‘Destróieres por Bases’: O pacto estratégico que fortaleceu a aliança entre EUA e Reino Unido em 1940

Em 3 de setembro de 1940, em um momento crítico da Segunda Guerra Mundial, Reino Unido e Estados Unidos firmaram um pacto estratégico que viria a ser conhecido como o “Acordo dos Destróieres por Bases” (Destroyers for Bases Agreement).
O entendimento selado entre as duas nações previa a transferência de 50 contratorpedeiros norte-americanos para a Grã-Bretanha, em troca do direito de uso, por 99 anos, de bases aéreas e navais britânicas no hemisfério ocidental.
Esses navios de guerra, construídos entre 1917 e 1922 e pertencentes à reserva da Marinha dos EUA, foram cedidos aos britânicos em um momento no qual a Batalha do Atlântico ameaçava o fluxo de suprimentos vitais vindos da América do Norte. A Grã-Bretanha, diante da ameaça iminente da Alemanha nazista, enfrentava severas perdas de embarcações mercantes, afundadas por submarinos alemães (U-boats), e carecia urgentemente de escoltas navais.
Como contrapartida, os Estados Unidos obtiveram, de forma gratuita, o direito de instalar bases militares em oito colônias britânicas no Atlântico e no Caribe — incluindo locais estratégicos como Bermuda, Bahamas, Jamaica, Trinidad e Guiana Britânica (atual Guiana). Essa cessão contribuiu decisivamente para o fortalecimento da presença militar americana na região, mesmo antes de sua entrada formal na guerra, que só ocorreria em dezembro de 1941 após o ataque japonês a Pearl Harbor.
Os primeiros oito destróieres foram transferidos do porto de Boston apenas três dias após a assinatura do acordo, evidenciando a urgência e a coordenação entre os dois países. O Reino Unido, por sua vez, redistribuiu parte desses navios: sete foram transferidos à Marinha Real do Canadá e outros dois destinados às marinhas exiladas da Holanda e da Noruega, cujos governos continuavam a luta contra o Eixo a partir do exílio.
Os navios cedidos ficaram conhecidos na Marinha Real como a classe Town, pois receberam nomes de cidades britânicas, americanas ou canadenses. Eles foram reformados antes do uso, adaptados para missões de escolta no Atlântico.
O acordo dos destróieres por bases simbolizou o início da cooperação militar efetiva entre Londres e Washington e pavimentou o caminho para a futura aliança estratégica entre os dois países. Foi um exemplo claro de diplomacia pragmática em tempos de guerra, onde interesses estratégicos mútuos se sobrepuseram a qualquer formalidade jurídica.

Esse pacto também teve implicações profundas para o equilíbrio geopolítico do hemisfério ocidental, com os EUA expandindo sua presença militar em território estrangeiro sem ter declarado guerra, ao mesmo tempo em que garantiam maior segurança para o Reino Unido em um dos períodos mais sombrios de sua história.
Esses navios eram obsoletos, mas sua entrega em massa foi fundamental para reforçar a capacidade de escolta da Grã-Bretanha contra os U-boots alemães durante a Batalha do Atlântico.
No acordo, os 50 destróieres fornecidos pelos Estados Unidos ao Reino Unido pertenciam, a três classes distintas de destróieres da Primeira Guerra Mundial, comissionados entre 1917 e 1921. São elas:
Classe Caldwell
Número de navios cedidos: 3
Com 1.125 toneladas e 30 nós de velocidade, a classe Caldwell tinha seis navios de convés corrido, construídos durante a Primeira Guerra Mundial e logo após. Quatro serviram na Marinha dos EUA como escoltas de comboios no Atlântico; os outros dois foram concluídos tarde demais para o serviço em tempo na Primeira Grande Guerra.
Armamento:
- 4 canhões de 102 mm (4 pol.)/calibre 50
- 1 canhão de 76 mm (3 pol.)/calibre 23
- 12 tubos de torpedo de 533 mm (21 pol.) (4 x 3)
Classe Wickes
Número de navios cedidos: 27
Os destróieres da classe Wickes de 1.250 toneladas e foram uma classe de 111 navios construídos pela Marinha dos Estados Unidos entre 1917 e 1919. Juntamente com os seis destróieres da classe Caldwell anteriores e os 156 navios da classe Clemson subsequentes, eles foram agrupados como do tipo “flush-deck” ou “four-stack”. Apenas alguns foram concluídos a tempo de servir na Primeira Guerra Mundial, incluindo o USS Wickes, o navio líder da classe.
Armamento:
- 4 canhões de 4 pol. (102 mm)/calibre 50
- 1 canhão antiaéreo de 3 pol. (76 mm)/calibre 23
- 4 tubos de torpedo triplos de 21 pol. (533 mm)
Classe Clemson
Número de navios cedidos: 20
A classe Clemson de 1.308 toneladas foi uma série de 156 navios (mais 6 foram cancelados e nunca iniciados) que serviram na Marinha dos Estados Unidos desde o período pós-Primeira Guerra Mundial até a Segunda Guerra Mundial. Até o surgimento da classe Fletcher, os Clemsons eram a classe mais numerosa de destróieres comissionados na Marinha dos Estados Unidos e eram conhecidos coloquialmente como “flush-deckers”, “four-stackers” ou “four-pipers”.
Armamento:
- 4 canhões de 4 polegadas/calibre 50 (102 mm)
- 1 canhão de 3 polegadas/calibre 23 (76 mm) (antiaérea)
- 12 tubos de torpedo de 21 polegadas (4 x 3) (533 mm)
50 navios de guerra para combater uma imensa ameaça, foi muito melhor do que ficar com bases que acabariam por perder, com uma vitória alemã.
As duas guerras mundiais foram, de longe, a pior coisa que aconteceu na história da Inglaterra, e a melhor coisa da história dos EUA.
Mesmo do lado vencedor, a Inglaterra perdeu gerações de homens em idade produtiva, perdeu influência em suas colônias, acelerando o processo de descolonização delas, com destaque a “jóia da Coroa” indiana, gastou o que não tinha e teve que pedir empréstimos sobre empréstimos pra financiar a guerra, sua economia nunca se recuperou 100%, e viu a Royal Navy dar lugar a USNavy como maior marinha do mundo.
Totalmente o oposto dos EUA.
É aquela história, toda guerra tem 3 lados: os que vencem, os que perdem…e os que lucram!
A Royal Navy continuou sendo a maior depois da I Guerra por conta de Tratados pois os EUA já tinham condições de construir mais navios e mesmo assim houve um equilíbrio quanto ao número de encouraçados/cruzadores de batalha, 15 para cada marinha e mesma tonelagem para NAes e aí os britânicos foram ficando cada vez mais para trás inclusive da marinha japonesa já a partir da segunda metade da década de 1930. . Diferente dos EUA os britânicos ao priorizar a Royal Navy enfraqueceram o Exército e a Força Aérea, então o fim da II Guerra “quebrou” definitivamente os britânicos,… Read more »
Bom negócio para os dois lados. A Inglaterra conseguiu meios para combater a Alemanha e os EUA se livraram de material inoperante que exigia manutenção e ainda levou bases mundo a fora.
2040 está bem ali.
O mundo trocou de agiota nesse período.
Capaz da inglaterra vender para o brasil alguma como tem feito com navios kkkk
Essa a potência do capitalismo produtor de mercadorias: produzir mercadorias. E produziu tanta que, mesmo parcialmente obsoleta, estava apta a escambo diplomático no momento decisivo. E todo mundo com algum horizonte já sabia que o alvorecer do imperialismo americano tinha que suceder o crepúsculo do império inglês, incapaz de superar a produtividade espantosa dos competidores. Foi assim antes, com o declínio dos impérios italiano, português , espanhol e holandês. O capitalismo sempre infesta uma nova nação assim que exauriu a anterior. Hoje, a China vai substituindo a América, ao menos enquanto o industrialismo chinês subsistir retardando seu desenlace improdutivo final… Read more »
O capitalismo nao “infesta” nada.
Ele esta’ sempre disponivel.
Quem tem recursos humanos (principalmente) e materiais adequados SEMPRE se utiliza dele para crescimento e consolidacao economica e de poder.
Pra você, capitalismo existe desde sempre e a exploração cínica e despreocupada de ‘recursos’ não é um problema? Que visão simplória e temerária. Aliás, é a partir dela que você escreveu que “o capitalismo não ‘infesta’ nada”: o outro infestado é considerado um ‘nada’ frente aa cobiça e potência do capital.
Ficaram conhecidos pela silhueta característica das 4 chaminés. Alguns participaram também das Batalhas no Oriente, escoltando os cruzadores do esquadrão anglo-americano-holandês que tentou (sem sucesso) defender Java em 1942. E no Atlântico foram muito úteis na escolta dos comboios frente à ameaça dos submarinos alemães.
Um deles o ex USS Buchanan, que na Royal Navy foi chamado “Campbeltown” teve entre outras modificações duas das chaminés removidas para parecer-se com os torpedeiros
alemães (pequenos contratorpedeiros) e assim aproximar-se de Saint Nazaire carregado de explosivos e comandos onde abalroou a única doca capaz de acomodar o encouraçado Tirpitz no caso dele passar a operar no Atlântico.
Caro Dalton, só agora pude dar uma olhada nesse post e logo lembrei do Campbeltown e sua missão suicida a St Nazaire, uma das muitas operações ‘fora da caixa’ que os ingleses realizaram durante a 2ªGM. Tem vários documentários sobre ele, um que assisti há um bom tempo é o ‘Jeremy Clarkson’s the Greatest Raid of All’ que contem vários depoimentos de veteranos, que pra mim tem um valor inestimável.
Falando em “fora da caixa” Luciano, um mês depois os EUA atacaram o Japão
com bombardeiros B-25 lançados do NAe USS Hornet.
.
Ambas missões causaram poucos danos, no caso de Saint Nazaire os valiosos submarinos não foram afetados e o Tirpitz acabou não operando no Atlântico de qualquer forma, mas, tiveram um efeito moral positivo e obrigaram alemães e japoneses a dispender recursos na defesa que poderiam ser usados alhures.
Exato, meu amigo.
Algo semelhante se pode dizer do ataque ucraniano nas bases russas. Causaram danos, mas além disso, forçarão os russos a dispender recursos para realocar aeronaves, defender as bases e gera a dúvida sobre inimigos infiltrados em seu território, que força a adoção de novas medidas de segurança e ainda mais recursos a serem gastos.
Prezado Ricardo , como vai ? Tudo joia ? Os destroieres classe Flush Decks and Four Pipers ( que traduzindo para o portugues significa Conves Corrido e Quatro Chamines ) causa fascinaçao e nostalgia para aqueles que se interessam em saber sobre a Historia dessas unidades navais dos E.U.A. Existe a venda nos E.U.A. um livro em capa dura ricamente cheio de fotos de epoca muito bacana sobre eles. Tenho em minha biblioteca um exemplar. Pesquise na internet os sites na America de publicaçoes navais militares , a quantidade de books for sale ( livros para venda ) e enorme.… Read more »