ESPECIAL: Poder Naval embarca no NPaOc ‘Araguari’ para comissão ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo

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O NPaOc Araguari e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo ao fundo - Foto via drone: Suboficial Wallace

Por Simão Pedro Ferreira Gonçalves – Natal-RN (reportagem e fotos)

Em 21 de julho, embarcamos no Navio-Patrulha Oceânico (NPaOc) Araguari (conhecido como “Cão de Guarda da Amazônia Azul”) da Marinha do Brasil na Base Naval em Natal (RN), a fim de participar da Comissão de Ação de Presença e Apoio à Estação Científica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP).

O navio suspendeu às 13h30 e, como era minha primeira experiência embarcado, não demorou para que os sinais clássicos de marinheiro de primeira viagem aparecessem: muita náusea, tontura e o desconforto típico de quem ainda está se adaptando ao balanço constante do mar. Nos dias seguintes fui me acostumando ao jogo do navio e a situação se normalizou.

Foram três dias e uma noite até chegarmos ao arquipélago de São Pedro e São Paulo. Ver os rochedos pela primeira vez foi impactante — uma mistura de desafio e alívio ao avistar terra firme, mesmo que fosse apenas um conjunto de pequenas ilhas rochosas no meio do Atlântico.

Ficamos quatro dias nas proximidades do arquipélago. Como não era possível atracar ou fundear, o transporte de material e pessoal foi feito com o uso das lanchas Pacific 24 do navio, o que exigia organização e precisão em cada movimentação.

Localização da Estação Científica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP)
O Arquipélago de São Pedro e São Paulo visto a partir do NPaOc Araguari 
Na lancha: pesquisador, pessoal da Marinha e de manutenção, prontos para o desembarque no arquipélago
Eu junto ao Comandante Carvalho na estação do arquipélago

Localizado no hemisfério norte, em plena região equatorial do Atlântico, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de ilhas rochosas situado a cerca de 1.100 quilômetros da costa de Natal (RN), dentro da Zona Econômica Exclusiva do Brasil. Entre suas cinco maiores ilhas está Belmonte, onde foi instalada, em 1988, a primeira Estação Científica do arquipélago.

Desde então, o local mantém presença permanente de militares e pesquisadores, garantindo a ocupação contínua da área e o desenvolvimento de atividades científicas.

À frente das operações há 30 anos estão o professor Dr. Jorge Eduardo Lins, biólogo marinho formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e o comandante Carvalho, oficial superior do Ministério da Defesa com ampla experiência em programas de pesquisa em ilhas oceânicas e na Antártica.

Considerado um laboratório natural, o arquipélago é referência em estudos nas áreas de biodiversidade marinha, geologia, oceanografia, climatologia e biotecnologia. A Estação Científica recebe regularmente estudantes e pesquisadores para o desenvolvimento de pesquisas e projetos acadêmicos.

O NPaOc Araguari, subordinado ao Grupamento de Patrulha Naval do Nordeste e sob jurisdição do 3º Distrito Naval, em Natal (RN), desempenha um papel estratégico no apoio técnico-científico à Estação Científica do ASPSP. A operação é coordenada por meio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar.

Simão Pedro no ASPSP

O Araguari realiza missões regulares de transporte de pessoal e materiais essenciais, garantindo a logística necessária para manutenções e atividades de pesquisa no arquipélago. O navio se destaca pela sua capacidade operacional: é ágil, possui grande autonomia, permite o transporte de cargas diversas em seu convés e está preparado para operações aéreas, caso necessário.

Sua tripulação passa por treinamentos constantes, com simulações e exercícios que asseguram alta qualificação para operar em um dos cenários mais desafiadores da Marinha do Brasil. A região remota e inóspita do arquipélago impõe condições severas, como mar agitado e limitações de comunicação, exigindo precisão e preparo contínuo.

As comissões do Araguari são fundamentais para a preservação e funcionamento da Estação Científica, assegurando a continuidade de pesquisas que contribuem diretamente para o conhecimento, monitoramento e proteção dos recursos naturais da região.

Durante esta comissão, foram realizados reparos e substituições em equipamentos essenciais, incluindo a antena de comunicação via satélite, passarelas de acesso e o sistema de esgoto da estação. As melhorias visam manter a estrutura operacional para o desenvolvimento de pesquisas científicas contínuas na região.

Está em andamento um projeto para a construção de uma nova estação científica, com previsão de implantação no próximo ano, o que deve ampliar a capacidade de pesquisa e habitabilidade no arquipélago.

A bordo do Araguari estavam 124 pessoas, entre militares, pesquisadores civis e este repórter do site Poder Naval, acompanhando de perto a operação.

O NPaOc Araguari visto do arquipélago

Depois de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha (PE) e Fortaleza (CE)

Terminado o trabalho no ASPSP, partimos para o arquipélago de Fernando de Noronha, localizado a 545 quilômetros do Recife, em Pernambuco. É um dos destinos mais emblemáticos do Brasil, reconhecido mundialmente pela sua biodiversidade marinha e paisagens preservadas. Formado por 21 ilhas, ilhotas e rochedos de origem vulcânica, apenas a ilha principal é habitada e concentra toda a infraestrutura para moradores e visitantes.

Desde 2001, Noronha é Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, reconhecimento que reforça a importância da preservação de seus ecossistemas. O arquipélago também abriga o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, que protege cerca de 70% do território e exige regras rígidas para visitação, incluindo limite de turistas e cobrança de taxas ambientais.

As águas cristalinas que cercam as ilhas são habitat de golfinhos-rotadores, tartarugas marinhas, tubarões e uma grande variedade de peixes tropicais. O arquipélago é considerado um dos melhores pontos de mergulho do planeta, atraindo cientistas e amantes do ecoturismo.

Noronha também carrega um peso histórico: descoberto oficialmente em 1503, foi disputado ao longo dos séculos por portugueses, holandeses, franceses e ingleses, deixando marcas em sua arquitetura militar, como o Forte dos Remédios, ainda preservado.

Depois de Fernando de Noronha, partimos no dia 30 à tarde para Fortaleza (CE) e retornamos à Base Naval de Natal no dia 5 de agosto, encerrando a comissão.

O NPaOc Araguari atracado em Fortaleza (CE)

Por dentro do NPaOc Araguari

Os Navios-Patrulha Oceânicos (NPaOc) da classe Amazonas representam uma das mais modernas ferramentas da Marinha do Brasil para a vigilância e proteção da extensa Amazônia Azul — área marítima de 5,7 milhões de km² sob jurisdição brasileira. Robustos, versáteis e com grande autonomia, eles desempenham papel estratégico no patrulhamento de águas jurisdicionais, apoio a operações de resgate, combate a ilícitos e proteção de recursos naturais.

A classe é composta por três navios: Amazonas (P120), Apa (P121) e Araguari (P122). Construídos originalmente no Reino Unido para a Guarda Costeira de Trinidad e Tobago, os navios foram incorporados pela Marinha do Brasil entre 2012 e 2013, adaptados às necessidades nacionais.

Com 90,5 metros de comprimento, 2.500 toneladas de deslocamento e autonomia para até 35 dias de operação ininterrupta, os NPaOc podem navegar em grandes distâncias sem necessidade de reabastecimento. Sua versatilidade é reforçada por um convoo capaz de operar helicópteros de médio porte, além de embarcações rápidas do tipo Pacific 24, usadas em abordagens e desembarques.

Os navios são equipados com canhão de 30 mm, metralhadoras de 25 mm e 12,7 mm, além de modernos sistemas de comando e controle, que permitem monitorar e coordenar operações em áreas estratégicas. Sua tripulação, composta por cerca de 80 militares, é treinada para atuar em cenários diversos — desde missões de patrulha e interceptação até apoio humanitário e busca e salvamento.

Nos últimos anos, os navios da classe Amazonas participaram de operações relevantes, como o combate à pesca ilegal em águas brasileiras, apoio a missões científicas no Atlântico e presença em exercícios navais multinacionais. A capacidade de atuar em regiões remotas, com autonomia e flexibilidade, coloca a classe entre os principais meios da Marinha voltados para a proteção dos interesses marítimos do Brasil.

Os NPaOc Amazonas, Apa e Araguari representam o esforço permanente do país em garantir soberania sobre seu território marítimo, fundamental para a segurança, a economia e o meio ambiente.

Uma inesquecível experiência a bordo do Araguari

Durante a comissão, acompanhei de perto a rotina a bordo do navio. Observei as baldeações, participei dos exercícios e treinamentos realizados com a tripulação e pude presenciar o funcionamento do passadiço, onde vi as manobras, o governo do navio, os comandos e atracações. Do tijupá, tive uma visão privilegiada da navegação. Também me chamou a atenção a qualidade das refeições servidas a bordo — muito bem preparadas, saborosas, e feitas com evidente cuidado.

O que mais me impressionou no Araguari foi sua capacidade operacional e a disciplina da tripulação. Tudo é feito com ordem, rigor e uma eficiência que transmite confiança. Durante o embarque, aprendi muito — sobre disciplina, trabalho em equipe, adaptação a ambientes extremos e a importância da camaradagem. Além disso, pude ampliar meu conhecimento sobre navegação, cultura marítima e as tradições que mantêm viva a alma do homem do mar.■

AGRADECIMENTOS: CF Anselmo Azevedo da Silva (Comandante), CF Rezende (Imediato), CF Marco Antonio Carvalho de Souza (Comandante do Programa de Pesquisas Científicas no ASPSP), Tripulação do NPaOc Araguari e Pesquisadores, Base Naval de Natal e CF Braga da Comunicação Social do 3º Distrito Naval.


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Franz A. Neeracher

Parabéns Simão pela excelente matéria!!!

Fiquei até com inveja; gostaria de participar de uma comissão desta.

Uma pergunta:
Em várias fotos do ASPSP nota-se um pequeno barco ao largo…..saberia dizer do que se trata??

Fernando Vieira

Também fiquei curioso sobre aquele barco.

E pra onde manda currículo pra ser repórter do Poder Naval?

Emmanuel

Classe de navio muito mais essencial à MB do que submarino nuclear.

Augusto

Os 3 da classe Amazonas foram a mais útil compra da Marinha em muito tempo. Imaginem a lacuna gigante que teríamos se Trinidad e Tobago tivesse ficado com eles.

Burgos

Tinha que ter pelo menos mais 3 dessas distribuído pelo Brasil e mais uma 12 de 500t também distribuído pelo Brasil haja visto que a vida útil das de 250t estão chegando ao fim 😰

Burgos

Simão ganhou até Diploma de participação da Comissão 👍
Pequenos gestos que fazem a grande diferença e no final nos brinda com essa matéria.
Parabéns a todos envolvidos 🙌🇧🇷😎⚓️
Confesso 😏
Deu até vontade de voltar a navegar de novo😎