A Grande Frota Branca: A ascensão naval dos Estados Unidos e a diplomacia do ‘Big Stick’

Entre dezembro de 1907 e fevereiro de 1909, os Estados Unidos realizaram uma das mais ambiciosas demonstrações de poder naval da história moderna: a viagem da Grande Frota Branca (Great White Fleet). Composta por 16 encouraçados pintados de branco e acompanhados por navios auxiliares, a frota percorreu cerca de 46 mil milhas náuticas em uma circunavegação do globo, visitando portos em seis continentes. Idealizada pelo presidente Theodore Roosevelt, a missão combinava objetivos estratégicos, diplomáticos e logísticos, consolidando os EUA como uma potência naval emergente no início do século XX .
Objetivos Estratégicos e Diplomáticos
A viagem da Grande Frota Branca teve múltiplos propósitos. Em um contexto de tensões crescentes com o Japão após a vitória japonesa na Guerra Russo-Japonesa (1904–1905), Roosevelt buscava demonstrar a capacidade dos EUA de projetar poder naval globalmente. A presença da frota em portos internacionais servia como um aviso sutil, reforçando a política do “Big Stick” e dissuadindo possíveis agressões .
Além disso, a missão visava fortalecer laços diplomáticos. Em cada parada, a frota era recebida com celebrações e cerimônias, promovendo a boa vontade e o prestígio dos EUA. Na Austrália, por exemplo, a visita incentivou o desenvolvimento de uma marinha nacional, enquanto no Brasil, a recepção calorosa em 1908 reforçou os laços bilaterais.
Logística e Aprendizado Naval
A jornada também serviu como um teste logístico sem precedentes para a Marinha dos EUA. Atravessar oceanos e manter uma frota operacional exigia planejamento meticuloso em abastecimento, manutenção e coordenação. A experiência adquirida foi inestimável, revelando deficiências em design de navios e infraestrutura de apoio, e destacando a necessidade de uma marinha mercante robusta para sustentar operações de longo alcance.
Impacto e Legado
O sucesso da missão consolidou a reputação dos EUA como uma potência naval global. A demonstração de força e a capacidade de projeção de poder influenciaram a percepção internacional, estabelecendo os EUA como um ator central nos assuntos globais. Internamente, a viagem reforçou o apoio público à expansão naval e à política externa assertiva de Roosevelt.
A Grande Frota Branca não apenas exibiu o poderio militar dos Estados Unidos, mas também simbolizou a transição do país para uma nação com interesses e responsabilidades globais. A viagem permanece como um marco na história naval, exemplificando como a diplomacia pode ser conduzida por meio da demonstração estratégica de força.
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Até que um dia uma publicação sobre esse evento sem cunho ideológico.
Os livros do Moniz Bandeira tbm são excelentes. Já leu?? Recomendo demais.
Obrigado pela dica.
Parafraseando o ditado sobre a mulher de Cesar: “Uma potencia não basta ser forte, deve parecer ser forte”.
Ele já almejavam essa posição no tabuleiro geopolitico mundial.
O poderio militar dos EUA é cheio de altos e baixos. Era patético antes da Guerra Civil (1861 – 1865 ) e se a Guerra Civil é considerada a primeira guerra moderna da humanidade que viu o exército nortista ultrapassar 1.000.000 de militares o que veio depois foi patético também. . Isso mudou com a curta guerra contra a Espanha em 1898, período em que os EUA desbancaram a Grã Bretanha (Reino Unido) como a maior potencia industrializada e os territórios adquiridos da Espanha, principalmente Filipinas é que trouxe para o país interesses e responsabilidades globais que deveriam ser garantidos… Read more »
A importância fundamental de um ensaio/treinamento. Devem ter aprendido muito.
Pro exército, sempre repito sobre o Haiti, Angola, pacificações, e exercícios como os CORE, Amazon Log etc
A passagem da Grande Forta Branca pelo Rio de Janeiro tem como pano de fundo a Era do Saneamento e as ações de Oswaldo Cruz contra Febre Amarela e demais doenças tropicais, que depois beneficiariam o Brasil como um todo. A expectativa da visita, e a necessidade de projetar uma boa imagem do Brasil (e de sua então Capital, o Rio de Janeiro) foram decisivos para financiar o Instituto Osvaldo Cruz e a saúde pública.
Se fosse em dia iam dizer que ia virar jacaré…
O famoso ” destino manifesto”.
A nós, brasucas varonis, só restam lágrimas e muita leitura pra – tentar – compreender o porquê do nosso fracasso.
Inveja e tampouco a submissão que só aumenta a influência deles e aprofundam nossa desgraça não resolvem.
Um ponto interessante: embora seja impressionante o feito dos Estados Unidos, os couraçados da Grande Frota eram todos Pré dreadnougts, já obsoletos frente aos novos couraçados do Reino Unido e Alemanha. Mas foi, sem dúvida, um feito impressionante.
Algo pouco conhecido é que os EUA iniciaram seu próprio “Dreadnought” ao mesmo tempo que os britânicos, o “South Carolina” só que este levou mais tempo para ser completado até por conta de outras prioridades como a marinha mercante enquanto os britânicos na “corrida” contra à Alemanha o comissionaram em dezembro de 1906. . O “South Carolina” foi comissionado em 1910 e apresentou uma interessante inovação em que todos os principais canhões estavam na linha central, algo que eventualmente seria percebido por outras nações também. . O primeiro “Dreadnought” alemão foi comissionado em 1909, passando a um total de 4… Read more »
E pensar que apenas 20 anos antes o Riachuelo provocava acaloradas discussões no Congresso norte-americano sobre modernização da USN – nas palavras deles, o encouraçado brasileiro então recém-incorporado à Armada poderia pôr a pique toda a esquadra norte-americana (um exagero, óbvio).
20 anos depois, os caras tavam fazendo circunavegação com uma esquadra completa.
E a gente? Com os encouraçados de 20 anos antes (e apenas um, pois o outro tinha voado pelos ares…)
Lembrando que nesse período encontravam-se em construção na Inglaterra os dois
encouraçados “Dreadnought” , Minas Gerais e São Paulo que depois dos britânicos
eram os mais poderosos do mundo e causaram suspeita de porque o Brasil necessitava de tais navios incitando à Argentina à adquirir dois também.
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Diante de uma corrida naval acirrada, essa posição durou pouco, pois poucos anos depois se passou a construir o que foi chamado de “Super Dreadnought” e foi o Chile que acabou recebendo em 1920, tardiamente, um “super” o Almirante Latorre.