Os Fuzileiros Navais de Portugal completam hoje 400 anos de serviço aos portugueses, na paz e na guerra, no mar e em terra.

Os Fuzileiros Navais portugueses são os legítimos herdeiros da mais antiga força militar constituída com caráter permanente em Portugal, o Terço da Armada da Coroa de Portugal.

A existência de Fuzileiros na Armada remonta a 1585 quando foram constituídas equipes para treino das guarnições das naus da Índia para o manejo da artilharia e da fuzilaria, mas só em abril de 1621 é que foi oficialmente criado o Terço da Armada da Coroa de Portugal.

Os Soldados da Armada ou os “Marinheiros do Fuzil”, como na altura eram conhecidos, combateram durante os primórdios em locais distantes e cenários tão diferenciados, desde o Brasil às guarnições da Esquadra de Guarda de Costa, tendo ainda lutado ao lado de Lorde Nelson, no Mediterrâneo, somando sucessos na luta contra Franceses, Holandeses e Espanhóis.

O Terço foi sempre considerado como uma unidade de elite, cuja responsabilidade e a guarda pessoal do Rei D. João IV constituíram um dos seus principais símbolos de marca; durante o século XVIII ocorreram várias alterações na organização desta força, sendo que a mais significativa, ordenada por D. Maria I em finais desse século, registra o agrupamento de todos os regimentos navais na nova Brigada Real da Marinha.

Em 1808, parte desta força acompanha a família real portuguesa no seu êxodo para o Brasil, e cuja presença naquele território veio contribuir para a edificação do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, após a sua independência.

Em meados do século XIX, dá-se a militarização de todo o pessoal da Armada Portuguesa. Até então os marinheiros não eram militares, só o sendo os Oficiais e os membros da Brigada Real. Com essa militarização é decidido deixar de manter uma unidade permanente de infantaria de marinha, sendo extinta a Brigada Real.

A partir dessa data, as forças de infantaria de marinha são organizadas com os marinheiros militares (que passam a receber treino de infantaria) retirados das guarnições dos navios, sempre que existe a necessidade de realizar operações anfíbias. São assim organizados os vários Batalhões e Forças de Marinha que participam nas diversas campanhas coloniais nos sécs. XIX e XX, bem como na Primeira Guerra Mundial.

Em 1924 volta a ser criada uma unidade permanente de infantaria de marinha, a Brigada da Guarda Naval que no entanto é extinta em 1934.

A infantaria naval só volta existir com caráter de permanência a partir de 1961 com o início da Guerra do Ultramar. Nessa altura são criados os Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE) vocacionados para missões de assalto anfíbio e as Companhias de Fuzileiros Navais (CFN) para patrulhamento e defesa de embarcações e instalações navais. Durante essa guerra e até 1975 mais de 14.000 fuzileiros combateram nos teatros de operações da Guiné, Angola e Moçambique.

Até 1975 não existia um comando unificado dos fuzileiros, sendo que os diversos destacamentos e companhias estavam dependentes dos vários Comandos Navais e de Defesa Marítima das áreas onde atuavam. Naquele ano é criado o Comando do Corpo de Fuzileiros, do qual passaram a estar dependentes todas as unidades de fuzileiros, dando uma autonomia substancial àquela força.

Hoje, os Forças de Fuzileiros mantém forças-tarefa integradas que contribuem para a projeção de força a partir do mar, prontas para o cumprimento de missões no mar e em terra, inseridas no quadro das missões internacionais, no apoio humanitário e na retirada de portugueses, de países ou áreas em conflito ou em crise.

As forças-tarefa têm realizado missões no âmbito da Segurança Cooperativa no quadro das organizações internacionais (como Bósnia Herzegovina, Timor-Leste, Afeganistão e mais recentemente na Lituânia) e também as missões de apoio e evacuação, ​como foi o caso do apoio nacional à população de Moçambique, por ocasião do ciclone tropical “Idai” em 2019.

O Destacamento de Ações Especiais dos Fuzileiros (equivalente ao Grupo Especial de Retomada e Resgate do GRUMEC da Marinha do Brasil) constitui a Unidade de Operações Especiais da Marinha Portuguesa, com capacidade de operar a partir do ar e do mar, no mar e em terra.

​​Apto para realizar todo o espectro de missões de Operações Especiais, podendo operar desde uma equipe até uma Special Operation Maritime Task Unit (SOMTU). O seu emprego pode ser autônomo, ou integrado numa Special Operation Task Group (SOTG) nacional ou combinada com forças de Operações Especiais de outros países. Ainda podem exercer funções de staff a nível nacional ou internacional, bem como, apoiar Forças de Fuzileiros ou outras.

O Destacamento de Ações Especiais realiza operações de elevado risco, sem que sejam do conhecimento público, que requerem dos seus militares, conhecimentos, grande destreza, técnicas aperfeiçoadas, e uma grande capacidade física.

A inserção destes militares pode ser por navios de superfície, submarinos e por aeronaves, através das técnicas de fast rope, paraquedismo, mergulho de combate, entre outras, considerando sempre os vetores: mar, ar e terra.

Esta Unidade de Operações Especiais é dotada de grande autonomia de ação, dispondo de um elevado poder de combate.

Os Fuzileiros Navais portugueses também têm o Pelotão de Abordagem – PELBOARD -integrado ao Batalhão de Fuzileiros N.º 1 da Marinha Portuguesa. Além das ações de abordagem, este grupo de militares especializado integra as equipes de defesa própria dos navios, contribuindo para a capacidade de resposta perante diversas ameaças, com destaque para a do terrorismo marítimo.

Surgiu na década de 90, para responder aos pedidos da Marinha para a integração de forças especiais nos navios durante as missões em regiões inseguras. Desde aquela época, o PELBOARD vêm aperfeiçoando as técnicas e os equipamentos para qualquer tipo de intervenção marítima.

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Gabriel BR

Bravo! Viva Portugal!

Pablo Maroka

Em uma palavra: tradição

Rafael M. F.

Bravo Zulu, Terço!

Não foi o Destacamento de Ações Especiais dos Fuzileiros recentemente enviado para Moçambique, para treinar o Exército Moçambicano no combate ao ISIS?

brasilanedota

Isso é informação classificada.
Informalmente se estiverem por lá, é a fazer mero turismo…

João Adaime

Coincidência. Amanhã, dia 19 de abril, o Exército Brasileiro comemora 373 anos.

MestreD'Avis

Com todo o respeito e sem querer alimentar polémicas ou desmerecer a história militar brasileira, mas o Exército Brasileiro não foi fundado em 1822?
Qualquer corpo militar anterior á data da Independencia faria parte do Exército ou Marinha Portuguesa correto?
Pergunto como duvida genuina e porque grande parte das forças armadas militares do continente americano apresenta como data de fundação a data de indepedencia do país (Exercitos dos EUA , Colombia, Bolivia, etc)

João Adaime

Prezado MestreD’Avis
O EB foi oficialmente criado em 1822, após a Independência. Derivou das forças armadas subordinadas a Portugal, porém constituída em grande parte de milícias nacionais.
Porém, a existência de um exército unica e genuinamente brasileiro vem desde a primeira Batalha de Guararapes (19 de abril de 1648), quando tropas formadas por brancos liderados por André Vidal de Negreiros, índios liderados por Felipe Camarão e negros e mulatos liderados por Henrique Dias, enfrentaram em Pernambuco tropas holandesas.
Em vista disso, esta data foi adotada simbolicamente como o início do Exército Brasileiro.
Abraço

João Adaime

Caro Mk48
Nos dois primeiros séculos da colonização, Pernambuco (e o Nordeste em Geral) levou o Brasil nas costas.
Por outro lado, falar da História do EB sem citar Guararapes é impossível.
Abraço

Athos Franca

A Batalha dos Guararapes merecia um novo filme ou serie nos moldes das series Vikings, Frontier e outras do genero.

Agnelo

Concordo 1000%

Tomcat4,2

Bem nos moldes de “O Patriota” do Mel Gibson.

Tomcat4,2

Excelente, conheci esta história magnífica ,de forma resumida, da formação de nosso miscigenado(como o é nosso povo) exército por meio do sr. Alexandre Garcia em seu canal no youtube .

André Souza

Existe algum livro que relata a história da Batalha de Guararapes ?

João Adaime

Caro André. Desconheço, mas se você for na biblioteca pública da sua cidade, pode ser que encontre (não sei como estão funcionando durante a pandemia). Numa rápida pesquisa na internet encontrei “As Batalhas dos Guararapes: Descrição e Análise Militar” de Cláudio Moreira Bento, editora Academia de História Militar Terrestre do Brasil, porém com edição esgotada. Também “A Primeira Batalha dos Guararapes” de Jordão Emerenciano, editora io pe (assim mesmo, “io pe”). Ainda “Guerra em Guararapes & Outros Estudos” de Frederico Pernambucano de Mello, editora Escrituras. E finalmente “As Batalhas dos Montes Guararapes” de Everaldo Moreira Véras, editora Edificantes (edição comemorativa… Read more »

Last edited 2 anos atrás by João Adaime
André Souza

Saudações João.
Então vou procurar sim, com certeza devo achar algo, é porque eu queria algo assim bem detalhista mesmo, essa monografia deve ter no “Google Acadêmico”, também vou ver por lá.
Muito obrigado amigo.

EParro

Mk48;
e deve estar sempre honrado, pois foi sim um “exército do povo brasileiro”! Dos povos que aqui viviam, moravam, trabalhavam e tinham muitos e reais motivos para defender a terra, contra invasores. Ora viva!

João Adaime

Prezado EParro
Peço desculpas a você e ao Mk48 por me meter na conversa, mas você resumiu muito bem o porquê deste episódio ser considerado o início do Exército Brasileiro.
Abraço

Luciano

Olá, MestreD’Avis. Pois, tenho o mesmo questionamento. Acho complicadissimo, no mínimo, falar de “exército brasileiro” na primeira metade do XVII. Num momento em que tínhamos aqui indigenas (com vinculações às suas tribos e a acordos de alianças com europeus variados que lutavam entre si), africanos escravizados (com toda carga que isso trazia na relação com seus dominadores) colonos (sim colonos ou filhos destes, súditos d’el-rei), muito antes dos movimentos separatistas e republicanos do final do XVIII, muitos antes do iluminismo chegar aqui….logo isso me parece um grande anacronismo. Porém, como aconteceu quando da proclamação e consolidação da república, me parece… Read more »

MestreD'Avis

Parabéns aos Fuzos!
Um ramo com tanta história e competência que infelizmente parece esquecido pelas chefias militares e politicas.
Pobre Marinha Portuguesa…

angelo bigalli

Duvida de leigo: na 1a foto, qto deve pesar aquelas mochilas? 30 kg?

Cláudio Pqd

Normalmente utilizamos mochilas com peso em torno de 25 a 30 kg, mas dependendo do tipo de missão pode facilmente ultrapassar os 40kg.

angelo bigalli

Obrigado Claudio. Realmente é um bom peso extra….rsrsrs

angelo bigalli

Bravos gajos.

ALFA BR

Ótima tropa. A forma como são organizados atualmente parece ser inspirada nos Royal Marines Commandos, forças leves (ligeiras) para incursões na costa.

Dalton

Ao fundo, na primeira foto, parece ser um navio anfíbio espanhol da classe Galicia, já que no momento Portugal não conta com nenhum navio assim, então nada mais natural uma simbiose seja em treinamento ou participando de operações conjuntas sob a égide da ONU.

Henrique

E por falar nisso, o que você acha de LHD vs LPD? Qual seria o mais adequado pra uma futura modernização da MB? Ou os dois?

carvalho2008

A disruptura tecnologica impos novos padrões e novos desafios. Antes havia como preponderancia (apesar de não ser uma linha de evolução exata) LST´s ( Landing Ship Tank ), os quais tinham de abicar a areia para lançar material e homens…o máximo de entrega, mas junto com o máximo de risco, pois o navio precisa ser exposto ao risco enorme tamanha proximidade… Depois cmeçaram nos modelos e com o advento do Helicoptero, tornou-se possivel manter o navio afastado entre 27 a 40 km da praia em um momento inicial, lançando lá de longe vagas aerotransportadas,que fariam a tomada de situação e… Read more »

Henrique

Então o ideal seria uma força mista de LHD/LPD? O que acha dos LST da Damen, seriam uma boa pra MB?

carvalho2008

Gosto dos projetos da Damen. São objetivos e de baixo custo….

Dalton

Faltou o “LSD” Carvalho que perdeu espaço na US Navy. Mesmo os 4 LSDs da classe Harpers Ferry uma variante dos 8 da classe Whidbey Island estão mais para “LPDs” com maior capacidade de carga e uma reduzida doca para embarcações de desembarque. . A construção da classe “San Antonio” de LPDs continua, com os dois próximos em construção sendo uma transição para os futuros Flight I que serão mais simples e mais baratos, mas, ainda mantendo a classificação de LPDs e que serão complementados por um número maior de anfíbios leves em desenvolvimento. . E como escrevi mais acima,… Read more »

carvalho2008

Eu tambem acho…na falta de recursos, corta o LPD e mantem o LHD… Mas é um problema enorme descarregar material pesado….um blindado ou MBT…dependendo da distancia…pode demorar mais de hora desde ele sair do navio e chegar na praia…. As vezes, penso no retorno de qualquer coisa parecida com aqueles planadores….alguns eram anfibios…ou um C-130 anfibio descarregando blindados na praia…ficou um dilema…é por isto que os EUA focaram tanto em alianças em partes do globo que possam servir de base de desdobramento em terra…a operação anfibia ficou muito dificil….e depois da popularização de misseis e drones, fica dificil das unidades… Read more »

Dalton

O míssil anti navio de longo alcance entre outras coisas, fez os EUA repensarem o modo como poderiam executar uma invasão anfíbia e assim surgiu o “LCAC” que pode transportar carga pesada rapidamente mantendo o navio mãe a salvo complementado por helicópteros de carga e agora também o MV-22 em um primeiro momento e as tradicionais embarcações de carga mais lentas como o “LCU”. . De qualquer forma não me parece provável que vejamos desembarques nos moldes da “II WW” ou Coreia e essas alianças forjadas pelos EUA não levaram em questão o fato de operações anfíbias terem se tornado… Read more »

Adriano Madureira

Desculpe a intromissão,acho que cada um tem funções distintas,seria dificil uma escolha,mas acho que LHD seria uma boa para a MB…

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Adriano Madureira

Pena que o Karel Doorman não pôde ser comprado pelo Brasil anos atrás…
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Dalton

Na minha opinião Henrique, sendo navios complementares seria o ideal ter os dois, mas, levando em conta razões financeiras entre um LHD de tamanho médio como o “Mistral” e um grande LPD como o “San Antonio” ambos deslocando mais de 20.000 toneladas totalmente carregados para a marinha brasileira seria mais vantajoso ter o “LHD” que penso ser um navio mais flexível.

rui mendes

Sob a égide da NATO ou da UE, como a missão de combate á pirataria no corno de Africa, que têm comando da UE.

Peter nine nine

Mais comum sobre a égide da OTAN ou por via bilateral dos dois países.

carvalho2008

Mestre Galante, estou tentando contatar você.

encaminhei um material para vocês. Conseguiram visualizar?

Tomcat4,2

Uai,pra terem 400 anos, devem ter tomado o mesmo soro que o Cap.América e o Buck!!!rs

Osvaldo Marcilio Junior

Parabéns aos nossos irmãos “Fuzileiros Navais de Portugal” pelo seus 400 anos, somos “recrutas” perto deles , só 213 anos, mas somos os melhores kkkkkkkk…”ADSUMUS”!!!!

carvalho2008

Amigos, um material de opinião que montei sobre possibilidade de apoio aereo aproximado , Super Tucanos e AHTS contra enxames de pesqueiros ilegais

A montagem da parte final ficou bem bacana.

carvalho2008

e a versão texto aqui:
https://projetosalternativosnavais.wordpress.com/2021/04/17/super-tucanos-e-navios-ahts-empregados-contra-enxames-de-pesqueiros/

Os editores podem utilizar o material compilado para organizar numa unica materia e comentários aqui.

carvalho2008

Digo aqui no Poder Naval

Antonio Palhares

Não obstante, pertencerem a um país pequeno e pouco povoado, para as demandas que se lhe apresentavam. Os portugueses sempre foram bravos nas guerras e corajosos nas viagens marítimas e descobertas. Os Fuzileiros Portugueses fazem parte desta história gloriosa. Um detalhe nas comemorações e desfiles, é o jeito que eles desfilam.

Paulo Drusnam

Já aposentaram as Caravelas??