navio.

O diretor do IO, Michel Michaelovitch de Mahiques, destaca algumas das reformas que foram realizadas na embarcação. “O Alpha Crucis ganhou um sistema de posicionamento dinâmico que é totalmente controlado por computadores. Independentemente das correntes marinhas ou dos ventos, a embarcação pode manter sua posição por um longo tempo. Trata-se de um recurso que o Prof. W. Besnard não tinha”, afirma o professor. Este sistema é viabilizado por hélices instaladas na proa (parte da frente) do navio e lemes independentes.

Maior capacidade

Além do novo sistema de posicionamento, o Alpha Crucis terá uma autonomia maior em relação ao Besnard. O navio reúne condiçõespara navegar por até quarenta dias. “Isso significa, por exemplo, que a embarcação poderá fazer uma travessia até a África”, esclarece Mahiques. A autonomia do Prof. W. Besnard era de apenas quinze dias.

A tripulação será composta por 18 pessoas e até 21 pesquisadores poderão ocupar o navio durante as viagens. A reforma incluiu também a modernização dos 16 camarotes da embarcação e dos quatro laboratórios. O aumento de capacidade está atrelado a outras melhorias e adaptações. O navio já tem instalados sistemas acústicos que permitem estudos em recursos pesqueiros, além de medidores de velocidades de correntes.

Há, ainda uma ecossonda multifeixe, que permite o mapeamento do relevo do fundo do mar. “Certamente, a aquisição do Alpha Crucis representa um salto qualitativo nas pesquisas oceanográficas, não apenas do IO, mas também de outras Unidades da USP e do país”, aponta Mahiques. “O navio já está devidamente identificado com os logotipos da USP e da Fapesp”, comemora.

Com 64 metros de comprimento por 11 de largura, o navio pode deslocar até 972 toneladas e possui novos guinchos. “A embarcação viabilizará as pesquisas em águas profundas, em bacias oceanográficas que atinjam até seis mil metros. Será útil, com certeza, em pesquisas na área do pré-sal. Ao mesmo tempo, também poderá ser usado em pesquisas e estudos em águas mais rasas, entre o litoral e o oceano. Aliás, esse tipo de estudo sempre foi uma tradição no IO”, diz Mahiques.

Trabalho intenso

Mesmo antes de chegar ao Brasil, o diretor estima que o Alpha Crucis terá uma intensa demanda. Afinal, a utilização da embarcação não será exclusividade do IO. “Todas as Unidades da USP e de outras Universidades que realizem estudos e pesquisas no mar estarão aptas a utilizar o Alpha Crucis. Claro que nosso  Instituto, por definição, tem maior vocação para pesquisas marinhas, mas parcerias são mais do que bem vindas”, avalia.

O diretor adianta que a primeira viagem do Alpha deverá atender a um projeto de pesquisa de fluxo de carbono do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Caracterização Ambiental e Avaliação dos Recursos Biogênicos Oceânicos da Margem Continental Brasileira-INCT-Carbom. Este INCT tem a coordenação  do professor do Instituto, Frederico Brandini, que também preside o comitê gestor de embarcações  que analisará as demandas e solicitações do navio.

Mahiques destaca também o trabalho

desenvolvido pelos Núcleos de Apoio às Pesquisas (NAPs) da Pró-Reitoria de Pesquisa, principalmente os que congregam o IO, a Escola Politécnica, o Instituto de Geociências (IG) e o Instituto de Astronomia,  Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), além de projetos da Fapesp já aprovados e que contam com recursos para a utilização do navio.

Nesse sentido, o pró-reitor de Pesquisa, Marco Antônio Zago, afirma que um conjunto de medidas convergentes está sendo adotado “para dar um novo status para as pesquisas ocanográficas”. Dentro da proposta dos projetos dos NAPs, estão sendo adquiridos três glides, modernos sistemas de comunicação para navegação.

Totalmente brasileiro

Enquanto o Alpha Crucis será utilizado na maior parte do tempo em pesquisas de águas profundas, o barco Alpha Delphini cobrirá a lacuna entre a costa e cerca de 200 metros de profundidade. O barco deverá estar disponível para utilização em julho deste ano.

A embarcação terá tripulação de seis pessoas, com capacidade para abrigar até 12 pesquisadores em seus 25 metros de comprimento. Estima-se que a embarcação possa ter custo final entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões.

Mahiques ressalta que, com estas duas embarcações, “a USP atinge um patamar que nenhuma outra universidade brasileira tem. Certamente, quem ganha com esses investimentos é a comunidade científica.” Para Brito Cruz, a iniciativa tornará o Brasil mais competitivo em relação às pesquisas e estudos  oceanográficos.

A aquisição do Alpha Crucis e do Alpha Delphini vai cobrir uma lacuna de três anos sem pesquisas de campo em oceano aberto, desde que o Prof. W. Besnard foi retirado de suas atividades.

Uma história

Entre 1967 e 2008, o navio oceanográfico Prof. W. Besnard serviu a USP em suas pesquisas no mar. Seus 50 metros de comprimento e novembro de largura abrigam uma história acumulada em cerca de nove mil estações  oceanográficas. O que se discute agora é o destino da embarcação.

De acordo com Mahiques, existem duas possibilidades. A primeira delas seria manter o navio no Museu Marítimo de Santos. “Para isso, a USP teria de doar a embarcação à Prefeitura de Santos. Contudo, continuamos aguardando uma manifestação formal pela administração municipal daquela cidade”,  conta.

A outra possibilidade que ainda está em discussão seria o afundamento controlado da embarcação. “Esse procedimento possibilitaria a criação de um recife artificial para colonização de peixes. Também seria gerado um produto paralelo: o turismo de mergulho” estima. Esse processo, no entanto, custaria  segundo o diretor, “alguns milhões de reais”. “Teríamos os custos de reboque do navio, da limpeza dos tanques e da retirada de toda a fiação elétrica”, descreve. Atualmente, o Prof. W. Besnard está atracado  em frente ao Armazém 8 da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que vem sendo objeto de negociação entre a USP e a entidade.

Para manter o navio em condições mínimas de manutenção, o IO mantém na embarcação uma tripulação de seis pessoas. “Mesmo parado, o navio precisa ser cuidado. Seus geradores e ar condicionado precisam  ser mantidos em funcionamento, assim como a as condições de preservação do casco”, afirma.

Uma nova base oceanográfica

As negociações entre a USP e a Codesp para a cessão do Armazém 8 vêm sendo feitas desde agosto de 2010. O acordo, que ainda está em análise, estabelece a cessão da área à USP por 25 anos, com possibilidade de renovação por igual período. Mahiques antecipa que já há um projeto arquitetônico para a instalação de  uma base oceanográfica do IO. A nova Unidade será diferente das que o Instituto mantém nas cidades de Ubatuba e Cananeia. “A base do Armazém 8 servirá como importante apoio às atividades dos navios e também envolverá atividades de pesquisas”, diz.

Outro motivo que o professor considera positivo para a cessão da área é que o projeto vem de encontro à iniciativa da Prefeitura de Santos de modernização e ampliação do  Porto de Santos.

FONTE: USP Destaques, boletim da Assessoria de Imrpensa da Reitoria

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