Como vimos na parte 1, os submarinos de ataque são muito diferentes do famoso Sea View, da série de TV “Viagem ao fundo do mar”. Não ficam emitindo pings, nem têm janelas para que seus tripulantes possam ver o fundo dos oceanos.
O sonar passivo é o principal sensor dos submarinos, que ao invés de emitir os pings sonoros e receber seus ecos, como faz normalmente o sonar ativo dos navios de superfície, ele recebe os ruídos provenientes do exterior e cria uma “imagem” com os sons que recebe.
Mas tanto o sonar ativo quanto o passivo sofrem influência da variação de temperatura (gradiente térmico) da água do mar, que os submarinistas chamam de “gradiente de velocidade do som”. A pressão e a salinidade também afetam o comportamento das ondas sonoras, mas o fator predominante é a temperatura. A tendência dos feixes sonoros (tanto no sonar ativo, quanto no passivo) é a de curvar-se para a camada de maior velocidade do som, ou de menor temperatura.

subxsub1

Em engajamentos sub x sub, ou quando o submarino quer minimizar a probabilidade de detecção por navios e aeronaves, o comandante opta por ocultar seu submarino abaixo da camada termal, que desvia os raios sonoros para baixo. Um submarino ou navio que estiver acima da camada, não vai escutá-lo.
Por outro lado, o submarino ocultando-se, também deixa de ouvir o que ocorre acima da camada, salvo quando o contato está bem acima do submarino, onde parte dos feixes sonoros penetra a camada em ângulos acentuados.
Uma tática comum ao submarino é ocultar-se por algum tempo na camada mais fria e subir acima da camada periodicamente, à procura de contatos.

triomphant_img_0394

Como se calcula a distância com o sonar passivo?

A colisão entre dois submarinos portadores de mísseis balísticos, um francês e outro britânico nas profundezas do Atlântico Norte, em fevereiro de 2009, causou espanto e muita informação confusa por parte da imprensa não especializada.
Até o Ministro da Defesa francês, por exemplo, afirmou que o SSBN Le Triomphant (imagem acima) “é mais silencioso que um camarão”, por isso houve a colisão. É certo que os submarinos nucleares modernos são muito discretos, mas eles ainda assim são mais ruidosos que os modernos submarinos convencionais movendo-se com baterias.
A questão da colisão tem mais a ver com a natureza do sonar passivo e o modo com que os submarinos determinam a distância de um contato. Como os SSBN possivelmente estavam muito próximos e navegando muito devagar quando ouviram um ao outro, não houve tempo hábil para se medir a distância, nem executar uma manobra evasiva.
O sonar passivo só fornece a marcação do contato (direção) e não sua distância. Esta última só pode ser obtida após várias leituras consecutivas da direção do contato selecionado, como na imagem abaixo:

sonar-passivo-2-2

Diversas soluções para a alvo poderão se encaixar. Por exemplo, o contato pode estar perto, se deslocando a 5 nós ou duas vezes mais distante, se deslocando a 10 nós. Se seu sonar conseguir descobrir a velocidade na qual o contato está navegando, sua distância e curso podem ser estimadas.
É aí que entra outro componente do sonar passivo de vital importância: o sonar de banda estreita e o DEMON (Demodulated Noise). O sonar de banda estreita separa um sinal em frequências mais discretas, possibilitando ao operador, com auxílio de um sistema computadorizado, examinar os sinais de um alvo e compará-lo com assinaturas de um banco de dados, para saber a classe exata de navio e até mesmo, qual navio, se houver alguma gravação anterior. Por isso, uma das tarefas dos submarinos em tempo de paz, é abastecer suas bibliotecas de sonar com as assinaturas de alvos.
O DEMON, por sua vez, é um componente do sonar que permite saber quantas pás têm os hélices do alvo e quantas revoluções por minuto, determinando assim a velocidade do contato. Nas fotos abaixo, pode-se ver algumas telas do console de sonar de um SSBN francês:

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inside-french-ssbn-3
inside-french-ssbn-4

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BARAK

Muito bom, parabéns! Pra quem não entende bulhufas como eu, foi uma senhora aula!

paulo s

isso e so em filme,submarino de verdade nao vaza ar ,salvo se tiver algum problema .submarino sem ar de alta pressao fica impossibilitado de de ir a superficie,e tambem vazamentos de ar denunciam a posiçao do mesmo. os antigos tipo guppy da mb de origem americana podiam em casos excepicionais ,ir a superficie sem emprego de ar de alta.
espero ter ajudado, boa noite

RJ

Uma coisa que nunca entendi, desde criança: O submarino do vídeo lá em cima não tá vazando o tempo todo? De onde surge tanta bolha que o submarino não enche de água?

Getulio - São Paulo

O submarino americano citado é o uss San Francisco e as fotos dele nas docas de reparo são impressionantes. vide http://www.ssbn611.org/uss_san_francisco.htm – 98k

Getulio - São Paulo

Introdução.
The US nuclear submarine USS San Fransisco en route to Brisbane Australia, for a port visit, came up all standing on Saturday, the 8th. Os E.U. submarino nuclear USS San Francisco a caminho de Brisbane na Austrália, para uma visita porto, surgiu toda de pé no sábado, dia 8. of January 2005, when it ran into an underwater mountain about 350 miles south of Guam. de janeiro de 2005, quando se deparou com uma montanha subaquática cerca de 350 milhas a sul de Guam. One sailor died and 24 were injured. Um marinheiro morreu e 24 ficaram feridas.

Getulio - São Paulo

É de se espantar realmente a colisão de dois monstros submarinos e as supostas tecnologias que embarcam. Outro dia este blog mostrou a distribuição dos submarinos pelo mundo. Salvo enganho, os mares e oceanos que cercam o continente europeu deve ser um dos mais congestionados do planeta. Esses submarinos são monstruosos. Por exemplo no acidente do Kursk, fiquei impressionado com a ilustração da revista Veja, que para demonstrar a profundidade em que estava a embarcação avariada, desenhou o Kursk na vertical, ele media cerca de 185m e o mar (de Barents?) somente 150m de profundidade, ou seja o submarino era… Read more »

Getulio - São Paulo

reparo: digo, salvo engano.

Getulio - São Paulo

Consta da internet, Em 28 de maio de 2008, o HMS Superb bateu uma rocha submarina na segunda-feira e danificou seu sonar equipamentos, forçando-a a superfície. None of the crew was hurt and the submarine is watertight, an MoD spokesman said. Nenhum dos tripulantes do submarino foi ferido e está estanque, uma porta-voz disse MoD. Superb, a Swiftsure-class attack submarine with a crew of 112, hit an underwater pinnacle 80 miles south of Suez. Soberbo, um ataque submarino Swiftsure de classe com uma tripulação de 112, bateu um subaquática pinnacle 80 milhas ao sul de Suez. The 272-foot vessel had… Read more »

Fábio Max

A série de TV era legalzinha, considerando que eu era criança.

Hoje, parece até meio boba…

Fred

Soube que a Atech está desenvolvendo um sonar passivo junto com a MB. Salvo engano, a previsão de conclusão da primeria fase do projeto seria março ou abril de 2010.

trackback

[…] Isto porque eles operam no mesmo meio e podem mudar rapidamente de profundidade para pesquisar as camadas termais em busca de contatos. O avanço nas tecnologias de redução de ruído tem feitos os submarinos […]

[…] do BLOG: A sensibilidade do sistema de sonar passivo dos submarino nuclear frances pode ajudar a localizar os sinais acústicos da caixa-preta do […]