Atores navais avaliam as lições aprendidas com o Conflito na Ucrânia para uma futura guerra no mar

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PARIS – Atores navais continuam a aprender lições do conflito em andamento na Ucrânia e estão considerando as implicações dessas lições para a futura guerra naval.

Em briefings de workshops na exposição Euronaval 2022 em Paris, França, em meados de outubro, marinhas e indústria naval discutiram lições que variam de contextos estratégicos a operacionais e tecnológicos.

O capitão Yann Briand, um oficial da Marinha Francesa que atua como chefe do ramo de política estratégica do Ministério da Defesa da França, expôs várias lições que a França está aprendendo com a guerra na Ucrânia.

“A primeira é que lembra os fundamentos do combate naval no mar – ou seja, violência, velocidade e atrito”, disse Briand. Em segundo lugar, ele destacou o contexto estratégico mais amplo do “papel central da dissuasão nuclear” na crise.

“Outro ponto – não específico para a Marinha Francesa, mas o mesmo para todas as marinhas do mundo – é que estamos em contato próximo com nossos concorrentes”, disse Briand. Por outras palavras, continuou, “no mar, existe a possibilidade de enviar mensagens políticas diferentes de uma forma muito sutil”.

“Você usa um radar de controle de tiro, chega muito perto de outro navio: tudo isso é algo que você pode fazer no mar que não pode fazer em terra.”

Este processo funciona devido a abordagens profissionais de todos os lados, disse ele. No entanto, ele observou, a instabilidade persiste.

Finalmente, Briand disse: “Alianças e parcerias são mais do que muito úteis”, com países e suas marinhas incapazes de enfrentar todos esses desafios sozinhos.

As lições aprendidas também indicam uma mudança mais ampla na natureza da segurança.

“Nos últimos 30 anos, a estabilidade da França e da Europa foi baseada em leis, regulamentos e tratados; agora, infelizmente, é mais baseada na defesa física – armas, caças, porta-aviões”, disse Briand.

Richard Keulen, ex-oficial da Marinha Real Holandesa e comandante de fragata e agora diretor de Suporte de Vendas Naval da empresa holandesa de construção naval Damen Naval Division, espelhava essa perspectiva.

“O Báltico e o Mar Negro nos mostram que a Europa é ladeada por águas importantes e disputadas. A Europa depende de sua prosperidade e liberdade para manobrar em um mare librum, também no Mediterrâneo, no Atlântico mais amplo e até nas águas a leste de Suez”.

“Então, a inovação na defesa é extremamente importante, como claramente testemunhado, por exemplo, na guerra da Ucrânia”, disse Keulen. “Temos visto as fotos.”

“Vimos o uso extensivo de drones. Vimos o naufrágio do [cruzador russo da classe Slava] Moskva. Também testemunhamos a extensão para as águas do norte da guerra híbrida em direção ao fundo do mar.”

No Mar Báltico, os dois gasodutos Nordstream sofreram rupturas recentemente, embora a causa das rupturas não tenha sido confirmada publicamente. Tais incidentes suscitaram preocupações regionais sobre a segurança das linhas marítimas de comunicação, inclusive no fundo do mar.

“Este último fenômeno, por exemplo, levanta preocupações e conscientização na Holanda e seus países vizinhos na área do Mar do Norte, em torno das águas mais movimentadas da Europa”, disse Keulen.

FONTE: Seapower Magazine

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Pedro Fullback

Á última grande guerra, leia-se Malvinas, as forças armadas brasileiras não aprenderam absolutamente nada. Não temos meios de caça que utilizam mísseis anti navio, e o pior, não sabemos qual míssil anti navio irá equipar os gripens.

Temos muito a aprender com a Guerra da Ucrânia, porém, infelizmente a nossa grande estratégia nacional é ser capacho para evitar conflitos.

ChinEs

O teatro de operações ideal ao Brasil foi e é o das Malvinas (ou qualquer ponto do Atlantico Sul como a Costa da Africa), nada haver com a Ucrania, a Guerra naval da Ucrânia é de baixa intensidade , a Ucrânia fica aguardando a invasão anfibia dos Russos e fica se defendendo com baterias de misseis Anti-Navais e Minas, mas não mais do que isso, a Russia fez um bloqueio naval numa mar bem pequeno, diferente dos 7000 Km da Costa Brasileira… O Brasil esta no bom caminho com o desenvolvimento do MANSUP e talvez do MANAER e MANSUB, o… Read more »

AMX

A costa brasileira, é uma coisa, mas o Caribe, ainda que não colinde com o Brasil, também deve ser área de atenção nossa, pois qqr coisa que aconteça ali, pode respingar aqui. Dadas as devidas proporções, tem lá suas semelhanças. São águas perenes, em vez de fechadas mas, em compensação, muitos países estão na região, inclusive ilhas de algumas potências.

Carvalho2008

O Caribe entra na zona de alerta por conta do novo pré sal muito maior que o anterior localizado no Amapa

Esteves

É aqui. Também.

Henrique A

A região mais vulnerável do ponto de vista naval do Brasil. Toda a frota da MB deveria ser deslocada do RJ e enviada para o Nordeste, bem na cintura do Atlântico protegendo o saliente nordestino e a foz do rio Amazonas.

Last edited 1 ano atrás by Henrique A
Willber Rodrigues

Aprendemos “as avessas”:
Investimos pesadamente em um protótipo de subnuc, enquanto matamosno resto da Força com isso.
Gastamosno que não tínha-mos com um NaE com quase 60 anos e com meia dúzia de caças da época do Vietnã pra sua ala aérea, e até hoje não temos mísseis anti-navio integrados neles.
Só hoje, 40 anos depois das lições do conflito, estamos adquirindo escoltas modernas com projetos posteriores ao conflito.
Nossa força de minagem e desminagem AINDA depende exclusivamente da Classe Aratu.
Até ontem usavamos equipamentos de criptografia importados.

Last edited 1 ano atrás by Willber Rodrigues
Carvalho2008

não se pode admirar drones sem admirar um A-4M…..

Esteves

Ontem vi um Ford Landau. Tava sem as rodas. Em uma garagem.

Uma belezinha.

Thiago A.

E continua a nossa melhor defesa: evitar conflitos. Porque com os meios que possuímos atualmente fica difícil antagonizar abertamente qualquer ator mais capaz que a Argentina ou Venezuela. Sem falar que se formos brincar de Vietcong como alguns pregam é capaz que o nosso país se desmanche em vários pedaços de tão precária que é a nossa coesão.

Bardini

Á última grande guerra, leia-se Malvinas, as forças armadas brasileiras não aprenderam absolutamente nada. . Malvinas é um dos maiores fatores, dentro dos blábláblás estratégicos considerados nos “planejamentos” da MB. E este é um problema gigantesco que a MB cria para seu próprio futuro: atuam muito dentro de uma visão de se preparar para lutar uma guerra do passado. Exemplo mais clássico disso, é dizer que a MB precisa de submarino nuclear, pq com apenas 01 Hunter Killer a Royal Navy deixou toda a ARA no porto… . Não temos meios de caça que utilizam mísseis anti navio, e o… Read more »

AMX

“Nos últimos 30 anos, a estabilidade da França e da Europa foi baseada em leis, regulamentos e tratados; agora, infelizmente, é mais baseada na defesa física – armas, caças, porta-aviões”, disse Briand.

Finalmente, entenderam a bagaça!

Willber Rodrigues

Considerando-se a história francesa, fico surpreso que eles só tenham se dado conta disso agora…

Thiago A.

SSBN, SSN, PA nuclear, mísseis balisticos e de cruzeiro nucleares … são um bom indício que eles entenderam isso faz tempo.

A C

Considerando-se a burocracia francesa, NAO fico surpreso que eles soh tenham se dado conta disso agora…

JuggerBR

Este é um conflito majoritariamente terrestre, Força Aérea e Marinha quase não participam, é guerra de artilharia, infantaria e operações especiais, até a guerra de tanques se mostrou ineficaz, sendo muito mais alvos do que arma afetiva de ganho e manutenção de território.

pangloss

Isso mesmo. A única lição que a guerra da Ucrânia trouxe para as forças navais é que o Serguei não deve fumar próximo ao paiol de munições, sob risco de afundar o navio.

Willber Rodrigues

Em parte marítima, as únicas lições desse conflito, até o momento, são sobre minagem/desminagem e defesa contra mísseis anti-navio.

ChinEs

Tem muita guerra electronica e IA com drones…

Alessandro

Não sei se o Poder Naval viu, mas no dia 26 de Setembro em Viena foram assinados memorandos entre a Nuclep e a Rosatom, matérias e trechos abaixo.

“ENBPAR E ROSATOM BUSCAM COOPERAÇÃO PARA NOVAS FONTES DE ENERGIA VERDE”
https://www.nuclep.gov.br/pt-br/imprensa/nuclep-na-imprensa/enbpar-e-rosatom-buscam-cooperacao-para-novas-fontes-de-energia-verde

https://www.nuclep.gov.br/pt-br/imprensa/nuclep-na-imprensa/delegacao-brasileira-assina-memorando-com-rosatom

“Destaco, em especial, o encontro conduzido pelo presidente da ENBPar, VA (RM1) Ney Zanella dos Santos com o Diretor-Geral da ROSATOM, Kirill Komarov, e sua equipe, em que foi assinado um memorando de entendimentos para uma futura parceria da NUCLEP com a estatal russa em possíveis atendimentos à Angra 3”,  disse o CA (RM1) Seixas

Last edited 1 ano atrás by Alessandro
ChinEs

O Brasil quer a ajuda Russa no PROSUB?

Esteves

Tais memorandos existem desde os anos passados. Esse protocolo de intenções vem desde 1994. Em setembro de 22 renovamos as intenções.

https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/enbpar-e-rosatom-buscam-cooperacao-para-novas-fontes-de-energia-verde/MemorandodeEntendimentoENBPareROSATOM.pdf

Alex Barreto Cypriano

Ah, qualé, pessoal? Quem é ingênuo o suficiente pra embarcar na canoa retórica furada de aprender lições já aprendidas e conhecidas?

Esteves

Esteves.

Assim se aprende. Com esforço, empenho e…condor.

Henrique A

A lição é que manter navios obsoletos em combate é contra-producente; o “valor” de um meio obsoleto é ilusório, teria sido melhor para os russos ter desativado o Moskva e seus irmãos.

Dalton

Henrique, os russos tem poucos grandes combatentes de superfície para se dar ao luxo de “desativar”, mesmo navios considerados obsoletos e/ou antigos o que não é ainda o caso dos “Slavas” daí o enorme esforço que se está fazendo para modernizar e reclassificar como fragatas os antigos Udaloys. . Especificamente quanto aos “Slava” o “Moskva” Capitânia da Frota do Mar Negro já encontrava-se lá para principalmente dar cobertura aérea com seus radares e mísseis AA e provavelmente uma mistura de fatores, como excesso de confiança, resultou no afundamento do mesmo. . Já os outros 2 empreenderam longas viagens de suas… Read more »

Henrique A

Nenhuma dessas missões justifica o dispêndio em meios tão desproporcionais e velhos.
A verdade é que essa doutrina soviética de navios arsenais é completamente insana.

Dalton

Como diz o velho ditado: não se combate com o que se quer e sim com o que se tem, mas, independente disso, os “Slavas” tem sido muito úteis conforme suas folhas de serviço mostram, ainda mais pela falta de grandes navios capazes de operar em “águas azuis” e empreender longas jornadas. . O “Marechal Ustinov” comissionado em 1986 passou por um longo período de revitalização concluído em 2016 era o melhor dos 3 agora 2 enquanto o “Varyag” foi incorporado em 1989 e planeja-se que ambos permaneçam em serviço até o fim da presente década pelo menos. . Ambos… Read more »

Esteves

Estratégia e doutrina dependem do que se tem. Impactados pela guerra nas Malvinas decidimos: investir em submarinos nucleares convencionais não portadores de armas nucleares e mísseis anti navio. Desde os anos 1980. Os defensores dizem que investimentos e resultados em natividade militar demoram-se. Desenvolvimento autóctone é assim mesmo…começa do início. Praticidade. A guerra é um esforço somatório. Quem tem vence quem não tem. Como está o Labgene que contam ultrapassado em razão das varetas e do tamanho? Como está o Mansup? A 3a concordata da Avibras atrapalha a produtação do míssil? Anos 1980…teve uma tal de seleção do Tele. Não… Read more »

Henrique A

Não tem como ter indústria de defesa sem ter primeiro indústria. A indústria nacional praticamente morreu nos últimos 30 anos e mesmo no auge tinha vários gargalos.
Esse desejo de se ter um complexo militar-industrial nacional é devaneio.

Last edited 1 ano atrás by Henrique A
Willber Rodrigues

Não tem como ter indústria de defesa sem primeiro ter FA’s que REALMENTE COMPREM produtos nacionais em quantidade que permita manter uma linha de produção.
No atual modelos das FA’s BR, gastando bilhões em ToT pra comprando a conta-gotas e estendendo prazos de entrega por falta de verba, além de demorar trocentos anos em projetos que já nascem obsoletos ( o projeto de ATGM do EB, quem lembra? ), como se cria indústria de Defesa dessa maneira?

Esteves

“Malvinas é um dos maiores fatores, dentro dos blábláblás estratégicos considerados nos “planejamentos” da MB. E este é um problema gigantesco que a MB cria para seu próprio futuro: atuam muito dentro de uma visão de se preparar para lutar uma guerra do passado. Exemplo mais clássico disso, é dizer que a MB precisa de submarino nuclear, pq com apenas 01 Hunter Killer a Royal Navy deixou toda a ARA no porto…” Isso aí Esteves escreveu nos anos 1990. Preparar o futuro olhando o passado. Mas tem outra forma se não olhar a história? É possível inovar tentando projetar o… Read more »

Jagdverband#44

First lesson: dont navigate near the shoreline with an old soviet era cruiser.

Esteves

O Brasil já teve. O Brasil produziu fragatas. O Brasil produziu submarinos. A Engesa produziu 7 mil veículos militares. O Brasil teve fábrica de TV. Gurgel mostrou o carro elétrico nacional em 1974. O Brasil parou porque isolou-se. Abrimos os portos em 1988. Perdemos 1990/91/92/93 para a inflação e para a estagnação. O Brasil como conhecemos hoje nasceu em 1994. Então…o Brasil existe desde? Essa turma da indústria… A indústria quer lucro, a indústria quer representatividade, a indústria quer demandas, a indústria quer vender. Ou quiz. Hoje o empresário de varejo quer dar emprego porque o empresário do varejo precisa… Read more »

rfeng

Como tirar estratégias de uma luta no mar se não houve um combate no mar, reuniões de nada para coisa nenhuma.

Aéreo

Eu diria que muitas lições do cenário naval no conflito da Ucrânia são na verdade, lições já aprendidas nos últimos 40 anos e que foram revisitadas. 1 – Desconfiar da inteligência e confiar na prontidão. Os Ingleses desconheciam a capacidade REVO dos Super Etendart, também desconheciam a impossibilidade em 1982 destes aviões serem operados a bordo do Porta Aviões 25 de Maio. A Marinha de Israel, em 2006, desconhecia a capacidade do Hezbollah de operar misseis anti-navios a partir da costa do Líbano. Os russos não consideravam os Neptune disparados deste a costa ucraniana uma ameaça. Em 2016 o USS… Read more »

Mahan

Porque a Rússia deixou de minar ou bloquear o porto de Odessa? Não seria um grande trunfo para forçar a Ucrânia, a OTAN e a ONU a negociarem já que importante fluxo de cerais para alimentação de parte do mundo teria sido cortado?