Dispor de uma força naval crível não é algo frívolo

Marcos Sampaio Olsen
Almirante de esquadra, é comandante da Marinha do Brasil

“Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme, quem te adora, a própria morte.” Tal verso do Hino Nacional nos instiga a reavivar feitos de um passado marcado pela atuação dos “heróis-marinheiros” que combateram em Riachuelo, naquele 11 de junho de 1865.

À época, pouco se acreditava na possibilidade de o Brasil entrar em conflito. Tal fato corrobora, diretamente, a inadequação e as severas restrições impostas às condições de eficiência da esquadra brasileira.

Determinante refletir sobre a disposição do Estado em pagar preço alto por descurar da defesa. A guerra, quando assola uma nação, não oferece benesses à preparação tardia de sua Marinha.

“A nulificação da Marinha é, portanto, projeto e começo do suicídio.” Ruy Barbosa sublima a necessidade de se olhar para a importância do uso do mar e para a prontidão operacional da Marinha. Dispor de uma força naval crível, desde os tempos de paz, não é algo frívolo. É, unicamente, não submeter os desígnios do seu povo a interesses estranhos.

A conjuntura indica o acirramento de tensão entre Estados e a presença de ameaças diversas à soberania, em especial no ambiente marítimo, requerendo ao Estado que não se deixe seduzir pela ilusória perpetuidade da paz.

Aqueles que negligenciam investimentos em defesa, não se olvidem, serão rijos na cobrança do êxito ou na crítica ao fracasso caso o país venha facejar conflito.

As atribuições constitucionais da Marinha do Brasil implicam preparo e emprego do poder naval na acepção de sua atividade-fim —a atuação sob a égide de organismos internacionais ou em apoio às ações do Estado— e alcançam atribuições subsidiárias adjudicadas à autoridade marítima.

A Política e a Estratégica Nacional de Defesa pavimentam o caminho para a defesa que o Brasil almeja. Além disso, aprazam o Atlântico Sul, fulcro do entorno estratégico brasileiro. Trata-se de extensa porção marítima, reserva econômica estratégica para gerações de brasileiros. Ao tempo que se presta à porta de entrada à pirataria; ao terrorismo; aos crimes transnacionais; às ações cibernéticas hostis; à exploração ilegal de recursos naturais; perfaz, portanto, ambiente operacional complexo e instável.

Sob essa perspectiva, a Força correlaciona os desafios impostos ao Estado com as capacidades requeridas para cumprir, eficazmente, a política naval. Identificadas suas necessidades, constituem os alicerces à consecução proficiente dos programas estratégicos, que acarretarão arrasto tecnológico, geração de divisas e empregos de qualidade, contribuindo para assentar futuro digno ao Brasil.

Manter, portanto, uma Marinha compatível com a estatura político-estratégica do Brasil e apta para atender aos legítimos anseios do seu povo, é condição primeira ao Estado; e forma justa de honrar a memória daqueles “heróis-marinheiros” que, inspirados pelos sinais “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever!” e “Sustentar o fogo que a vitória é nossa!”, ofereceram suas vidas pelo Brasil como nação livre e soberana.

Tudo pela pátria e pela Marinha!

FONTE: Folha de Sâo Paulo

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AMX

Aqueles que negligenciam investimentos em defesa, não se olvidem, serão rijos na cobrança do êxito ou na crítica ao fracasso caso o país venha facejar conflito.”

Magistral!

sergio

Quem vai cobrar o ” povo Brasileiro ???” kkkkkkkkkkkk
Estas sendo irônico né ???????

Alex Barreto Cypriano

É pra levar a sério? Então, comandante, em vez de generalidades supérfluas, nos diga a composição do orçamento da MB, porque o problema é dinheiro (posto que a MB conta com recursos humanos notáveis, ~75 mil ativos e mais ~135 mil inativos e pensionistas) e nos relate o que tem faltado ou como melhorar. A MB tem uma série de dignificantes e necessárias ações que receberam nada ou quase em 2022. Do empenhado em fardamento, apenas um terço foi pago… Cansei de conversa mole: ou empurra água ou confessa que é clube de aposentados armados.

Esteves

Alex,

Essa seria uma reforma civil. Na CF. O que a MB poderia fazer vem sendo feito.

Powerpoint.

Alex Barreto Cypriano

Bolsonaro, em 2018, não queria mudar CF, já Lula-Haddad diziam precisar nova CF. A CF, contraditória como é (ela estabelece os termos de sua própria supressão antidemocrática) já foi violada de inúmeras maneiras desde antes de 1.988 (já nos lobbies pra influenciar por artigos como aquele que estabelece dívida federal isenta de teto…) e depois (me dispenso explicar de novo as sabujices implementadas durante Lula I). Mesmo a independência dos poderes tem sido relativizada: se antes o Executivo açodava o Congresso com MPs, hoje o Congresso altera composição ministerial do Executivo, etc, etc. Na CF não diz qual a porcentagem… Read more »

Esteves

Chamam isso Estado Democrático de Direito. Todos falam, muitos calam, poucos fazem.

Segue o enterro.

LucianoSR71

Seria muito bom se a atual administração lesse esse post já que através do Centro de Comunicação Social da Marinha – CCSM determinou que todo material de divulgação conste apenas como “11 de Junho – Dia da Marinha”, simplesmente apagando da História essa gloriosa Batalha. Para aqueles que não acreditam, peço que assistam o vídeo no YT do Canal Navios e Histórias do ex-tripulante da Fragata F-49 Rademaker cujo título é Apagaram a Batalha Naval do Riachuelo? Lá ele mostra o documento oficial desse absurdo.

Velame

Que palhaçada! A marinha apaga da memória Brasileiros que deram sua vida na batalha do Riachuelo, em nome do politicamente correto. Não tem coragem de chamar um submarino nuclear de ataque pelo seu nome e vem com esse papo furado de esquadra forte, pra que? Coitados dos Oficiais e Praças da Briosa, comandados por covardes, mas que com coragem e dedicação, continuam guarnecendo seus meios envelhecidos.

LucianoSR71

É o que eu digo, gostaria de saber qual seria a resposta que essas pessoas dariam p/ uma pergunta muito simples:
Porque o dia 11 de Junho é o Dia da Marinha, sua Data Magna?

Agressor's

A melhor forma de garantir um novo domínio sobre um território conquistado é apagar toda lembrança de seus antigos heróis e o mérito de seus lideres. Nós fomos colônia portuguesa até 1822, tivemos 1° império, regência e 2° reinado e isso, inquestionavelmente, faz parte da nossa história; e qualquer tentativa de ignorar, deturpar, esconder ou “cancelar” isso; é, dentre muitas coisas, má intenção. Infelizmente estamos vivendo tempos difíceis e estranhos numa total inversão de valores onde querem subverter a ordem, a lógica, a história e sabe-se lá mais o quê…

Burgos

Me formei em 11 de junho de 1985.
Pra mim sempre será a Batalha Naval do Riachuelo. Podem mudar o nome da história, mas a história verdadeira nunca sairá de nossas vidas e mentes.

Esteves
Allan Lemos

Só o que vejo são palavras vazias. Das 3 forças, a MB é a mais mal administrada. Então não adianta tentar culpar a classe política pela situação atual.

No mais, o fato de 99,99% da população não ter ideia do que foi Riachuelo diz muita coisa sobre essa pátria.

Last edited 10 meses atrás by Allan Lemos
Silveira

O que interessa isto se temos futebol, churrasco, cerveja e carnaval, brasileiro não tem noção de nada, a classe política é reflexo do povo. 99,99% não sabe nada da história do Brasil, não sabe o básico do básico. E se for patriota ainda vai presa.

Esteves

O que vem? O que significa patriota? O que é um?

Esteves

A população aprende o que ensinam. Se 99,99% da população não conhece a própria história, a culpa é de quem não ensinou.

Fernando "Nunão" De Martini

“ À época, pouco se acreditava na possibilidade de o Brasil entrar em conflito. Tal fato corrobora, diretamente, a inadequação e as severas restrições impostas às condições de eficiência da esquadra brasileira.” Nessa parte eu discordo do texto do comandante da Marinha. Ao longo da década de 1850 e da primeira metade da seguinte, a Marinha Imperial passou por um considerável reequipamento, incorporando novos navios de propulsão mista (vapor e vela), tanto encomendados fora quanto construídos aqui, com vários desses navios de porte e calado adequados a intervenções na Bacia do Prata. Tanto que, às vésperas da invasão paraguaia do… Read more »

Last edited 10 meses atrás by Fernando "Nunão" De Martini
Esteves

Esteves disse. Marinha sem herança. Marinha repulsando-se do Império como se esse Tivesse sido de outros.

Marinha sem história contando histórias diferentes dos fatos.

Por que heróis marinheiros está entre aspas?

Nem triste é. Como sempre.

https://www.marinha.mil.br/agenciadenoticias/batalha-naval-do-riachuelo-data-magna-da-marinha#:~:text=Her%C3%B3is%20de%20Guerra,imortalizados%20na%20hist%C3%B3ria%20do%20Pa%C3%ADs.

Esteves

“1. Esquadra brasileira
Os navios brasileiros na época eram adequados para operar no mar e não em águas restritas e pouco profundas que os rios Paraná e Paraguai exigiam. A possibilidade de encalhar era grande. Além do mais, esses navios possuíam casco de madeira, o que os tornava muito vulneráveis à artilharia de terra, posicionada nas margens. A vitória brasileira só foi obtida graças à manobra de abalroamento das embarcações paraguaias.”

Fonte: Agência Marinha de Notícias
Acesse: https://www.marinha.mil.br/agenciadenoticias/

Foi assim, Mestre Nunão?

Fernando "Nunão" De Martini

Já comentei a respeito. É só ler. O trecho que você destacou é uma simplificação que não conta 1/10 da complexidade da história e da batalha.

Dentre a lista de matérias da Agência Marinha de Notícias que você colocou o link, a melhor é a entrevista com o historiador Alves de Almeida, que aliás fez parte da minha banca de Doutorado:

https://www.marinha.mil.br/agenciadenoticias/11-de-junho-dia-da-marinha

Last edited 10 meses atrás by Fernando "Nunão" De Martini
Esteves

Grato.

Foxtrot

“No Dia da Marinha, uma lição de Riachuelo”.
Tiraram alguma lição de alguma coisa ? Se for, estou abismado !

Esteves

Depende da versão.

Willber Rodrigues

Não tiramos lições ( ou tiramos licões erradas, tão ruim quanto ) nem da Guerra da Lagosta e nem da Guerra das Falkland’s, imagina numa guerra de mais de 120 anos atrás…

Fernando "Nunão" De Martini

Wilber,

Pelo que pesquisei anos atrás, houve sim várias lições tiradas à época de Riachuelo e também nos combates seguintes da Guerra do Paraguai, e que foram aplicadas na prática em projetos seguintes de navios (assim como houve lições aprendidas em combates com apoio de fogo fluvial, na região de Ladário, da revolta constitucionalista de 1932).

Porém essa capacidade de tirar lições e aplicar precisa ser mantida continuamente, o que nem sempre é feito.

Se quiser ver algumas das lições aprendidas nas diversas épocas e suas aplicações ao longo de várias décadas:

http://portaldeperiodicos.marinha.mil.br/index.php/navigator/article/view/673/668

https://www.naval.com.br/blog/2015/06/11/os-150-anos-de-riachuelo-e-suas-licoes-parte-1/

https://www.naval.com.br/blog/2015/06/24/os-150-anos-de-riachuelo-e-suas-licoes-parte-2/

Foxtrot

Pois é. Por isso mesmo fiz a pergunta.
Aqui nunca se aprende nada.

Esteves

Isso está certo.

“Manter, portanto, uma Marinha compatível com a estatura político-estratégica do Brasil…”

Qual a estatura político estratégica e econômica do Brasil desde…JK?

Henrique A

Esse tipo de fala é completamente inútil já que não dá pra quantificar o que é “estatura política-estratégica”… o Mahan estava certo, não é qualquer país que constrói poder naval, e preciso ter motivos concretos para tal.

Last edited 10 meses atrás by Henrique A
Esteves

O Poder Naval veio junto ou a reboque do Poder Marítimo que juntos projetaram a pujança industrial norte-americana?

Querem viver de conversinha.

Esteves

“A conjuntura indica o acirramento de tensão entre Estados e a presença de ameaças diversas à soberania, em especial no ambiente marítimo.”

Vou lá acompanhar o futebol. Fico cá relendo esse texto em meio a exercícios de lógica e arrependo-me depois.

Aonde existe ameaça à soberania marítima nos dias atuais? Qual país está impedido de navegar? Qual rota marítima está bloqueada?

Se o Esteves voltar aqui leva um beliscão.

Willber Rodrigues

Arrisco, no meu achismo que provavelmente estará errado:
Pesca ilegal ( essa, nosso maior problema, arrisco dizer );
Narcotráfico ( problema tanto em terra quanto no mar );
Navios poluindo aqui sem sabermos, ou sabermos tarde demais ( alguem ainda lembra daquele vazamento de óleo no Nordeste anos atrás? );
Não fazermos idéia de quem entra, fica e sai de nossas águas ( lembram do “navio de pesquisa russo” ? ).

Como resolver, ou diminuir esses problemas? Aí a discussão vai longe…

Esteves

Veja a visão dos Almirantes. Lá. Longe. Lá longe.

Os Almirantes não olham cá no nosso mar. Quando olham, enxergam ZEE querendo estendê-la ainda que em sonho já que a atual (a ZEE) nem isso é.

Esteves

“Começava a Guerra do Paraguai, que devido aos acordos feitos entre Brasil, Argentina e Uruguai para confrontar os paraguaios, também é conhecida como Guerra da Tríplice Aliança. Um conflito gestado ao longo de 15 anos de aumento gradativo das tensões na região…” Existem tensões hoje na região? Existem fatos que levem a pensar e refletir que poderiam haver tensões adiante ou em futuro próximo no Continente? Disseram que a Argentina exitosa nas Malvinas invadiria Missões. O que mais? Guerra é escalada. Hoje, a escalada é a pobreza comum a todos na América do Sul. Come on pular para a segunda… Read more »

Jessiel De Jesus

Vi essa foto e fui rever a frota Naval chinesa , só uma esquadra lá é maior mais nova mais tecnologia e mais Armada que toda A Frota brasileira..
E o atual chefão ainda diz que vai reduzir 40% , vai virar uma Marinha costeira

Esteves

Toda a economia da China é maior que a nossa. O mercado de automóveis é 10 X maior. Ferrovias…melhor nem tentar comparar.

Por que com a frota marinheira seria diferente?

Emmanuel

O que me espantou foi a fonte: Folha de São Paulo.

Fernando "Nunão" De Martini

Foi publicado na Folha como artigo de opinião. É uma seção diária com artigos das mais variadas correntes de pensamento. Não é de hoje que, volta e meia, publica textos que vêm das Forças Armadas nessa seção.

Esteves

O que há na fonte?