Guerra Fria: A corrida para resgatar um F-14 Tomcat no fundo do Atlântico Norte em 1976

O F-14 acidentado localizado no fundo do mar
Em 14 de setembro de 1976, em pleno auge da Guerra Fria, um incidente a bordo do porta-aviões norte-americano USS John F. Kennedy (CV-67) mobilizou uma das operações de salvamento mais delicadas da Marinha dos Estados Unidos. Durante manobras próximas à Escócia, os motores de um caça F-14 Tomcat sofreram pane logo após a decolagem, fazendo a aeronave despencar no Atlântico. Os dois tripulantes conseguiram ejetar em segurança, mas o jato afundou a cerca de 1.850 pés de profundidade — quase 560 metros.
O episódio, por si só, já seria motivo de alerta. Mas a crise ganhou contornos estratégicos quando surgiram indícios de que embarcações soviéticas percorriam o fundo do mar com redes de arrasto, numa tentativa de localizar o Tomcat e, sobretudo, seus sofisticados mísseis ar-ar AIM-54 Phoenix — à época o armamento mais avançado de interceptação de longo alcance da aviação naval dos EUA. O risco de que tecnologia sensível caísse em mãos de Moscou levou o Pentágono a reagir rapidamente.
A Marinha dos EUA acionou então seu trunfo menos conhecido: o NR-1, um minissubmarino nuclear de pesquisa, projetado para missões de reconhecimento em grande profundidade. A busca durou semanas, sob sigilo rigoroso, com mergulhos minuciosos em meio à disputa silenciosa no fundo do mar. Após dois meses de operações, o F-14 e todos os seus mísseis foram recuperados intactos, frustrando as tentativas soviéticas de captura.


O dia, porém, guardava mais sobressaltos para o USS John F. Kennedy. Durante o reabastecimento com o USS John F. Kennedy, os navios acabaram colidindo. A proa a bombordo e parte da superestrutura do Bordelon foram danificadas, e o mastro principal quebrou e caiu sobre a cabine de sinalização, ferindo alguns membros da equipe de manuseio.
Devido aos danos à superestrutura e aos componentes eletrônicos, além da idade e das condições do casco, o Bordelon foi desativado e retirado do Registro de Embarcações Navais em 1º de fevereiro de 1977, transferido para o Irã em julho de 1977 e canibalizado para a obtenção de peças de reposição.
O duplo incidente de setembro de 1976 entrou para os anais da história naval como exemplo da tensão permanente entre as superpotências e da importância estratégica de proteger segredos tecnológicos. Num único dia, o John F. Kennedy viveu a pressão de um “jogo de gato e rato” com a União Soviética e testemunhou o fim prematuro de um de seus escoltas.■