Entrevista sobre a Tese de Doutorado ‘O submarino com propulsão nuclear brasileiro no Planejamento Espacial Marinho’

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O Poder Naval entrevistou o Capitão de Mar e Guerra Alexandre Rocha Violante que, em abril de 2023, fez a defesa de sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos – PPGEST, ligado ao Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF). As opiniões apresentadas pelo autor são oriundas de suas pesquisas científicas e não representam, necessariamente, a posição oficial da Marinha do Brasil nesses assuntos

Poder Naval – O senhor faz uma correlação em sua tese com o SCPN (Submarino Convencionalmente Armado de Propulsão Nuclear) e o Planejamento Espacial Marinho (PEM). Inicialmente, o que é o PEM e para que serve?

Alexandre Rocha Violante – Primeiramente, é uma satisfação falar com você e os leitores do Poder Naval, meu amigo Alexandre Galante. O planejamento consiste no ato de olhar o presente para pensar o futuro e projetá-lo. Assim, o PEM nada mais é que um amplo processo político de países costeiros que abarca todas as áreas de estudos do mar e suas distintas atividades.

Esse planejamento busca ordenar, metodologicamente, os espaços marinhos, o que envolve diversos atores e interesses nas dimensões social, política, econômica, ambiental e, por que não, estratégica. É nesta última dimensão que se encontra a inter-relação do PEM com a defesa, o que é bem relevante, pois, no caso do Brasil, possuímos litoral com 7.367 km de extensão e cerca de 5,7 milhões de km2 de águas sob jurisdição, ou seja, em que se percebe algum tipo de soberania.

Nem todos os países costeiros têm um PEM. Recentemente, em dados da UNESCO, somente 20 Estados possuíam seus Planos de Gestão Espacial Marinho aprovados e em execução, o que abrange em torno de 22% das Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) mundiais. Outros 26 países estão em processo de aprovação de Planos, resultando em números próximos de 25% das ZEE mundiais.

O Brasil se encontra no grupo de cerca de 80 países que se comprometeram, internacionalmente, principalmente na AGENDA 2030, a desenvolver seus PEM, o que resultaria, aproximadamente, a uma cobertura de 47% das ZEE mundiais. Esses planejamentos se encontram em fase inicial ou ainda nem iniciaram.

Estrutura de avaliação biogeográfica do NCCOS (National Centers for Coastal Ocean Science) para apoiar o planejamento espacial marinho

Poder Naval – Sob esses aspectos, como a defesa é importante para o estabelecimento do PEM? Há outras áreas mais importantes?

Alexandre Rocha Violante – Todas as áreas do PEM são importantes e possuem seus objetivos e interesses, quer queira, quer não, correlacionados. Conservação e proteção, exploração e explotação, bem como a defesa desses recursos vivos e não vivos ocasionam, muitas vezes, conflitos entre diversos atores. No entanto, esses conflitos podem se converter em oportunidades para a construção de um plano de gerenciamento integrado (produto final do PEM) que possibilite um círculo virtuoso de novos projetos, programas e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável.

Repare que a resolução de conflitos internos é mais fácil que a resolução de conflitos externos – quando o número de atores envolvidos e interesse diversos multiplicam-se. Assim, propósitos bem estabelecidos, que possibilitem relações ganha-ganha e atuações coletivas devem prevalecer diante de atuações individuais de setores junto ao poder público. Apenas a coordenação do processo político PEM pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM) não é suficiente. Faz-se necessária a participação de todos os atores interministeriais, de suas bases, do cidadão comum ligado às atividades marítimas que garantem o seu sustento diário.

Deve-se pensar o PEM com o simbolismo de união ao qual o mar nos remete. Ele é um elo que interliga povos, culturas e economias. Ao mesmo tempo, não há PEM sem essa união, sem que todas as suas atividades sejam realizadas da forma mais integrada e harmônica possível, mesmo diante de diversos conflitos de interesse. E a defesa está incutida em todas as áreas e atividades do PEM, ou pelo menos deveria estar.

Há muitos poucos estudos da área de “defesa militar-naval” no PEM, seja no mundo, seja no Brasil. Boa parte dos pesquisadores e estudiosos compreendem a defesa como uma área secundária do PEM, restrito ao estamento militar, quando, pelo contrário, envolve, ou deveria envolver, toda sociedade.

Não se pode normalizar o planejamento, proteção, conservação e o uso de recursos vivos e não-vivos nos espaços de soberania marítima sem que a defesa militar-naval esteja inclusa nesse processo. Não basta ocupar o mar, é preciso defendê-lo das ditas “novas ameaças”, como pirataria, pesca ilegal, contrabando, tráfico humano, de drogas e outros ilícitos transnacionais, sem se esquecer, principalmente, das ameaças estatais, haja vista a multipolaridade vigente e a luta por espaços envolvendo Estados hegemônicos e revisionistas no atual sistema internacional.

Dessa forma, em que pese o crescimento das discussões pela exploração e controle dos oceanos, ainda existem muitas dificuldades do Brasil e de seus vizinhos costeiros em estabelecer uma adequada vigilância de suas áreas de responsabilidade junto a uma legislação marítima internacional, que apresenta lacunas importantes na defesa do Direito do Mar.

Poder NavalEntão como manter nossa soberania no mar?

Alexandre Rocha Violante – Como escrevo na tese, defender é, dentre outros aspectos, ocupar os espaços. É pensar, por exemplo, que o pescador solitário, ao navegar pela grande costa de nosso país, está, de certa forma, colaborando para a defesa desses espaços e das nossas riquezas, que devem ser protegidas, conservadas e utilizadas em prol de um desenvolvimento racional e sustentável. Mas esse tipo de ocupação, empregando apenas ações de presença não é suficiente.

A defesa requer um pensamento estratégico do Estado: proteger a população e o território nacional, resguardar as riquezas, forjar o sentimento de maritimidade, garantir o fluxo comercial e dispor de meios capazes de dissuadir eventuais ameaças que contrariem as conveniências nacionais. Afirmar, em suma, sua soberania.

Os países costeiros angariaram grandes espaços jurisdicionais com o advento da Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar. Entretanto, alguns países importantes do sistema internacional, como os EUA, Israel e Turquia, por exemplo, não são signatários da convenção que regula, simplificadamente, os limites territoriais do mar. Há que se ter uma preocupação quanto a isso.

Convém lembrar que se fiar somente ou majoritariamente no Direito Internacional nem sempre é garantia de respeito à soberania, principalmente quando interesses político-estratégicos e econômicos de outros Estados, com maior poder relativo (hard power), estejam envolvidos. Eles podem não respeitar limites e fronteiras, tanto com relação à escassez de recursos naturais, quanto na busca por maior influência em áreas de interesse estratégico.

Países como a China, Rússia e Índia, por exemplo, que representam juntas mais de um terço da população mundial, já dão sinais de que não aceitarão um papel passivo no atual concerto das nações, ante os atuais blocos hegemônicos formados.

Poder NavalE como fica o Brasil nesse necessário planejamento espacial na Amazônia Azul?

Alexandre Rocha Violante – O Brasil não possui inimigos no sistema internacional, mas deve ficar atento às movimentações da política internacional, da geopolítica dos blocos hegemônicos e de potências revisionistas.

É fundamental, como passo inicial, conhecer o “mar que nos pertence”. Nessa questão, o Brasil tem fomentado diversos projetos e programas de destaque como o LEPLAC, importante programa que possibilitou ao Brasil angariar capacitação técnica para estabelecimento dos limites exteriores da plataforma continental. Outro programa a se destacar é o PROAREA, que busca identificar e avaliar o potencial mineral de regiões com importância política, estratégica e econômica na “Área”[1], além da soberania marítima, mas relevante na elaboração de propostas que possam garantir a exploração econômica de recursos minerais junto à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos. Este programa é também estratégico, pois contribui para que o Brasil possa explorar espaços adjacentes à sua soberania marítima, procurando minimizar as consequências da cobiça de outros Estados/atores transnacionais nas proximidades das Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB).

Pode-se dizer que o PEM da Amazônia Azul origina-se da CNUDM e, internamente, de políticas públicas como: a Política Marítima Nacional (em atualização) que orienta a aplicação do Poder Naval quanto à segurança e proteção marítima (security), além da segurança do tráfego aquaviário (safety); a Política Nacional para os Recursos Marinhos (PNRM) e seus planos setoriais que visam à consecução de uma gestão integrada dos ambientes costeiro e oceânico para o uso sustentável desses recursos; a Política Nacional de Defesa; e, adicionalmente, políticas públicas de diversos outros setores interministeriais, dada a multidisciplinariedade que o mar possui. Nesse contexto, destacam-se a Política Nacional do Meio ambiente e a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovações (PNCTI).

O segundo passo, ligado ao primeiro, é o estabelecimento de uma Marinha de Guerra crível, que seja capaz de cumprir as tarefas a ela impostas. Aqui destaco, como tarefas básicas à consecução dos objetivos nacionais: a negação do uso do mar, o controle de área marítima, a projeção de poder e a dissuasão. E, para todas elas, o desenvolvimento do projeto do Submarinno Convencionalmente Armado com Propulsão Nuclear (SCPN) é muito importante.

Visão em corte simplificada do SCPN (SN-BR), futuro submarino brasileiro com propulsão nuclear

 

Poder NavalBem, já compreendemos a importância do PEM e sua correlação com a defesa. Sobre o SCPN, por que ele é tão importante para o Brasil?

Alexandre Rocha Violante – O projeto da construção do submarino com propulsão nuclear faz parte de um programa maior, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos – o PROSUB. Este programa, em parceria com a República Nacional Francesa, foi estabelecido em 2008 e previu a construção de toda infraestrutura portuária, de base e estaleiros específicos, além de unidades industriais importantes para a implementação do projeto de construção de quatro submarinos convencionais (SC) derivados da moderna classe Scorpène (um já entregue à Esquadra – o Riachuelo; o segundo se encontra em testes operativos – o Humaitá) e do primeiro SCPN brasileiro.

O projeto do SCPN iniciou-se em 2012, com o envio de engenheiros à França para qualificação em projetos de construção de submarinos modernos. Ressalta-se que a transferência de tecnologia de hardware ocorre apenas com os submarinos convencionais diesel-elétricos, enquanto a transferência de tecnologia de capital humano (software) abarca tanto os SC e o SCPN. Nenhum tipo de transferência de tecnologia nuclear ocorre nesse programa estratégico.

É interessante salientar que o cerceamento tecnológico, efetuado pelas grandes potências ao Programa Nuclear Brasileiro, vem de longa data, mais intensamente a partir da década de 1950. Em face disso, apenas no final dos anos 1970, precisamente em 1979, devido a várias interrupções do programa, teve início o Programa Nuclear da Marinha, desenvolvido totalmente sob o controle do Centro de Tecnologia da Marinha na USP (CTMSP) e da Marinha, de modo a obter um Reator de Propulsão Nuclear e o domínio do Ciclo do Combustível Nuclear, dentre outros produtos.

A Marinha vislumbrou a possibilidade de construção de submarinos nucleares de ataque com tecnologia nacional, contribuindo para solucionar seu problema de dependência exacerbada dos EUA e da OTAN no controle efetivo das Linhas de Comunicação Marítimas no Atlântico Sul. Assim, incrementar-se-ia sua capacidade de dissuasão, associadamente a uma revolução tecnológica que elevaria o Brasil ao nível de poucas potências mundiais.

Portanto, pode-se afirmar que o SCPN, além de seu alto valor militar para nossa defesa avançada, representa um salto tecnológico imenso, com spin off (espalhamento) para uso civil. A busca por essas etapas importantes do domínio nuclear já perpassa mais de seis décadas de cooperação envolvendo a universidade, indústria e governo (representado pela  Marinha do Brasil), na chamada “tríplice hélice” – modelo de inovação em que essas instituições interagem visando ao desenvolvimento autóctone.

Apenas seis países constroem e operam submarinos com propulsão nuclear – os Estados Unidos da América, o Reino Unido, a Rússia, França, China e Índia[2]. Estamos tentando participar desse seleto clube, sem qualquer apoio político dos chamados Estados Nuclearmente Armados.

Poder NavalO que você espera dessa inter-relação entre esse projeto estratégico tão importante para a soberania nacional e o PEM do Brasil?

Alexandre Rocha Violante – Para começar a responder, socorro-me das palavras do Professor Emérito da UFF, meu orientador e amigo, Eurico de Lima Figueiredo ao afirmar que o poder e a política devem vincular-se à independência nacional e está à defesa e ao desenvolvimento. Não ocorre verdadeiro desenvolvimento sem sistemas críveis de defesa. Logo, desenvolvimento e defesa são conceitos que não podem ser pensados isoladamente.

Desse pensamento percebe-se que o desenvolvimento sustentável está intrinsicamente correlacionado com a defesa. Ao refletirmos o Planejamento Espacial Marinho no SCPN, constatamos uma integração entre as vertentes civil e militar que só se separam por abstrações teóricas. Não há PEM sem a manutenção da soberania marítima. e não há soberania sem que uma Marinha crível se estabeleça para contribuir aos objetivos nacionais de conservação, proteção e uso desses espaços marinhos, com segurança, na Amazônia Azul.

Entretanto, a Defesa Nacional ainda é uma área de concentração de pesquisa muito restrita a poucos estudiosos- a maioria militares. Uma mudança de perspectiva no processo de cooperação e integração multissetorial do Estado brasileiro possibilitará a compreensão de que os Estudos Marítimos e os Estudos Estratégicos sejam mais valorizados, compreendidos e estimulados ao debate. Quanto mais pesquisadores, civis e militares pensarem a defesa, mais se compreenderá sua importância ao desenvolvimento, manutenção da soberania e maior projeção internacional. Tudo isso passa, necessariamente, pela nossa última fronteira, a fronteira leste, a Amazônia Azul, que precisamos (re)organizar com todos os seus stakeholders.

Como discuto na tese de doutorado, há muitos países bem adiantados no processo de integração de uma defesa crível e desenvolvimento sustentável nesses espaços especiais de poder. Os Estados que melhor estabelecerem e coordenarem projetos e planos correlacionados ao desenvolvimento poderão alcançar outro nível estratégico no sistema internacional, dentro de uma contra racionalidade a um pensamento hegemônico, ou seja, uma irracionalidade ao cerceamento explícito e implícito de tecnologias sensíveis a países periféricos.

Essas possíveis formas de transgressão a um status quo que se mantém desde o final da 2a Guerra Mundial passa pela educação básica, fundamental e de nível universitário que compreenda investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e em Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T&I), como indispensáveis ao desenvolvimento autônomo e independente, sem maiores submissões a interesses externos. Somente assim, encontraremos condições ótimas para que a binômio defesa e desenvolvimento se mature.

Nossa realidade é difícil. Por vezes, nossas elites política, econômica e intelectual cerceiam programas estratégicos sob argumentos rasos, similares à uma escolha entre “o canhão ou a manteiga”. Muitos ainda não atinaram para que não há desenvolvimento sem ser soberano. Para tal, são necessários investimentos estatais em áreas estratégicas, e a educação é uma dessas áreas além da defesa. Na atualidade, permanecem as discussões sobre o que é gasto e investimento. Enquanto isso, o Brasil continua, a passos largos, seu processo de desindustrialização e transformação em uma grande fazenda modernizada, cuja economia, depende cada vez mais da variação do preço das commoditties.

Percentual do Setor Industrial de Transformação no PIB de 1947 a 2019 (Fonte – Dados do IBGE e do trabalho de MORCEIRO e GUILHOTTO, 2019

Poder NavalSobre a AUKUS, você acha que mais ajuda ou atrapalha no processo de implementação do SCPN?

Alexandre Rocha Violante – Excelente pergunta, mas temo deixar seus leitores sem uma resposta clara. Ainda há muitas poucas informações concretas de como ocorrerá essa cooperação internacional, esse acordo de defesa envolvendo dois países nuclearmente armados – EUA e RU – e um país não nuclearmente armado do hemisfério sul, signatário do TNP e de seus protocolos adicionais, mas não participante do chamado Sul Global. À princípio, o objetivo é o fornecimento de submarinos convencionais de propulsão nuclear à Austrália, como um “pacote fechado”, com transferência de tecnologia em inteligência artificial, técnicas quântica, cibersegurança e em outras áreas que não a de de hardware nuclear. Desse modo, a Austrália não seria capaz de desenvolver a propulsão nuclear de seus submarinos.

No entanto, esse objetivo final poderá ser modificado, à medida que conflitos perpassam as cooperações internacionais. Crescem as tensões no Mar Negro, no Mar do Sul da China, no Oceano Índico, por disputas por espaço e poder que envolvem atores revisionistas ao status quo vigente, como Rússia, Índia e China, esta última mais assertiva em robustecer seu Poder Naval relativamente à USNavy, não apenas em números de meios, mas, principalmente, em nível tecnológico.

Ainda inserido nessa “insubordinação hegemônica” do Estado brasileiro, que é a entrega do primeiro SCPN à nossa Esquadra, desde 2012, com o avanço desse projeto estratégico incrementam-se pressões externas para a adesão aos protocolos adicionais, de 1997, ao TNP. Este fator envolve uma aceitação mais intrusiva de um controle internacional severo e sujeito a inspetores internacionais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao Programa Nuclear da Marinha de enriquecimento de urânio para fins pacíficos, em qualquer hora e local, inclusive sem aviso prévio.  A adesão, sem maiores contrapartidas e entendimentos poderá afetar o desenvolvimento do sistema de propulsão nuclear do submarino brasileiro, pois seria possível revelar segredos industriais que se originam dos anos 1970, como, por exemplo, a tecnologia de ultra centrífugas a céu aberto, entre outros.

Cabe ressaltar que o Programa Nuclear da Marinha já se encontra sob salvaguardas da AIEA, estabelecidas desde 1991, por meio do acordo quadripartite envolvendo a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC). O Brasil tem cumprido todas as formalidades e exigências da AIEA quanto ao uso de combustível nuclear, de modo a evitar, a todo custo, uma imposição dos cinco países nuclearmente armados para a adesão ao Protocolo adicional do TNP. O Brasil foi o primeiro país não nuclearmente armado, aderente ao TNP, a apresentar a 1a proposta de salvaguardas nucleares, os chamados procedimentos especiais para desenvolvimento e uso de combustível nuclear para fins pacíficos em reatores, tanto para o LABGENE quanto para o SCPN. Com isso, a AIEA poderá realizar inspeções programadas para acompanhar os elementos combustíveis até certo ponto, controlando o que entra e sai, dentro de uma lógica de uso pacífico que prevê o enriquecimento em níveis menores do que os empregados em armamentos nucleares.

Vamos esperar que os anseios do Brasil, neste que é, apesar de algumas controvérsias, o único projeto de Estado e estratégico de fato, pois apresenta alto grau de desenvolvimento de tecnologia de uso dual, importantíssimo aos mais diversos setores de desenvolvimento nacional, como a indústria de defesa, de geração de energia limpa, a indústria farmacêutica, o agronegócio e outras de uso multipropósito possam alavancar seus objetivos sem as costumeiras restrições orçamentárias e impedimentos externos.

Como explica o geógrafo brasileiro Milton Santos, mais conhecido no exterior, principalmente na França, onde foi laureado com o prêmio Lautran Vud (o prêmio Nobel da Geografia), a globalização é perversa aos atores periféricos e benéfica aos atores centrais, pois o mundo de hoje é cenário da compressão espaço-tempo, em que a informação é transmitida aos locais escolhidos no momento desejado. Aumenta-se a produtividade, a eficácia e maior rentabilidade daqueles que controlam as técnicas especiais, sensíveis. Com isso, os recursos passam a valer mais de acordo com o local a que pertencem, de sua qualificação geográfica.

Esse é o tempo dos Estados primeiro-mundistas e dos grandes atores transnacionais, enquanto o tempo dos demais Estados periféricos, subdesenvolvidos e, até mesmo, nomeados como “em desenvolvimento” (para amenizar suas realidades) utilizam técnicas que apenas mantêm a roda do sistema de produção e financeiro mundial em funcionamento, sem substantivas participações nas benesses da globalização. Estes Estados tornam-se mero distribuidores de matérias-primas, espaços de destruição que garantem reservas estratégicas ao consumo exacerbado e ao crescimento econômico resrrito a alguns poucos atores, que desenvolvem os ditos espaços especiais de desenvolvimento

Assim, tecnologias sensíveis, como a nuclear e outras da revolução industrial 4.0, devem pertencer a uma gama restrita de atores – os Estados Nuclearmente Armados e empresas transnacionais que rendem dividendos aos Estados possuidores dessas técnicas de produção. Isso acaba por justificar a acelerada luta por espaços geográficos, recursos vivos e não vivos, além de vantagens competitivas envolvendo o “Sul global” e o “Norte desenvolvido”.

Poder Naval Quais foram os resultados da avaliação do PEM e do SCPN?

Alexandre Rocha Violante – Muitos. Espero que todos os seus leitores fiquem curiosos para conhecê-los. Caso desejarem, eles podem aprofundar-se em detalhes com a leitura de minha tese de doutorado que, brevemente, estará disponibilizada na Rede BIM da Marinha, no repositório de teses da CAPES, na página do PPGEST/INEST-UFF e no Observatório do PROCAD-DEFESA.

Dando um spoiler, no capítulo final: “Conclusões e Implicações do SCPN no PEM”, apresentei um paralelo entre tais projetos estratégicos (PEM e SCPN), suas consecuções e perspectivas de implementação, corroborando as teses iniciais apresentadas de que o Planejamento Espacial Marinho ainda não possui centralidade maior à Defesa Nacional, e que o desenvolvimento do SCPN, apesar de indispensável à soberania nacional, tem apresentado gaps estruturais derivados de um pensamento estratégico naval subordinado a interesses externos.

Esses projetos, entre 2012 e 2022, apresentaram dificuldades que, se não interromperam as discussões do PEM e a continuidade do SCPN, demonstraram, salvo alguns períodos excepcionais, o não entendimento pelo poder político como projetos de Estado importantes à consecução dos objetivos fundamentais da Nação.

Poder Naval Quais são suas considerações finais?

Alexandre Rocha Violante – Alexandre Galante, já nos conhecemos há muito tempo. Foi muito bom ser entrevistado pelo amigo, aqui no Poder Naval. Você é um dos precursores do importante papel desempenhado por pesquisadores civis na área da Defesa, que buscam tornar-se temas tão importantes, populares na sociedade. Seu exemplo foi seguido por muitos. Observamos, nas duas últimas décadas, a multiplicações de revistas, blogs e outras plataformas digitais com conteúdo relevante sobre as Marinhas, Exércitos e Forças Aéreas não apenas do Brasil, mas de diversos países do mundo. Isso reflete o começo da solidificação de um pensamento estratégico crítico, principalmente sobre que Marinha queremos e que tarefas as FFAA devem desempenhar ante as ameaças interestatais em curto, médio e longo prazo.

Espero, também, que minha pesquisa contribua, juntamente com seu trabalho de divulgação da Defesa Nacional, para que as relações entre civis e militares cada vez mais se estreitem, possibilitando se pensar um Brasil uno para todos os cidadãos, independente de suas orientações políticas, credo, cor, sexo etc. É assim que ocorre nas grandes potências, em que nada é mais real e nacional do que a sua Defesa, devendo seus interesses serem resguardados  onde quer que  estejam. Para os países menos aquinhoados pelo poder, nada é mais ideal e menos nacional do que sua própria Defesa. Só assim o Brasil será respeitado não apenas por seu povo, mas pelos blocos hegemônicos, líderes do atual sistema multipolar em que estamos inseridos, onde o conflito se destaca mais que a cooperação.

Sobre o mundo conflituoso em que vivemos, este faz parte das relações humanas, tanto em nível micro, na política das pequenas coisas do dia a dia, até em nível macro, nas grandes decisões pela guerra para a obtenção dos objetivos políticos que, como bem conceitua Clausewitz, é a continuação da política por outros meios. Na verdade, apesar de diversos filósofos, cientistas sociais e cientistas políticos tentarem explicar a natureza do homem como neutra ou como boa, cada vez mais pesquisas científicas sérias, como a do cientista israelense Azar Gat, no livro: “War in Human Civilization”, apresenta evidências históricas de que a guerra é um fenômeno universal, presente em todas as culturas e épocas, e que não pode ser completamente eliminada, pois é, simplificadamente, um instrumento de conquista, expansão territorial e controle de recursos, além de um meio de proteção contra invasões externas. Sua obra nos ensina que as tentativas de contenção da violência em diferentes culturas e períodos históricos, como as leis de guerra, os tratados internacionais e os esforços de cooperação internacional logram êxito apenas parcialmente e em períodos bem restritos. Assim, empiricamente, talvez Hobbes tenha sido o contratualista que mais tenha se aproximado da verdade.

De fato, nossas relações sociais iniciaram-se muito mais por meio do conflito que pela cooperação. Isso é bem representado na pesquisa paleontropológica, sobre a evolução humana, realizada por Arthur C. Clarke, que subsidiou parte de seu romance, “2001: uma odisseia no espaço”, de 1968, posteriormente levado às telas cinematográficas no mesmo ano, sob a direção de Stanley Kubrick. Esta obra, em sua parte inicial, mostra como nossos antepassados, há milhões de anos atrás, na chamada “Aurora do Homem”, organizaram-se como comunidades políticas, criaram ferramentas importantes à evolução, como ossos de outros animais, sofisticando a caça e, por conseguinte, a ingestão proteica, proporcionando-lhes incrementar suas inteligências e dominarem outras comunidades pelo uso da força. O salto no tempo mostra a evolução do homem e dessas ferramentas na era espacial. Ou seja, desde os primórdios da vida humana na Terra, a guerra se mostra uma realidade. Negá-la ou minimizar sua possibilidade, como alguns estudiosos apresentam, acabam por colaborar com uma “harmonia de interesses” dos grandes atores globais para a manutenção do status quo, incrementando desigualdades tecnológicas, subordinações e dependências, ou, ainda, levando a uma utopia desejável, mas ainda distante e que não coaduna com a natureza humana.

Concluo, rogando que nossa sociedade compreenda, por meio das universidades, FFAA, governo e empresas, que apenas com o domínio de capacidades, de tecnológicas sensíveis, o Brasil alcançará as técnicas necessárias para libertar-se das amarras do subdesenvolvimento, causado não apenas por cerceamentos externos, mas por um pensamento estratégico colonial e subordinado às grandes potências, que se alimenta de um complexo de vira-latas, em que tudo que vem de fora é melhor do que o aqui desenvolvido. O desenvolvimento do SCPN e do PEM da Amazônia Azul fazem parte dessas escolhas emancipadoras.

Término, novamente, com palavras do cientista prussiano Carl Von Clausewitz: “Lembrai-vos da Guerra”!

Muito obrigado, um forte abraço e vamos em frente!


Alexandre Rocha Violante é Capitão de Mar e Guerra, 1o Doutor formado no Brasil na área de conhecimento específica dos Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança pelo PPGEST, ligado ao Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF). Atualmente é Instrutor de Relações Internacionais da Escola de Guerra Naval (EGN), Professor Colaborador da Graduação em Relações Internacionais na UFF, ministrando, voluntariamente, a disciplina “Poder Naval na História”, e Coordenador Científico da Revista Caderno de Ciências Navais.

Participa, ainda, voluntariamente de cinco grupos de pesquisa:

  • Projeto Paddle – gerenciamento dos oceanos, como pesquisador associado à Universidade de Sevilla, Espanha.
  • Estudos Marítimos e Ciências do Mar, como Pesquisador da Escola de Guerra Naval;
  • Centro de Estudos Estratégicos e Planejamento Espacial Marinho (UFF/UFPEL), como pesquisador da região sudeste;
  • Salvaguardas para o Submarino Convencionalmente Armado com propulsão nuclear do PROCAD – DEFESA, liderado pelo INEST-UFF em parceria com a EGN; E
  • Coordenador Executivo do Grupo de Estudos de Estratégia Naval da EGN.

[1] Conforme o art.136 da CNUDM, a “Área” é definida como bem comum da humanidade. Ou seja, os fundos marinhos e subsolo além da plataforma continental são espaços em ques nenhum Estado exerce quaisquer direitos de soberania sobre recursos os recursos (vivos ou não vivos) lá existentes. Na “Área”, sua exploração é concedida pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos.


[2] Estado não signatário do TNP e que teve pesquisas nucleares apoiadas pela então URSS.

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Zigg

Muito boa a matéria! Mais um assunto entre tantos que devem ser divulgados nos blogs de Defesa! A aproximação do pensamento militar brasileiro com a sociedade civil deve ser mais aberta e ter maior publicidade. Não se tem um mecanismo fácil e aberto de juntar todas essas publicações militares ou relativo a assuntos de defesa que aprimore a divulgação do conhecimento. Quantos militares fazem curso no exterior e produzem artigos, relatórios etc que poderiam estar a nossa disposição para melhorar o nosso conhecimento. Vejo que cada Força tem seu próprio mecanismo de divulgação que, em muitos casos, são de difícil… Read more »

Esteves

“Repare que a resolução de conflitos internos é mais fácil que a resolução de conflitos externos – quando o número de atores envolvidos e interesse diversos multiplicam-se.”

Conflitos internos?

“Crescem as tensões no Mar Negro, no Mar do Sul da China, no Oceano Índico, por disputas por espaço e poder que envolvem atores revisionistas ao status quovigente, como Rússia, Índia e China, esta última mais assertiva em robustecer seu Poder Naval relativamente à USNavy, não apenas em números de meios, mas, principalmente, em nível tecnológico.”

Atlantico Sul? O papel do Brasil no Atlântico Sul?

Willber Rodrigues

“Repare que a resolução de conflitos internos é mais fácil que a resolução de conflitos externos – quando o número de atores envolvidos e interesse diversos multiplicam-se.”

Conflitos internos?”

Me perguntei a mesma coisa quando cheguei nessa parte….

Será que ele está se referindo ainda as revoluções do séc. passado, como Canudos e Farroupilha? Ou eu lí/entendí errado?

Fernando "Nunão" De Martini

Wilber e Esteves, Creio que o autor está falando dos conflitos de objetivos e interesses entre os diversos atores envolvidos no desenvolvimento e execução do Planejamento Espacial Marinho (PEM), e não em conflitos no sentido de guerra. É só correlacionar com o parágrafo anterior. E no parágrafo seguinte, o entrevistado reforça o ponto ao falar novamente de conflitos de interesse: “Ao mesmo tempo, não há PEM sem essa união, sem que todas as suas atividades sejam realizadas da forma mais integrada e harmônica possível, mesmo diante de diversos conflitos de interesse. E a defesa está incutida em todas as áreas… Read more »

Esteves

Tá. No news.

Isso aconteceu no IPEN. Sucessivos superintendentes e governadores exerceram a gestão do atraso. A MB chegou em 1980. Fim do período militar com presidentes que viram o que faziam USP e MB com desdém.

Resolver conflitos internos é mais fácil? Bem…a China dedicou 40 anos para resolver isso. Depois saiu.

Queremos sair com um submarino levando um reator nuclear de 50 anos…1 submarino…o que pretendemos com 1 submarino levando TOTs e armas alienígenas?

Last edited 11 meses atrás by Esteves
Fernando "Nunão" De Martini

“Conflitos internos?”

Conflitos de objetivos e interesses de atores internos x conflitos de objetivos e interesses de atores externos.

Esteves

“Nossa realidade é difícil. Por vezes, nossas elites política, econômica e intelectual cerceiam programas estratégicos sob argumentos rasos, similares à uma escolha entre “o canhão ou a manteiga”. Muitos ainda não atinaram para que não há desenvolvimento sem ser soberano. Para tal, são necessários investimentos estatais em áreas estratégicas, e a educação é uma dessas áreas além da defesa. Na atualidade, permanecem as discussões sobre o que é gasto e investimento. Enquanto isso, o Brasil continua, a passos largos, seu processo de desindustrialização e transformação em uma grande fazenda modernizada, cuja economia, depende cada vez mais da variação do preço… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

“Esse é o inimigo interno de décadas: fazendão.” Não deveria ser encarado como inimigo. Bater de frente com o “fazendão” não resolve. Incorporar o fazendão como aliado e parceiro no desenvolvimento, isso sim, ajuda a resolver. “Lembrando que no Fazendão as sementes, os adubos e fertilizantes, as máquinas e os clientes, são estrangeiros.” Nem tudo é estrangeiro. A coisa é muito mais complexa que isso, e a produtividade do “fazendão” é em boa parte fruto de pesquisa feita aqui, e não só de absorção ou compra de tecnologias e insumos de fora. Colocar o “fazendão” como aliado e não como… Read more »

Last edited 11 meses atrás by Fernando "Nunão" De Martini
Esteves

Verdade. A mão-de-obra é nacional. Quanto o agronegócio deve? Qual o valor, qual o tamanho da dívida do agronegócio? A indústria, que diziam gozar de preferências e coincidências, não lembro de ter tido que o agro tem. O que antevejo é perder o cliente. Assim como é necessário construir mercados na AS, também devemos ter planos B, C, D para e quando a guerra chegar. A Europa não compra, os EUA não compram. Asia, OM, África. Também haverá e já existe urgente necessidade de equilibrar nossas exportações evitando que qualquer destino concentre mais de 20%. E…se houver necessidade de escoltas… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

“ A Marisa está fechando 90 lojas. A próxima deve ser a Renner. O varejo já foi paixão nacional.” A indústria já fou paixão nacional, ou, pelo menos, em São Paulo e arredores como o ABC paulista. Varejo virou o primeiro e maior empregador de mão de obra pouco qualificada. Tomou o lugar da indústria onde se entrava em funções de baixa qualificação e havia perspectiva maior de carreira e ganhos (várias possibilidades de especialização, cursos dentro e fora das empresas, Senai, salários maiores etc), enquanto o varejo é para muitos o primeiro e último emprego, o famoso “dead end… Read more »

Esteves

Primeiro e maior. Fui ao varejo rapidamente na Europa em 2005. O que vi, vi aqui anos depois. Estarrecido ficou o Esteves quando leu que o Casino botou o Pão à venda e…se venderem e se a $$ não for suficiente, podem vender o Assai, colírio para os olhos franceses. O maior empregador é o Carrefour. As operações empregam mais de 200 mil. Dizem que fecharão algumas lojas. O único e sobrevivente shopping (Iguatemi, os outros transformaram-se em rolezinhos) está às baratas…lojas fechadas, dívidas de lojistas, operações de sorvetinho. Splash! Pic! Poc! O Mercado Livre mandou oferta de carrinho pet…280… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

Sim.

E o atual empregador de dead end jobs está chegando, ele próprio, a um dead end.

Os filhos que não sabem desenhar onde trabalham os pais não terão nem esse emprego no varejo. Vai sobrar a entrega e, mais pra frente, os que hoje desenham seus pais pilotando motos, se a coisa continuar como está, não terão nem motos para entregar quando chegar sua vez, quanto mais para alguém desenhar.

Last edited 11 meses atrás by Fernando "Nunão" De Martini
Esteves

Olha… Escutei o menino mimado de 23 anos no último ano de Psicologia. Respondi que se ele for tocar a vida não haverá tempo para responder à reclames. A universidade formou um grupo de estagiários. O grupo vai trabalhar com alunos em escola pública e…o menino de 23 (tem um menino de 23 na presidência do grupo CAOA) preparou uma abordagem clássica de quem, onde, como, quando…pedindo para cada aluno desenhar a escola dos sonhos. Ensino médio. — O que você pensa, o que veio fazer e como você imagina a escola dos sonhos. Faça um desenho. A coordenadora do… Read more »

Nilo

Parabéns aos Editores excelente artigo

Dod

Ué se a elevação do Rio Grande é contestada, pq o Brasil interceptou o navio alemão ?

Marcelo

Americanos e europeus querem as riquezas minerais da Amazônia e da elevação do rio grande para manter a boa vida do seus cidadãos !!!!!
Eles nao estao nem ai para a floresta amazônica, eles querem a riqueza do subsolo !!!!!

No One

E você acredita que a elite brasileira quer algo diferente ? A maioria está pouco se lixando para a Amazônia verde ou a azul que seja, para eles o que interessa é a preservação do próprio negócio e posição, a Amazônia Azul servirà para sustentar a o crescimento do Reino do Meio, a explotação
que servirá para manter ampla margem de lucros pelas próximas decadast e com nulo ou pouquíssimo retorno para a sociedade brasileira.

Esteves

Mato Grosso (2), Goiás, Minas, Bahia, São Paulo, são os estados com maior contribuição ao agronegócio.

Não tem Amazônia Verde ou Azul.

Santamariense

Não esquece do RS e SC.

Esteves

Vocês defenderão a parte que lhes couber.

Aliás…essa encrenca toda começou exatamente com vocês.

Nilo

Pois é, e teve deputado “Patríotico” contestando a nacionalização dos poucos esforços de produção de equipamentos bélico pelo país. Segundo o deputado dos patriotas o Brasil não precisa de SubNuc, estamos rodeados de países amigos terrestre s e além mar

Esteves

E…qual seria o terrível plano de americanos e europeus? Viriam aqui desembarcar, escravizar, explorar, contaminar e…?

E?

Allan Lemos

Para fazer valer o pleito não basta apenas dizer que é sua na teoria e deixar qualquer um invadir enquanto ele não é reconhecido. É preciso fazer valer a soberania na prática. Basicamente é “marcar presença”. Por um motivo parecido a MB mantém a Ilha de Trindade e Martin Vaz permanentemente habitada.

Se bem que é um erro buscar o reconhecimento da área na ONU, essa soberania deveria ser exercida através do hard power(que infelizmente não temos).

Esteves

Existe uma guerra na Europa. Consequência das interpretações equivocadas dos europeus sobre problemas europeus…afinal, o que a OTAN e os EUA querem na e da Ucrânia? E como resolver o ocupação de 2014…se ela for resolvida ou mantida como motivos. Existe uma pré guerra entre EUA e China pela hegemonia financeira, política, militar e comercial. Isso tem consequências no entorno da China incluindo o Indo Pacífico. Aqui na AS e no AS existem aspirações. Desejos e vontades. Queremos ocupar um certo espaço no mundo que já está bem cheinho e…quando comparam nosso projeto de 50 anos e 50 bilhões que… Read more »

No One

Problemas “europeus” que afetaram e continuam afetando a economia e a ordem da comunidade internacional, comunidade a qual o Brasil pertence e pleiteia ser pedra angular . Não somosum átomo solitário e sem interações com o universo. Tudo que concerne o ser humano é plural, é coletivo…somos animais sociais. “afinal, o que a OTAN e os EUA querem na e da Ucrânia? E como resolver o ocupação de 2014…se ela for resolvida ou mantida como motivos.” Segurança, ordem e frear as ambições revanchistas e neocoloniais russas. Aspirações legítimas da Ucrânia de ser parte da UE e da OTAN. Assim como… Read more »

Esteves

A Europa não se preparou para acolher a Ucrânia. Cutucar o urso sem oferecer refúgio ao caçador foi uma atitude impensada.

O jogo de ir avançando encontraria resistência como encontrou. E agora que o urso saiu?

Conversinha.

Os Dugins querem ir até a Polônia. Ou perto. O que temos com isso?

“O Brasil, consciente das próprias fragilidades, sempre buscou fortalecer os organismos internacionais e as suas regras de convívio, procurando sempre o respaldo jurídico para limitar e condenar as ações unilaterais e arbitrárias das grandes potências.”

Isso aprende-se no ensino médio. A vida vai muito além.

No One

Meu nobre, a Otan não invadiu e obrigou a Ucrânia a fazer parte da organização. Foi um pedido da Ucrânia, sentimento fortalecido pelos contínuos abusos e violações sofridas … quem “cutucou” o vizinho, invadiu e ocupou foi urso. É algo tão evidente que eu não precisaria nem explicitar, não fosse a sua colocação tentando inverter os papéis… “Isso aprende-se no ensino médio” Parece que alguns esquecem e só lembram quando è conveniente, por isso vez ou outra se faz necessário relembrar e refrescar essas memórias caducantes … “O que temos com isso?” Desculpe, depois dessa encerro. O que tínhamos na… Read more »

Esteves

Leia o pensamento de Henry Kissinger. Depois podemos escrever algumas palavras. Ou não leia, se não quiser.

https://www.economist.com/briefing/2023/05/17/henry-kissinger-explains-how-to-avoid-world-war-three

Esteves

Repare que o texto começa com Beijing, como os chineses referem-se à sua capital, e não Pequim como ainda a chamamos.

O máximo respeito começa pela primeira palavra. Tratando-se de um texto que já percorreu o mundo,

Last edited 11 meses atrás by Esteves
Allan Lemos

Segurança, ordem e frear as ambições revanchistas e neocoloniais russas.

Você tá brincando, né? O único neocolonialismo existente no mundo hoje é o que vem do bloco atlanticista, que tenta impor a sua “superioridade intelectual” sobre o resto do planeta.

Alex Barreto Cypriano

“De fato, nossas relações sociais iniciaram-se muito mais por meio do conflito que pela cooperação. (…) (nossos antepassados) organizaram-se como comunidades políticas, criaram ferramentas importantes à evolução, como ossos de outros animais, sofisticando a caça e, por conseguinte, a ingestão proteica, proporcionando-lhes incrementar suas inteligências e dominarem outras comunidades pelo uso da força. (…) Ou seja, desde os primórdios da vida humana na Terra, a guerra se mostra uma realidade. Negá-la ou minimizar sua possibilidade, como alguns estudiosos apresentam, acabam por colaborar com uma “harmonia de interesses” dos grandes atores globais para a manutenção do status quo, incrementando desigualdades tecnológicas, subordinações… Read more »

Willber Rodrigues

Com todo o respeito ao autor da tese de soutorado acima, mas acho curioso como o autor diga que é necessário que a sociedade e sua classe política tenham ciência da importância do mar, de sua ZEE, da importância de se investir ( investir MESMO, e não usar 80% da verba pra pagar soldo e chamar isso de investimento, diga-se de passagem ) em Defesa e na indústria que serve a isso, mas as próprias FA’s, além de terem relacões públicas capengas ( e estou sendo brando ), agem como um clube do bolinha, acima do resto do povo, e… Read more »

Esteves

Eles não se importam.

Allan Lemos

Quando foi que a MB realmente fez um real esforço em mostrar, de maneira didática e simples pro resto do povo, Como assim, meu caro? E desde quando é função da MB(ou qualquer outra força) fazer isso? O seu argumento apoia-se em uma premissa equivocada. O povo nunca deu e nem dará a mínima para qualquer coisa relacionada ao mundo militar, isso se dá graças a cultura pacifista desenvolvida graças ao fato do Brasil ser localizado em um ambiente sem ameaças. Se aqui, o povo não tem nem acesso aos serviços mais básicos, você acha que ele verá alguma diferença… Read more »

EduardoSP

Para o povo pobre e ignorante, o “mimimi educação”, o “mimimi saúde” é muito, mas muito mais relevante do que qualquer subnuc, fraguetas e quetais, pois diz respeito à sobrevivência cotidiana e à possibilidade de dar um futuro melhor aos filhos.

Willber Rodrigues

Com todo o respeito, mas discordo. De uns 5 anos pra cá, houve uma maior curiosidade de saber sobre assuntos militares. É só ver a proliferação de canais de youtube sobre o tema, e quantos views esse assuntos tem. A própria trilogia teve um boom de maior visitas e de n° de comentarios. Óbviamente, quantidade não significa qualidade, e muitos desses canais caem no clickbait sobre o tema, ou os tratam de maneira rasa, ou os tratam como Fla X Flu, mas é inegável que houve sim uma maior procura, pesquisa e curiosidade sobre o tema pelo povo, principalmente pela… Read more »

Nilo

A culpa recai sobre o povo, esse mesmo explorado com perda aquisitiva de salário, escolas públicas de má qualidade, serviços públicos depalperados, etc ….
Uma elite política financeira e midiática que detém o controle de narrativas e para tal põe o voto, o sistema eleitoral do país em uma situação de fragilidade e descrença. Como dizer que a culpa é do povo pelo estado lamentável das instituições das forças armadas?

Allan Lemos

Veja quem o povo elegeu ano passado e me diga como o povo não tem a culpa pelo estado lamentável das forças armadas(e do país).

O brasileiro deixou de ser vítima há muito tempo, ele é cúmplice.

Nilo

Não sei onde vc foi achar fundamentos para dizer que o povo é cúmplice por ações de praticas reprováveis ou prejudiciais por outrem através do voto? Rsrsrs

Last edited 11 meses atrás by Nilo
No One

Eu sou ( era ? Desilusão bate forte) um grande entusiasta do SN-BR, acho importantíssimo para qualquer Estado/Nação ter esse tipo de audácia e ambição. È um projeto aglutinador, que agrega e fortalece a sociedade, gera sinergias, coesão e uma expectativa/ambição/visão compartilhada para o futuro do país . Além das óbvias recaídas militares e tecnológicas. Minha crítica se foca mais no planejamento, gestão e a incrível dilatação do tempo… Não questiono a importância e sim a execução. Dito isso, o SN-BR não é a panacéia de todos os males . O security e safety só pode ser assegurado por uma… Read more »

No One

Alguns pontos que gostaria salientar.

* O termo FFAA não existe na língua portuguesa. É um empréstimo do espanhol.

* Um único SN-BR ( um protótipo que provavelmente enfrentará – tudo normal e dentro do previsto – várias deficiências e deverá passar por diversas correções) , não irá solucionar a nossa dependência dos EUA e da OTAN no controle dessas rotas marítimas. È bom ter ciência que isso é só o primeiro passo.

* Sobre a transferência de tecnologia, é interessante notar que a MB foi buscar TOT justamente com membro da OTAN/NATO e nosso vizinho fronteiriço . Peculiar…

Esteves

Não havia outro. Os alemães recusaram-se, os norte-americanos sequer conversariam sobre e, do outro lado…russos e chineses…acordar qualquer meia dúzia de palavras com eles, precisaríamos botar o p* na mesa.

Não temos a mesa.

Willber Rodrigues

Concordo. As vezes ( com frequencia, melhor dizendo ) tenho a impressão que a MB vê o Alvaro Alberto como a panacéia contra todos os males, que simplesmente ter ele vai fazer a MB estar a altura da USNavy. Correndo o risco de ser repetitivo, e de tomar um “puxão de orelha” dos editores, mas…eu não sou contra a idéia de termos subnuc e sua tecnologia. Pelo contrário, um país como o Brasil tem o dever te ter essa tecnologia e dominá-la. O que sempre me questiono e sempre bato na tecla quando surge esse assunto na trilogia é que:… Read more »

Last edited 11 meses atrás by Willber Rodrigues
Esteves

50 anos, 50 bilhões, 1 submarino no pensamento e um mock-up de reator.

Pode dar o nome que quiser.

Fernando "Nunão" De Martini

“Correndo o risco de ser repetitivo, e de tomar um “puxão de orelha” dos editores”
“Mas enfim, tirando meu questionamento acima, e novamente correndo o risco de parecer repetitivo e de tomar bronca por me desviar do assunto”

Não entendi o seu temor. Seu comentário está totalmente dentro do assunto. Pode ficar mais do que tranquilo com suas orelhas.

Esteves

Fosse o Esteves…

Fernando "Nunão" De Martini

Esteves já Esteve com cota de paciência muito maior por parte dos editores.

Gastou seu crédito e está com a dívida rolando.

Mas já escrevi em outro comentário: há muuuuuuito tempo você não leva bronca digna desse nome, e andou confundindo com bronca as discussões, divergências e explicações normais.

Esteves

Nunão,

Caro Hagrid…

Abraço.

Fernando "Nunão" De Martini

Harry Potter definitivamente não é o meu forte, Esteves.

Esteves

Odeio aquilo. Lembrei do personagem.

Willber Rodrigues

Não sei, tive receio que, por ter tocado no assunto como a MB gere seus recursos e se ela terá grana pra “tratar” o subnuc com cuidado, a discussão descanbasse pra ela gastar tudo com soldo, picanha, etc, etc, etc, por isso meu receio.

Fernando "Nunão" De Martini

Poderia até descambar, mas não por culpa do teor do seu comentário.

Fernando "Nunão" De Martini

Muito interessante a entrevista, e muitos pontos importantes a discutir e, infelizmente, pouco tempo para isso neste momento. Parabéns ao Alexandre Violante pela defesa da tese. Mas há um ponto que, apesar da pressa, gostaria de salientar antes de outros, porque apesar da obviedade implícita é bastante esquecido nas discussões: “Como escrevo na tese, defender é, dentre outros aspectos, ocupar os espaços. É pensar, por exemplo, que o pescador solitário, ao navegar pela grande costa de nosso país, está, de certa forma, colaborando para a defesa desses espaços e das nossas riquezas, que devem ser protegidas, conservadas e utilizadas em… Read more »

Esteves

“explotação”…“protegidas, conservadas”.

Ou um ou todos.

Esteves

Penso existir um certo senão ou vacilo entre proteger/conservar e explorar. E não haverá como explorar AA/ZEE sem prejuízo da fauna e da flora no fundo do oceano e a vida no litoral…isso poderá afetar a subsistência da pesca artesanal e dos empregos nas regiões litorâneas. Sem falar em factíveis reações internacionais.

Assunto pouco discutido, De onde virá o recurso para essa explotação?

Last edited 11 meses atrás by Esteves
Leandro Costa

Acho que usamos muito pouco os meios marítimos. E não falo isso em relação à Marinha, Armada, mas sim como sociedade. Com o tamanho de costa que temos, com a quantidade de rios navegáveis, na minha opinião deveríamos utilizar bem mais esses meios. Quanto mais usamos, mais a sociedade faz uso desse modal, mais apoio existe para manutenção e defesa das nossas fronteiras marítimas.

Fernando "Nunão" De Martini

Concordo.

Tem aumentado esse uso, mas, de fato, ainda muito aquém do potencial.

Generalizando (não gosto de generalizações) diria que somos um país que tradicionalmente intercala alguma atenção voltada para além-mar, a Leste, com muita atenção para a conquista do Oeste.

Estamos quase sempre de olho no que está além do pôr do Sol e não do nascer.

Esteves

“Quando o sol encoberto vai mostrando
Ao mundo a luz quieta e duvidosa,
Ao longo de uma praia deleitosa
Vou na minha inimiga imaginando.

Aqui a vi, os cabelos concertando;
Ali, com a mão na face tão, formosa;
Aqui falando alegre, ali cuidosa;
Agora estando queda, agora andando.

Aqui Esteve sentada, ali me viu,
Erguendo aqueles olhos, tão isentos;
Aqui movida um pouco, ali segura.

Aqui se entristeceu, ali se riu.
E, enfim, nestes cansados pensamentos
Passo esta vida vã, que sempre dura.”

Esteves

Excelente. Mas aqui não dá pra explorar todo o pensamento expresso na tese do Alexandre Violante.

Teria que Ter outro fórum. Excelente, novamente.

Matheus

[Meio OFF] Deputado Ricardo Salles falando abobrinha sobre a BID Brasileira.
Falando que não precisamos de mísseis balisticos e submarinos nucleares.

https://twitter.com/artedaguerracnl/status/1659287709096235008

Esses são os “Patriotas” no Brasil, VERGONHA.

Esteves

A Nação precisa de tudo que for capaz de alcançar e fazer. O problema que enfrentamos é a descontinuidade e a falta de resultados.

Matheus

Fato, agora ir no congresso e falar que “O Brasil não tem inimigos, não temos que desenvolver tecnologia” é o supra-sumo do entreguismo.

Essa corja devia se mudar pra Orlando/Fort Lauderdale e ficar de vez lá.

Esteves

É de lá que veio o dinheiro que gastaram…e ainda gastam.

Bardini

Queria ler a tal tese, pois a única coisa que vi nisso aí tudo, foi viés de confirmação.

Adriano Madureira

E falando em submarino, vocês viram o bolsoasno do Ricardo Salles criticando os programas da defesa no CRE&DN ?! se posicionando contra os pedidos de investimentos feitos pelos comandantes, classificando-os como “desperdício de dinheiro público”. defendendo o fim das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e a revogação do controverso Artigo 142 da Constituição, que mencionava o poder moderador das Forças Armadas em algumas situações. “Estamos há 40 anos gastando os tubos do contribuinte brasileiro com essa história de submarino nuclear, satélite brasileiro e nunca chega ao destino. É um enterramento de dinheiro sem fim”, disse o… Read more »

Esteves

Quem sustenta essa gente? Pra onde fugiram? O que habita na Flórida entre os pântanos?

Golpistas, entreguistas, flamenguistas e todo tipo de mafiosi.

LUIZ COTTA

Epa! Agora pegou pesado, flamenguistas, não! Mais respeito com a “Urubuzada”, hum!

Esteves

Tivesse algum e não precisa ser editor ou historiador, poderiam fazer uma série com 7 capítulos. Corta a tese em 7 e bota pra debate.

Os temas são bons. ZEE, AA, Álvaro Alberto, Atlântico Sul, Ocupação do Mar, Fronteiras do Oeste, Desindustrialização, Orçamentos, Dissuasão.

Só avisa antes pra dar tempo de encomendar a ayahuasca.

Last edited 11 meses atrás by Esteves
ADM

Excelente matéria, bem elucidativa, mas o SN-BR, infelizmente, não se tornará realidade…

Esteves

Esteves Teve impressão divergente. Essa Tese, pelo que parece ser, é bem confirmativa usando uma palavra de outro comentarista. Somente conta.

Trata-se de contos.

LUIZ COTTA

Se depender da classe política que temos, com certeza, nunca teremos um sub nuclear.

Roberto Santos

Primeiramente parabéns pelo esforço e dedicação aos estudos, “segundamente” uma pergunta ? Não vi em momento nenhum se falar sobre os R$ 35 Bilhões já gastos no projeto ARAMAR, com mais de 40 anos de existência, que depois virou PROSUB. Numa conta rápida, se tivéssemos comprado submarinos nucleares prontos, teríamos uns 10 na frota, olha que não estou falando dos 17 Bilhões necessários pra terminar o projeto do único submarino nuclear que ao ser lançado ” talvez em 2029 ” chegará velho e ultrapassado. Ou seja a politica de desenvolvimento nacional da pesquisa nuclear com a Marinha virou um ralo… Read more »

Henrique A

Ninguém vende submarino nuclear “pronto”.

Nilo

Austrália, Índia?

Glauco Rômulo Yankous Castanheira

Eu,mesmo como simples cidadão, gostaria de estar mais informado, por WEBINAR, sobre os temas, palestras e outros assuntos mais técnicos.
Grato.