Maquete de reator nuclear no Centro Cultural da Marinha em São Paulo - foto Nunão - Poder Naval

vinheta-clipping-navalOs dias são frios e claros na pequena cidade de Halden, no sul da Noruega – menos este ano, na primavera. No dia 10 de março, um domingo, a manhã ficou subitamente nublada no antigo condado de 3 mil anos. E no severo Instituto de Tecnologia da Energia, o IFE, outro fato incomum: o combustível nuclear que vai abastecer o submarino atômico brasileiro funcionou pela primeira vez – como vai funcionar em 2023, quando o navio já estará construído. “Foi emocionante”, define o comandante André Luis Ferreira Marques, do Programa Nuclear de Marinha (PNM).

A façanha dos especialistas saídos de Iperó, na região de Sorocaba, distante 130 quilômetros de São Paulo, não é pequena. “O ensaio científico é sofisticado e exige qualificação impecável da equipe envolvida”, destaca o oficial. O grupo, ligado ao Centro Aramar, preparou o teste durante três meses – embora certas providências e decisões tenham sido tomadas até um ano antes disso. A escolha dos laboratórios de Halden tem a ver com o fato de o Brasil não dispor, ainda, de um bom reator de pesquisa. Só agora o governo federal está providenciando a construção do modelo nacional, destinado a atender necessidades médicas, do setor agrícola e de energia.

Outro fator determinante, é a atitude do governo norueguês em relação ao PNM, identificado em Oslo como “estritamente pacífico”, logo, com acesso ao complexo de experiências e provas.

Para realizar a “qualificação técnica do combustível nuclear”, o nome oficial do exame, foi preciso negociar a compra do urânio a ser utilizado. A aquisição foi feita pela Noruega: um lote pequeno, de 20,2 gramas. O Brasil domina o ciclo do combustível e, sim, tem o material estocado. Todavia, a legislação exige que toda movimentação, saída e entrada no País, seja autorizada pelo Congresso.

A quantidade era pequena e a pressa era grande, uma boa justificativa para o recurso destinado a superar a dificuldade burocrática.

A pastilha de urânio foi desenhada e produzida de acordo com as especificações definidas no CTMSP, o restrito Centro Tecnológico da Marinha, que funciona agregado à Universidade de São Paulo (USP) e mantém o núcleo Aramar, em Iperó. “É um conhecimento limitado, que está sendo desenvolvido no Brasil faz 34 anos”, explica Ferreira Marques. O comandante não estava em Halden, no dia da verificação. Acompanhou o ciclo por meio de relatórios eletrônicos, transmitidos pela equipe.

Maquete submarino nuclear no Espaço Cultural da Marinha no Rio de Janeiro - foto 2 Nunão - Poder Naval

Fórmula 1. Os resultados do teste revelaram que o combustível nuclear poderia fazer o submarino de 100 metros e 4 mil toneladas mergulhar além dos 350 metros, navegar com agilidade esperada e a velocidades na faixa de 50 km/hora. “O combustível de um reator do tipo usado em usinas de geração de energia, trabalha como um caminhão, pesado e forte – o produto criado para abastecer o propulsor de um submarino é um Fórmula 1; rápido, crítico, de respostas imediatas e alto desempenho”, diz o comandante Marques, para quem “todas as metas foram atingidas, e sob condições reais de operação”.

O programa da Marinha avança rapidamente. No Centro Aramar o cronograma apertado corre de forma integrada com o do Pro Sub, focado na construção, em Itaguaí, no litoral sul do Rio de Janeiro, de um estaleiro, uma base, e o primeiro lote de novos submarinos, quatro convencionais diesel-elétricos, e um de propulsão nuclear. A execução está contratada com a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), associada com a para-estatal DCNS, da França, parceira na transferência de tecnologia. Ambos os empreendimentos, o PNM e o Pro Sub, vão receber, ao longo desse ano, R$ 2,5 bilhões. O dinheiro virá do PAC Equipamentos, o Programa de Aceleração do Crescimento que cobre setores da Defesa.

Nos 90 mil metros quadrados que integram a área de Aramar, acabou a fase em que o local era tratado como Sítio da Marinha e, sem dinheiro, as atividades eram limitadas apenas à manutenção dos prédios e à produção lenta das ultracentrífugas, as máquinas que transformam o urânio energeticamente “pobre” no elemento do tipo “rico”, mais vigoroso e adequado à alimentação de reatores (para movimentar navios, o enriquecimento fica no limite de 4%, o padrão do Brasil; para armas, o índice é superior a 90%; o processo nacional é permanentemente inspecionado por agências internacionais).

Depois da entrega da Usina de Gás, a Usexa, em 2012, todas as prioridades estão concentradas na obra do LabGene, o Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica. É um conjunto de onze prédios, cinco dos quais ancorados diretamente na rocha de base, capazes de resistir a terremotos, tornados e inundações. Neles, serão exercidas as atividades com elementos radioativos. O LabGene implica o maior contrato do sistema – vai custar R$ 220 milhões. O PNM consumiu, desde 1979, cerca de US$ 1,6 bilhão. Virtualmente suspenso na administração de Fernando Collor de Mello, voltou a atividade em 2007, por decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O valor destinado até 2015 é de R$ 1.040 bilhão em 7 parcelas atualizadas.

Com isso, o LabGene estará pronto para operar em 2016. No conjunto, em meio ao cerrado, a Marinha vai aprender coisas importantes como a montagem e a troca das varas de combustível – e também a técnica de integração entre o reator e sua célula, no navio. A longo prazo o ProSub é ambicioso. Prevê, até 2047, uma frota formidável, com seis submarinos nucleares e 20 convencionais – 15 novos e mais cinco outros revitalizados. O custo estimado de cada navio atômico passa pouco dos 550 milhões. O primeiro sairá por 2 bilhões, consideradas a transferência da tecnologia, e a capacitação do País para projetar essa classe de embarcação militar.

Em março, na outra ponta do programa, a presidente Dilma Rousseff inaugurou em Itaguaí a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas com 57 mil m²de área útil, 45 edifícios e 5 subestações elétricas, Ali serão montados os submarinos. Dilma ganhou rosas e declarou que o Brasil “tem o mérito de viver em paz (…), porém inserido de forma dissuasória no cenário internacional”.

FONTE: O Estado de S. Paulo.

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Vader

Mais uma notícia estranha, como tudo que cerca a história do “Moby Dick Brasileiro”, como o denominou certa autoridade norte-americana. Como é que é o negócio? Somos auto-suficientes em urânio, mas precisamos comprar uma pastilha de 22 gramas de urânio enriquecido a ridículos 4% no exterior? E o pior, a justificativa para isso é que tem que ter autorização do Congresso para mandar para o exterior. Aí os caras simplesmente desencanam do Congresso, como se a exigência legal (e s.m.j. constitucional!!!) fosse uma “simples formalidade burocrática”, vão lá, metem a mão no bolso, compram primeiro e falam depois, via imprensa?????… Read more »

Ricardo Cascaldi

De fato é bem estranha a matéria como o Vader disse, mas se assim vai, que assim seja.

Até eles não aguentam mais esperar o governo decidir as coisas…

Abraço!

wwolf22

o Brasil nao poderia sofrer espionagen nesse teste ???

MO

oi Wolfe, sim, talvez por parte de Zambia , Nauru, ou alguma virtual concorrente tecnologico tipo Burundi … desculpee a piada, mas nao resisti … hehehe

Augusto

Vader disse: 13 de maio de 2013 às 15:35 Se “a autoridade norte-americana” chama de Moby Dick você aceita. Se fosse autoridade italiana, alemã ou francesa você concordaria também? Não há nada de errado com o que foi noticiado. Há um cronograma apertado para o desenvolvimento do submarino e não é inteligente depender de deliberações infindáveis do Congresso para a remessa de quantidade tão pequena. Aliás, a autorização do Congresso é necessária tão-somente no caso de o urânio enriquecido entrar no país ou na hipótese de ser remetido para o exterior, e no caso em comento não houve nenhuma das… Read more »

aldoghisolfi

Não gosto do ‘jeitinho’ para tratar desses assuntos…

MAS, confirmou a minha posição, assumida desde muito tempo atrás: o NUKE é o meio de termos um programa nuclear nas mãos eficientes dos milicos, coisa que até que aprovo.

Afora isso, realmente é uma Moby Dick!

joseboscojr

O teste provou que o combustível nuclear para um submarino nuclear de sabe-se lá de onde feito sob as especificações brasileiras que foi adquirido pela Noruega para ser testado num laboratório funciona perfeitamente.
Parabéns a sei lá quem de sei lá onde!
Ah! Lá o laboratório norueguês considerou o PNM que visa desenvolver e construir um submarino nuclear um programa estritamente pacífico.
Ah! Tá! Então tá!
Segue o cortejo…

MO

sub nuclear pacifico, seria Boscão a versão Batch II dfde um çubimarino cor de rosa de um certo filme ? .. mas mesmo aquele cor de rosa do filme era de combate … ai que viadagem este papo de passifico … kkkk

Vader

Augusto disse: 13 de maio de 2013 às 17:14 “Se “a autoridade norte-americana” chama de Moby Dick você aceita. Se fosse autoridade italiana, alemã ou francesa você concordaria também?” Se a autoridade fosse italiana, alemã, francesa, nigeriana, malaia ou paraguaia; se fosse o Xá da Pérsia, o Sultão Mohammed, Alexandre o Grande, Napoleão Bonaparte, o Imperador Atahualpa ou o Papa Julio II; se fosse o Duque Leto Atreides, o Rei Robert Baratheon, o Imperador Palpatine, ou Manwë Súlimo; se fosse o Rei dos Venusianos, o Presidente da Zamúndia ou o Sumo-Sacerdote dos Aliens Gray, aceitaria do mesmo jeito. Porque é… Read more »

Marcos

Tiveram de comprar lá fora 20 g de Urânio;
O fabrico da pastilha foi feita lá fora;
O teste foi feito em um reator Na Noruega.

Os caras não dão conta de fazer um teste aqui dentro e querem
construir um reator e um submarino nuclear.

Marcos

E vão construir 15 novos submarinos convencionais e 6 nucleares!
Hmmmmmm…

Cada submarino nuclear custará 550 milhões de PECETAS TUNISIANAS, creio eu, exceto o primeiro, que custará 2 bilhões das tais Pecetas, por conta da tal transferência de tecnologia.

daltonl

Não confundamos as criaturas. O embaixador americano classificou o submarino nuclear como “elefante branco” que na opinião dele sugaria recursos necessários para outras prioridades de defesa.

Moby Dick como voces sabem foi uma baleia cachalote branca de enorme força, segundo o romance de Herman Mellville. 🙂

joseboscojr

O Brasil pelo menos pode se gabar de ter o programa de submarino nuclear mais legal da história, sem nenhuma espionagem industrial, totalmente dentro da lei, embora não deixe de usar o velho jeitinho brasileiro pra driblar o Estado que é quem faz as regras e do qual a MB é um dos baluartes. Como é Estado com Estado sai até no Jornal Nacional, se fosse da iniciativa privada, tava enrolado. Como já dizia o velho Napoleão: há tantas leis que ninguém está livre da forca. O interessante é que a MB podia só pegar essa coisinha de 20 gramas… Read more »

joseboscojr

Marcos,
Não seja irônico.
Ficou muito bem definido o valor do elefante branco chamado de Moby Dick, são 550 milhões.

Rsrssss

joseboscojr

Também teremos o submarino nuclear mais barato da história.
Quinhentos e cinquenta milhões é muito pouco não importa 550 milhões de quê.
Comparado ao custo de cada F-X esse submarino nuclear brasileiro é uma verdadeira pechincha.

aldoghisolfi

Grande Mo!

É deboche construir um NUKE como o ‘nosso’ para fins pacíficos…

Esse NUKE só se justifica diante do desenvolvimento de tecnologia nuclear, inclusive o desenvolvimento do reator nacional e sua miniaturização. Fora isso, elefante branco ou Moby Dick, tudo é a mesma coisa. É um buraco negro financeiro.

MO

É Aldo, vamos ver até que ponto chegamos neste papinho de país pacifico … vamos ver até onde voamops ou até onde nos levarão a sério, se é que alguem leva né, pois nao cheiramos nem fedemos …

Vader

Os amigos riem, mas a coisa é séria. Pelo menos o antigo elefante branco, que estava sendo planejado há 40 anos (o submarino amarel… ops, nuclear, mais demorado da história) e foi enterrado pelo Collor, era uma arma de VERDADE, capaz inclusive de lançar mísseis de cruzeiro e, um dia, se tudo desse certo, mísseis nucleares. Depois que a Marinha virou “pacifista” e “legalista” como os amigos demonstraram, vamos ter um submarino nuclear de passeio. Creio que será o primeiro caso no mundo de ter um submarino nuclear que não lança mais do que torpedos. É aquela velha história: se… Read more »

Blind Man's Bluff

Moby Dick para ser gentil. kkk

joseboscojr

Vader, Não sei se o Moby terá lançadores verticais de mísseis mas como ele será o primeiro submarino nuclear de defesa costeira muito provavelmente não irá lançar nenhum LACM. Quanto aos ASCM ele poderia lançá-los dos TTs mesmo. Mesmo nos EUA os submarinos só começaram a receber lançadores verticais para Tomahawks no final da década de 80, e olha que eles eram submarinos de ataque. Quanto a ASCM lançados de submarinos está meio fora de moda e a USN já não os utiliza preferindo os torpedos para fazer o serviço. Mas claro, a USN tem suas peculiaridades e não quer… Read more »

Soyuz

Estes programas como do submarino nuclear, de foguetes brasileiros, são mais ou menos como torcer para o Felipe Massa.

Faltou um pouquinho de combustível aqui, o pneu desgastou demais ali, a estratégia de pit stop tava equivocada acola, uma pitadinha de sorte a mais, hum, uma punição injusta hoje, uma falha na embreagem amanhã…

Um dia dá!!!

Duro que a gente vai envelhecendo, os filhos crescendo, os avós morrendo, mas um dia dará certo.

MO

isso que vivo dizendo EK, um dia enche o saco este papo de agora vai, livro preto, ende, prosuperfifa soccer e por ai vai ….

GUPPY

MO disse, “…a versão Batch II dfde um çubimarino cor de rosa de um certo filme ? .. mas mesmo aquele cor de rosa do filme era de combate …” Anáguas a bordo? Soyuz disse, “…são mais ou menos como torcer para o Felipe Massa. Faltou um pouquinho de combustível aqui, o pneu desgastou demais ali, a estratégia de pit stop tava equivocada acola, uma pitadinha de sorte a mais, hum, uma punição injusta hoje, uma falha na embreagem amanhã…” O “quase” para o Felipe Massa é tão incrível que ele já cruzou a linha de chegada como Campeão do… Read more »

MO

isso mesmo, qto ao maçça, sou mais o Will Power….hehehe