Memória: ex-ministro Karam fala sobre o presidente Figueiredo e evolução dos submarinos no país

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O historiador Bernardo Carvalho e o ex-Ministro da Marinha Alfredo Karam
O historiador Bernardo Braga e o ex-Ministro da Marinha Alfredo Karam

Por Roberto Lopes*
Especial para o Poder Naval

O ex-ministro da Marinha Alfredo Karam concedeu, neste sábado (06.07), entrevista ao historiador carioca Bernardo Braga, que prepara um livro sobre o ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Karam, hoje com 94 anos, recebeu Braga em sua residência da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “A entrevista com o almirante Karam foi fantástica”, contou Braga ao Poder Naval, “a memória dele é prodigiosa”, completou.

Na reserva desde maio de 1985, Karam comandou a Força Naval entre 21 de março de 1984 e 15 de março de 1985, depois que o general Figueiredo se desentendeu com o almirante Maximiano da Silva Fonseca.

Em seu curto período como ministro Karam obteve de Figueiredo a autorização para comprar um lote de submarinos alemães tipo IKL-209/1400 – permissão que o então presidente da República negara ao seu todo-poderoso ministro da Fazenda, Antônio Delfim Neto.

“Um dia recebi um telefonema do Delfim”, relatou Karam ao PN. “Ele me disse que tinha ido ao Torto (Residência Oficial da Granja do Torto, moradia do chefe do Governo) para que o presidente autorizasse o investimento nos submarinos, mas o Figueiredo não quis assinar. Eu mandei buscar a papelada e levei eu mesmo. Consegui que tudo fosse autorizado e devolvi a papelada para o Delfim”.

Perfis das classes de submarinos brasileiros nos anos 1980: Guppy II e III e Oberon (Desenho: Alexandre Galante)
Sumarinos Amazonas (Guppy III) e Humaitá (Oberon) na BACS – Base Almirante Castro e Silva, nos anos 80

Trajetória – Na primeira semana de junho último, o ex-ministro esteve na Base Almirante Castro e Silva (BACS), da Ilha de Mocanguê Grande (Baía da Guanabara), sede do Comando da Força de Submarinos (ForSub), para prestar um depoimento sobre a evolução tecnológica da ForSub.

Guarda-Marinha de fevereiro de 1945, Alfredo Karam serviu em diversos navios de superfície até cursar a especialização em submarinos, no ano de 1950 – opção que influiria decisivamente em sua carreira

Entre maio de 1951 e dezembro de 1952 ele serviu nas unidades Timbira e Tupi, da então Flotilha de Submarinos – ambas embarcações de classe italiana, recebidas no Brasil em 1937.

De dezembro de 1952 a junho de 1953 Karam cursou a United States Navy Submarine School em New London, estado de Connecticut, período em que fez o curso específico para submarinos. Nos três meses seguintes ele estagiou embarcado no USS Sablefish, navio da Classe Balao construído durante a metade final da 2ª Guerra Mundial.

Entre maio de 1956 e abril de 1957 Karam voltaria a servir em New London, para integrar comissão de recebimento de submarinos ex-US Navy.

Com o tempo, tornou-se também um habitué da BACS.

Em junho de 1957 e de fevereiro de 1958 a janeiro de 1959 foi oficial de adestramento e operações do comando da Flotilha de Submarinos. Também nesse período, entre agosto de 1957 e janeiro de 1959, foi instrutor de manobra do curso de especialização em submarinos para oficiais.

Em outubro de 1969 foi designado para concluir, na Inglaterra, as providências para a instalação da Comissão de Fiscalização e Recebimento dos Submarinos classe Oberon, da qual foi nomeado presidente em maio de 1970. Fez, neste ano, o curso britânico de especialização em submarinos.

Permaneceu nessa comissão até fevereiro de 1972. No mês seguinte foi, enfim, nomeado comandante da Força de Submarinos da Marinha do Brasil, cargo que ocuparia até março de 1975.

O submarino Tupi, primeiro IKL-209/1400 da Marinha do Brasil, fotografado em provas de mar na Alemanha

*É jornalista graduado em Gestão e Planejamento de Defesa pelo Centro de Estudos de Defesa Hemisférica da Universidade de Defesa Nacional dos EUA. Especialista em diplomacia e assuntos militares da América do Sul. Autor de uma dezena de livros, entre eles “O código das profundezas”, sobre a atuação dos submarinos argentinos na Guerra das Malvinas e “As Garras do Cisne”, sobre os planos de reequipamento da Marinha do Brasil após a descoberta do Pré-Sal.

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Esteves

Não entendi os motivos ou porque o presidente Figueiredo não concordou ou não cedeu às abordagens de Delfim Neto e logo após disse sim ao Almirante.

Ou as opiniões e a própria figura do Almirante Karam são tão massivos (inclusive decidiram pro ThyssenKrupp nas CCT) ou o presidente Figueiredo…tremeu?

Romão

Provavelmente alguma malandragem do Delfim… Não devia estar muito interessado e, digamos, não foi muito convincente, propositalmente.
O Almirante deve ter percebido a tramoia e foi ele mesmo fazer a petição.

Carlos Eduardo

No aguardo desse que será um grande relato da vida de um Presidente onde meu pai até hoje ainda guarda seu retrato oficial.

Alex Barreto Cypriano

Bom, fiquei esperando uma prosa sobre a tal evolução tecnológica dos subs brazucas e recebi a confirmação do velho conselho de Goethe (agir diretamente sobre a autoridade imperial, nunca esperando na antesala ou suplicando pra algum ministro pouco interessado), muito útil nessas terras onde o autoritarismo personalista (e seu fiel escudeiro, o voluntarismo rasteiro e fanfarrão) é uma constante histórica que nos coloca no rol das nações insensatas.

Ernane

Os maiores inimigos dos militares, foram os próprios militares totalmente submissos aos seus ministros da fazenda; sinal maiz que claro de suas incompetências!
Tivessem investido massissamennte em educacão e tecnologias, inclusive militares, seríamos uma potência!

Carlos Campos

Maior erro deles foi cair no Keynesianismo louco isso sim, o Brasil quebrou no final do governo militar e o Chile continuou crescendo e melhorando ao longo dos anos, depois os civis continuaram fazendo m……..

horatio nelson

o figueiredo com certeza foi o pior presidente militar q tivemos…sem sombra de duvidas…muita coisa q não deveria ter acontecido aconteceu por causa dele…nem se comparava ao medici.

Alexandre Esteves

Reveja esse conceito. Não nos levar a embarcar nas aventura do conflito das Falklands/Malvinas foi uma demonstração de visão geopolítica de estadista.

horatio nelson

alexandre o brasil apoiou sim a argentina fornecendo materiais e informações…a gb poderia nos ter aplicado sanções.

Caerthal

O presidente Geisel apertou o acelerador quando precisava ser mais comedido nos gastos com Crise de 1973, mais pró-mercado e menos antiamericano. O pobre do presidente Figueiredo ficou com uma bomba armada para explodir no seu colo e constrangido em dizer quem foi que lhe presenteara.

Deve-se dizer que o temperamento do presidente Figueiredo não o ajudou nesta difícil tarefa…

Roberto Santos

Karam ta usando calça mescla até hoje

Vovozao

08/07/19 – segunda-feira, btarde, o almte Karam e até hoje nos seus 95 anos uma pessoa de grande visão, tanto que ele cantou a bola sobre as FCT que os navios alemães são os melhores, quando ministro da Marinha comprou os submarinos alemães.

Demetrius

De onde tirou isto? …

Carlos Eduardo Oliveira

Por falar em Almirante, por onde anda o Almirante Othon?
Perdeu a patente?
Duvido.