MAS: os quase centenários “stealths” italianos

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Pequenos e limitados, mas também muito difíceis de serem vistos e atingidos, afundaram dois encouraçados austro-húngaros na Primeira Grande Guerra

O desenho ainda chama a atenção hoje. No início do século XX, chamava ainda mais, porém apenas quando atracados. Em ação, os torpedeiros italianos MAS (Motoscafo Armato SVAN – Societa Veneziana Automobili Navali) valiam-se  justamente da capacidade de chamar pouco a atenção para desfechar seus ataques. Os dois primeiros, MAS 1 e 2 eram bastante velozes para as primeiras décadas do século XX (30 nós com seus motores a gasolina), mas de casco muito frágil. Os vinte barcos seguintes, MAS 3 a 22, tinham reforços estruturais e velocidade máxima ao redor dos 25 nós. Rapidamente, essa “safra inicial”  foi sobrepujada por novos desenvolvimentos, que incluíam motores elétricos para diminuir o ruído e melhorar a furtividade na aproximação para os ataques, mas mesmo assim foram esses modelos mais antigos que responderam por duas ações espetaculares, em que dois  encouraçados austro-húngaros foram ao fundo, um deles o mais novo do Império.

Na noite de 9 de Dezembro de 1917, os MAS 9 e 13 atacaram dois encouraçados pré-dreadnought da Áustria-Hungria: o Wien e o Budapest, que bombardeavam mas-atracadasalvos terrestres a partir de Trieste. Conseguindo aproximar-se dos navios sem serem detectados, graças ao seu baixo perfil e à escuridão, ambos dispararam seus torpedos (dois cada um). Os do MAS 9, que tinha por comandante Luigi Rizzo, atingiram o Wien em cheio. O velho encouraçado lançado em 1895, e que no início da guerra havia sido relegado a missões de treinamento, afundou rapidamente. O Budapest não chegou a ser atingido pelos torpedos do MAS 13, mas a ação foi coroada de sucesso por mais um motivo: os dois barcos torpedeiros escaparam da mesma forma que chegaram, sem serem vistos pelos seus alvos.

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No ano seguinte, em 9 de junho, os quatro encouraçados da classe Tegetthoff, os mais modernos da marinha austro-húngara, partiram em uma missão de ataque à barragem anti-submarina dos aliados, em Otranto. Mas no dia seguinte a operação teve que ser cancelada. Motivo: na madrugada do dia 10, os MAS 15 e 21, em uma missão novamente szent-istvan-adernado-e-afundando1comandada por Luigi Rizzo, avistaram os navios e realizaram um ataque próximo à ilha de Premuda. Creditou-se aos dois torpedos do MAS 15 o afundamento do Szent István, o mais novo dos quatro Tegetthoff, após este ter adernado fortemente para boreste e emborcado.

Apenas como curiosidade,  na opinião deste autor a classe Tegetthoff, a única de encouraçados “dreadnought” austro-húngaros, tinha um desenho compacto bastante equilibrado, com porte semelhante ao Minas Geraes e ao São Paulo da Marinha do Brasil, que lhes precederam por poucos anos: com 152,2 metros de comprimento e 27,3 metros de boca, os Tegetthoff eram ligeiramente mais curtos que os dreadnought do Brasil, porém eram mais largos, diferindo muito pouco no calado. O armamento principal era o mesmo: 12 canhões de 12 polegadas (variando-se a origem, obviamente). Porém, os canhões estavam distribuídos em quatro torres triplas , instaladas longitudinalmente, ao invés das seis duplas de suas contrapartes brasileiras (quatro no sentido longitudinal e duas nos bordos), o que permitia aos Tegetthoff fazer fogo de bordada com todas as suas peças principais. (Obs: clicando nos diversos links deste parágrafo, você poderá acessar artigos do Poder Naval Online e fichas do site NGB – Navios de Guerra Brasileiros, também hospedado no PNOnline, sobre o Minas Geraes e São Paulo, para  fotos, especificações e matérias históricas)

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Voltando aos MAS, que demonstraram sua eficiência nas batalhas acima, as especificações típicas eram: 16 metros de comprimento e 2,6 metros de boca, com deslocamento de 16 toneladas. Levavam oito tripulantes e dois torpedos de 450mm, podendo ser complementados por um canhão de 47mm. A velocidade máxima dessa “safra inicial” situava-se na faixa de 25 nós. O alcance era bastante limitado, pelo que costumavam ser rebocados por contratorpedeiros até a área de operação, sendo desenvolvidas táticas, mais para o final da guerra, em que os CTs lançavam cortinas de fumaça para a atuação dos barcos torpedeiros. Mas, como se pode ver nas batalhas descritas acima, o fator surpresa conseguido quando operavam sozinhas, de maneira mais “stealth”, fazia a diferença.

Referências:

COOPER, Brian. Lanchas-Torpedeiras. Rio de Janeiro: Renes, 1973.

JACKSON,Robert; CRAWFORD, Steve. Fighting ships of the world. London: Amber Books, 2004.

MILLER, David. The Illustrated Directory of warships: from 1860 to the present day. Osceola: MBI, 2001.

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Corsario-DF

Excelente matéria. O fator surpresa sempre foi decisivo em qualquer batalha, até mesmo a da sobrevivência no mundo animal…
Os Italianos já tinha barcos Sthealth já na 1ªGM!!!

Sds.

Alfredo_Araujo

Interessante tmb para se fazer um topico sao os X-Craft britanicos..

Noel

Muito interessante, italianos e seus torpedos novamente.

Mahan

Poderia também abordar a ação das torpedeiras contra o AQUIDABÃ?

Nunão

Mahan, até já separei material pra isso. Deverá ser o próximo “artigo histórico” que vou escrever, embora mais voltado pra quem não conhece o ocorrido. Aguarde.

Mauricio R.

Havria um paralelo entre o design MAS italiano, que tb prestou serviços na 2ª GM e as torpedeiras Higgins da US Navy???

Mauricio R.

Desculpe, leia-se: Haveria

Nunão

Mauricio, na Segunda Guerra os MAS italianos eram bem diferentes desses iniciais, que “provaram o conceito”. Então não dá pra dizer, falando desses iniciais, que o design MAS italiano também prestou serviços na 2ª GM, já que só o nome MAS e alguns princípios em comum permaneceram. Mas dentro do universo da 2ªGM, dá sim para comparar os diversos designs. Os excelentes motores Isotta Fraschini das lanchas torpedeiras italianas tornava-as normalmente mais velozes (acima de 42 nós) que suas contrapartes norte-americanas e inglesas (em geral menos de 40 nós), mas eram um pouco mais frágeis em mar aberto. Os mais… Read more »

Flavio Santana

Mais um exemplo que as vezes uma arma mais barata, mas mais criativa, pode fazer toda a diferença num campo de batalha.

Acho que o Brasil deveria pensar mais em “armas que realmente fazem a diferença” do que em montar uma esquadra convencional mas quantitativamente pouco eficaz (de que adianta 1 SubNuc ou 1 NAe ?… numa guerra quem tem UM, na verdade tem NENHUM).

Nunão

Bem lembrado, Flavio e não discordo que deve-se olhar bem para esses exemplos e buscar soluções criativas e eficazes para nosso TO, hoje.

Mas não se deve esquecer que, se por um lado na I GM a Itália tinha os MAS, que realmente fizeram a diferença nessas duas ocasiões importantes, fora a razoável tonelagem de mercantes que afundaram, por outro também tinha uma bela esquadra com bom poder de dissuasão, e com um programa de construção anunciado / em andamento que deu motivo para a Áustria-Hungria construir seus quatro Tegetthoff.

Wagner da Silva

Na 1 guerra as marainhas não dispunham de Radares nem de um conceito de defesa eficaz contra pequenos torpedeiros era crença na época que somente um couracado poderia destruir outro porém na 2 guerra as lanchas torpedeiras italianas obtiveram poucas vitórias e apenas os MAYALE tiveram sucesso