O presidente dos EUA, Barack Obama, formalizou nesta quinta-feira, 5, a nova estratégia militar do país – reduz o orçamento do setor, estabelece uma diferente orientação das Forças Armadas ante ameaças na Ásia e na região do Pacífico, mantém uma forte presença no Oriente Médio e deixa claro que as forças terrestres deixarão de ter condições de empreender campanhas prolongadas e em grande escala simultâneas, como no Iraque e no Afeganistão.

Numa rara aparição na sala de imprensa do Pentágono, Obama apresentou uma diretriz militar que se afasta da adotada nas guerras arrasadoras herdadas do governo de George W. Bush e dependerá mais do poderio naval e aéreo no Pacífico e no Estreito de Ormuz para contrabalançar as ações da China e do Irã.

A estratégia de Obama inclui cortes de centenas de bilhões de dólares nas forças armadas, o que a torna um inábil complemento de suas difíceis relações com os militares desde seu primeiro dia na presidência. Numa carta que acompanha a nova estratégia, o presidente escreveu: “Precisamos colocar em ordem nossa situação fiscal e recompor nosso poder econômico em longo prazo”.

Mas, num ano eleitoral, em que ele está sendo atacado pelos candidatos republicanos por enxugar o orçamento militar e, conforme afirmam, por sua fraca reação às ameaças iranianas, Obama disse também que os EUA “evitarão repetir os erros do passado, quando as Forças Armadas não estavam bem preparadas para o futuro”.

Com isso em mente, disse o presidente, seu governo continuará investindo nas medidas de combate ao terrorismo, na coleta de informações, na guerra cibernética e na dissuasão da proliferação das armas nucleares.

Obama discutiu pela manhã a nova estratégia com seu secretário da Defesa, Leon Panetta, e com o general Martin E. Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto. Funcionários comentaram que foi a primeira vez na história que um presidente convocou uma coletiva no Pentágono.

“Agora, estamos virando a página de uma década de guerra”, declarou Obama. O país precisa estar preparado, acrescentou. “Não podemos repetir os erros do passado – depois da Segunda Guerra, depois do Vietnã -, quando as nossas Forças Armadas não estavam devidamente preparadas. Portanto, elas serão menores, mas o mundo deve saber que os EUA manterão sua superioridade militar.”

Porta-aviões poupados

Panetta concluiu que, na próxima década, o Exército terá de encolher até mesmo em relação às metas atuais, para 490 mil soldados, mas os EUA não cortarão nenhum dos seus 11 porta-aviões, acrescentaram representantes do Pentágono e analistas militares sobre as propostas de orçamento apresentadas pelo secretário.

A nova estratégia militar tem como base cortes no Pentágono de pelo menos US$ 450 bilhões, nos próximos dez anos. Outros US$ 500 bilhões poderão ser cortados pelo Congresso no mesmo período.

Nesta nova realidade, Panetta deverá, nas próximas semanas, propor cortes na produção da nova geração de armas e até mesmo adiamentos na compra de caças F-35, um dos programas de armamentos mais caros da história. O adiamento das compras de F-35, no entanto, não deve impedir que as fábricas continuem em funcionamento – dando à fabricante Lockheed-Martin a possibilidade de corrigir os constantes problemas no desenvolvimento do avião.

Nos últimos dias, assessores de Panetta e Dempsey informaram que será possível divulgar alguns detalhes específicos sobre os cortes do Pentágono, antes que a proposta final do orçamento seja concluída, no final do mês. Mas vários representantes do Pentágono, militares e especialistas em orçamento militar criticaram os cortes específicos, embora não quisessem se identificar.

O secretário da Defesa deixou claro que a redução das tropas será feita criteriosamente e levará alguns anos, de forma que os veteranos não sejam jogados num mercado difícil em matéria de emprego, e as famílias dos militares não acreditem que o governo deixou de merecer a sua confiança depois de uma década de sacrifícios, afirmaram.

Um Exército menor seria uma clara indicação de que o Pentágono não prevê outra campanha para combater a insurgência. Tampouco os militares teriam condições de sustentar duas guerras terrestres ao mesmo tempo, como exigiram as estratégias militares nacionais passadas.

Mas as Forças Armadas terão de ter capacidade para frustrar as aspirações beligerantes de um adversário e ao mesmo tempo dedicar-se a operações de ajuda humanitária.

De Elisabeth Bumiller e Thom Shanker

FONTE: The New York Times / WQ, via Midiamax news

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Diegolatm

Eu fico imaginando uma coisa: É impossivel nos compararmos aos Americanos, mas uma coisa é certa temos dinheiro pra dedeu e se quer pensamos em investir nas FAs, os BRICs (BRASIL)são os unicos paises do mundo que estão esbanjando sáude fiscal e economica de fazer inveja pros paises ocidentais e os irmãos do norte, ora quando é que esses politicos vão ver nas suas cabeças que a oportunidade grandiosa que temos nos proximos anos de reforçarmos os outros pilares que fazem a base deste país, pilares esses fundamentais para que uma nação seja respeitada e ouvida pelo mundo à fora.… Read more »

daltonl

DIEGO… o assunto “IV Frota” já foi visto e revisto mas é sempre bom rever já que há sempre leitores novos por aqui. Nunca existiram, nem existirão navios fixos designados para a IV Frota…a VI Frota por exemplo tem apenas 1 fixo ! A “reativação” foi uma medida administrativa para “desafogar” a II Frota, que a propósito nem se chama mais II Frota. Quando todos aqueles navios foram enviados para o Haiti devido ao terremoto, todos passaram automaticamente para a IV Frota. Quando a USS Thatch esteve aqui ano passado e depois contornou a América do Sul visitando e se… Read more »

paulsnows

O orçamento do Pentagono ja teve reduções muito maiores em tempos recentes. Durante o governo Clinton, por exemplo.

Tambem, não e raro os orçamentos militares americanos terem reduções de ajuste no pos-guerra, como agora.

O que importa ao DoD e manter a superioridade tecnologica, a prontidão, o treinamento e o planejamento.

Se fosse para manter um exercito enorme, não seria US Army.

Seria China Army.

Uitinã

E eu estava dizendo isso faz meses nos meus comentários na trilogia, os americanos não iam aguentar por muito tempo essa farra de gastança eu disse o programa do F-35 estava e tá ainda ameaçado o caça e bom só no papel, era obvio que logo logo eles não iam aguentar a função de patrulhar o mundo que ninguém pediu. Era obvio os Estados Unidos, estão seguindo o mesmo caminho da extinta União Soviética, gastando tudo que tem e o que não tem em armas, projetos escandalosos. Só espero que não aconteça o mesmo com o senhor Obama que aconteceu… Read more »

Ivan

Uitinã,

“…o programa do F-35 estava e tá ainda ameaçado o caça e bom só no papel,…”

Acredito que é justamento no “papel” que está o problema do programa Joint Strike Fighter, no “papel” do contrato escorchante tipo ‘Cost Plus’ que a Lockheed habilmente empurrou nos EUA e aliados.

Este assunto já foi amplamente discutido.

Sds,
Ivan.

paulsnows

O F-35 não pode ser simplesmente cancelado. Ele e um programa que inclui varios aliados americanos, que participam dos custos de desenvolvimento, em diferentes niveis. Esqueçam cancelamento. Pode ser ate o que alguns gostariam no DoD ou na WH, mas não vai acontecer. Porem, o programa pode ser colocado em marcha mais lenta, os problemas sendo resolvidos com calma e, talvez, uma reprogramação na ordem dos recebimentos entre os parceiros. Quem tiver pressa e dinheiro sobrando paga para passar na frente. Afinal, a crise econômica esta pegando quase todos e ninguem esta desesperado para gastar mais em armas, justamente em… Read more »

Daglian

O certo é reduzir custos de maneira inteligente… padrozinar equipamentos, reduzir desperdícios, planejar melhor. Mas isso eles sabem fazer.

Quanto ao Brasil, Diego, esqueça, porque embora nós pensemos em maneiras de ajudar o país, os políticos nem ligam pra isso. Ou melhor, eles nem pensam em não ligar, simplesmente roubam dinheiro (não todos, claro), são corruptos, etc. Ninguém pensa em defesa aqui, basta tentar tratar desse tema fora do blog.

paulsnows

O nivel de ameaças enfrentadas pelo Brasil, não justifica corrida armamentista.

Mas deveriamos ter forças focadas em profissionalismo, modernização e eficiência. Acabar com a conscrição para economizar, e poder pagar, equipar e treinar melhor aqueles que querem ser militares profissionais.

Sensibilizar a população para os problemas de defesa. Sensibilizar congressistas e industriais. Conquista-los para a causa da Defesa.

Formar e pagar lobbies, se necessario. Isso leva tempo, mas pode ser feito.

Uitinã

O F-35 não pode mais ser cancelado o projeto tá praticamente pronto seria um desperdício de quase 1 trilhão de dólares de contribuintes americanos e europeus e de outros países envolvidos no projeto, o que vai acontecer e que vai demorar e muito pra conseguirem tirar os custos do projeto duvido que a US.Forces vai continuar com a ambição de ter 2000 unidades desse avião. E diversos outros projetos de armas Americanas conhecidas ou não que gastaram rios de dinheiro e não foram pra frente esse e o problema americano, gastam muito dinheiro mesmo muito mesmo praticamente atoa. Lembram do… Read more »

Uitinã

Pra motivo de comparação o que foi gasto em defesa ano passado pelas principais nações do mundo.

http://www.globalfirepower.com/defense-spending-budget.asp

Marine

Nada de novo e alias acertado. Os EUA sempre foram um pais maritimo e portanto focado durante a paz em “free trade” e “freedom of the seas”. Para manter tal foco e prevenir qualquer aventura de um oponente os EUA farao o que sempre fazem em tempo de paz: Focar seus esforcos em respeitosas forcas navais e aereas mesmo que as custas das forcas terrestres (principalmente o U.S. Army). O USMC mantem-se como a “fire brigade” da nacao ate e se o Army seja necessario. Alias o U.S. Army so foi grande em tempos de guerra, sempre sido reduzido em… Read more »

daltonl

“Alias o U.S. Army so foi grande em tempos de guerra, sempre sido reduzido em anos entre conflitos.”

Bem lembrado Marine!

o exército que foi combater os indios depois da guerra da secessão era uma “piada”. Regimentos com menos de 500 homens eram comuns.

Custer reuniu toda a Sétima Cavalaria totalizando cerca de 600 homens, incluindo um jovem oficial, emprestado do 20th de infantaria, tal era o nr de oficiais ausentes…só poderiam perder!

abraços

Marine

Exato Dalton,

O U.S. Army apos a revolucao era uma piada, antes da guerra com o Mexico era uma piada, apos a Guerra Civil mais uma vez uma piada, antes e depois da 1GM… Logo apos a 2GM nao era um quarto do exercito de Marshall e por ai vai.

Ou seja o Army nunca teve tradicao de ser um exercito grande ate a implementacao do documento NSC-68! E ate assim sempre foi reduzido entre guerras.

Semper Fidelis!

Nautilus

Para quem gastou quase US$ 700 bi com suas forças armadas no ano passado, um corte de US$ 45 bi por ano nos próximos dez anos, não vai se fazer sentir, se acompanhados de uma racionalização. Acho que essa é a idéia de Obama.

Mauricio R.

O que tinham que cortar, a burocracia do Pentágono, nem perto passaram.

Ivan

Marine e Dalton, Acredito que países gigantescos como EUA, Rússia e Brasil precisam tem um exército que misture um núcleo de pronto emprego profissional e uma grande quantidade de unidades que possam ser mobilizadas, compostas por núcleos de carreira e grande proporção de reservistas. Os americanos tem a Guarda Nacional, ou seria ‘as’ Guardas Nacionais, que aparentemente possuem uma rápida capacidade de mobilização. Outros gigantes como China e Índia vivem em pé de guerra, além de ter monores níveis de soldo ou (principalmente) aposentadorias. Reduzir o US Army ‘ativo’ e manter robustas reservas é possível. Mas é apenas a opnião… Read more »

Ivan

Maurício,

Vc acertou na veia, mas acrescentaria o filho bastardo desta burocracia interligada com interesses particulares: a redundância de serviços de “inteligência” e diversas companhias privadas de segurança.

A burocracia é algo necessário ao funcionamento de qualquer organismo social, como empresas, Estado ou forças armadas.
Mas como qualquer atividade humana ou natural, em excesso torna-se perniciosa e começa um processo de realimentação, aumentando seu próprio tamanho e poder. Em seguida começa a criar novas ‘áreas’ de controle e por aí vai.

Burocracia “stricto sensu” é necessária sempre.
O excesso é que sufoca e mata as organizações.

Sds,
Ivan.

Daglian

Como vocês já disseram, também faz muito mais sentido pros EUA terem uma marinha de guerra e uma força aérea maiores que seu exército, porque os EUA precisam estar presentes no mundo inteiro. Talvez no nosso caso, com a nossa política de sermos defensivos (se é que temos alguma política), seja mais importante termos um exército maior, proporcionalmente, às outras forças.

Mas não que as outras não sejam importantes, o que eu quero dizer é que fazemos fronteira com muitos países, e isso faz com que o nosso exército seja necessário para patrulhá-las e defendê-las.

Marine

Ivan, Concordo. Mas temos que ser cautelosos que nao adianta termos apenas o USMC e um pequeno “active” US Army. O USMC sempre teve a funcao de “to be the most ready, when the nation is least ready” mas mesmo assim, nos no USMC sabemos que “we win battles”. Somente o Army pode “win the wars”. Sendo assim, o Army tem que possuir um numero minimo de active “Brigade Combat Teams” para ser capaz de cumprir com os compromissos americanos e de “reinforce e replace” o USMC com “follow on forces” depois do assalto inicial, quer seja por mar, ar… Read more »

Requena

Ouvi na Band News um repórter comentando lá dos USA que essas medidas do Obama preveem uma redução grande na quantidade de soldados no exterior, principalmente na Europa.

Mas que as tropas de combate e as estacionadas em países estratégicos(Kuwait, Coréia do Sul, Japão…) seriam pouco afetadas. Por isso que ele afirma que continuarão sendo a maior potência militar do planeta.

Ouviu algo parecido com isso por ai Marine?

Marine

Requena,

E isso mesmo. Algumas das brigadas que hoje se encontram no Afeganistao ou na Europa sera de-ativadas. O foco sera na capacidade de combater um grande conflito na Asia e conter um no Oriente Medio, ou vice-versa.

Os EUA a tempos ja deveriam ter diminuido suas forcas terrestres na Europa. Os europeus ha muito tempo usufruem do guarda-chuvas de defesa americano e sonegam investimentos na sua propria defesa.

Ivan

“Os europeus ha muito tempo usufruem do guarda-chuvas de defesa americano e sonegam investimentos na sua propria defesa.”

Uma verdade incômoda que a Europa Ocidental prefere não conhecer.

A questão é que países como Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia e outros ex-integrantes do Pacto de Varsóvia temem o Urso, pois já conheceram suas garras.

Basta olhar o mapa (sempre o mapa) antes e depois:
http://www.abril.com.br/noticias/mudanca-europa-apos-queda-muro/

Mas é um assunto que os europeus precisam resolver de uma vez por todas, concentrando esforços e acabando com a concorrência entre eles mesmos.

Sds,
Ivan.

Requena

Obrigado pela resposta Marine.

Deu pra ver que os caras sabem muito bem o que fazem…