Sistema de Dados Táticos Navais (NTDS) da Marinha dos EUA: Desenvolvimento, Evolução e Status Atual

O século XX foi um período de mudança rápida e inovação na arena naval. O desenvolvimento de novas tecnologias levou à necessidade de sistemas mais avançados para a gestão de informações táticas em ambientes de combate. No centro desses esforços estava o Sistema de Dados Táticos Navais (NTDS) da Marinha dos EUA.

Origens e Desenvolvimento Inicial: No início da década de 1950, a Marinha dos EUA percebeu que sua forma tradicional de processar informações de combate não estava à altura das crescentes ameaças, como os mísseis balísticos intercontinentais. Havia uma necessidade premente de integrar e processar rapidamente grandes volumes de dados de sensores e armas. Assim, em 1956, o NTDS foi formalmente estabelecido como um projeto para melhorar a capacidade da Marinha de processar informações eletronicamente.

O NTDS foi pioneiro em várias áreas. Foi um dos primeiros sistemas a usar computadores de estado sólido, em vez de tubos de vácuo, o que proporcionou maior confiabilidade e menor necessidade de manutenção. O software foi escrito em um novo idioma, especialmente desenvolvido para o sistema, que foi um precursor de muitos dos idiomas modernos de programação.

Evolução dos consoles do NTDS

Adoção e Primeiras Implementações: Com a instalação dos primeiros sistemas NTDS nos navios da Marinha dos EUA em meados da década de 1960, os comandantes tinham uma visão sem precedentes do espaço de batalha. Informações de radares, sonares e outros sensores eram centralizadas e processadas em tempo real, permitindo uma resposta mais rápida às ameaças. Além disso, o NTDS promoveu uma melhor coordenação entre navios em uma força-tarefa, permitindo uma ação conjunta mais eficaz contra ameaças.

Legendas da simbologia do Sistema de Dados Táticos Navais

Evolução e Avanços Subsequentes: Ao longo dos anos, o NTDS passou por várias atualizações para manter-se à frente das crescentes demandas de combate. A capacidade de processamento foi continuamente aprimorada, e a interface do usuário tornou-se mais amigável, com gráficos de alta resolução e telas sensíveis ao toque substituindo os antigos terminais.

Na década de 1980, com o advento das redes de área ampla, o NTDS foi integrado a outros sistemas, permitindo uma imagem tática unificada que abrangia forças terrestres, aéreas e marítimas.

Detalhe da face do console de resumo de operações. De um manual de treinamento da Marinha dos EUA
No mar a bordo do USS Abraham Lincoln (CVN 72), 24 de novembro de 2002 – Sarah Lanoo, especialista em guerra eletrônica de 2ª classe, de South Bend, Indiana, opera um console Naval Tactical Data System (NTDS) no Centro de Direção de Combate (CDC) a bordo do porta-aviões. – Foto US: Navy

Status Atual e Legado: Embora o NTDS original não esteja mais em operação ativa, seu legado é evidente na atual geração de sistemas de gerenciamento de combate da Marinha dos EUA. Sistemas modernos, como o Aegis Combat System, devem muito ao NTDS em termos de design e filosofia operacional.

O NTDS foi um marco no desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de combate naval. Representou um enorme salto em termos de capacidade de processamento de informações e desempenho operacional. Mais importante, pavimentou o caminho para os sistemas integrados que são hoje padrão em navios de guerra modernos em todo o mundo.

Displays do sistema de defesa aérea Aegis a bordo do cruzador de mísseis guiados USS Ticonderoga (CG-47)
Displays do sistema de defesa aérea Aegis a bordo do cruzador de mísseis guiados USS Ticonderoga (CG-47)
O Centro de Informações de Combate (CIC) de um destróier AEGIS. De serviço, o Oficial de Ação Tática (TAO) é responsável pela operação segura e adequada dos sistemas de combate e se reporta diretamente ao oficial comandante. Em uma das telas, o Estreito de Ormuz

Conclusão: O Sistema de Dados Táticos Navais (NTDS) foi uma revolução na maneira como as informações de combate eram processadas e apresentadas aos tomadores de decisão a bordo dos navios de guerra. Transformou a face da guerra naval e deixou um legado duradouro na forma de sistemas de gestão de combate avançados. O compromisso da Marinha dos EUA com a inovação e a excelência técnica, como exemplificado pelo NTDS, garante que ela continue sendo uma força líder no cenário naval global.

No simulador Command Modern Operations você pode experimentar como funciona um Sistema de Dados Táticos Navais!

Na tela acima, um cenário criado pela equipe do Poder Naval no Command Modern Operations (CMO), simulando a Operação Dynamic Manta 2021 da OTAN, onde unidades aéreas e navais caçam submarinos no Mediterrâneo.

Desenvolvido pela WarfareSims e publicado pela Slitherine, o CMO foi lançado em novembro de 2019, sendo uma continuação e expansão do seu antecessor, “Command: Modern Air/Naval Operations” (lançado em 2013). O CMO é conhecido por sua complexidade e fidelidade à realidade, sendo usado tanto por entusiastas de wargames como por profissionais da área de defesa para treinamentos e análises.

O simulador proporciona um ambiente geográfico completo, abrangendo todo o globo, permitindo que o jogador execute operações em qualquer parte do mundo, desde os polos até áreas urbanas.

O CMO possui uma extensa biblioteca de plataformas aéreas, navais, terrestres e até espaciais, desde simples drones até complexos sistemas de defesa aérea, submarinos nucleares e satélites. Cada unidade é detalhadamente modelada com suas capacidades, limitações, sensores e armamentos. O CMO usa a mesma simbologia do NTDS para identificar os contatos.

O CMO é conhecido por seu realismo na simulação. As operações levam em consideração fatores como clima, hora do dia, regras de engajamento, comunicações, eletrônica, guerra cibernética e muito mais.

Devido à sua precisão e realismo, o CMO também encontrou uso em ambientes profissionais. Instituições militares e empresas de defesa têm usado o simulador para treinamento e análise. O Command Modern Operations pode ser adquirido no STEAM, clicando aqui.

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Wiillber Rodrigues

Aproveitando o assunto, seria possível uma matéria sobre o SICONTA, seu estado atual, e qual o futuro a MB planeja pra ele?

Esteves

Eu sigo achando esquisito. No site da Atlas Elektronik não existe referência ao TOT para a Embraer. A Atlas não tem representação na América do Sul.

O site da Atlas é de uma pobreza que faria inveja à antiga Alemanha Oriental.

https://www.atlas-elektronik.com/solutions/surface-vessel-systems.html

Bruno Vinícius

Parabéns pela matéria Galante. Muitas vezes as discussões focam apenas nos armamentos e esquecem dos sensores e – principalmente – da forma como as informações são processadas, integradas e apresentadas. É bom ser lembrado de tempos em tempos da enorme importância do último.

Last edited 6 meses atrás by Bruno Vinícius
Alex Barreto Cypriano

Sem querer fazer história de heróis ou personalizar demais, mas:
O software foi escrito em um novo idioma, especialmente desenvolvido para o sistema, que foi um precursor de muitos dos idiomas modernos de programação.”
Por acaso a amazing Grace (a contra-almirante Grace Hopper) tem algo com isso?

Renan

Olá a todos.
Gostaria que os amigos foristas esclarecessem se possivel uma duvida que eu tenho.
Porque o CIC não é integrado ao passadiço, ficando em locais separados dentro da embarcação. Para mim faria mais sentido os dois ficarem no mesmo local. Desde ja agradeço a todos

Jean

É justamente para distribuir os centros de controle do navio, evitando que um único tiro de sorte o coloque fora de combate. Nos Destroyers da classe Spruance e Arleigh Burke, por exemplo, ele fica localizado abaixo da linha da água, o que traz uma maior proteção contra impacto de mísseis (são blindados com Kevlar).

Claro, um torpedo causaria estragos que basicamente colocariam qualquer Destroyer fora de ação.

Mas pensando em termos modernos, acho que a redundância vai ter que ser maior ainda, devido a nova ameaça dos drones.

Renan

Obrigado ao Galante e ao Jean pelas respostas