As sonoboias representam um dos pilares da guerra antissubmarino (ASW, Anti-Submarine Warfare), desempenhando papel essencial na detecção, rastreamento e ataque a submarinos inimigos. Desde a sua introdução durante a Segunda Guerra Mundial, elas evoluíram de dispositivos rudimentares de escuta passiva para sofisticados sistemas digitais de sonar ativo e passivo comandados remotamente por aeronaves e navios.

Origens e desenvolvimento inicial

As primeiras sonoboias surgiram nos anos 1940, fruto da necessidade aliada de detectar submarinos alemães que ameaçavam o Atlântico Norte. Inicialmente, eram equipamentos simples: microfones hidrofônicos lançados ao mar por aviões, transmitindo sons submarinos via rádio para operadores a bordo. Esses primeiros modelos — como as sonoboias AN/CRT-1 — eram essencialmente sensores passivos, capazes apenas de ouvir ruídos de hélices e motores.

Sonoboias sendo instaladas em um P-3C Orion

Com o avanço tecnológico e o início da Guerra Fria, o conceito de sonoboia evoluiu para sistemas mais precisos e automatizados, integrados a aviões patrulha marítima, como o P-2 Neptune e o P-3 Orion. Nessa fase, surgiram as versões ativas, que emitem pulsos sonoros (“pings”) e captam seus ecos refletidos em cascos de submarinos, permitindo calcular a distância e a direção do alvo.

Display receptor de sinais de sonoboias

A série AN/SSQ e a consolidação tecnológica

A padronização das sonoboias nos Estados Unidos deu origem à série AN/SSQ, utilizada amplamente pelas forças da OTAN. Entre essas, destaca-se o sistema AN/SSQ-62, conhecido como DICASS (Directional Command Activated Sonobuoy System) — um dos mais avançados da atualidade.

O DICASS é uma sonoboia ativa e direcional, comandada remotamente pela aeronave lançadora. Produzida em versões sucessivas (B, C, D e E), ela oferece dados de distância, direção e velocidade (efeito Doppler) de contatos submarinos. É uma sonoboia descartável, não reparável, do tipo A-size — formato padronizado para fácil integração com lançadores de aeronaves.

Características e inovações do sistema DICASS

O AN/SSQ-62B, introduzido nas décadas de 1970–1980, podia ser ativado por comando UHF para alterar profundidade (90 a 1.500 pés), iniciar transmissões de sonar e autodestruir-se após a missão. Operava em quatro canais de sonar e 31 canais de rádio fixos.

Kawasaki P-1 lançando sonoboias

Com o AN/SSQ-62C, a capacidade de frequência foi ampliada para 86 canais e novas profundidades de operação (400, 1.500 ou 2.500 pés).
A versão D substituiu a bateria de lítio por uma bateria térmica, aumentando a segurança e a confiabilidade, além de permitir famílias de profundidades configuráveis para operações em águas rasas (littoral) ou oceânicas.

O modelo E (AN/SSQ-62E) representa o ápice tecnológico da família, introduzindo o CFS (Command Function Select) — que permite à aeronave modificar remotamente, durante a missão, a frequência de operação, a profundidade e o modo de transmissão (contínuo ou modulado). Essa versão também integra os quatro canais de sonar em um único dispositivo, reduzindo custos logísticos e aumentando a flexibilidade operacional.

Essas sonoboias são lançadas por aviões de patrulha marítima (como o P-8A Poseidon) e helicópteros de guerra antissubmarino (como o MH-60R Seahawk), operando em conjunto com sistemas de processamento acústico embarcados.


VÍDEO: Teste de sonoboia da Thales


Função e importância operacional

Em campo, as DICASS são usadas em padrões múltiplos de lançamento, formando grades de detecção em áreas marítimas. Elas trabalham em conjunto com sonoboias passivas (DIFAR e LOFAR), criando uma rede de sensores que cobre vastas zonas oceânicas. Quando uma ameaça é detectada, as DICASS podem ser comandadas para emitir pulsos e confirmar a posição do submarino, fornecendo dados para um eventual ataque com torpedos leves.

Essas sonoboias são fundamentais em operações navais modernas, garantindo vigilância persistente, resposta rápida e superioridade situacional em ambientes complexos — tanto em mar aberto quanto em zonas costeiras.

Tipos de sonoboias fabricadas pela Ultra

Aplicações internacionais e evolução recente

O DICASS tornou-se o padrão da OTAN, sendo utilizado por países como EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e membros europeus. Sua tecnologia também é exportada por fabricantes como Sparton e Ultra Maritime, que produzem variantes sob licença para diversos aliados.

Nos últimos anos, o desenvolvimento tem se voltado à digitalização completa, miniaturização e integração com sistemas não tripulados (UAVs e USVs), ampliando o alcance e a autonomia das operações ASW.

Conclusão

A trajetória das sonoboias, do simples sensor acústico da Segunda Guerra Mundial ao sofisticado sistema DICASS AN/SSQ-62, reflete mais de oito décadas de evolução tecnológica e tática na guerra antissubmarino. Hoje, essas ferramentas continuam a ser o elo vital entre sensores, aeronaves e navios, garantindo a superioridade acústica das marinhas modernas em um domínio onde o silêncio é mortal.■

FONTE: U.S. Navy Training System Plan – Navy Consolidated Sonobuoys (N88-NTSP-A-50-8910B/A, 1998) e Federation of American Scientists (FAS).

 


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