Uma capacidade que sempre fez falta na MB são escoltas com capacidade de defesa aérea de área. Para uma marinha que pretende ter um NAe equipado com caças embarcados para defesa aérea, parece incoerência ainda não estar operando com estes meios.

Um NAe com caças embarcados não garante a capacidade de defender um Grupo Tarefa continuamente ou contra todas as ameaças aéreas. Os caças embarcados podem estar incapazes de decolar devido ao mau tempo, não podem reagir a uma ameaça mais numerosa cobrindo todos os alvos, ou podem não estar disponível em quantidade suficiente para manter Patrulhas de Combate Aéreo de forma contínua.

A resposta a estas limitações é o conceito de defesas em camadas, com os caças cobrindo ameaças mais distantes enquanto as escoltas antiaéreas cobrem as ameaças mais próximas. No fim do engajamento, as defesas de cada navio cuidariam do que sobrasse.

As fragatas da classe Niterói equipadas com o Albatros/Aspide tem capacidade de defesa de área curta, o que ainda é insuficiente. As novas escoltas do PROSUPER devem ser a resposta.

PROSUPER

A MB reativou o Programa de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER), para a compra de cinco navios escoltas de cerca de até 6 mil toneladas (de um total de 30 escoltas previstas pelo PEAMB). O inicio da construção dos dois primeiros navios pode ocorrer entre 2012 e 2013.

O que chama atenção no PROSUPER é o tamanho dos meios envolvidos. Os possíveis concorrentes são navios com mais de 5 mil toneladas de deslocamento como as FREMM franco-italiana, a F100 espanhola, a KDX II coreana e a Type 26 britânica. Pelo menos a capacidade de levar mísseis com capacidade de defesa aérea de área faz parte dos requisitos, assim como a presença de sistemas de lançamento de mísseis vertical. Mesmo assim, algumas propostas foram projetadas sem capacidade de defesa aérea de área como as Type 26 britânicas.

O requerimento das escoltas do PROSUPER especificou o deslocamento como sendo no máximo 6 mil toneladas e o comprimento de 155 metros. Uma análise das escoltas atuais mostra que é raro encontrar navios com capacidade de defesa aérea de área menores que 5 mil toneladas. Uma exceção é a classe Formidable de Cingapura (imagem acima). Seis navios foram comprados em 2002 da DCN francesa. Os navios foram baseados na classe La Fayette Francesa. São navios de 3.200 toneladas com apenas 70 tripulantes graças a grande automação.

O que chama atenção nos navios da classe Formidable são os armamentos. O navio é equipado com quatro lançadores verticais SYLVER (SYstème de Lancement VERtical) podendo levar um total de 32 mísseis. Algumas fontes citam que os lançadores são do modelo A50 podendo levar mísseis Aster 15 e Aster 30. Os mísseis Aster 30 dão capacidade de defesa aérea de área devido ao alcance de até 100km. Junto com o radar Herakles a classe Formidable teria a mesma capacidade de defesa aérea de área de uma classe FREMM.

Além da capacidade de defesa aérea desejada, a classe Formidable preenche outro requisito importante para a MB que seria o custo. Um navio menor é sempre mais barato para comprar e operar. Os franceses diminuiriam ainda mais os custos equipando o navio com propulsão CODAD com quatro motores a diesel. É bem provável que a MB nem consiga verba suficiente para comprar mísseis para armar completamente todos os navios (até 32 mísseis antiaéreos por navio).

Considerando que a verba poderá ser cortada, como recentemente ocorreu com os cortes dos Royalties do petróleo, então é possível pensar na compra de apenas três navios para garantir que pelo menos uma esteja sempre disponível para operações. Caso a verba seja insuficiente para três navios é possível pensar em alternativas. Como a capacidade mais desejada é a defesa aérea então é possível pensar em um navio sem a capacidade anti-submarina com os sonares e tubos lança-torpedos previstos para uma modernização futura. O mesmo pode acontecer com os mísseis anti-navio que seriam instalados posteriormente (provavelmente o MAN-1 nacional). As marinhas operam em Grupos Tarefas e estas capacidades podem estar presentes em outros navios. Outra opção é garantir a capacidade de operar um dos novos helicópteros MH-16 SeaHawk que terão capacidade anti-submarina e anti-navio.

O próximo passo é projetar o navio com a capacidade de levar também os lançadores SYLVER A70 capazes de levar mísseis cruise como o Scalp Naval. Assim o navio teria capacidade, mesmo limitada, de projeção de poder.

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Blind Man's Bluff

Navios de Air Warfare sao como impressoras. A impressora em si é baratinha. Caros, sao os cartuchos (mísseis) que a fazem funcionar!

Otimó texto pr G-Loc, as Formidable sao de fato uma boa opção para a MB. No entanto não acredito que, levando em consideração as capacidades do radar Herakles, seja possivel manter uma defesa de area com apenas 1 navio em operação. Nem 1 e apenas 1 AEGIS é capaz de tal excelencia.

joseboscojr

G-Lock,
Dizer que o sistema Albatroz provê defesa de área curta é muita generosidade. rsrsss
Está mais pra “defesa de ponto estendida”. rsrsss
Um abraço.

joseboscojr

A parte do texto que cita a incoerência da MB foi muito feliz.
Como pretender ter um NAe se sequer temos navios de defesa aérea?
De minha parte sempre fui desfavorável ao Brasil ter um NAe. No máximo tínhamos que operar um ou dois “navios de funções múltiplas/assalto anfíbio”, operando helicópteros.
Um marinha enxuta, porém, eficaz, com dissuasão baseada em submarinos e aviões baseados em terra.

Blind Man's Bluff

Eu concordo plenamente com vc joseboscojr.

Pelo custo total de se manter porta avioes e avioes de outra era, poderiamos ter uma boa capacidade real defensiva e moderna. Afinal, nossa doutrina está baseada na defesa da nossa costa nao?

daltonl

A US Navy já está buscando um sucessor para o AEGIS que é o AMDR que consome muito mais energia, daí a necessidade de navios maiores até mesmo do que 6000 toneladas, além do que, navios menores, mais baratos tem pouca margem de crescimento durante os cerca de 30 anos ou mais de vida. Um helicoptero apenas? E se na hora “H” aparece um imprevisto mecanico? Tripulações pequenas custam menos, o problema é que se o navio é atingido pode não haver mãos suficientes para controle de danos. São muitas questões quando se pensa em novos navios …não deve ser… Read more »

marciomacedo

Sempre achei as Formidables um pouco mais encorpadas como solução ideal para escoltas multifunção da MB, por serem baratas para comprar e manter, logo dentro de nossas possibilidades. Mas coloco uma outra alternativa para a defesa AA: a derivada da Laffaeyete contruída para a Arábia Saudita, adaptada às especificações da MB.

Ricardo Cascaldi

Ótimo texto, realmente a marinha está demonstrando várias incoerências.

Sobe a MB ter NAe, ontem no xat eu estava discutindo com o pessoal sobre essa questão. Melhor a marinha se tocar que não adianta manter experiência em caças embarcados se no “futuro” ( algo perto de 2020/2030) não vamos ter NAe ( SP deverá sair de serviço por aí, concordam? ). Têm que escolher! Ou sub nuclear, ou NAe, ou acorda para a vida e vê que a melhor opção são os LHD, pois os outros “brinquedos” são muito caros.

PEAMB é o maior delírio naval brasileiro.

Abraço!

Blind Man's Bluff

Amigos, nao se iludam com sub nuclear. Se o Brasil investir tudo que tem q ser investido (nao o que esta sendo investido), um SSN “capaz” nao é pra 2030. Podem colocar mais uns 30 anos até que seja silencioso e confiavel o suficiente para ser comparavel. E outra, para que necessitamos um sub nuclear?
Quantos SSKs + AIP se compram pelo preço de 1 SSN?

juarezmartinez

Eu acho esta linha de pensamento de comprar op navio “castrado90” e depois ir comprando o resto, um perigo, ainda mias se tratando de Brasil, pois corre-se o risco do navio passar toda sua história extamente como começou.
Acredito que o idela seria comprar um número menor de escoltas de 6.000 full e completar a dotação com navios menores com caracteristicas priorítárias diferentes,o tão falado low – higth….

Grande abraço

G-LOC

Blind man, os dados de alcance do Herackles – 3D air domain: 250 km / Surface domain: 80 km Defender um NAe com uma formidable pode ser pouco mas é muito melhor que as atuais T22 e Niterói. Se quiser mais vai ter que investir também na aviação embarcada para ficar equilibrado. Se o inimigo for muito potente então nem manda o GT. Daltonl, a Formidable é altamente automatizada, mas para um país pobre como o Brasil eu investiria mais em mão de obra para diminuir os custos de compra e talvez até de operação se considerar que a mão… Read more »

marciomacedo

Se é para desenvolver doutrina, porque não começar já com os Cassard franceses ou algumas OHP revitalizadas?

Mauricio R.

O meu pto de vista é o de não se prender a nenhum design pronto e acabado, mas observar as tecnologias disponíveis nos mesmos e após criteriosa análise de viabilidade técnico-econômica desta ou daquela tecnologia, de acordo c/ nossas necessidade e possibilidades; irmos atrás das que interessarem. A proposta da classe “Formidable” em que pese sua origem francesa, seria um casco a ser considerado, qnto a substituição das atuais “Niterói”, “Type 22 B-1” e até mesmo as “Inhaúmas” e a “Barroso”. A mesma poderia tb ser atendida, por um dos cascos da série SIGMA. A substituição de tantas e diversas… Read more »

joseboscojr

Como vivemos quebrados temos que pensar na possibilidade de termos navios de defesa aérea com mísseis menos capazes que os atuais Standards/Aster que compõe a maioria dos modernos navios dedicados do ocidente. Poderíamos muito bem nos armarmos com um navio mais barato, com radar 3D giratório e dotado de mísseis ESSM (50 km de alcance) lançados de lançadores verticais Mk-48. Dezesseis células do Mk-48 (8 de cada lado ???) nos proveria com 32 mísseis ESSM de defesa de área estendida. Parece pouco, mas é equivalente a um OHP armado com Standard SM-1. Tal navio hipotético não precisaria inicialmente de mísseis… Read more »

joseboscojr

Ainda há uma quarta opção para a defesa de área além dos mísseis ESSM, Standard e Aster, que é o Barak II (Barak 8), desenvolvidos por Israel e Índia.
Além é claro dos sistemas russos.

G-LOC

Marcio, para desenvolver doutrina eu gostaria que a MB tivesse comprado pelo menos duas Type 42 britânicas. Os Sea Dart parecem que foram bem modernizados e passaram a frente dos Standard 1 em capacidade. Não derrubou muita coisa nas Malvinas, mas os britânicos gostaram por forçar os argentinos a voar bem baixo diminuindo sua eficiência, incluindo as bombas que não detonaram e a diminuição do alcance dos caças.

Eu favoreceria mísseis com guiamento ativo como Aster e futuramente o Barak 8 para cenários onde o inimigo tenta saturar as defesas.

G-LOC

O ESSM tem alcance máximo de 30km e não 50km. O lado bom é poder levar quatro em um lançador VL41. Então seriam 32 em um lançador óctuplo. Bastaria três lançadores VL41 para levar uma boa quantidade de mísseis de curto e longo alcance (standard 2 e ESSM).

joseboscojr

G-LOC, A vantagem do lançador Mk-48/56 para o ESSM é que ele pode ser adaptado em um navio não construído ou não muito modificado para recebê-lo, sem que seja necessário a penetração na estrutura do navio. Em muitos navios os lançadores Mk-48 são dispostos ao lado do hangar. E mesmo que o ESSM tenha alcance de 30 km, ainda é o dobro do alcance do Aspide do Albatroz, mas tudo indica que seja mais ainda. Alguns mísseis têm alcance maior contra alvos em baixa altitude e menos contra alvos voando alto. Isso se deve à trajetória loft, em que o… Read more »

GUPPY

Mauricio R. disse:

“O meu pto de vista é o de não se prender a nenhum design pronto e acabado, mas observar as tecnologias disponíveis nos mesmos e após criteriosa análise de viabilidade técnico-econômica desta ou daquela tecnologia, de acordo c/ nossas necessidade e possibilidades; irmos atrás das que interessarem.”

Concordo completamente.

Acho que a MB deveria explorar bem a crise econômica internacional para barganhar uma venda de peso. As KDX II/III não devem ser ignoradas como também uma eventual proposta alemã.

Abraços

marciomacedo

Pois é, G-LOC, o assunto T-42 foi ventilado na impensa mas despertou pouca atenção no blog. Algumas fontes sugerem que há ainda uma negociação em curso com a Inglaterra.

Almeida

Casco da La Fayette ou até mesmo das Niterói, do qual possuímos os desenhos e licença. Propulsão CODAD pras fragatas AAW e IEP com 4 diesels para as ASW/ASuW, para uma propulsão mais silenciosa e possibilidade de sprints curtos neste navios. De preferência da mesma família de diesels que serão usados nas improved Barroso, somente uma versão com mais cilindros, para melhorar e baratear a logística e treinamento. Na versão AAW, armamentos e sensores mais simples, porém mais modernos e igualmente capazes, como as duplas: IAI EL/M-2248 MF-STAR AESA + Barak II/8 (8x VLS com 8 mísseis cada, até 64… Read more »