Fragata Independência - F44

Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)
Ex-Comandante da Fragata Independência


“Um navio no mar é um mundo distante por si só, e a Marinha, ao considerar as prolongadas e longínquas operações das unidades da esquadra, coloca considerável poder, responsabilidade e confiança nas mãos daqueles líderes escolhidos para o comando”. – Joseph Conrad[1]

Segundo o escritor britânico Samuel Johnson (1709 – 1784), “Os dois poderes mais simpáticos de um escritor são: tornar familiares coisas novas e novas, coisas familiares”.

Em julho de 2010, ao tomar conhecimento da indicação para o honroso cargo de Comandante da Fragata Independência, me senti orgulhoso pelas inúmeras demonstrações de apreço dos meus chefes, pares e subordinados.

O comando de um navio é, certamente, a maior aspiração de um Oficial de Marinha do Corpo da Armada. Passados os primeiros momentos de alegria e entusiasmo comecei a refletir sobre as responsabilidades e desafios inerentes ao cargo, uma vez que, o comando no mar é uma tarefa complexa, multidisciplinar e que exige permanente dedicação ao serviço.

Em 5 de janeiro de 2011, ao assumir o comando do navio, estava com a mesma motivação, orgulho e vigor de quando ingressei no Colégio Naval em 11 de fevereiro de 1983.

Ressalto que também tinha a plena consciência de zelar por um inesquecível legado, de profissionalismo e tradições, cultuado pelos Ex-Comandantes e suas tripulações.

A minha filosofia de comando se baseou, principalmente, nos seguintes pilares: navio pronto – bom ambiente –  cultura de segurança – cumprimento da missão.

O acompanhamento contínuo das relações humanas a bordo é fundamental para zelar por um bom ambiente, bem como para contribuir no desempenho do navio nas diversas comissões.

A difícil arte de comandar requer conhecimento profissional, capacidade de decisão e liderança. A prática da liderança consiste em influenciar pessoas, de tal modo que, possamos conquistar sua confiança, respeito e lealdade. Valores como disciplina, coragem, espírito de sacrifício, cooperação e comprometimento devem ser permanentemente cultivados. Um líder nasce e cresce com o grupo, fazendo parte dele.

Segundo o General norte-americano Alfred Mason Gray Jr. (1928-2024): “A confiança é uma característica essencial nos líderes. A confiança é o produto do respeito e do conhecimento mútuo. O respeito resulta da competência profissional demonstrada. O conhecimento mútuo resulta da experiência vivida em comum e da mesma filosofia compartilhada”.

As comissões

No biênio 2011 e 2012, a Fragata Independência atingiu a expressiva marca de 2.500 dias de mar e participou de diversas comissões operativas. Em 2012, o navio participou do COMPTUEX (“Composite Training Unit Exercise”), na Costa Leste dos Estados Unidos da América (EUA), onde preciosos ensinamentos foram colhidos operando no Grupo de batalha do navio-aeródromo “USS Dwight D. Eisenhower” (CVN 69).

Em 2012: fragata Independência (F44) operando com o porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower (CVN 69) e seu Carrier Strike Group 8 no Atlântico Norte
Como Comandante da Fragata “Independência”, a bordo do porta-aviões norte-americano USS “Dwight D. Eisenhower”, em 2012

Ainda naquele período, participou da comissão 1812 Fleetex (“Fleet Exercise”), que fazia parte das comemorações do bicentenário da guerra de 1812, considerada a Segunda Guerra de Independência dos EUA. Essa comissão teve a participação de diversos países da Organização do Atlântico Norte (OTAN), sendo a Marinha do Brasil a única não pertencente à OTAN a integrar o Grupo-Tarefa.

Também tivemos o prazer de receber a bordo,  em 2012, uma equipe da Rede Globo para o Programa Globo Mar sobre sobrevivência no mar. A jornalista Poliana Abritta, que está no Fantástico atualmente, fazia parte da equipe.

Equipe da Rede Globo a bordo da fragata Independência

Desafios, experiência e dedicação

As longas comissões, com longo período de afastamento da sede, cerca de quatro meses, possibilitaram que o comandante e a tripulação vivenciassem novas e valiosas experiências profissionais.

Durante o comando da Fragata Independência, no biênio 2011 e 2012,  os inúmeros desafios só foram sobrepujados por meio da incondicional dedicação ao serviço, do permanente comprometimento e da reconhecida competência técnica da minha valorosa tripulação.

A oficialidade e a guarnição nunca mediram esforços para manter o navio pronto para o combate. Foi uma honra tê-los comandado!

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  E SITES CONSULTADOS

  •  CHALITTA, M. Os Mais Belos Pensamentos de Todos Os Tempos. Associação Cultural Internacional Gibran. Rio de Janeiro. v. 2, p.10
  • Comando no Mar: o Prestígio, o Privilégio e as responsabilidades do Comando https://en.wikiquote.org/wiki/Joseph_Conrad
  • https://www.naval.com.br/blog/2012/03/30/indepedencia-parte-para-comptuexfleetex/

[1]   Escritor inglês (1857 – 1924)

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4 Comentários
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Marcelo

Bravo Zulu Capitão. Uma dúvida, a fragata estava com cerca de 30 anos de serviço neste período, 2500 dias de mar não seria pouco?

Burgos

Parabéns pelo feito Comte Reale;
Aí eu faço só uma pergunta a nível de curiosidade.
Pq o Sr. Foi pra reserva como CF e não como CMG ?!
Ass: 2º SG AM RM1 Veterano Burgos.
Obs: não fui a 1º pq era CAJUPIN, o 6º colocado da minha turma de EAMSC também foi embora como 2º SG AM CAJUPIN. Só que ele foi embora com passador de prata 4 âncoras. Um verdadeiro Nauta👍
Dobrou a viajem do NE Brasil e tudo ⚓️⚓️⚓️⚓️

Sérgio vieira reale

Prezado Burgos, decisão de foro íntimo.

Burgos

Tá certo !!!
Melhor assim !!!👍
Certas coisas é melhor deixar quieto mesmo🙌