‘Brasil será muito maior do que é hoje como nação’

José Alberto Accioly Fragelli: almirante de esquadra; Fragelli acredita que veículo nuclear ajudará o País a conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU

O almirante de esquadra reformado José Alberto Accioly Fragelli dedicou mais de 50 dos seus 72 anos à Marinha. Especialista em cartografia, vivenciou o entusiasmo do início do programa nuclear da força de Submarinos da Marinha, em 1979, e a frustração das décadas de 80 e 90, quando o projeto quase foi perdido com a falta de verba. Em 2008, aceitou o desafio de tirar do papel o antigo sonho do submarino nuclear certo de que não haverá mais decepções. “Hoje, só há otimismo na Marinha”, disse, ao receber o Estado no Arsenal de Marinha, no Rio. Para ele, o programa mudará o papel geopolítico do Brasil.

Qual a principal vantagem do submarino nuclear?

O nuclear atinge grande velocidade por tempo ilimitado. O combustível, que vai dentro do reator, pode levar de 6 a 10 anos para ser consumido. Contar com a propulsão nuclear significa evoluir da estratégia de posição para a de mobilidade, ampliando a capacidade de estar presente em qualquer área de interesse da Marinha. O único limite é o humano. A tripulação teria que ter um preparo muito forte para suportar meses submersa.

Qual seria o número ideal de submarinos nucleares ao Brasil hoje?

Quanto mais, melhor. Não há dúvidas de que o Brasil está crescendo. O mar terá cada vez mais importância pelo comércio exterior e a produção de petróleo. O submarino é uma grande arma para dominar o mar. E é seguro.

O senhor sente segurança na manutenção dos recursos para o cumprimento de todo o cronograma até o submarino nuclear?

O Brasil começou esse projeto em 1979 pela parte principal, o combustível. Depois, o País enfrentou uma situação econômica muito difícil, que afetou a Marinha. As verbas foram muito reduzidas. Hoje, graças à visão estratégica do presidente Lula e do comandante Júlio de Moura Neto, o programa não é da Marinha ou do governo, é do Estado brasileiro. Foi assinado pelos dois presidentes da França e do Brasil. Se Deus quiser, teremos tudo o que for necessário.

O submarino nuclear vai modificar a posição geopolítica do Brasil? Ajuda a conquistar um assento no Conselho de Segurança da ONU?

As duas coisas. Não é à toa que os cinco países do mundo que têm submarino nuclear são os que têm assento permanente no conselho. Quando o Brasil se tornar o sexto, será muito maior do que é hoje como nação, do ponto de vista militar e estratégico. Vai ter meios sólidos de reivindicar a cadeira no conselho.

Doze anos para chegar ao nuclear não é muito tempo? Outros países não podem chegar na frente?

Se tiverem capacidade. Mas quem hoje tem essa capacidade? Alemanha e Japão não podem por causa da Segunda Guerra. Nenhum outro país controla o enriquecimento de urânio como nós. A Índia também está nessa corrida, mas há informações de problemas e atrasos.

FONTE: O Estado de São Paulo, via NOTIMP

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Robson Br

Interessante: quem está dentro do processo estão todos animados. Não entendo tantas críticas ao modelo tecnológico para concluir o projeto do Sub-nuclear brasileiro. Parabéns MB pela dedicação e persistência nestes todos anos.

Colt

Bom dia a todos.
O submarino nuclear é uma arma formidável. E também caríssima para operar. Parece que o U-214 é uma arma superior ao Scorpene. Se isso for correto a troca dos Subs alemães pelos franceses pode ser mal negócio.
O que os amigos do blog podem informar a respeito dessa diferença de eficácia entre essas armas? Sabem de reportagens a respeito?
[]s

Guilherme Poggio

Colt – aqui no blog tem várias. É só digitar a palavra no buscador e pesquisar.

Colt

OK. Valeu Poggio.
http://www.naval.com.br/blog/?p=2011
Se o U-214 é mais eficaz que o Scorpene é um mal negócio abandonar a parceria de anos com os alemães, um sub muito bem avaliado no exterior e trocar tudo isso pelo Scorpene. Me parece que essa troca, para ter apoio dos franceses para o sub nuclear no FUTURO, e não ter o melhor sub convencional do PRESENTE (sendo que podemos tê-lo – (U-214), é um erro de estratégia.
Que acham?

joao vaz bandeira

Colt, em razão de restrições pós guerra, a Alemanha não está autorizada a desenvolver submarinos nucleares, dai a opção pelo modelo frances

RL

Poxa, Colt, ai você deixa muita gente no velho e interminável dilema.

Scorpene ou U-214?

Sinceramente? Acredito que nem mesmo o mais especialista sobre o assunto poderia “acertar” na resposta.
Penso que pela complexidade do cenário que envole o tema, tanto pelo lado político, militar e os interesses nacionais e internacionais, cenários interno e externo, uma das respostas que eu daria seria..

OS DOIS….

Scorpene e U-214.
Ou no caso dos Alemães algumas unidades de um Tikuna com tecnologias do U-214.

Robson Br

Infelizmente ou felizmente para o projeto da MB tem que ser o Scorpene, pois o IKL U-214 não atende os requesitos dos novos projetos.
Como disse o almirante o casco arrendondado do frances atende ao projeto do novo subnuclear, apesar de ser um pouco menor. O sub não é so o casco, é também sistema. A vantagem do frances é a oportunidade de desenvolver um scorpene made in brasil, como foi quase o Tikuna.

Dunga

É estranho num pais que não possui uma marinha moderna, atualizada, e principalmente com equipamentos (navios, avioes e helicopteros)funcionando a plena capacidade (está tudo com restrições, 44% da Marinha não funciona e está parado em algum lugar e os 56% estão com variações de restrições), ficarem sonhando com submarino nuclear. É preciso investir em navios modernos (fragatas, corvetas, navios tanque, navios de apoio logistico, navios anfibios, submarinos convencionais, patrulhas oceanicos, e principalmente ter um míssil dentro de um navio de guerra que funcione ou esteja pronto para isto, ter a propulsão por turbinas nas fragatas ( Niteroi e Greenhalg) que… Read more »

joão

Gastaram tanto dinheiro com o porta aviões e ele não sai do AMRJ(Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro). Quem pode nos garantir que o mesmo não vai acontecer o submarino nuclear??

Colt

Essa questão ($) é fundamental.
São questões sem resposta.
Dizem que não optam pelo sistema AIP pq é caro de manter, precisa de estrutura especial para os combustíveis, outro dia no chat conversávamos sobre o fato da Marinha ter um número irrisório de mísseis como o Exocet, e por aí vai. A impressão que tenho é que não sabem o que estão fazendo. Um sub nuclear para quem não tem o mínimo operacional?

claudio alfonso

Realmente, mas convenhamos o submarino nuclear é O MEIO NAVAL, com um poder dissuasorio (assim que escreve? hehehe) muito maior que um navio-aérodromo ou fragatas e covertas, ainda maior quando você sabe e pode fabricá-las. Não que os outros elementos não tenham importância, eles tem e muita, mas no caso da defesa do mar e da soberania o SNB é fundamental. Com apenas um destes o Brasil teria o seu peso relativo no cenário geoestratégico muito incrementado!

Douglas

após ler a entrevista, acho que esse SNB é um projeto do partido do governo atual que sonha com a cadeira do Conselho de Segurança. A afirmação de que o Brasil “vai ser uma nação muito maior” com o sub nuc e que terá forte chance de uma cadeira é de um reducionismo tremendo. A India tem a bomba e FA muito melhor armadas que nós e nao vejo autoridades indianas se preocupando com cadeira no conselho. Ademais com o orçamento anual, quantos sub nucs teremos?? 1, 2? Está difícil manter a força com 6 fragatas antigas. E a questão… Read more »

Douglas

Em matéria de subs preferiria uma grande força de 10 ou 12 convencionais avançados com alto nível de proficiência e intercomunicabilidade.

dentro em breve enfrentaremos um inferno logistico com 5 IKL e 5 Scorpenes e um possível prototipo de sub nuc.

Dalton

Douglas…

que bom fossem 5 Scorpenes como vc escreveu, mas sao apenas 4 !

além do mais, o Tupi já completou 20 anos e pelo pouco que sei, submarinos nao costumam durar 30, 40, 50 anos como navios de superficie, ou seja, o primeiro scorpene, quando estiver totalmente operacional, irá substituir o Tupi, nao sendo um a mais, conquanto seja um submarino mais moderno, nao pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

sds

Iuri Korolev

Pois é Douglas Infelizmente no Brasil falta uma coisa que abunda (desculpe o trocadilho) nos EUA, e que na minha opinião é a origem de nosso atraso economico, tecnologico militar etc : a falta de líderes pragmáticos e competentes. Mesmo o povo dos EUA não sendo lá tão inteligente, seus líderes e gerentes são muito bons. Aqui os caras ficam fazendo essas afirmativas mirabolantes e realizam pouco. Lá fora é o contrário. O lendário almirante Hyman Rickover era odiado por todos, era pentelho, exigente. Mas nunca perdeu o cargo pois produzia. Aqui no Brasil, um cara deste já estaria queimado.… Read more »

[…] Entrevista do Almte. Fragelli para o Estadão […]

Jonny Lima

É uma provocação à nossa inteligência; francamente. Que um submarino nuclear seja uma arma dissuasória relevante não se discute, pois isso até uma criança pode compreender. Mas o que está em mérito é: Para que o Brasil precisa se submeter a tamanho esforço de gastos? Nosso propósito dissuasório no mar é a defesa de nossa costa, do pré-sal, de nosso parque industrial e usinas próximas ao litoral, é contra o contrabando de armas que afligem nossas metrópolis. Para isso, uma Força Aérea bem equipada, com bases instaladas por toda a costa, com aviação de interceptação capaz de prestar apoio a… Read more »