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Cinco décadas de tempestades e corrosão marinha transformam destroços de navios de guerra em poluição

Mais de mil navios militares naufragados no oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial estão começando a espalhar sua carga tóxica, ameaçando preciosos recifes de corais, cardumes e ilhas paradisíacas, segundo autoridades da região.

Carregados com combustível, produtos químicos e explosivos, centenas de porta-aviões, corvetas, destróieres e petroleiros estão sucumbindo a cinco décadas de tempestades e corrosão marinha.

No ano passado, o casco do USS Mississinewa deixou vazar 91 mil litros de combustível na remota laguna Ulithi, na Micronésia. Por causa disso, cerca de 700 ilhéus foram impedidos de buscar sua sobrevivência na pesca.

No final, o vazamento foi consertado por mergulhadores norte-americanos. Mas ainda há 19 milhões de litros de querosene de aviação e petróleo a bordo da embarcação, que podem contaminar o mar a cada ciclone que passa ou a cada parafuso que enferruja no casco.

O USS Mississinewa, afundado em 1944 por um submarino japonês de um só tripulante, é apenas um dos 1.080 naufrágios catalogados pelo Programa Ambiental Regional do Pacífico Sul (SPREP), uma entidade que quer convencer os vencedores e os vencidos na guerra a colaborarem para evitar uma tragédia ambiental.

“Não há dúvida de que temos um problema porque acabamos de ter esse grande vazamento na Micronésia”, disse Sefanaia Nawandra, técnico do SPREP.

Uma ameaça semelhante é representada pelo navio-tanque USS Neosho, pelo porta-aviões Lexington e pelo destróier Sims, todos afundados em 1942 durante uma batalha a 200 milhas da Grande Barreira de Corais, no litoral australiano, o maior organismo vivo do mundo.

Segundo Trevor Gilbert, também técnico do SPREP, a quantidade de combustível no Mississinewa e no Neosho são o equivalente ao que vazou do petroleiro Exxon Valdez, no Alasca, numa das grandes tragédias ambientais dos últimos anos.

Dos três milhões de toneladas de navios que estão no leito do Pacífico, cerca de dois terços pertenciam aos japoneses e quase todo o resto aos Estados Unidos. Há alguns poucos barcos da Austrália e da Nova Zelândia.

Ao contrário dos navios comerciais naufragados, cuja carga pode ser reivindicada por quem a encontrar, os navios de guerra permanecem para sempre como propriedade de seus países. Além disso, vários são reconhecidos como cemitérios militares.

O SPREP já fez uma lista de navios militares naufragados, e agora precisa de dinheiro para determinar quais deles apresentam risco mais imediato.

Os governos locais disseram que a campanha foi bem recebida pelos Estados Unidos, mas encontrou recepção fria no Japão. Os custos do projeto são elevados: US$ 6 milhões só para retirar o combustível do Mississinewa.

“O que argumentamos, do ponto de vista dos países do Pacífico, é que não tivemos a escolha de participar ou não da guerra. Os adversários vieram lutar no nosso quintal e agora devemos lidar com isso”, disse Nawadra.

Segundo ele, o problema atualmente se restringe ao Pacífico, mas em breve ocorrerá o mesmo também com naufrágios que estão no Mediterrâneo e no litoral da Califórnia (EUA).

Fonte: Reuters/UOL 

Foto: o USS Lexington (CV2), citado na reportagem, sendo abandonado pela tripulação em maio de 1942, na Batalha do Mar de Coral (navsource)

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marlos barcelos

em vez de ter dois submarinos dessa classe, é melhor ter um porta-aviões que é muito mais poderoso e leva mais terror aos inimigos, muuuito caro este submarino, não vale a pena.

Fábio Max

Bem, com tanto combustível embarcado, eu fico imaginando se não há viabilidade econômica em recuperar isso…

A questão é encontrar um capitalista de verdade que enfrente a questão e procure jeitos de recuperar os combustíveis e mesmo o aço desses navios.

Se foi possível recuperar louças e jóias do Titanic, é possível recuperar outros artigos menos nobres.

Muita gente pensa que o aço está perdido, pelas décadas no mar. Mas não é bem assim, aço, uma vez derretido e sujeito a um composto de calcio-magnésio (cal) liberta todas as impurezas e volta a ser útil.

AJS

Como diz o texto, muitos são considerados cemitérios militares=intocáveis, e ao contrários de embarcações civis, pertencem para sempre a seus paises.
Acredito que seja mais barato produzir aço novo do que empreender a recuperação da sucata.

ramillies

O valor deste aço afundado é ser não-radioactivo.

Desde o advento de armas atómicas a atmosfera está contaminada com minúsculas quantidades de isótopos radioactivos. Como o processo de fabrico de aço requer grandes quantidades de ar, os isótopos são transferidos para o aço ao ser forjado.

Certas aplicações, tais como sondas espaciais, necessitam de aço não-radioactivo. Navios afundados construídos antes de 1945 são a única fonte deste tipo de aço.