Aos leitores do blog

Este é o primeiro de uma série de vários textos sobre submarinos e sobre o meio submarino que pretendemos publicar aqui no espaço do Blog Naval. No geral serão textos curtos abordando um tópico específico, de fácil compreensão e evitando uma abordagem extremamente técnica. Além disso, publicaremos experiências de outras marinhas que, eventualmente, podem ser aplicadas no Brasil. Desta forma, esperamos enriquecer o conhecimento dos nossos leitores e promover discussões sobre o assunto.

astute_underwater.jpg

Pressão

O imenso corpo líquido abaixo da superfície do oceano é o meio natural do submarino. Este corpo líquido e contínuo possui um volume aproximado de 1,37 x 109 km3. A profundidade média do oceano é de 3.700 metros, podendo atingir valores máximos superiores a 10.000 metros. Este seria um espaço bastante grande para um submarino esconder-se, não fosse um grande obstáculo – a pressão hidrostática.

A pressão hidrostática aumenta linearmente com a profundidade na razão de uma atmosfera (ou 1,033 Kg/cm2) a cada dez metros. Numa profundidade de 300 metros (acessível para a grande maioria dos atuais submarinos em operação) uma estrutura circular de 533mm (diâmetro comum dos tubos de torpedos do ocidente) está sob uma pressão de 86 toneladas. E são exatamente estas pequenas aberturas (que poderíamos chamar de descontinuidades do casco) os pontos de maior vulnerabilidade. Para que o próprio submarino e a sua tripulação não sofram danos, critérios são estabelecidos durante a fase de projeto.

Profundidade

Durante o projeto de um casco de pressão, três parâmetros devem ser estabelecidos: profundidade de colapso; profundidade de projeto (ou de segurança) e profundidade de operação. Dependendo do projetista ou do país estas classificações podem ter seu nome alterado, mas na essência definem a mesma coisa.

A profundidade de colapso, de acordo com a definição do Departamento de Defesa dos EUA, é a “profundidade de projeto relativa ao eixo longitudinal do casco de pressão a partir da qual a estrutura do casco ou as aberturas do mesmo podem sofrer danos catastróficos até o ponto do colapso total”. Em outras palavras, é a profundidade na qual o submarino não mais resiste à pressão externa da água, sendo literalmente “esmagado” por ela. Esta profundidade é obtida através de cálculos matemáticos e pode apresentar imprecisões. Em raras oportunidades algumas marinhas puderam submeter alguns cascos a testes de colapso. A partir da profundidade de colapso calculam-se as demais.

Para o cálculo da profundidade de projeto adota-se um fator de segurança sobre a profundidade de colapso. Não existe uma regra básica e a adoção deste fator de segurança varia de país para país. Nos EUA é costume adotar o fator de 1,5. Sendo assim, se a profundidade de colapso de um submarino da classe Los Angeles for de 450 metros, sua profundidade de projeto será de 300 metros. Ingleses e alemães são mais conservadores e adotam respectivamente 1,7 e 2.

Na profundidade de projeto um submarino não corre risco em relação à pressão externa, mas não é conveniente mergulhar a esta profundidade de forma sistemática. Os principais motivos para isto seriam a redução da vida do casco e alteração das condições magnéticas do mesmo (esta questão será vista em outra oportunidade).

Por último, existe a profundidade de operação ou de trabalho, que é a profundidade máxima normalmente adotada para trânsito, operações, exercícios, etc.

De qualquer forma, mesmo que os atuais submarinos fiquem restritos à camada mais superficial do oceano, esta continua a ser um espaço bastante grande para um submarino esconder-se.

Foto: MoD UK

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22 Comentários
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Bosco

Qual a parte de um submarino que define a sua profundidade já que ele tem uns 13 metros da base até o topo da vela?

Almeida

Bom texto e belissima ilustraçao da nova classe de SSN da RN!

camarada

Algumas características do Scorpene diferem do IKL , apesar de tratar-se de um submarino convencional, seu projeto não constitui evolução de uma classe convencional anterior; pelo contrário, seu casco hidrodinâmico é derivado do submarino nuclear “Rubis/Amethyste”, mas, mais compacto, emprega tecnologias usadas nos submarinos nucleares franceses, como o sistema de combate SUBTICS. Em decorrência, dentre as vantagens que apresenta, seu projeto destaca-se por facilitar uma rápida transição para o nuclear, haja vista sua forma de casco clássica daquele tipo de submarinos, com hidrodinâmica apropriada para elevados desempenhos em velocidade e manobra. Além das peculiaridades de projeto, o Scorpène tem a… Read more »

Taer

Boa Gunter, muito esclarecedora a materia do site defesabrasil em relação a escolha da MB pelos Scorpéne. Acredito que a MB fez a escolha certa, mas só o tempo é que pode nos confirmar.
Sds.

Paulo Taubaté

É possível lançar torpedos na profundidade máxima de operação?

E os torpedos resistem à 86 atm?

Obrigado e até mais.

Abs.

M. Souza

Muito boa a iniciativa. Acredito que agora vou entender o porquê da Marinha ter escolhido o Scórpene e não o IKL-214! Além disso, acredito que quanto mais foristas conhecedores do assunto, melhor será a quallidade das discussões!

Um abraço!

Castor

Poggio, essa matéria está excelente. Só faço um pequeno comentário à questão das profundidades. A profundidade de operação é a profundidade de colapso menos a faixa necessária para recuperação em um dado acidente, como por exemplo o emperramento de um leme. Assim, se essa faixa, que é função dos sistemas de bordo, das características hidrodinâmicas e do adestramento da guarnição, for de 250 metros, para um casco projetado para colapso a 500 metros a profundidade de operação será 500–250 = 250. Se a profundidade de colapso for de 600 a de operação será 350. A profundidade de projeto será aquela… Read more »

Vassily Zaitsev

Radical,

Idem.

Vassily Zaitsev

E para largar o vício é duro, hein?……..

Radical_Nato

É por isso que, definitivamente, já estou viciado neste blog.

SDS!

Leo

A Agestado, publicou algo diferente. São quatro Scorpene mais o nuclear. http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac297752,0.htm Jobim anuncia acordo com a França para a área militar WILSON TOSTA – Agencia Estado Tamanho do texto? A A A A RIO – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou hoje que os acordos militares do o Brasil com a França possibilitarão a instalação no Rio de Janeiro de um estaleiro para construção pelos franceses de cinco submarinos para a Marinha do Brasil: quatro naves convencionais Scorpéne e o veículo nuclear brasileiro. Segundo o ministro, o estaleiro será construído e operado pelo setor privado francês e, depois… Read more »

Democracia

Pesso-les desculpas por mudar o asunto mas vejam esta matéria da revista ASAS sobre os falcões :
http://www.revistaasas.com.br/index.php?ASA=show_news&id=786&LE=atual

Viva a República!!!

Lecen

Gostei muito do texto, mas gostaria de fazer uma sugestão:

Seria possível colocar uma lista com os principais submarinos do mundo com seus respectivos valores de profundidade máxima para termoa uma noção?

Gunter

Sugiro aos amigos do blog, a leitura da nota da Marinha sobre toda essa controvérsia da escolha dom scorpene, no link abaixo. Atentem para o comentario final.

http://defesabrasil.com/site/index.php/Noticias/Marinha/Submarino-Scorpene-A-Posicao-da-Marinha.html

Corsario-DF

Excelente iniciativa. Ótimo post.

Excel

Nossa, ja estou virando expert no assunto por causa deste blog. Logo ja vou estar construindo o meu. Valeu pelas dicas hahaha !!!
É um assunto fora do tópico mas finalmente o primeiro KDX-III foi comissionado na Coréia. Tem fotos muito boas do navio no link do site de defesa em coreano abaixo (conexão rápida recomendável):

http://bemil.chosun.com/brd/view.html?tb=BEMIL085&pn=1&num=115457

Flavio

Muito boa iniciativa, parabéns ao blog.
sds

Bosco

Parabéns!
Faço minha as palavras do Flavio.
Por essas e por outras é que já estou providenciando minha doação natalina.rs.rs.rs…

Igor

Será de grande ajuda. vlw!

Rodrigo

Fonte: TERRA Jobim: Brasil e França fecham acordo na área de Defesa O ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou nesta segunda-feira uma parceria entre os governos brasileiros e francês para a construção de 50 helicópteros, quatro submarinos, sendo um deles nuclear. Jobim acompanhou a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro, onde acontece a reunião de cúpula entre União Européia e Brasil. O total dos investimentos será de R$ 1,889 bilhão. Segundo Jobim, a intenção é que o submarino nuclear faça o patrulhamento do mar entre a cidade de Santos (SP)… Read more »

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yasmim

nossa adorei me ajudou muito na escola estão de parabens ♥♥♥♥