‘Apagão’ de técnicos na Marinha do Brasil

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“Há um sentimento generalizado de que perdemos tempo demais, deixando de lado o ensino médio e, particularmente, o profissionalizante”.

São palavras do Vice-Almirante Ademir Sobrinho, diretor de ensino da Marinha do Brasil: “Só aqui estamos precisando de 800 técnicos de nível médio, hoje, para operar em projetos existentes. Sem contar que, em breve, começaremos a pensar na construção de submarinos (um dos quais nuclear), com tecnologia francesa.”

É o quadro da nossa realidade, que precisa de providências urgentes, como se propôs a fazer a presidente Dilma Rousseff, a partir da existência do Pronatec. Há um sentimento generalizado de que perdemos tempo demais, deixando de lado o ensino médio e, particularmente, o profissionalizante. As tentativas anteriores, como a Lei nº 5692/71, foram equivocadas – e os seus resultados verdadeiramente lamentáveis. Como promover a profissionalização obrigatória com tanta carência de professores e laboratórios?

Há exemplos que devem ser citados, como é o caso da Marinha. O Senac-Rio abriu 240 vagas em programas de qualificação profissional, para jovens de 16 a 21 anos. Tudo gratuito, nas áreas de Gastronomia, Telemarketing e Administração. É um curso presencial, com a duração de quatro meses e meio.

O que dizer das oportunidades oferecidas pelo tradicional CIEE? Quem visita suas instalações, no centro da cidade, sai impressionado com o número de candidatos aos seus estágios, que abrangem o ensino médio, o ensino superior e, mais recentemente, os aprendizes legais, estes num magnífico e elogiável crescimento (só no Rio são quase 4 mil que se encontram engajados no processo).

O especialista Luiz Gonzaga Bertelli dá como exemplo do que ele chama de “gargalo” o caso da engenharia. Mas não descarta o vexame recente dos exames de ordem da OAB, em que 90 escolas superiores de diferentes estados não aprovaram ninguém. Há uma perda de qualificação da mão de obra brasileira, na verdade em todos os níveis, gerando uma forte preocupação naqueles que têm a responsabilidade de prover o nosso desenvolvimento de recursos humanos à altura das expectativas nacionais.

Voltando à Marinha do Brasil, eis o quadro das profissões em que haverá disponibilidade de vagas: Administração, Administração Hospitalar, Contabilidade, Desenho de Arquitetura, Desenho Mecânico, Estatística, Edificações, Eletrônica, Eletrotécnica, Enfermagem, Estruturas Navais, Geodésia e Cartografia, Gráfica, Higiene Dental, Metalurgia, Meteorologia Mecânica, Motores, Nutrição e Dietética, Patologia Clínica, Processamento de Dados, Prótese Dentária, Química, Radiologia Médica, Secretariado e Telecomunicações. Após a preparação, no Centro de Instrução Almirante Alexandrino, receberão salário inicial de 2.200 reais. É um bom começo, para evitar que esses espaços sejam preenchidos por técnicos estrangeiros.

AUTOR: Arnaldo Niskier é doutor em Educação, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE/RJ

FONTE: Portugal Digital

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Antonio M

A tempos eu já discutia com defensores do governo LuLLA que gastar dinheiro público em vagas ociosas de faculdades particulares era besteira. Há outros modos de se fazer os alunos saídos da escola pública e com menos condições financeiras cursarem faculdades mas, como cursar uma faculdade se o ensino básico é uma porcaria? Por isso que o dinheiro público deve ir para a escola pública e prioritariamente o ensino básico, que deve ser de excelente qualidade e público para todos, pois alunos de todas as classes sociais deveriam frequentar e estreitar os laços sociais nessa fase da vida, e não… Read more »