Crise entre Caracas e Madri congela relação da indústria espanhola com a frota venezuelana

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PC 22 Warao da Venezuela - destaque foto Nunão - Poder Naval
O patrulheiro “Warao” atracado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro

Em meio a uma crise seríssima entre o presidente da República, Nicolás Maduro, e o governo da Espanha – na segunda semana de abril, Maduro acusou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, de “pertencer a um grupo de delinquentes corruptos e ladrões” –, o comando da Armada Bolivariana da Venezuela decidiu suspender todos os seus contatos com a indústria naval espanhola.

Jornalistas da imprensa venezuelana que confirmaram o congelamento dessa relação não conseguiram esclarecer em que situação fica a prestação de serviços que o estaleiro espanhol Navantia vinha mantendo para contribuir com a recuperação do navio-patrulha Warao, de 2.419 toneladas, que sofreu pesados danos, a 3 de agosto de 2012, ao encalhar diante da costa cearense.

Em fevereiro de 2013, a despeito das ofertas da Navantia – fabricante do barco (classe Avante 2200) –, o Warao foi transportado, a bordo de um cargueiro especial holandês, para o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro – organização militar contratada por Caracas para coordenar os reparos na embarcação.

Três oficiais da tripulação do patrulheiro responsabilizados pelo acidente foram afastados de suas funções e respondem a processo na Justiça Militar venezuelana.

Warao ao lado do Karina em Fortaleza
O “Warao” (PC 22) atracado a contrabordo de um outro patrulheiro venezuelano, no porto de Fortaleza. A foto é de 12 de janeiro de 2013, cerca de um mês antes dele ser levado para o Rio.

Comandante Eterno Durante a LAAD 2015, membros da equipe da Marinha venezuelana que supervisionam os reparos no navio, informaram à reportagem do Poder Naval que os consertos e testes nos diferentes equipamentos a bordo ainda vão se estender por, pelo menos, um ano e meio – mas essa era a estimativa feita antes de os problemas entre a Marinha venezuelana e a Navantia se agravarem. O prazo, agora, pode aumentar.

Na verdade, o distanciamento entre a Navantia e os chefes navais venezuelanos teve início ainda em 2010, quando os espanhóis comunicaram ao governo Hugo Chávez que não viam com bons olhos o término da construção do navio-patrulha costeiro Tamanaco – embarcação da classe Avante 1400 – no principal estaleiro venezuelano.

Como o próprio presidente Chávez insistiu no compartilhamento da construção do navio, a Navantia precisou ceder.

Após a morte do líder chavista, em março de 2013, o Tamanaco foi rebatizado de Comandante Eterno Hugo Chávez, mas não ficou pronto até hoje.

Nos dias de hoje, a Navantia vinha orientando os trabalhos de acabamento na embarcação, que se processam nas instalações do estaleiro venezuelano Diques y Astilleros Nacionales Compañía Anónima (Dianca).

Pesquisa – A Diretoria de Logística da Marinha chavista também suspendeu, por tempo indeterminado, a contratação do estaleiro Factorías Vulcano, da cidade espanhola de Vigo, que há quase quatro anos desenvolvia para os venezuelanos os projetos de construção de cinco navios de pesquisa científica: três oceanográficos e dois destinados a levantamentos sismológicos.

Ainda em 2012 os espanhóis propuseram ao governo de Caracas a construção de dois barcos oceanográficos de desenho inspirado no Ventura e no Presbítero, unidades de 53,5 m de comprimento e 1.179 toneladas de deslocamento entregues, no fim dos anos de 1990, ao governo das Filipinas.

As embarcações destinadas a levantamentos sismológicos seriam bem maiores, da classe Polar Duke – 106 m de comprimento e 7.500 toneladas –, dotadas de convés de voo para helicóptero à ré – como as duas construídas pelos espanhóis para a República de Chipre.

Os custos de fabricação dessa flotilha científica – cerca de 600 milhões de Reais – ficariam a cargo da PDVSA, a empresa petrolífera venezuelana.

Os barcos seriam operados por militares da Marinha mas, inicialmente, empregados em pesquisas do interesse da PDVSA.

Oferta – Em Madri, na quarta-feira 22 de abril, durante uma audiência com o Rei Felipe VI, o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, ofereceu os bons ofícios da diplomacia brasileira para mediar a crise entre Maduro e o governo Rajoy.

Temer explicou ao soberano espanhol que o governo Dilma Roussef integra um grupo de nações formado no âmbito da Unasul que tenta pacificar a situação interna da Venezuela e normalizar o relacionamento do Chavismo com a comunidade internacional.

A ira de Maduro se deve à manifesta disposição do ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González, para atuar como advogado do líder oposicionista venezuelano Leopoldo López, que está preso em território venezuelano. O Congresso venezuelano declarou González persona non grata em seu país, o que deve inviabilizar os movimentos do espanhol na Venezuela.

Na primeira quinzena de abril, o próprio Rajoy recebeu, em seu gabinete, a esposa de López, o que deixou Maduro ainda mais furioso.

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felipe augusto batista

Tradução: Não tenho dinheiro para pagar nada agora, então vou dizer que não gosto de você e cancelar as compras.

eduardo.pereira1

Boa tradução!!!rs

a.cancado

Venezuela e Argentina estão virtualmente quebradas, fruto desses governos populistas corruptos e incompetentes que tomaram esses países de assalto.
E nós, acreditem, vamos pelo exato mesmo caminho, pelo exato mesmo motivo…

aldoghisolfi

… y porque nos te callas, Maduro?

Marcos Gilbert

Governo não muito diferente do que tem no Brasil

João Filho

Tirastes as palavras da minha boca, Marcos. Nós tambem estamos com uma “marinha” caindo aos pedaços, que mesmo assim cada dia encolhe mais. E antes de mencionar a corrupção na Venezuela, basta uma palavra; PETROBRAS!!!