Fletchers e destróieres de outras classes na reserva dos Estados Unidos nos anos 1950

Na foto de abertura, destróieres na reserva dos Estados Unidos nos anos 1950


O Fleet Rehabilitation and Modernization (FRAM) da Marinha dos EUA foi um programa de extensão da vida útil dos destróieres americanos da Segunda Guerra Mundial (na foto acima, na reserva, término do conflito), alterando sua função principal de guerra de superfície e antiaérea, para a guerra antissubmarino (ASW).

O programa teve início com o almirante Arleigh Burke como resposta às estimativas de que os soviéticos teriam em torno de 300 modernos submarinos de ataque por volta de 1957.

A US Navy não teria condições de produzir novas fragatas a tempo de se contrapor à tal ameaça, por causa das outras prioridades como os novos cruzadores e navios-aeródromo. Burke então procurou modificar a frota de destróieres que estava rapidamente se tornando obsoleta.

Em 1958, o Secretário da Marinha Thomas S. Gates seguiu a recomendação do almirante Burke para executar um programa de modernização e reabilitação em larga escala da frota de escoltas remanescentes da Segunda Guerra.

A modernização

O USS Allen M. Sumner (DD-692) na Segunda Guerra (acima) e após a modernização FRAM II (abaixo)

Entre os destróieres, as classes “Gearing” e “Sumner” (na foto acima, o líder da classe, já modernizado) tiveram precedência sobre as classes “Fletcher” e “Benson”. As conversões foram baseadas na experiência da modernização dos “Fletcher” para a transferência às Marinhas da Espanha e da Alemanha em 1957.

Os primeiros dois destróieres entraram no FRAM em Boston, Massachusetts e Long Beach, California, em março de 1959.

Para transformar os navios em uma plataforma antissubmarino eficaz, o upgrade FRAM centrou-se na instalação de um sonar AN/SQS-23 e dois novos sistemas de armas, os foguetes ASROC que levavam um torpedo a até 5 milhas de distância e um helicóptero antissubmarino robô DASH, com alcance de até 22 milhas (35km). Ambos eram armados com o novo torpedo leve Mk.44 de 324mm, que era também lançado pelos tubos Mk.32 instalados nos navios.

Hedgehog
Lançadores de granadas antissubmarino Hedgehog

Houve três tipos diferentes de FRAM. Durante o início dos anos 50, os Fletcher FRAM I perderam suas torretas 2, 3 e 4 de canhões 5″/38. Um lançador conteirável de “Hedgehog” (Ouriço) tomou o lugar da torreta número 2, conectado a uma nova suíte de sonar. Todos os antigos tubos de torpedos de 21″ foram removidos e substituídos por dois tubos Mk.32 para torpedos Mk.44.

Contratorpedeiro USS Nicholas (DD-449) da classe Fletcher FRAM I

USS Nicholas dd449b

A modernização FRAM II substituiu o “Hedgehog” por lançador de foguetes antissubmarino Mk.108 (na foto acima, no lugar da torreta número 2), a adição de dois lançadores triplos Mk.32 e a remoção dos canhões antiaéreos de 3″ (76mm).

A modernização dos Gearing


Gearing WW2
Classe Gearing na Segunda Guerra
Gearing FRAM I
Classe Gearing FRAM I

Os navios da classe “Gearing” foram completamente desmontados e reconstruídos a partir da quilha (clique nos desenhos acima para ver a impressionante mudança de configuração após o FRAM I), com nova propulsão, um CIC (Centro de Informações de Combate) muito maior, novo sonar e novos radares.

Os tubos de torpedos de 21″ foram removidos e substituídos por um lançador “box” de foguetes antissubmarino ASROC de oito foguetes.

Os canhões antiaéreos de 3″/50 (76mm) foram removidos e em seu lugar foi construída uma plataforma e hangar para o helicóptero DASH. Esta modernização foi planejada para estender a vida útil dos destróieres por pelo menos 8 anos.

A diferença entre destróieres das classes “Sumner” e “Gearing” pode ser vista nessa foto. Observar o maior espaço entre as chaminés do “Gearing” e a presença do lançador de ASROC (clique na imagem para ampliar)

FRAM II

DD-727_DeHaven
USS DeHaven (DD-727)

Os navios da classe “Allen M. Sumner” só receberam modificações no armamento no FRAM II, mas nem todos os navios receberam o upgrade. Embora tenham recebido o convoo e hangar para o drone DASH, não receberam o ASROC. Os “Sumners” convertidos foram projetados para mais cinco anos de serviço.

Todas as classes que receberam o FRAM II começaram em 1959, tendo as unidades sido rotacionadas em serviço para manter o máximo de navios no mar quanto possível. Os upgrades foram completados no inícios dos anos 1960 e maioria dos navios serviu até o final daquela década.

O drone antissubmarino Dash no hangar do USS Laffey (DD-724) – Foto: Alexandre Galante
DD-770_Lowry
USS Lowry DD-770, mais tarde seria o CT Espírito Santo (D38) na Marinha do Brasil

Na Marinha do Brasil

Contratorpedeiro Sergipe (D35) em sua chegada ao Rio de Janeiro, vindo dos EUA

O Brasil recebeu vários destróieres das classes “Allen M. Sumner” e “Gearing” FRAM, que operaram no País até meados da década de 1990. Aqui eram conhecidos como contratorpedeiros classe “P” ou “Bico Fino”.

Contratorpedeiro Marcílio Dias (D25) a Alagoas D36 liderando formatura de navios na Operação Unitas XXXI

Abaixo, alguns perfis no estilo “Shipbucket” do alguns FRAM que foram transferidos para o Brasil (clique sobre os desenhos para ampliar):

CT Marcílio Dias

CT Mariz e Barros

CT Mato Grosso

CT Sergipe

CT Espirito Santo

ARTE: Jacubão

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ersn

a MB da epoca era uma esquadra basicamente apenas ASW :porta avioes,aeronaves embarcadas,escoltas modernas e obsoletas voltadas apenas para ASW,pelo menos o comando da MB sabia o que ela era de verdade,bem diferente da epoca atual onde ela que ser um pouco de tudo e acaba sendo ineficaz em tudo.

EduardoSP

Na época, no cenário da guerra fria, a missão da MB era atuar em apoio à US Navy para assegurar um Atlântico Sul livre de submarinos soviéticos.

Ozawa

Como disse na matéria alusiva ao ‘Bruxo’, é profundamente lamentável que nenhum dos Sumners da Marinha do Brasil tenha sido convertido em navio-museu …

Foram embarcações tão icônicas na história naval brasileira que mereciam tal relevância memorial e, ademais, foram os destroyers mais belos da história de todas as marinhas …

José Carlos David

Servi nos contratorpedeiros Mato Grosso (D34) e Espírito Santo (D38). Esses navios eram realmente fabulosos!

Rinaldo Nery

Fiz muitas missões com ambos, quando voei na 2a ELO (88 a 90).

Pedro

Professor, bom dia. É num navio deste, que o pessoal desembarca no filme “além da linha vermelha?”.

Abraço.

Dalton

Não sou o “professor”, mas, como alguém que gostou e assistiu o filme mais de uma vez lembro que o “pessoal” desembarcou de um transporte de tropas
ou um navio que simulou um transporte nas filmagens e que como tal levava a bordo embarcações de desembarque que eram baixadas até à água por meio de guindastes e os soldados desceram até elas através de redes.

Pedro

Ahahaha. Agora que você escreveu lembrei da cena.

Ozawa

Pedro, se me lembro bem do filme não era um ‘Sumner’, mas um troopship cuja classe não me recordo.

Pedro

Obrigado.

Felipe Fernandez

Que bom que não sobrou nenhum dos símbolos da submissão a uma potência estrangeira!

Willber Rodrigues

Eu fiquei impressionado mesmo em saber que já havia drones na década de 50…
Seria possível uma reportagem do PN ou PA mais aprofundada sobre isso?

PeriArraes

Verdade Ozawa. Não tivemos a capacidade de preservar ao menos 1 A.Summer. Navios notáveis da MB. Época de ouro ..

Cristiano GR

Também fiquei impressionado, mas basta olharmos para os brinquedos e utilidades disponíveis para os civís para percebermos que, logicamente, os americanos já deviam ter há muito tempo, e sob muito sigilo, equipamentos aéreos controlados à distância. Com certeza usam e desenvolvem, sempre, uns 40 anos de liberarem para empresas comercializarem para a população e, inevitavelmente, inimigos que possam fazer uso.
Vale lembrar que, possivelmente, os estudos e projetos nem fossem americanos, mas nazistas, adquiridos no pós guerra ou antes com a fuga de engenheiros e físicos judeus alemães para os EUA.

Last edited 3 anos atrás by Cristiano GR
GUPPY

O Programa (SCB 223) que elevava submarinos GUPPY II ao padrão GUPPY III era parte do Programa FRAM.

Ricardo Rosa Firmino

Pois é quem não tem FREM vai de FRAM.. hahahaha..brincadeiras a parte, realmente eram belas belonaves..icônicas..

Burgos

Parabéns Jacuba !!!
Os desenhos ficaram perfeitos !!!

Marçal

Notar que o “Shipbucket” do CT “Mato Grosso” difere dos outros “Allen M. Sumner” da sua Classe – o motivo é que o primeiro sistema lançador de míssil, Sea Cat, a ser instalado num navio de guerra da Marinha do Brasil (1966), no antigo CT “Mariz e Barros”, foi desinstalado e reinstalado sobre o hangar do mesmo.

Pablo Maroka

USN é ignorante em termos de meios, incomparável.