Os Estados Unidos dão sinal de fraqueza diante de Scarborough

Por Max Boot

A política externa do presidente Obama se baseia sobre dois pilares: ele é um líder durão que não hesita em enfrentar os inimigos dos Estados Unidos, e ele está “pivotando” do Oriente Médio até o leste da Ásia para confrontar a ameaça número um ao poder americano – a China. Há alguma verdade nesses dois argumentos, mas seu vazio inerente foi revelado por uma derrota pouco notada, em um local sobre o qual poucos americanos já ouviram falar.

O banco de areia de Scarborough é uma minúscula formação rochosa no mar meridional da China, descoberta por um navio estraviado da Companhia das Índias Orientais – o chamado Scarborough – que aportou lá em 1784. O local foi reivindicado tanto pela China como pelas Filipinas por causa dos ricos cinturões de pesca em redor, e pela possibilidade de exploração de petróleo.

Você poderia pensar que os filipinos levam a melhor, já que construíram lá um farol e colocaram sua bandeira ainda na década de 1960. O banco de areia fica a 140 milhas de Luzon, a principal ilha do arquipélago das Filipinas, e bem dentro das 200 milhas de “zona econômica exclusiva” reconhecida pela lei internacional. Por outro lado, Scarborough fica a 750 milhas do território chinês.

Ainda assim, a China tenta afirmar sua soberania sobre 90% do mar meridional, tendo como base “evidências” históricas tendenciosas que vão desde supostas viagens de exploradores chineses feitas há 2 mil anos, até um mapa impresso pelo governo nacionalista em 1974, e que não é reconhecido por nenhum outro país.

Por mais fracas que sejam suas pretensões, os chineses se fiam nelas para enviar barcos de pesca e navios de patrulha paramilitares para essas águas disputadas. Em abril deste ano, um navio da marinha filipina tentou impedir que pescadores chineses de extrair frutos do mar. Dois navios da agência de vigilância marinha chinesa intervieram e houve confronto.

Ao longo dos últimos dois meses, o governo chinês enviou mais de 20 embarcações para a região do banco de areia, incluindo navios paramilitares. On interesses filipinos na área foram defendidos por apenas dois veleiros da guarda costeira do país. O confronto foi finalmente encerrado, ao menos por enquanto, quando os filipinos decidiram retirar suas embarcações ao invés de arricar perdê-las para um furacão que se aproximava.

Os Estados Unidos têm responsabilidade de proteger as Filipinas, conforme tratado assinado em 1951. Porém, mesmo enquanto nosso aliado estava sendo ameaçado pela China, a administração de Obama adotou uma posição de neutralidade calculada.

As Filipinas propuseram levar a disputa por Scarborough a um tribular internacional, sob o amparo da Convenção sobre o Direito do Mar, da qual tanto Pequim quanto Manila são signatárias. Porém, a China recusa, sem dúvidas sabendo que perderia a causa. A liderança chinesa deve pensar que tem melhores chances de alcançar suas pretensões pela força, uma vez que não há como um Estado fraco como as Filipinas ser capaz de enfrentamento.

A administração de Obama, por sua vez, não organizou uma campanha internacional para angariar apoio às Filipinas. E falhou em dar o passo decisivo ao não mandar qualquer destróier ou navio de guerra a Scarborough. Tomar tal atitude representaria risco de guerra contra a China? Dificilmente. Na verdade, a China é o clássico valentão com mandíbula de vidro.

Por exemplo, não precisamos ir muito além da pequena ilha de Palau, no Pacífico. No fim de março deste ano, aproximadamente na mesma época em que o confronto em Scarborough estava começando, um navio de pesca chinês entrou ilegalmente nas águas territoriais da ilha. Quando os invasores ignoraram as repetidas notificações para que deixassem a área – demarcada como como santuário de tubarões – guardas da divisão de proteção à fauna marinha de Palau abriram fogo na tentativa de afundar a embarcação.

O resultado: um pescador morto e 25 presos. Semanas depois, foi feito um acordo com o governo chinês, e os pescadores foram multados e deportados. Os chineses devem ter ficado furiosos, mas seu diplomata envolvido no caso não teve nada a dizer além de “é um bom desfecho”.

Ninguém está sugerindo que as Filipinas ou os Estados Unidos dviam ter aberto fogo por causa da disputa por Scarborough. Mas é triste que a ilha de Palau, com uma população de 20 mil pessoas, seja mais assertiva ao enfrentar a agressão chinesa do que os Estados Unidos. Enquanto isso, as nações da Ásia estão assistindo cuidadosamente e calculando de acordo. Aos olhos deles, os Estados Unidos da América acabaram de se tornar um amigo menos confiável.

FONTE: The Wall Street Journal

Subscribe
Notify of
guest

3 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Corsario137

Pergunta que não quer calar:
Amigos que são da Marinha ou entendem de navios, essas fragatas chinesas de última geração serviriam ao Brasil? Sendo chinesas, imagino que o preço delas deve ser bem convidativo. A qualidade é boa aparentemente.

A China é REALMENTE um parceiro estratégico do Brasil. Seria oportuna uma hipotética aquisição destes meios?

Marcos

O que a China tem de considerar é que os Estados Unidos são um democracia e que a cada quatro anos há um novo Presidente e que eventualmente o novo detentor da cadeira da Casa Branca pode ser bem mais belicoso.

Mauricio R.

OFF TOPIC…

…mas nem tanto!!!

China “fura zóio” do Brasil, na Namíbia:

(http://china-defense.blogspot.com.br/2012/06/photos-of-day-hang-over-of-elephant-to.html)