Um minissubmarino da Marinha, conhecido como SEAL Delivery Vehicle, durante um exercício de treinamento em 2007. Veículos semelhantes foram usados ​​na missão de 2019

Uma operação de altíssimo risco conduzida por integrantes do SEAL Team 6 dos Estados Unidos em território norte-coreano, no início de 2019, terminou em fracasso e deixou civis mortos. A missão, autorizada diretamente pelo então presidente Donald Trump, tinha como objetivo instalar um dispositivo eletrônico capaz de interceptar comunicações do líder Kim Jong-un, no auge das negociações nucleares entre Washington e Pyongyang.

O plano previa infiltração por mini-submarinos lançados de um submarino nuclear americano, com mergulhadores equipados com rifles não rastreáveis e trajes especiais para suportar a água gelada. O grupo deveria alcançar a costa, plantar o dispositivo e retornar sem ser detectado. Diferente de operações no Oriente Médio, não havia drones ou cobertura aérea em tempo real, já que qualquer sinal poderia denunciar a presença dos militares.

Ao chegarem à praia, os SEALs encontraram inesperadamente uma pequena embarcação norte-coreana. Temendo terem sido identificados, abriram fogo, matando todos os tripulantes — posteriormente identificados como civis pescadores de frutos do mar. Sem tempo para cumprir o objetivo, a equipe abortou a operação e foi resgatada pelo submarino americano.

O episódio nunca foi reconhecido oficialmente pelos EUA nem pela Coreia do Norte, mas fontes militares ouvidas pelo New York Times confirmaram a ação e apontaram que o Congresso não foi informado, em possível violação da lei americana que obriga a Casa Branca a notificar comitês de inteligência sobre operações dessa magnitude.

SSGN da classe Ohio equipado com  dry deck shelter (DDS) para operações especiais

Embora os SEALs tenham escapado ilesos, a operação comprometeu a já frágil relação diplomática entre Trump e Kim. Poucas semanas depois, a cúpula de Hanói fracassou sem acordo, e Pyongyang retomou seus testes de mísseis, acelerando o programa nuclear que hoje se estima contar com cerca de 50 ogivas.

Oficiais envolvidos receberam promoções, mas o caso reacendeu críticas sobre a ousadia excessiva de missões secretas de elite e a falta de transparência em operações de alto risco. Em 2021, já sob o governo Biden, o secretário de Defesa Lloyd Austin ordenou uma investigação independente sobre o episódio, cujas conclusões permanecem classificadas.

O episódio é mais um capítulo da longa e arriscada disputa de inteligência entre EUA e Coreia do Norte, revelando os limites das operações clandestinas quando realizadas contra um adversário nuclearizado e altamente fechado ao mundo exterior.■


 

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Marcos Aurélio Bernardo

Se mataram civis desarmados, deviam ser punidos… Bando de covardes.

Joao

Verdade….
Realizando “black ops”… deveriam ter liberado os civis e, quem sabe, estes os denunciariam, e o gordinho atômico começaria uma guerra… parabéns!!!

Guerra é dose…. Tem até tiro…. Inclusive morre gente….

Juvenal dos Santos

A praia devia estar sendo monitorada do ar e a presença dos pescadores imediatamente detectada e reportada, bastando a equipe de Seals esperar eles irem embora, ou até mesmo contorná-los, pra missão continuar, a gente pensa que os americanos pensam em tudo e que tudo é perfeito, não é bem assim.

Boitatá

Quando você está em território hostil, a milhares de km do seu país, as coisas não são tão simples.

Rogério Loureiro Dhiério

Para os residentes, que estavam apenas vivendo suas vidas simples, os hostis assassinos eram outras pessoas.

Resumo.
Para não entrar em território hostil…não vá até lá. Fique em casa, no seu quadrado, não do amiguinho.

Joao

Simples assim

Joao

Monitorado do ar como? Invadindo o espaço aéreo da Coreia do Norte, podendo quebrar o sigilo da operação que era clandestina?

Parece q não são só os americanos q não pensam em tudo….

Carlos Campos

Se eles mataram civis que não ameaçaram eles diretamente, que não tinham ligação com produção de armas e inteligência, foi um crime, eles deveriam ser expulsos.