AVIAÇÃO NAVAL BRASILEIRA

Nasce o esquadrão anti-submarino

 

O difícil começo do HS-1

O Decreto 55.627 foi o instrumento legal para extinguir a aviação de asas fixas na MB. Através dele todos os aviões da Marinha foram transferidos para a 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (2ª ELO) da FAB, cuja sede foi transferida para São Pedro da Aldeia também. Por outro lado, o Decreto forçou o reconhecimento da Aviação Naval pelo Ministério da Aeronáutica. Por último, o Decreto estipulava a transferência dos helicópteros anti-submarino do 2º/1º GAE para a Marinha.

 

Estava aberto o caminho para a criação do terceiro esquadrão de helicópteros da Marinha, um esquadrão voltado para guerra anti-submarina (ASW). A existência de um esquadrão com esta finalidade era essencial para o cumprimento das missões constitucionais da Marinha. No entanto, a ausência de um planejamento prévio e a forma como ele foi gerado resultaram numa baixa disponibilidade operacional. 

SDM
O primeiro SH-34J entregue à Marinha (N-3004) ainda na Base Aérea de Santa Cruz. Ao fundo, no lado direito, existe um B-17 da FAB desativado.

A Marinha não podia pura e simplesmente receber as aeronaves da FAB, seus sobressalentes e seus equipamentos de apoio e manutenção. Era necessário um período mínimo de adaptação das tripulações e da equipe que prestaria o apoio em terra às aeronaves. Além disso, a base de São Pedro da Aldeia ainda não possuía infraestrutura necessária para receber o esquadrão. Diante destes fatos, decidiu-se enviar um grupo de militares da Marinha, que futuramente comporia o esquadrão anti-submarino, à Base Aérea de Santa Cruz (sede do extinto 2º/1º GAE) por um período de quarenta dias. Lá, os oficiais e praças da Força Aérea ministraram cursos básicos e proveram conhecimentos mínimos indispensáveis à operação das novas aeronaves (1). A instrução de solo teve início no dia 20 de abril e no mês seguinte começou a instrução aérea (2), que prosseguiu até o dia 22 de junho (1).

Em relação às questões legais, o então Ministro da Marinha Paulo Bosísio acabou por criar o "Primeiro Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino" através do Aviso nº. 0830 de 28 de maio de 1965 (1). 

Os seis SH-34J da FAB receberam as matrículas N-3001 a N-3006 na Marinha. As primeiras duas aeronaves (N-3004 e N-3006) foram recebidas oficialmente em 29 de junho (1) e transladadas em vôo para a base de São Pedro da Aldeia no dia 7 do mês seguinte (2). Foi também no dia 7 que todo o material que constituía os acessórios das aeronaves foi transportado por via terrestre para São Pedro da Aldeia (1). Provisoriamente, o esquadrão passou a dividir o Hangar nº. I (o único existente na época) com os esquadrões HU-1 e HI-1 (1).

 

No final de 1965 foi recebido o sexto e último helicóptero do esquadrão e nesta mesma época o HS-1 realizou o seu primeiro embarque no NAeL Minas Gerais (1). No entanto, o imaturidade do esquadrão, o baixo conhecimento da máquina operada e as restrições de sua manutenção cobraram seu preço. No dia 8 de fevereiro de 1966 o exemplar N-3003 acidentou-se na pista da BAeNSPA com a perda de três tripulantes (1).

Inicialmente, algumas medidas paliativas foram tomadas. Graças à amizade criada entre oficiais da Marinha e da Força Aérea na época que serviram juntos no Minas, alguns equipamentos de hangar e de pista da FAB foram cedidos para o esquadrão HS-1. Enquanto isso, sargentos e suboficiais da FAB que serviram no 2º/1º GAE foram para São Pedro da Aldeia melhorar o treinamento do pessoal de manutenção. Por último, o Parque de Manutenção da Aeronáutica de São Paulo (PAMA-SP), onde os helicópteros eram revisados pela FAB, passou a apoiar também o HS-1 tanto no aspecto de treinamento como em relação à prontificação das aeronaves (3).

SDM
O N-3001 arriando o domo do sonar AQS-1. O sistema de estabilização do helicóptero (ASE) representou um dos vários desafios enfrentados pelo esquadrão. 

No ano seguinte a Marinha contratou um pacote de treinamento junto à USN e um grupo de oficiais e praças do HS-1 foi enviado à NAS Los Alamitos (Califórnia) em julho de 1967, onde permaneceram até setembro daquele ano. Este período de treinamento elevou o esquadrão para um verdadeiro nível operacional (3).

A maior segurança na operação dos helicópteros e o melhor adestramento das tripulações permitiu que o esquadrão realizasse seus primeiros vôos por instrumentos e vôos noturnos. O SH-34J era uma aeronave homologada para operações ASW noturnas e, após a realização de intensos treinamentos, dois helicópteros (3) foram lançados a partir do convôo do Minas na noite de 1º maio de 1969 (1). Assim, Aviação Naval vencia mais uma etapa, expandindo suas operações ASW.

A gestação do HS-1 trilhou um caminho extremamente penoso e repleto de dificuldades, muitas delas advindas da conturbada situação política vivida pelos Ministérios da Marinha e da Aeronáutica naquela época. No entanto, os grandes problemas foram superados com muita dedicação e trabalho.


Bibliografia

 

(1) ESQUADRÃO HS-1. História do HS-1. Disponível  em: <http://www.mar.mil.br/ehs-1/htm/historia.htm#1>, acesso em: 26 mar. 2008. 

(2) CUNHA, R. D. Sikorsky S.58 SH-34G Seahorse. Asas sobre os mares: a aviação naval brasileira. disponível em: <http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html>, acesso em: 26 mar. 2008.

(3) SEBASTIANY, P. T. Aviação Naval - Reminiscências Parte III. Revista Marítima Brasileira, jul./set. 2006, vol. 126 n.07/09, p.147-178