Poder naval será fundamental para a emergente Índia

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Na política de defesa da Índia sempre faltou uma perspectiva estratégica. A Índia adotou uma postura de não alinhamento durante os dias tumultuados da Guerra Fria e viu-se como uma potência moral que não interferia e não requeria força bruta militar geralmente associada a grandes potências. No entanto, desde logo após a Independência, a Índia enfrentou um conflito de baixa intensidade com o Paquistão quando este último tentou capturar o território da Caxemira e a Índia acabou adotando uma postura de defesa com o propósito de manter a superioridade militar convencional sobre o Paquistão.

Autoridades políticas imaginaram que a superioridade convencional da Índia faria com que os planejadores militares em Rawalpindi pensassem duas vezes antes de lançar um assalto.

Claramente isto não funcionou. Após o impasse de 1965, em que a Índia tinha mais a comemorar com os cerca de 710 quilômetros quadrados de território paquistanês conquistado contra 210 quilômetros quadrados de território absorvido pelo Paquistão, mais uma vez em 1971 o Paquistão lançou um ataque sobre as fronteiras ocidentais da Índia e a guerra espalhou-se tanto para as fronteira ocidentais como orientais, terminando com o desmembramento do Paquistão Oriental e o nascimento do Estado de Bangladesh.

Se a paridade nuclear convenceu os pacifistas de ambos os lados que uma guerra entre as duas nações, separadas no seu nascimento, tornou-se impossível, eles tiveram que lidar com uma dura realidade em 1999 quando o Paquistão capturou postos de observação não guarnecidosda Índia ao longo da fronteira. Kargil foi a primeira guerra moderna limitada a ser travada em áreas com altitudes que variam entre 4000 e 5500 metros.

Kargil é um lembrete de que guerras limitadas no Sul da Ásia ainda são uma possibilidade com as disputas de fronteira ainda não resolvidas da Índia com a China e o Paquistão.

A Guerra sino-indiana de 1962 foi um alerta não apenas para o Exército, mas também para os produtores de armas locais. As unidades de produção de equipamentos militares produziram bem abaixo de sua capacidade, os soldados indianos lutaram com armas da Segunda Guerra Mundial em altitudes com temperaturas abaixo de zero. Eles nem mesmo tinham calçados adequados.

Os cinco guerras que a Índia lutou atraíram o olhar das autoridades do país para as fronteiras norte e oeste. A Índia ainda pensa que é uma potência continental e é aí que reside a desconexão entre suas ações e suas aspirações.

A Índia quer emergir como um ‘player’ global nos próximos 10 anos. Uma vez que o poder econômico é o centro de tal plano, é evidente que os recursos naturais próprios e as fontes de energia não serão capazes de sustentar o crescimento desejado. Com as empresas indianas comprando jazidas e poços de petróleo na África, Rússia e Ásia Ocidental, caberia às Forças Armadas a garantia de que tais operações ocorressem de forma tranquila e natural.

Em tal situação, o poder marítimo da Índia será de suma importância. Nova Delhi está lentamente acordando para este fato. As frequentes ações anti-pirataria, executadas por navios de guerra indianos na costa Leste da África, a instalação de radares em 26 atóis das Maldivas, conectando-os à rede da Marinha indiana, a proposta de elevar as brigadas anfíbias em Andaman e Nicobar à categoria de divisão, a criação de dois centros navais no Mar Arábico e no golfo de Bengala são ações que indicam que o rumo está certo.

Mas a disponibilidade de recursos do orçamento de defesa de alguma forma não reflete o mesmo.

O orçamento de defesa para 2011-12 está em US $ 34 bilhões. As aquisições para o período 2011-12 permaneceram em $12.22 bilhões enquanto as despesas para o mesmo período subiram para $15.38 bilhões de dólares.

Em relação à dotação orçamentária total, o exército indiano recebeu $ 14,2 bilhões, a marinha indiana recebeu $ 2,35 bilhões, a Força Aérea Indiana (IAF) $ 3,53 bilhões e a empresa estatal de Pesquisa e Desenvolvimento (DRDO) outros $ 1,25 bilhão. Do dispêndio de capital de 15,38 bilhões dólares, o Exército tem 4,21 bilhões dólares, a Marinha 1,26 bilhões dólares, frota naval 1,62 bilhões dólares e Força Aérea 6,82 bilhões dólares.

Como comparação, a Marinha do Exército de Libertação Popular da China (PLAN) recebe quase 45 por cento do orçamento de defesa total de cerca de US $ 100 bilhões. O setor naval era a única área em que a Índia tinha tradicionalmente uma vantagem qualitativa sobre a PLAN, mas esta situação parece ter se modificado. A nova geração de submarinos nucleares, a introdução de grandes porta-aviões e a classe de contratorpedeiros Sovremenny com mísseis de cruzeiro podem vir a ser potenciais desequilíbrios em caso de conflito em alto-mar.

Outra virada de jogo foi a operacionalização do míssil antinavio hipersônico DF-21D, primeiro e único no mundo. Até mesmo a Marinha dos EUA considera esta arma como uma ameaça mortal para o seu grupos de batalha (CVBG).

Diante de tal situação, a Índia tem procurado aumentar a sua força naval de superfície. A introdução do Classe de fragatas Talwar e dos contratorpedeiros classe Kolkata adicionou uma considerável capacidade à Marinha em relação à unidades de superfície. Quando o INS Vikramaditya e o IAC-1 forem comissionados, espera-se que a força de superfície da Marinha indiana seja capaz de proteger os seus interesses da região do Oceano Índico.

Mas uma área onde a Marinha está atrasada não só em relação à PLAN, mas também, possivelmente em relação à Marinha do Paquistão está na força de submarinos. Como o lançamento do INS Arihant, o primeiro submarino nuclear de construção local da Índia, foi dado um passo positivo na direcção certa, como uma grande potência tem de maximizar a produção local de sua defesa.

Porém, a força de submarinos da Índia pode ter dificuldades para lidar com os submarinos Agosta do Paquistão por causa dos atrasos cruciais na construção e no lançamento dos Scorpene indianos, o primeiro dos quais só entrará em serviço em 2015. Assim, durante três anos, a marinha indiana terá de se contentar com quatro Tipo 209 e dez submarinos da classe Kilo antes do primeiro dos seis Scorpenes estar pronto.

Existem planos para aumentar ainda mais a força de porta-aviões da Índia. Alguns analistas de defesa dizem que a Índia terá quatro porta-aviões em 2025 e que depois do Vikramaditya e do IAC-1, os próximos porta-aviões da Índia serão muito maiores, com deslocamento da ordem de 65.000-70.000 toneladas.

Porta-avões são indiscutivelmente os reis no jogo de projeção de força muito além da costa e uma unidade deste tipo vai para o mar acompanhada de grupo de batalha composto por contratorpedeiros, fragatas, submarinos, navios de abastecimento e outros. Então, ter quatro porta-aviões exigirá toda esta demanda por mais navios.

No entanto, se o orçamento de defesa atual for um indicador, os responsáveis pelas tomadas de decisão não estão enxergando o grande quadro. Os interesses da Índia se encontram nos mares, que é onde o crescimento da Índia pode ser interrompido. A Índia precisa emergir como uma potência marítima central e como a principal nação garantidora da estabilidade na região do Oceano Índico, sem comprometer suas fronteiras terrestres no norte e oeste.

FONTE: IBNLive

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Poder Naval

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Mauricio R.

“Outra virada de jogo foi a operacionalização do míssil antinavio hipersônico DF-21D…”

O DF-21D é um míssil balístico antí-navio, o conceito ainda não foi provado, os teste realizados foram feitos contra alvos terrestres.
E a US Navy está no momento, ampliando a capacidade BMD do sistema AEGIS.
Ao contrário do que a frase dá a entender, a US Navy reconhece a possibilidade da ameça, mas está tomado as devidas providências.
No mais a Índia deveria prestar mto mais atenção a intensa movimentação naval chinesa no Índico, seu espaço natural.