Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)

O filme é uma cinebiografia de produção japonesa que retrata, principalmente, o papel do famoso Almirante Isoroku Yamamoto e a perspectiva da sociedade japonesa sobre a Guerra Aeronaval no Pacífico. Inicialmente, Yamamoto se opunha a guerra contra os Estados Unidos da América (EUA). Ele tinha a compreensão de que seu país não poderia vencê-los.

No entanto, apesar de suas convicções pessoais, planejou o ataque à base naval norte-americana de “Pearl Harbor”, na ilha de Oahu (Havaí), para ocorrer no domingo, sete de dezembro de 1941. Os EUA eram a única potência e ameaça real que poderiam interferir nos avanços do Japão no Oceano Pacífico.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a Alemanha propõe uma aliança com o Japão. A  marinha japonesa, em especial, o Almirante Yamamoto, era contra o pacto do Eixo (Roma – Berlim – Tóquio). Por outro lado, o Exército e a imprensa (Diário de Tóquio) achavam que a aliança com os alemães trariam prosperidade para o povo japonês. A estratégia expansionista japonesa era decorrente de sua crescente trajetória industrial, militar e imperialista que começou no final do século XIX. Em 1895 e 1905, o Japão derrotou respectivamente a China e a Rússia em duas guerras, o que foi gerando euforia na sociedade japonesa.

Os contínuos avanços realizados pelo Japão na Ásia levaram os EUA a cancelar o envio de matérias-primas para os japoneses. A ofensiva estava diretamente relacionada a obtenção de borracha, petróleo, ferro e manganês, que eram indispensáveis para o seu desenvolvimento industrial. O Japão estava na transição de uma economia agrária para uma economia industrial modernizada.

A invasão japonesa na Indochina (atuais Vietnã, Laos e Camboja) acarretou o corte do suprimento de petróleo por parte dos norte-americanos. Esse fato foi fundamental para que o Japão decidisse atacar os EUA. Ainda foram realizadas algumas tentativas de negociação no campo da diplomacia. Os norte-americanos propuseram que o Japão abandonasse a Indochina, a política de dominação na China e assinasse pactos de não agressão com aliados europeus. Para os militares Japoneses essas condições eram inaceitáveis.

O Almirante Yamamoto se vê então obrigado a planejar o ataque aéreo para neutralizar a esquadra norte-americana no Pacífico. Os alvos em ordem de prioridade eram: os navios aeródromos (NAe [1]), por serem a maior ameaça potencial aos japoneses, os encouraçados, os campos de petróleo e as aeronaves no solo.

A esquadra japonesa foi para a operação com seis navios aeródromos (Kaga, Akagi, Hiryu, Soryu, Shokaku e Zuikaku), cruzadores, contratorpedeiros, submarinos e cerca de 350 aviões. O plano determinava um grande ataque com aviões torpedeiros, bombardeiros de grande altitude e bombardeiros de mergulho. Um fator de limitação ao planejamento japonês, no que se refere aos aviões torpedeiros, era a pouca profundidade das águas em “Pearl Harbor”. Os torpedos foram adaptados com estabilizadores para reduzir o mergulho inicial quando caíssem na água.

No dia sete de dezembro de 1941, estavam atracados em “Pearl Harbor” encouraçados, contratorpedeiros, cruzadores e outras unidades navais. Porém, os objetivos principais, ou seja, os três navios aeródromos (USS Lexington, USS Saratoga e USS Enterprise) nâo estavam em “Pearl Harbor” e não foram atacados. Este fato foi relatado pelos pilotos japoneses e seria decisivo para que o Poder Naval dos EUA pudesse dar prosseguimento as futuras ações de guerra naval no Pacífico. Ao final do combate, a esquadra japonesa obteve uma importante vitória tática quase perfeita.

Os norte-americanos tiveram significativas perdas humanas e de natureza material. Os encouraçados (Arizona, Oklahoma, California, Nevada e West Virginia) estavam fora de combate. Três cruzadores avariados e 188 aviões foram destruídos ou avariados. Os  japoneses perderam 29 aviões e cinco submarinos.

O ataque dos japoneses, que foi realizado antes de uma declaração oficial, gerou grande indignação nos EUA, forçou a sua entrada na guerra e mudou o rumo do maior conflito armado da história. Até então, os EUA eram um país neutro.

No dia oito de dezembro, o Presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, em uma sessão no congresso, denominou o dia sete de dezembro como o dia da infâmia. Afinal, os EUA e o Japão ainda estavam em negociações diplomáticas durante o ataque.

Em abril de 1942, os EUA atacaram Tóquio e Nagoya com bombardeiros, que estavam embarcados no NAe USS Hornet. Esse ataque demonstrou a vulnerabilidade do território japonês. Em maio de 1942, ocorreu a Batalha do Mar de Coral, primeiro encontro entre os navios aeródromos norte-americanos e japoneses.  Os navios adversários não se avistaram e os ataques ocorreram exclusivamente por meio de ações aéreas.

Um importante fato a ser ressaltado foi a afirmação do NAE, em substituição ao encouraçado, como a unidade de maior valor da esquadra. Fato que se confirmou na Batalha Aeronaval de “Midway”.

Na segunda fase da ofensiva japonesa, Yamamoto decidiu que iria atacar as ilhas “Midway” em junho de 1942, que possuíam instalações militares norte-americanas. Os japoneses planejaram o ataque a fim de neutralizar o poder militar norte-americano no Pacífico, em especial, os NAE, bem como  ampliar o perímetro defensivo do seu território contra possíveis ataques.

O serviço de inteligência naval norte-americano conseguiu decodificar o código japonês JN25. Desse modo, concluíram que o sinal AF, cuja frequência nas mensagens japonesas era intensa, significava que o novo ataque no Pacífico seria realizado contra “Midway”. Essa decodificação permitiu que os norte-americanos se preparassem para aquela batalha aeronaval.

No dia do ataque, um forte nevoeiro impediu que os aviões de reconhecimento japoneses tomassem conhecimento da presença dos NAe USS Hornet e USS Enterprise. Importante frisar que os NAe japoneses não possuíam radar.

O USS Yorktown estava em reparo na base naval de Pearl Harbor após as avarias sofridas na Batalha do Mar de Coral. Uma grande mobilização possibilitou que o mesmo se juntasse aos NAe USS Enterprise e Hornet na Batalha de Midway. Durante a batalha, aviões de reconhecimento do Yorktown localizaram os quatro NAe da marinha imperial japonesa. O NAe Kaga e o Soryu foram atacados com três bombas. O Akagi também foi bombardeado. Em mais um ataque o NAe Hiryu foi atingido por quatro bombas. Por outro lado, o Yorktown também foi atacado por aviões japoneses, mas a tripulação conseguiu controlar as avarias. Posteriormente, ele seria torpedeado e afundado pelo submarino japonês I-168.

Após a identificação dos navios norte-americanos por uma aeronave japonesa o Almirante Nagumo se vê diante do seguinte dilema. seria melhor armar os aviões com bombas para atacar “Midway”? ou armar com torpedos para atacar a esquadra norte-americana? Essa dúvida custou caro, pois durante as trocas seus navios ficaram numa condição vulnerável aos ataques dos aviões norte-americanos. O Japão perdeu quatro NAE: Akagi, Hiryu,  Kaga e Soryu. A vitória norte-americana em “Midway” interrompeu o avanço japonês no Oceano Pacífico. Ao final da batalha, o Japão perdeu: um cruzador, 292 aviões, quatro NAe e 3057 japoneses. Os EUA perderam: um contratorpedeiro, 145 aviões, um NAe e 340 norte-americanos.

O filme, que foi lançado 70 anos após o histórico ataque a base norte-americana de “Pearl Harbor”, demonstra a grande importância do Almirante Yamamoto para a Marinha Japonesa; destaca alguns aspectos da cultura japonesa e como os fatos eram relatados pela imprensa para manter o moral do povo durante a guerra.

Filme: Admiral Isoroku Yamamoto (2011)
Diretor: Izuru Narushima
Atores Principais: Koji Yakusho, Abe Hiroshi  e Takeo Nakahara
Disponível em: Prime Video

Referências Bibliográficas e Sites Consultados


[1] Navio-Aeródromo (NAe) – Navio capaz de operar, reabastecer e reparar aeronaves. Possui grande importância devido ao alcance de seu armamento ofensivo – aviões e helicópteros – sendo a unidade de maior valor de uma força naval.

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Dalton

Pequena correção: ao invés de perder 5 submarinos os japoneses perderam 5 mini submarinos de 2 tripulantes cada um, porém um dos 10 tripulantes sobreviveu e tornou-se o primeiro prisioneiro de guerra.

Camargoer.

Eu discordo que os bombardeios sobre Tokyo em 42 tenham qualquer relevância tática ou estratégica. Foram 16 aviões com duas bombas de 900 kg cada um.

Os aviões também lançaram bombas sobre Yokohama, perto de Tokyo e Kobe, mais ao sul.

A perda de aviões e tripulações foi um preço alto para um resultado pífio.

Por outro lado, os ataques com as B29, quando o Japão já tinha perdido a sua superioridade aérea, foram devastadores.

O ataque sobre Tokyo provocou mais mortes que cada uma das bombas atômicas.

Dalton

O texto apenas menciona que o ataque em abril de 1942 mostrou a vulnerabilidade do Japão à futuros ataques aéreos e de fato pouco dano estrutural causaram, mas foi um golpe ao prestígio e moral japonês e valeu muito a pena porque também ergueu o moral dos aliados e mesmo resultou no reforço de caças a Tóquio, aviões que poderiam ter sido utilizados alhures.
.
E os B-25s , foram armados com 4 bombas de 500 libras, menos de 250 quilos cada uma e não duas de 900 quilos.

Leandro Costa

Perfeito Dalton, só um comentário para complementar, que não tem muito a ver com o ataque de 18 de Abril de 1942. Mas na minha opinião, Doolittle foi um dos maiores gênios da aviação de todos os tempos, mas vai ficar para sempre marcado por esse ataque como sendo seu maior feito, o que discordo apesar da audácia do ataque, que merece um justo reconhecimento histórico.

Dalton

De minha parte considero sim seu maior feito Leandro, decolar com um bombardeiro Médio da então Força Aérea do Exército de um NAe para atacar cidades japonesas com mínima consciência situacional sabendo que teriam que fazer pouso forçado na China ocupada pelos japoneses.
.
E para quem não saiba o novo bombardeiro da USAF o B-21 foi chamado “Raider” e se espera que o primeiro esquadrão esteja operacional antes de
2029.

carvalho2008

Tambem acho Mestre Dalton, concordo plenamente…foi um grande recado….

Leandro Costa

Eu acho o ataque extremamente destemido e merece sim seu justo reconhecimento histórico. Mas Doolittle teve, salvo engano, o primeiro, senão um dos primeiros doutorados em engenharia aeronáutica nos EUA, foi um dos idealizadores de navegação aérea de precisão, foi o primeiro à executar um vôo cego, seguindo-se apenas pelos instrumentos da cockpit, da decolagem até o pouso em outro aeroporto horas depois, se orientando por instrumentos que ele ajudou à desenvolver (e que existem e são universais até os dias atuais). Quando executivo da Shell antes da guerra ao final dos anos ’30, fez com que a Shell investisse… Read more »

Dalton

Se Doolitle não assumisse a 8 ° Força Aérea outro teria assumido com resultados provavelmente similares. . O que na minha opinião faz diferença é que Doolitle liderou seus homens compartilhando com eles essa histórica e perigosa missão nunca mais repetida, servindo de ânimo para todos os aliados em uma fase onde boas notícias eram raras. . O governo japonês indignado foi forçado à tomar algumas medidas e concessões e não foi bom para o moral que uma parte da população testemunhasse os bombardeios ou ouvisse falar posteriormente. . Na minha opinião também foi muito feliz a escolha do nome… Read more »

Camargoer.

Obrigado Dalton pela correção sobre o armamento dos aviões. Geralmente, a defesa da operação é o aspecto da propaganda. Ainda que tenham atingido as principais cidades japonesas, nada mudou para a população japonesa naquele começo da guerra. A maioria dos japoneses nem soube, visto o controle da informação. O apoio ainda era majoritário O governo japonês era controlado por um grupo de militares, que tinham o apoio da burguesia industrial japonesa. A população passa a criticar veladamente o governo japonês a partir do momento que o bloqueio naval começa a afetar a disponibilidade de alimentos e as perdas dos soldados… Read more »

Dalton

Os 16 aviões “perdidos” foram rapidamente repostos Camargo nem sentiu-se a falta deles na verdade e dos 80 homens envolvidos na missão 69 conseguiram evadir-se dos japoneses e eventualmente 4 foram libertados do campo de prisioneiros – “Four Came Home” é um bom livro, resultando em 7 mortes, preço baixo a se pagar por tão audaciosa missão e se os
japoneses não deram tanta importância o ataque fez muito bem à causa aliada como um todo.
.

Fernando Vieira

Todo mundo aqui certamente leu “Trinta segundos sobre Tóquio” né?

Dalton

Ainda tenho um exemplar bastante “surrado” que comprei de segunda mão décadas atrás e o livro chamou tanta minha atenção que tão logo surgiu a Internet dei um jeito de colocar ao lado dos 80 nomes a caneta o avião a qual pertenceram e outras informações.
.
Também tenho uma cópia do filme em “VHS” que gravei da tv de madrugada, era um mundo estranho difícil de se conseguir informações, mas tenho saudades !

Camargoer.

Dalton. Creio que não consegui expor com clareza meu ponto. Em termos absolutos, a perda destes aviões foi insignificante para o poder aéreo dos EUA. O número de perdas na missão em relação ao total de baixas dos EUA também é insignificante. O ponto é outro, Fui uma missão sem resultado estratégico ou tático. Considerando os danos causados nas cidades japonesas, o resultado foi igualmente insignificante. Há a ideia que o ataque foi importante como peça de propaganda. Eu tenho dúvidas. Parece-me uma releitura equivocada de um fato, tal qual a versao não qual James Owens, um corredor negro, humilhou… Read more »

Dalton

De fato Camargo não ficou claro pois você escreveu que a perda de aviões e pessoal não teria compensado e as perdas foram pequenas. . Os danos foram mínimos, inclusive acertou-se um NAeL que estava sendo convertido atrasando sua conclusão em poucos meses, mas o objetivo nunca foi causar grandes danos assim como muitos bombardeios feitos com poucos aviões no início da guerra em vários teatros também não causaram. . O objetivo era provar que o Japão não era imune e/ou invencível em um período que parecia ser e posso dizer que a maioria dos especialistas concorda que esse objetivo… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

Talvez o resultado mais importante tenha sido esse de deslocar esquadrões para a defesa de Tóquio, até então entendida como fora de perigo, num momento em que o Japão estava em plena ofensiva.

Sequim

“Os EUA eram a única potência e ameaça real que poderiam interferir nos avanços do Japão no Oceano Pacífico.” Veja como o mundo mudou. Hoje, na Ásia há várias potências ( China, Índia, Rússia) que impediriam a expansão japonesa , caso o Japão decidisse tentar repetir a História.

Dalton

Interessante Sequim, a URSS era uma grande preocupação para o Japão tanto que em 1941 assinou-se um pacto de não agressão até 1946 que obviamente a URSS não respeitou concordando em declarar guerra ao Japão 3 meses após a rendição da Alemanha. . Tenho minhas dúvidas se a Rússia pós URSS teria essa capacidade, com suas forças concentradas no oeste e também pelo que se viu na Ucrânia com a paralisação de meios por falta de apoio logístico, muito diferente do que li durante anos em sites estrangeiros de como a Rússia chegaria a Portugal em semanas não fosse armas… Read more »

Sequim

Dalton, entendo que as dificuldades russas na guerra da Ucrânia têm feito que o mundo ocidental olhe com certo desdém a força militar russa. Porém um país que possua mísseis balísticos SS-18, entre outros, deve sempre ser temido.

Dalton

Não penso que a Rússia deva ser subestimada muito pelo contrário, apenas
penso que existe por parte da Rússia uma maior dependência das armas nucleares e uma força convencional que apesar de formidável não era o que
muita gente supunha.

carvalho2008

Varios erros dos japoneses…..que triram as orientações de Yamamoto….. Alem dos Nae americanos não estarem em Pearl harbour, os japoneses deveriam ter realizado um ataque focado na infraestrutura e estoques de combustiveis….este era o alvo secundario, que não ocorreuEm Midway, ainda estavam arrogantes e confiantes e diluiram demais a força tarefa….importante fração da esquadra sequer participou dos combates a despeito de se tratar de um combate aeronaval…eles poderiam ter forçado o combate superficie terra….pois ao termino do combate aeronaval, já não haviam aviões suficientes para ataca-los….de qualquer forma….perderam… Isto sem falar do malfadado patrulha numero 5 que era justamente quem… Read more »

Last edited 2 meses atrás by carvalho2008
Dalton

Se o Almirante Yamagushi comandando apenas uma divisão de 2 NAes estivesse no comando geral teria havido no mínimo uma terceira onda de ataque tendo a infraestrutura de Pearl Harbor como alvo, mas, o cauteloso Nagumo é que estava no comando geral e decidiu por limitar o ataque, de certa forma, compreensível, os EUA poderiam substituir meios perdidos mais facilmente o Japão não. . Em Midway os japoneses não imaginavam que estavam caindo em uma emboscada jamais teriam enviado “apenas” 4 NAes sabendo que 3 do inimigo – com mais aviões – estariam a espreita e mesmo perdendo muitos aviões… Read more »

Kelbi

Apesar de termos ( também) que analizar o ataque sob a perspectiva japonesa, é visível (hoje) que a terceira onda era indispensável para maiores efeitos em 1942. Estaleiros destruídos, juntamente com depósitos de combustível, levariam os americanos para sua costa continental a fim de repararem suas embarcações. De qualquer forma, sorte deles.

Dalton

Há quem diga que não seria fácil, estaleiros são difíceis de destruir por completo seriam necessárias muitas bombas sem muita precisão e os tanques de combustíveis também necessitariam tiros certeiros e em meio a fumaça e artilharia não seria fácil sabe-se lá quantas bombas ainda estavam disponíveis a bordo dos NAes após as duas primeiras ondas.