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De navios “ultrajantes, curiosos e espúrios”, tornaram-se importantes porta-aviões da Marinha Real.

Os apelidos acima foram dados aos “grandes cruzadores leves” Courageous, Glorious e Furious da Marinha Real Britânica, construídos durante a Primeira Grande Guerra. O almirante Fischer, conhecido por sua determinação e suas  propostas inovadoras que levaram ao famoso HMS Dreadnought e à versão britânica da idéia dos cruzadores de batalha, talvez tenha ido longe demais com esses três. Há quem o critique por sua obsessão por velocidade e poder de fogo às custas de blindagem, crítica que encontraria base nas perdas do Invincible, Indefatigable e Queen Mary na batalha da Jutlândia, mas freqüentemente se esquece que os cruzadores de batalha ingleses não haviam sido concebidos especificamente para formarem na linha de batalha, mas como uma força de ação rápida global, o que demonstraram claramente na batalha das Falklands de 1914, para onde se deslocaram em alta velocidade, a tempo de destroçar os cruzadores blindados alemães na área. 

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Mas voltemos aos nossos três bizarros navios aí de cima, um dos quais também intercalava o apelido de Uproarious (algo como tumultuoso ou tormentoso). Com porte, propulsão e armas do calibre  de um cruzador de batalha, tinham blindagem ainda mais fina, de apenas 3 polegadas, equivalente à dos cruzadores leves, daí serem classificados oficialmente como grandes cruzadores leves.  O formato do casco, assim como a relação deslocamento / boca / comprimento, proporcionava um calado mais modesto, adequado às águas do Báltico. A idéia era empregá-los em ataques rápidos e fulminantes à costa alemã, em águas relativamente rasas.

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O Courageous e o Glorious, completados em 1917, chegaram a ver alguma ação escoltando comboios para a Escandinávia e na segunda batalha da baía de Heligoland, mas os disparos de seus quatro canhões de 15 polegadas (duas torres com dois canhões cada, uma à frente e outra a ré da superestrutura) causavam danos estruturais. Que pensar então dos dois canhões de 18 polegadas do Furious… Tanto que as  torres dessas gigantescas armas, com “apenas” um canhão por torre, foram concebidas com o mesmo tamanho das que abrigavam os canhões de 15 polegadas dos outros dois cruzadores. Assim, caso o canhão maior se revelasse um fracasso, poderia ser trocado por dois menores em cada torre.

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Mas o desenrolar das ações navais, as novas necessidades de apoio aéreo para a frota, assim como o pobre desempenho do Courageous e do Glorious levaram a uma modificação no Furious antes mesmo de ser completado conforme o plano original: a torre de vante foi substituída por um convés de vôo. E as primeiras experiências lançando e recolhendo aviões não desmereceram o apelido de “espúrio” do navio, levando a várias conversões que visavam contornar o problema da presença da superestrutura a meia-nau. As experiências e mudanças culminaram, em meados dos anos 20, com a retirada da arma de ré assim como a eliminação da superestrutura para formar um convés corrido, sem obstruções, mesma solução que foi empregada no Courageous e no Glorious, com a diferença de que estes receberam diminutas ilhas a boreste, incorporando a chaminé (o Furious não tinha ilha e suas chaminés ficavam nos dois bordos, a ré do convôo).

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Antes ultrajantes, os três navios tornaram-se realmente importantes, prestando inestimáveis serviços no entre-guerras, desenvolvendo a doutrina aeronaval britânica. Os três estavam na ativa ao início da Segunda Guerra Mundial. O Courageous foi afundado logo no começo da Guerra, em 17 setembro de 1939 (torpedeado pelo U-29). O Glorious teve tempo de lutar um pouco mais, sendo afundado pelos cruzadores de batalha alemães Scharnhorst e Gneisenau em 8 de junho de 1940 (ironicamente, por projéteis de 11 polegadas disparados a longa distância, calibre inferior aos canhões de 15 polegadas que equipavam os navios britânicos quando ainda eram “grandes cruzadores leves”). O Furious lutou bravamente nos primeiros anos da guerra destacando-se no transporte de aviões para Malta. Chegou a lançar aeronaves que atacaram o encouraçado alemão Tirpitz, em 1944, o mesmo ano em que deixou o serviço. Foi sucateado em 1948.

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AL

Vassily. Sim, conheço essa parte sim, mas até onde soube eles não afundaram, e o St Lô afundou mais tarde por causa dos Kamikases (senão me falha a memória agora), e sei também da heróica ação desse e de mais alguns destróires americanos para fastar os japoneses, e Kurita fugiu não por saber dessa frota ao norte, ele nem sabia onde estava quem, depois do afundamento de dois de seus cruzadores e de toda a equipe de comunicação de sua FT, ele fugiu por imaginar que Halsey estivesse ali nas suas barbas. E no duelo NAe – Couraçado, os NAes… Read more »

Vassily Zaitsev

AL, Me desculpe, mas já que falou em Guerra no Pacífico, lhe pergunto: Nunca ouviu falar da Batalha do Golfo de Leyte (tb chamada de Batalha de Samar)?????? Nunca ouviu sequer o nome Takeo Kurita????? Ou o nome Yamato????? Pois nessa ocasião, dois porta-aviões de escolta aliados ( USS GAMBIER e USS ST. LÔ ) foram à pique pelos disparos de 18 pol. do Yamato. E o saldo só não foi maior, pq o Alm. Kurita sabia que outra grande força naval americana estava mais ao norte, com possibilidades de alcançá-lo dentro de algumas horas. Mas, se estamos falando em… Read more »

AL

O que me chama a atenção neste post é o fato de ser a única batalha de que tive notícias em que navios de linha mandaram um NAe para o fundo, pois durante toda a Geurra foi o contrário, os NAes dando um pau nos Couraçados. Outra coisa: no que diz respeito à Guerra Naval no Atlântico, sempre são citados a caçada ao Bismarck e a luta contra os subs alemães, mais nada. Sempre que se falam de Batalhas Navais, quase que exclusivamente trata-se da Guerra no Pacífico. Abraços.

Nunão

Lembrei de outra curiosidade para acrescentar: as 4 torres com canhões de 15 polegadas retiradas do Glorious e do Courageous, e estocadas desde os anos 20, foram instaladas no último dos encouraçados britânicos, o Vanguard, após receberem modernizações (quanto a elevação, blindagem e direção de tiro).

Mas o Vanguard não chegou a ver nenhuma ação na II GM, pois devido a outras prioridades só ficou pronto em 1946.

Nunão

Pois é, Dalton, além de nenhum Swordfish estar no ar fazendo reconhecimento, o que já seria um absurdo, pelo que sei mesmo no convôo não havia nenhum pronto para decolar. Tentaram armar e lançar no desespero mas os projéteis de 11 polegadas dos cruzadores de batalha foram mais rápidos, com tiros precisos a longa distância… Nessa toada, antes da guerra completar um ano os britânicos perderam dois de seus quatro porta-aviões capazes de fazer 30 nós, ficando só o desgastado Furious, que eu nem sei se ainda era capaz dessa velocidade, e o recém completado Ark Royal, que depois de… Read more »

Dalton

O Courageous foi afundado na segunda semana de guerra quando usado para caçar submarinos…uma funçao para a qual nao estava preparado e os britanicos rapidamente desistiram de usar seus poucos porta-avioes nesta funçao. O porta-avioes de escolta ainda nao existia, de qualquer forma era inicio de guerra e este erro merece desconto. Já o afundamento do Glorious, é considerado uma das maiores tolices humanas cometidas durante a guerra. O Glorious deixou a segurança de um comboio e procedeu rumo a Scapa Flow com apenas dois destroieres. Uma razao seria o desejo do Capitao tomar parte em uma corte marcial que… Read more »

Gabriel

São projetos digamos “não-convencionais” que muitas vezes dão inicio a grandes projetos

Marcelo Lopes

Ahhhhh esqueci de dizer de apesar de tudo sobre o Scharnhorns und Gneisenau, suas carreiras operativas em combate foram curtas

MO

Marcelo Lopes

Orra até que enfim, algo que nao seja submarino ….

O Glorious tve a malfadada missão de frear o Scharnhorst und her Gneisenau, alias todos os navios que participaram deste campanha tomaram um cacete os dois CB´s

Que lias digam-se de passagem era belissimos no designe, ao contrario de alguns colegas que menspresão belos navios em escolha de estetica naval (bom, na verdade eu penso outr coisa, não é em menosprezo, é tipo assim, igual no futebol, num é o camisa 10. quem é mesmo o cara …. ? (hehehehehehehehehehe)

MO

ramillies

O AL tem razão. A USS St. Lo não entra para estas contas, já que foi despachada por um kamikaze.

AL,

Os NAes também converteram os couraçados HMS Prince of Wales, HMS Repulse e Yamato em submarinos.

Vassily Zaitsev

AL e Ramilies, quanto ao fato do ST. Lo ser afundado por kamikazes, eu não posso confirmar. O que eu sei é que o Almirante Takeo Kurita, mesmo sabendo que os porta-aviões de escolta inimigos estavam sendo alvejados pelos seus navios, ele ficava cada vez mais impaciente, pois via os enormes projéteis de 455mm atingirem os navios em cheio e nada fazerem, senão os atravessar de lado à lado, sem causar quase dano algum. Isso pq os projéteis eram desenvolvidos para enfrentarem as poderosas blindagens de couraçados inimigos. Como os porta-aviões de escolta não tinham blindagem alguma, simplesmente explodiam depois,… Read more »

AL

Ramillies,

se formos ver as contas NAes X Couraçados a lista será extensa, pois tem outros couraçados ainda que foram pra cucuia senão pela ação definitica de aviões embarcados, eles complicaram bastante a vida deles. Basta lembrar de Pearl Harbor e os couraçados vários que foram a pique nesse ataque, e o Bismarck, que um avião conseguiu lançar um torpedo que deixou ele sem lemes.

Vassily

Tem outro livro ótimo que li a 15 anos e sonho em encontra-lo para comprar:

O sobrivente do Pacífico, de Georges Blond. Trata de quem? NAe Enterprise!

Vassily Zaitsev

AL,

Falha minha, desculpa aí. Falamos do mesmo livro. Confundi o nome do autor.

Putz, que bola fora. Estou com ele nas mãos agora mesmo. Tem a capa azul, mostra um Dauntles em primeiro plano e o Enterprise em segundo. O “BIG E”.

abraços.

Vassily Zaitsev

AL,

Falando em Georges Blond,

Tem um outro livro muito bom (ao meu ponto de vista, é claro) entitulado A Agonia da Alemanha. Mostra como Berlin sofreu com a artilharia soviética em Março/Abril de 1945. Vc se sente dentro da ação, tamanha a forma como os fatos são relatados.

Paul Carell – Africa Korps e Invasão 44 são obras primas. Li o segundo faz uns 10 anos na biblioteca municipal de minha cidade, mas quando fui emprestálo novamente, já tinham enfiado ele no …, pois sumiram com todaa seção de livros de guerra, uma pena.

abraços.

AL

Vassily,

é desse livro mesmo de que estava falando, sonho em encontrá-lo num sebo para comprar. E quanto as outras referências, estão anotadas, quero ver se encontro esses também. Abraços.

Nunão

AL e Vassily, esses livros que vcs citaram acho que eu tenho todos… Fui comprando aos poucos durante uns dois anos que trabalhei no centro de São Paulo, uma ilha cercada de sebos por todos os lados. Mas um dos maiores deles hoje tem loja virtual para quem não mora em SP, caso se interessem: http://www.sebodomessias.com.br Sugestão: digitar Guerra em palavra-chave que vai aparecer uma baciada de títulos. Mas coisas mais específicas vale a pena dar busca pela editora e autor. O Blond, Georges Blond, tem um livro lá… (obs: mas não esqueçam que este blog tem alguns milhares de… Read more »

AL

Nunão,

obrigado pela dica. Abraços.

Vassily Zaitsev

Nunão,

Só postei agora pq o speedy esta uma m____, cai à toda hora (quando consigo conexão).
Que legal que vc tenha esse livros. São ótimas fontes de análise.

Mas, fique sossegado que o Vassily aqui não vai esquecer de acessar O Blog Naval. Nem o Poder Terrestre. Muito menos o Poder Aéreo.

abraços.

Nunão

Ehehehe! Valeu…

[…] uma outra história (contada aqui neste Blog, assim como a de seus irmãos Courageous e Glorious – clique aqui para […]