Modelo é destinado a intervenção maciça e rápida com soldados, helicópteros e tanques

Roberto Godoy

A Marinha do Brasil vai ter ao menos dois Navios de Múltiplos Propósitos, um conceito novo de navio autossuficiente. Cada um desses gigantes, grandes como dois campos de futebol e feitos para projetar poder naval, leva uma força completa de intervenção: soldados, tanques, helicópteros, lanchas, mísseis e hospital, mais um sofisticado centro de inteligência.

Cada unidade, de alta tecnologia, custa hoje entre US$ 600 milhões e US$ 750 milhões, no mercado internacional. É um programa ambicioso, contemplado no Plano de Articulação e Equipamento da Marinha (Paemb), ainda sem prazo definido. Em nota, o comandante da Força, almirante Júlio Moura Neto, disse que “o processo de aquisição depende da disponibilidade de recursos orçamentários, não tendo sido ainda selecionado um projeto específico”.

Os dois fornecedores mais importantes são os Estados Unidos, que mantêm uma frota variada de oito navios, e a França, que desenvolveu uma versão avançada, a classe Mistral. O governo da Rússia quer comprar quatro exemplares.

Embora apresentado como um lançador de ataques anfíbios, o conceito de múltiplo emprego aumenta a eficiência das operações de mobilização e deslocamento rápidos. Os meios devem permitir o lançamento acelerado de 900 a 1.400 combatentes, 280 veículos e 30 helicópteros, em cenários distantes até 5 mil quilômetros. O contingente e seus recursos precisam ter capacidade de atuar sem novo apoio por dez dias, em posições avançadas, a 100 quilômetros do local de desembarque. A principal alteração em relação ao esquema tradicional das ações anfíbias é a integração em um único centro embarcado.

Em missão, o supernavio exige cobertura aérea permanente por meio de aviões de caça, sob coordenação de uma aeronave de vigilância e alerta antecipado. No mar, uma flotilha de escolta cuida da proteção (veja infográfico).

O Navio de Múltiplos Propósitos é virtualmente autônomo. Além dos helicópteros, de dúzias de tanques, blindados sobre rodas, lanchas de desembarque de tropas e centenas de soldados, abriga um hospital com capacidade para executar cirurgias de grande complexidade. Na ponte principal, alta como um prédio de 15 andares, funciona uma sofisticada sala de situação com enlace eletrônico por satélite, de onde são tomadas as decisões de comando e processadas as informações de inteligência.

Frota de superfície. A prioridade de médio prazo da Marinha é, todavia, a renovação da frota de superfície. O ProSuper, nome do programa, compreende 11 navios, com investimentos estimados entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões. A fase atual é de consultas a empresas candidatas à parceria pretendida. Estão sobre a mesa de negociações ofertas da Itália, Reino Unido, Alemanha, Coreia e França. Esse primeiro estágio, com a escolha da parceria, pode sair até o fim do ano.

A primeira fragata ficará pronta entre 2018 e 2019 – a entrega do navio-patrulha ocorre 12 meses antes. Depois da seleção, a complexidade do processo exigirá um ano de discussões para ajuste da transferência de tecnologia, estabelecimento da rede de fornecedores e das compensações comerciais.

Plano completo. Há um ano, a Marinha apresentou aos empresários do setor um plano completo, abrangendo 61 navios de superfície, mais cinco submarinos, quatro de propulsão diesel-elétrica e um movido a energia nuclear. O horizonte dessas encomendas vai até 2030.

O pacote prioritário, definido como ProSuper, abrange cinco fragatas de 6 mil toneladas com capacidade stealth, de escapar à detecção eletrônica, quatro navios-patrulha oceânicos, de 1,8 mil toneladas, e um navio de apoio, de 22 mil toneladas, para transporte e transferência em alto mar de todo tipo de suprimentos.

A intenção da Marinha é que apenas a primeira fragata e o primeiro patrulheiro sejam construídos fora do País, embora com acompanhamento de técnicos e engenheiros brasileiros. Há grupos diretamente interessados em participar desse empreendimento. A Odebrecht Defesa e Tecnologia prepara os estaleiros da Enseada do Paraguaçu, na região metropolitana de Salvador, para disputar o ProSuper. A empresa, associada à francesa DCNS, está construindo em Itaguaí, no Rio, uma nova base naval e mais as instalações industriais de onde sairão os cinco submarinos do Prosub, encomendados por 6,7 bilhões. Os quatro primeiros, da classe Scorpéne, terão propulsão diesel-elétrica. O quinto será o primeiro, de um lote de seis unidades movidas a energia nuclear, que a Marinha quer produzir até 2047.

 

Para entender

O programa de reequipamento e reorganização da Defesa contempla Forças Armadas ágeis, especializadas e preparadas para cumprir missões expedicionárias. Nesse sentido, o advento dos Navios de Múltiplos Propósitos dá substância à teoria por meio de uma estrutura operacional que permite a mobilização rápida de um considerável contingente de combatentes, cerca de 900 militares, com acesso a helicópteros, tanques, lanchas e, sobretudo, a informações de inteligência, processadas a bordo.

FONTE: O Estado de São Paulo

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Mauricio R.

Oba, excelente oportunidade p/ nos livramos do “Opalão” e tb daquele upgrade-maracutaia dos inúteis “Skyhawks”!!! Para tanto basta alguem c/ autoridade e reputação ilibada, enquadrar as idéias mirabolantes da MB, ao estritamente possível de se realizar. Assim poderíamos aproveitar a disponibilidade de alguns LHA classe “Tarawa”, há pelo menos 2 recém desativados, existentes na US Navy. O que aliás seria bastante interessante e útil, pois tb permitira-nos desativar os NDD “Rio de Janeiro” e “Ceará”. “Os dois fornecedores mais importantes são os Estados Unidos, que mantêm uma frota variada de oito navios, e a França, que desenvolveu uma versão avançada,… Read more »

Ozawa

“Em nota, o comandante da Força, almirante Júlio Moura Neto, disse que o processo de aquisição depende da disponibilidade de recursos orçamentários, não tendo sido ainda selecionado um projeto específico”… Qdo. vi o post, por uns instantes, antes de chegar ao trecho em destaque, renovei as esperanças…, pensei diante do título da matéria estar lendo uma ação de governo, uma definição, um passo concreto na renovação dos meios navais, mas, qdo me deparei com o referido trecho ilustrando as recorrentes “condicionais conjunturais de índole econômica”…, e ainda nem selecionado foi um tipo pela MB…, recostei-me na cadeira, suspirei fundo, e… Read more »

Antonio M

Muito legal essa idéias mas, e nossa defesa costeira? Já está tudo consolidado, funcionando perfeitamente principalmente depois das lições que deveríamos ter aprendido com o voô 447 da Air France, apenas para ser mais recente ?!!?

Precisamos melhorar muito nossa defesa, se pretendemos ter forças de ataque/expedicionárias.

Wilson

Texto com cara de press release da Marinha.

daltonl

Talvez o Godoy tenha pensado uma coisa e escrito outra, pois EUA e França são os maiores usuarios e não fornecedores desse tipo de navio, operando hoje 8 e 3 respectivamente. Quanto aos 2 LHAs americanos recentemente descomissionados, mesmo que fossem postos à venda, são grandes demais e caros demais para operar e precisariam passar por um caro overhaul para durar mais uns 15 anos apenas antes de uma transferencia futura. O futuro USS América, não possuirá doca alagavel, o que os EUA pretendem corrigir nos proximos da classe, mesmo assim, continuam grandes demais para nós. Os 2 “Juan Carlos”… Read more »

Mauricio R.

Para uma marinha que opera 1 porta-aviões, 2 NDD e 1 NDCC, tdos cascos na faixa dos 45-50 anos de vida, os “Tarawa” seriam uma benção, até por serem de concepção bem mais recente. Trariam capacidades que o “Mistral”, mais novo mas mais caro, não tem e que o tornariam ainda mais caro, caso fossem incorporadas. Aliás o Juan Carlos I adquirido pela Austrália, ilustra mto bem esse fato. A RAN poderia mto bem ter solicitado a remoção dessas características, alterando o projeto padrão e pagando pelos custos incorrídos o que tornariam o projeto mais caro, mas diminuiriam sua interoperabilidade… Read more »

Baschera

Infelizmente… matéria press release para não deixar esquecer o assunto.

Também conhecida como “lero-lero” ou “pastel de vento”.

Enquanto isto, se vai de Opalão e A-4 modernizé mesmo….. que dureza!!

Sds.

Nautilus

Mauricio R., você está querendo dizer que a MB deveria substituir o NAe São Paulo, os NDD Ceará e RIo de Janeiro e o NDCC Matoso Maia, por três Tarawa? Ou substituí-los por navios da Classe do Mistral? Em nenhum dos dois casos, um NAe poderia ser substituído por um Tarawa ou por um Mistral. NAe é NAe. Navio de Ataque Anfíbio (para usar o termo empregado pelo Godoy no texto) é Navio de Ataque Anfíbio. O que a Marinha persegue, muito acertadamente, é um poder naval flexível. Uma esquadra capaz de cumprir todos os papéis atribuídos a um Poder… Read more »

daltonl

Mauricio… o Tarawa está com 35 anos…é certo que ele passou por uma inspeção que o considerou apto para a reserva, mas não significa que ele não precise de um overhaul antes de ser colocado em serviço novamente, no caso de um país adquiri-lo este overhaul teria que ser mais completo e não um para uma situação de emergencia. Os nossos G-28, G-30 e G-31 foram apropriados pela nossa marinha no mesmo dia que foram descomissionados na US Navy, o mesmo não aconteceria com o Tarawa na reserva há mais de 2 anos. Os 3 navios citados seriam necessários para… Read more »