1 – BREVE HISTÓRICO

Nos Períodos de Manutenção Geral (PMG) anteriores do Navio-Escola Brasil (NE Brasil), foi constatado, por ocasião da substituição das gaxetas das linhas de eixo de BB e BE, que a camisa dos moentes, de ambos os eixos, encontrava-se bastante desgastada, na altura do tubo telescópico, na região do engaxetamento e do selo inflável. Tal fato, permitia o embarque excessivo de água no navio e estava sendo contornado com a utilização de gaxetas de diâmetro superior ao preconizado.

Apesar dos fatos, as linhas de eixo apresentavam níveis de vibração e temperatura de operação dentro dos parâmetros normais. Com isso, a retirada das linhas de eixo para reparo vinha sendo postergada.  Contudo, durante o PMG-2015, foi realizada uma inspeção e verificado que a folga das buchas dos pés de galinha principal e intermediário das linhas de eixo estavam próximas do limite máximo permissível, possibilitando ao navio a realização de apenas mais uma Viagem de Instrução de Guardas Marinhas (VIGM). Esse parâmetro foi determinante para que a retirada da linha de eixo fosse realizada durante o PMG-2016.

Sendo assim, a Base Naval do Rio de Janeiro (BNRJ) iniciou, desde então, o planejamento para a realização de uma das fainas mais sensíveis e críticas, durante o PMG do NE Brasil: a retirada das linhas de eixo.

2 – RETIRADA DAS LINHAS DE EIXO

O desafio era grande e temeroso, haja vista a concomitância com obras de grande vulto, como o jateamento e a pintura de 100% das Obras Vivas e Linha D’água, acompanhado de prazo curto para a realização dos serviços. Entretanto, as experiências, adquiridas nas fainas de retirada das seções das linhas de eixo da ex CV FRONTIN e da faina de afastamento das seções exposta e propulsora da linha de eixo de BE, no PMG-2015, para substituição do selo inflável avariado, proporcionaram segurança e confiança à BNRJ para a realização desse serviço.

A fase de planejamento foi fundamental para o sucesso da missão, pois qualquer tarefa ou sobressalente que não fossem previstos poderiam acarretar atrasos ou até a impossibilidade de conclusão dos serviços dentro do cronograma e do calendário de eventos do navio.

A faina foi realizada em duas etapas, uma com o navio docado e outra com o navio atracado e o escopo dos serviços foram:

a) Serviços realizados com o navio docado:

  • Desmontagem, inspeção, balanceamento e montagem dos hélices de BB e BE (incluindo manobra de peso e transporte);
  • Desmontagem, substituição e montagem das luvas SKF (externas e internas) das linhas de eixo de BB e BE;
  • Desmontagem, inspeção, recuperação dos moentes e montagem das seções de eixo propulsores e expostos de BB e BE (incluindo manobra de peso e transporte);
  • Remoção das buchas (Thordon) dos pés de galinha principal e intermediário de BB e BE;
  • Desmontagem, usinagem e montagem das buchas flangeadas de bronze dos pés de galinha principal e intermediário de BB e BE;
  • Encamisamento do moente, na região das gaxetas, das linhas de eixo de BB e BE;
  • Usinagem e instalação das novas buchas (Thordon) dos pés de galinha principal e intermediário de BB e BE;
  • Desmontagem, substituição, teste e montagem dos novos selos infláveis de BB e BE; e
  • Desmontagem, inspeção e montagem das caixas de gaxetas, inclusive substituição das gaxetas, de BB e BE.

b) Serviço realizado com o navio atracado:

  • Medição e avaliação das cargas dos 6 mancais de sustentação, das linhas de eixo de BB e BE (04 mancais de BB e 02 mancais de BE).

c) Os sobressalentes adquiridos e utilizados na faina foram:

  • Acoplamentos SKF OK330HB (4 unidades);
  • Buchas (Thordon) dos pés de galinha (4 unidades);
  • Câmaras de ar dos selos de casco, incluindo suas válvulas (2 unidades); e
  • Tarugo cilíndrico, dimensões de 380mm de diâmetro externo, 338mm de diâmetro interno, comprimento de 772mm, material ASTM-B 584 C92200 (2 unidades).
Perfil do NE Brasil . O canhão da proa de 76 mm planejado antes da construção acabou não sendo instalado

Os serviços de desmontagem, inspeções, usinagens e montagem das linhas de eixo foram executados pela empresa NOBRE SERVICE. Para as fainas de manobra de peso, foram utilizados dois
guindastes: o guindaste da BNRJ, com capacidade de 30Ton (para remoção dos hélices e acessórios) e um guindaste de 120Ton, para faina de retirada das seções de eixo, da empresa TRANSRETA.

Ambas as empresas foram contratadas pela BNRJ através de processo licitatório. O planejamento, a coordenação e a fiscalização dos serviços foram realizados pela seção de Gerência
do NE Brasil, do Departamento Industrial da BNRJ. O prazo de execução dos serviços foram de 100 dias com o navio docado e 45 dias com o navio atracado, conforme planejado.

A seguir será apresentado o relatório fotográfico das atividades realizadas, divididas em três fases distintas: Desmontagem das linhas de eixos e seus acessórios, Serviços de oficinas (inspeções e usinagens) e Montagem da linha de eixo e seus acessórios.

Após a desdocagem do navio foi realizada a medição de carga dos mancais de sustentação, a fim de verificar se as cargas estavam distribuídas dentro dos limites máximos e mínimos permissíveis de cada mancal.

Foram realizadas medições em três condições: com o navio flutuando no dique, com o navio atracado e uma após a realização da prova de mar. As cargas medidas estavam dentro dos limites permissíveis.

6 – CONCLUSÃO

Sem dúvidas, a faina de retirada da linha de eixo do NE Brasil foi importante não somente para o navio, prolongando a vida útil das linhas de eixo, como também para a Base Naval do Rio de Janeiro que ampliou sua capacidade técnica para atender aos navios, permitindo assim apoiar seus clientes com mais qualidade e confiabilidade.

MARCOS CAETANO MELADO
Capitão-Tenente (EN)
Gerente do NE Brasil

FONTE: Porta-Batel – Edição III – 2º Semestre de 2016

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Willber Rodrigues

Pessoal da manutenção e oficinas do MB tinham que ganhar uma medalha diariamente.
Manter as antigas Niteróis e os outros meios adquiridos já usados pela MB, com logística de peças totalmente diferentes, e mesmo assim manter tudo isso ainda funcionando e empurrando água não é pra qualquer um, os caras são bons mesmo.

Fabiano

Acho que o serviço não foi bem feito, vi este navio entrando hoje no porto de Santos, meio adernado a boreste.

Demetrius

Comentário raso e lamentável…

L Grande

O sétimo navio classe Niterói. 25#5#15

Augusto José de Souza

A manutenção da MB é realmente incrível,só falta agora o pesssoal do arsenal voltar a construir navios de guerra igual terminaram duas classe Macaé.

Fernando Vieira

Levaram 12 anos para fazer uma corveta. Melhor não.

carvalho2008

Sensacional mestre Nunão!!!

Uma pergunta….qual a diferença desta manutenção de eixos para com a manutenção de eixo qe seria necessaria no SP?

Fernando "Nunão" De Martini

Não fui eu quem publicou não…

Mas recebo os agradecimentos pela equipe.

Sobre a comparação, a diferença eu imagino que seria de tamanho. Problemas de eixo costumam ser parecidos, com desalinhamento, desbalanceamento, trincas, vibrações, ao menos pelo que já li de livros de navio diversos relatando problemas ao longo do tempo.
Não são incomuns. Inclui muitas vezes também a troca dos pés de galinha. A Barroso, por exemplo, trocou recentemente os pés de galinha no PMG que está realizando.

Enfim, é o pouco que sei. Muda a escala, mas não se trata de problema incomum.

Esteves

Fui ver. É um tubo com pés. O que é; pra que servem esses pés de galinha?

Santamariense

Esteves, pés de galinha são as estruturas que prendem, fixam, ligam os eixos dos hélices ao casco, à estrutura do navio. São os suportes dos eixos, por assim dizer, e por conseguinte, também do hélice e dos seus rolamentos.

Esteves

Grato.

Alex Barreto Cypriano

Sei que não ajuda, mas pé-de-galinha em inglês é strut, que lembra estrutura: é um apêndice estruturante ou de apoio pro eixo depois que este sai do casco. Não é de estranhar precisar de apoio: embora massivo (um eixo de porta-aviões pode ter de 60 a 90 centímetros de diâmetro e pesar de 2 a 5 toneladas por cada metro de comprimento), um eixo não se comporta bem em flexão (ele é ótimo pra torção) pois tem muita massa perto dos eixos principais de inércia. Pena que eu não posso partilhar figuras…
Termo náutico é fogo: jackstaff virou pau-do-jeque…

Last edited 8 meses atrás by Alex Barreto Cypriano
Esteves

Grato.

Fernando "Nunão" De Martini

Esteves,
É onde o eixo se apoia ao “sair” de dentro do casco, e essa peça suporta o eixo já próximo de onde se instala o hélice. O formato é de um anel com hastes que saem dele para conectar no casco: estas se parecem com dedos e o anel com a planta de um pé de galinha.

Só olhar as fotos da matéria que vc vai entender melhor.

Esteves

Eu olhei as fotos. Foi bom terem publicado fotos. Ajudam (fotos) os que não sabem. Deveriam postar fotos/imagens com mais frequência.

Tem uma história de anel pra contar…

Em breve.

grato, também.

Last edited 8 meses atrás by Esteves
Fernando "Nunão" De Martini

Sempre que possível publicamos fotos. Aliás a motivação dessa matéria partiu das fotos.

A outra que mostra 4 navios no dique Almirante Régis idem.

A que mostra os navios da Marinha Italiana no Báltico e Mediterrâneo também- tanto que no título se lê… fotos.

A biblioteca de imagens do Poder Naval tem mais de 26.000 fotos e o arquivo de matérias tem cerca de 11.000 artigos e notícias publicados. Dá quase 2,5 fotos por matéria.

Esteves

Vocês fazem um bom trabalho.

Burgos

Tinha falado em post anterior “A alma do navio são as máquinas, eixos, hélices e pés de galinha”.
Taí a notícia que não me deixa no limbo.
Se não reparar não tem viagem de instrução de GMs da EN.
Boa noite a todos;

Last edited 8 meses atrás by Burgos
Carlos Gallani

O Bahia não estava com um problema de eixo tbm?

Fernando Vieira

O tempo de conclusão de todo esse trabalho foi exemplar. Um PMG em 145 dias e não podia ser em mais porque senão não ia ter viagem para os GMs.

Por que não é assim com os demais navios da esquadra? Fragatas ficam anos em PMG, leva-se mais de década para construir uma corveta, navios ficam anos em PMG no AMRJ para depois decidirem por baixá-los.

A viagem dos guarda marinha pode ser importante, mas a operacionalidade dos demais meios também não é?

Alex Barreto Cypriano

Aqueles atachados ao casco próximos ao pé-de-galinha são anodos de sacrifício, também? Se sim, pra quê tantos?

Last edited 8 meses atrás by Alex Barreto Cypriano
Esteves

Isso eu não perguntei. Quantos ânodos? Como é esse cálculo? Quem determina?

Alex Barreto Cypriano

Aquodos de zincoi, Esteves:
https://www.epa.gov/sites/default/files/2015-08/documents/2007_07_10_oceans_regulatory_unds_tdddocuments_appacathodic.pdf
Olhe nas páginas 8 e 9 onde se fornecem critérios pra estimar o número de ânodos de zinco em função de uma parcela de área molhada do casco. Fiz umas contas, depois de transformar uns números do Brasil (comprimento entre perpendiculares, calado e deslocamento volumétrico) de métrico pra imperial, e encontrei de 140 a 160 ânodos de 10,6 kg (23 libras) de zinco. Nas fotos parece que temos uns 104 grudados naquela região. Minha dúvida é se eles podem ficar concentrados como estão ou deviam ser mais distribuídos…

JPonte

Parabéns …. Bacana podermos realizar tal serviço por aqui 👍👍👍

eder

Infelizmente não possuímos uma marinha de Guerra, talvez uma guarda costeira que esta longe em tecnologia e equipamentos se comparada com a dos EUA. Triste.