Catalina Arará atacando o submarino alemão U-199 ao largo do Rio de Janeiro – Reprodução de pintura de Álvaro Martins

Catalina Arará atacando o submarino alemão U-199 ao largo do Rio de Janeiro – Reprodução de pintura de Álvaro Martins

Exatamente um ano após ser oficialmente criada, a Força Aérea Brasileira teve seu batismo de fogo

Quando o Ministério da Aeronáutica foi criado, em 20 de janeiro de 1941, o Decreto-Lei N° 2.961 já citava a criação da “Forças Aéreas Nacionais”, que deveriam reunir aeronaves e militares das aviações da Marinha e do Exército Brasileiro.

Em 22 de maio daquele ano, um novo Decreto-Lei, N° 3.302, mudou a denominação da arma aérea, que passaria a se chamar “Força Aérea Brasileira”.

Exatamente um ano depois, a FAB já mostraria a sua razão de existir e teria o seu batismo de fogo. Em 22 de maio de 1942, um avião B-25 atacou com bombas o submarino Barbarigo, da marinha italiana.

Com 73 metros de comprimento, velocidade de até 30 km/h, dois canhões de 100mm, quatro metralhadoras e oito tubos para lançamento de torpedos, o Barbarigo havia atacado o navio brasileiro Comandante Lyra quatro dias antes.

Era a oitava embarcação do País atingida pelas forças do Eixo, mesmo antes da entrada do Brasil na guerra.

Bombardeiros B-25 da FAB
Vela do submarino Barbarigo com marcações de afundamentos

Ao longo de três anos, 71 embarcações foram atacadas em águas brasileiras por submarinos inimigos. No total, o país perdeu mais de 30 navios ao redor do mundo na batalha do Atlântico Sul, a maior parte deles no próprio litoral, a um custo de quase 1.500 vidas. A declaração de guerra veio em agosto de 1942, quando o submarino alemão U-507 afundou seis navios e matou 627 pessoas em apenas três dias.

Com apenas um ano de criação, e em fase de reestruturação, a Força Aérea Brasileira foi convocada para patrulhar o litoral brasileiro. “A guerra submarina, perversa e implacável, prossegue num crescente vertiginoso”, escreveu Ivo Gastaldoni, piloto de patrulha da Força Aérea e veterano da Segunda Guerra.

No esforço de guerra, o Brasil criou novas bases aéreas, recebeu equipamentos e treinamento por meio de convênio firmado com os Estados Unidos. Unidades aéreas americanas foram enviadas ao país. A instrução em voo era feita sobre o mar para que as tripulações já pudessem vigiar as águas brasileiras, com artilheiros com o dedo no gatilho, prontos para atirar. Nascia a aviação de patrulha.

As dificuldades eram de toda ordem: de língua, de auxílios para instrução, além das ordens técnicas e manuais de operação em inglês, ininteligíveis para 90% do pessoal. Some-se a isso a heterogeneidade de pilotos e mecânicos e pode-se ter uma visão do quadro caótico”, escreveu Gastaldoni, ao falar do início dos trabalhos com as tripulações.

Na medida em que a recém-criada aviação de patrulha da FAB aumentava sua eficiência no Nordeste, os submarinos inimigos iam descendo para sul do país. Agora, aeronaves Catalina ajudavam nos combates. Unidades americanas, espalhadas de norte a sul, apoiavam a campanha. No dia 31 de julho de 1943, o então Aspirante Alberto Martins Torres foi o primeiro brasileiro a afundar um submarino, a apenas 87 Km ao sul do Pão de Açúcar, cartão-postal do Rio de Janeiro.

Na guerra contra os submarinos, os pilotos brasileiros realizaram cerca de 15 mil patrulhas. Onze submarinos (veja arte) foram atingidos, mas um número maior de ataques ocorreu, não tendo sido possível a confirmação de avarias. Dos cerca de 3.000 navios mercantes afundados na Segunda Guerra, mais de 50% foram vítimas de submarinos.

FONTE: Força Aérea Brasileira

NOTA DO EDITOR: Um fato pouquíssimo conhecido é de que o comandante do submarino italiano Barbarigo, Enzo Grossi, era brasileiro, nascido em São Paulo. Informação contida no livro 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida, de João Barone.

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Antonio Renato Arantes Cançado

Existe um livro (americano, naturalmente) chamado ‘Grey ghosts of the Brazilian Coast’, que cobre a campanha do Atlântico Sul de forma brilhante. A Action Editora comprou os direitos, e publicou (acho que na íntegra) na Revista Força Aérea (acho que em duas edições consecutivas) há poucos anos. Vale a leitura.

SardaukaR

Seria este aqui? https://www.amazon.com/Galloping-Ghosts-Brazilian-Coast-Operations/dp/0595315275

Caríssimo por sinal…

Obrigado pela recomendação!

Antonio Renato Arantes Cançado

Este mesmo. Creio que esteja caro por estar fora de catálogo, e obedeça à classe lei da oferta e da procura. Mas como informei no texto, a revista Força Aérea publicou o livro (ou parte dele) em edições passadas.

João Moro

Parabéns ao PN por trazer estes trabalhos sobre a nossa história militar.

Vanessa

Achei exagero esse numero de navios e submarinos abatidos. Forçaram demais.que tudo isso tava fazendo aqui?

Marcos Cooper

Não é exagero. Éramos inimigos, logo trouxeram a guerra até noso território. Marítimo, no caso.

Leandro Costa

Conflito globsl total é isso aí. A incessante necessidade de se obter cada vez mais recursos para se manter uma economia de guerra à todo vapor e ao mesmo tempo tentar negá-los ao inimigo.

LucianoSR71

Leandro, de uma olhada no post Iconográfico que eu respondi sobre seu pedido sobre o urânio do U-234. Abs.

R_cordeiro

Achou exagero com base no que? Esse vírus do meu achismo eh mais relevante que os fatos já tá me enchendo o saco.

Andrigo

É a moda hoje em dia, contestar tudo! Desde o fato de a Terra ser redonda, até fatos históricos incontestes.

Renatto Harrison

Está na documentação alemã que quantidade enorme de borracha, minério e outras matérias primas saia daqui… por isso essa quantidade..
tinham 750 Uboat em operacão.. achei até pouco a quantidade…

Antonio Renato Arantes Cançado

Ah, a falta de noção…

Rodrigo Ribeiro

Vanessa, os submarinos eram alemães e de guerra obviamente, mas os navios em sua grandíssima maioria eram mercantes, civis.

Art

Deve ser por isso que se chamava segunda Guerra Mundial

Munhoz

Interessante, sé avaliarmos bem veremos que o avião de patrulha marítima foi o único meio a realmente defender o país de ataques inimigos durante as 2 guerras mundiais! E se ocorrer algum atrito em nosso litoral hoje este tipo de avião seria o primeiro e se não o único a se opor a uma esquadra inimiga com os P 3, no entanto parece que este tipo de meio não está entre as prioridades dos militares. Em meu ponto de vista este tipo de avião deve ser a prioridade número 1 de nossas forças armadas, é só avaliar nossa posição geografia… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

Munhoz, Na Primeira Guerra não tínhamos aviões de patrulha marítima. Aliás, mesmo na Europa isso engatinhava. Quanto à Segunda Guerra, dezenas de navios da Marinha estiveram envolvidos na escolta de comboios: dois cruzadores e alguns contratorpedeiros antigos, mais de uma dúzia de corvetas (convertidas de navios-mineiros varredores, hidrográficos e até de traineiras), e três contratorpedeiros de esquadra novos, sendo boa parte desses navios construídos aqui. A eles se somaram 16 pequenos caça-submarinos e 8 contratorpedeiros de escolta transferidos pelos EUA. A simples presença desses navios protegendo os mercantes era fator de dissuasão para os submarinos. Muitos contatos foram feitos com… Read more »

Luiz Floriano Alves

Nunão
Muitos barcos auxiliares foram militarizados para a guerra naval. De Rio Grande o rebocador Honório Bicalho foi convertido em aviso oceânico e utilizado no patrulhamento da costa. Tambem nos estaleiros de Rio Grande foi construído um caça submarinos, popular caça ferro. Abço.

Sérgio Quintella

Pena um tio não ter conseguido usufruir desta proteção armada. Faleceu autenticamente “ilhado” em Fernando de noronha.por impossibilidade de socorro médico.

LucianoSR71

Nunão, lembro que perdemos a corveta Camaquã devido a junção de mau tempo e condições do navio naquele momento e o contratorpedeiro Marcílio Dias por U-boat.

Enes

A Corveta Camacuã foi a pique porque não se lastrou o navio, na pressa de entrar no porto reabastecer e sair rapidamente, o navio sem lastro foi surpreendido por três ondas fortes e acabou adernando e indo a pique.

Fernando "Nunão" De Martini

Luciano, o CT Marcílio Dias, terminado pelo Arsenal a tempo de servir nos últimos 2 anos da IIGM, foi desativado nos anos 60. Não foi afundado por nenhum U-Boat

O único navio de guerra brasileiro perdido por torpedeamento naquele conflito foi o navio auxiliar Vital de Oliveira.

Para mais informações:

https://www.naval.com.br/blog/2018/05/20/perdas-navais-brasileiras-na-segunda-guerra-mundial/

LucianoSR71

Eu lembro de ter lido sobre o Marcílio Dias, fui procurar e encontrei essa informação em alguns sites, inclusive numa matéria do Defesanet ( http://www.defesanet.com.br/ecos/noticia/26473/Marinha-do-Brasil-realizara-cerimonia-em-homenagem-aos-mortos-da-Marinha-em-guerra/ ):
A Marinha do Brasil perdeu na guerra 467 homens, entre comandantes, oficiais, suboficiais e praças. Três de seus navios foram afundados – o Marcílio Dias, em 1944, por um submarino alemão; a corveta Camaquã, pelo mau tempo, em 1944, e o cruzador Bahia, destruído em 4 de julho de 1945, pouco antes do fim da guerra no Pacífico, por um explosão acidental em seu paiol de munição.
Alguém errou e reproduziram o erro.
Abs.

Fernando "Nunão" De Martini

Sim, escreveram Marcílio Dias em vez de Vital de Oliveira.

Esteves

Relato do Almirante Lúcio.

Havia farta munição espalhada pelo convés do navio. Bagunça.

A arma estava treinando tiro real na linha d’água. A arma e o artilheiro.

De repente, a arma, sozinha, sem o artilheiro, virou-se contra as bombas e as munições espalhadas pelo convés e, disparou.

O Bahia afundou.

O U530 estava passando. Só passando.

Munhoz

Na verdade durante a primeira guerra, eu tinha lido algo a respeito em algumas revistas de arquivo pessoa, mas segue abaixo uma pesquisa que fiz, e fica ai uma sugestão de artigo para o Poder Naval Por ocasião do reconhecimento do estado de guerra contra a Alemanha, em outubro de 1917, a Aviação Naval, embora fosse uma arma recente, já estava razoavelmente bem estruturada e possuía bem mais aviadores do que aeronaves, logo, quando surgiu a possibilidade de voarem na Europa, muitos se ofereceram como voluntários, conforme destacou o jornal Correio da Manhã: “Como temos noticiado, continuam a chover de… Read more »

Fernando "Nunão" De Martini

De fato, Munhoz, mas eu achei que você falava de patrulha marítima, por aviões, em nosso litoral. Canal da Mancha é outra história, bem menor, e bem mais longe.

Fila

Esses 11 afundamentos são atribuídos à FAB?

Fernando "Nunão" De Martini

Não.

Space Jockey

Um deles sim, em conjunto com os americanos.

Fernando "Nunão" De Martini

Sim, um deles, o que está no texto da matéria. A pergunta foi sobre onze. Mas vale ressaltar que o sucesso da patrulha naval feita pela FAB e USN não se mede apenas por afundamentos. Tão ou mais importante foram as vezes em que se localizou submarinos, que tiveram que se evadir, frustrando seus ataques. E várias vezes foram atacados, tendo que se manter mergulhados. O maior indicador de sucesso na proteção de comboios é eles chegarem aos seus destinos intactos ou com o mínimo de baixas. E nisso a patrulha naval e a escolta de comboios, no ar e… Read more »

Nelson Anaya

Capa do livro: “Aviação Brasileira-Sua história através da arte” de Carlos Lorch e Jackson Flores. Participei desse livro com 14 pinturas…

Dalton

Como curiosidade, dois dos submarinos italianos enviados ao Atlântico Sul, o “Calvi” e o “Tazzoli” eram de uma versão melhorada da classe “Balila” que a marinha brasileira possuía uma única unidade o “Humaytá” o único submarino brasileiro de “longo alcance”, com capacidade de lançar minas e de grandes dimensões ainda mais quando comparado com
os outros 3 submarinos, igualmente de origem italiana da classe “Tupy”, tenho ambos modelos na escala 1:1250.

RODRIGO

Conheci, infelizmente por um breve período de tempo, um cara que participou destas missões, não voando, mas em equipes de apoio em terra das operações O que ele me diz é que eram missões extenuantes e muito tensas. Este cara tem uma história de vida fantástica, a começar pelo próprio nome: “Oceano”. Ele nasceu no meio do Atlântico em viagem de seus pais, imigrantes espanhóis, rumo ao Brasil… Ele era avô de uma ex-namorada e já é falecido. Poliglota, exímio pianista, maestro de várias orquestras que atuavam nos Cassinos do Rio de Janeiro, advogado e entusiasta de ferromodelismo, criador de… Read more »

Dalton

De posse do excelente livro “A marinha do Brasil na Segunda Guerra” de Arthur Oscar
Saldanha da Gama, reli e relembrei sobre o submarino “Tymbira” que utilizado para treinar as forças anti submarinas americana e brasileira, foi atingido por uma bomba de treinamento que desprendeu-se da asa quando uma aeronave “Vultee Vengeance” da FAB o sobrevoou, atingindo o comandante do submarino que encontrava-se na “vela”, CC
Aristides Francisco Garnier, que teve morte imediata, em 8 de outubro de 1943.

luiz antonio

Tive o prazer e a honra de conhecer o Brigadeiro Ivo Gastaldoni no final da década de 80 até meados da década de 90. Na época era inspetor do antigo DAC. Era um verdadeiro gentleman, intelecto diferenciado, e principalmente humilde. Nos deixou há alguns anos. Herói de guerra da Aviação de Patrulha. Como nossos heróis são esquecidos deixo aqui, minha homenagem simples e minha reverência como brasileiro. Aprendi muito com ele. O céu está protegido por esse Ás da Aviação de Patrulha da nossa FAB.

Mahan

Se naquela época os Sub eram grande ameaça imagina hoje com propulsão nuclear, AIP e misseis de cruzeiro!

M65

No dia 31/07/1943, o submarino afundado era o U-199 que foi o responsável pela maior (ou uma das maiores) tragédia da pesca no litoral do estado fluminense. Atacou e afundou a embarcação Changri-lá dos pescadores em Arraial do Cabo – RJ, na época distrito de Cabo Frio. A marcação do infográfico indica o afundamento desse barco pesqueiro. Não existe certeza, porém é plausível que outras embarcações pesqueiras brasileiras tiveram destino semelhante. Vejam a história Changri-lá na internet.

kevinbuenuu

“Um fato pouquíssimo conhecido é de que o comandante do submarino italiano Barbarigo, Enzo Grossi, era brasileiro, nascido em São Paulo.”, caramba, além de ser um Enzo dos anos 40, era brasileiro, que ironia. Bom, traiu sua nação, teve o fim merecido. Interessante matéria.

Adriano Madureira

E falando em Submarino, um dos nossos P3 ORION caçou um submarino nuclear invasor que adentrou a área dos exercícios UNITAS desse ano.

Só não souberam dizer de qual nação era, se russo, chinês, francês inglês ou americano…

Dalton

Se fosse “americano” ou de qualquer outro participante se saberia, pois as unidades a serem enviadas são comunicadas com antecedência e no caso da US Navy apenas o USS Carter Hall foi enviado e já faz um bom tempo que a US Navy não envia submarinos para uma “UNITAS” e o último que por aqui esteve foi o então USS Dallas para comemoração do centenário da Força de Submarinos em 2014. . Acho difícil que chineses e russos se preocupariam em enviar um de seus “poucos” submarinos disponíveis tão distante, com tanta demanda para eles em outras regiões, mas, supondo… Read more »

Adriano Madureira

“Se fosse “americano” ou de qualquer outro participante se saberia, pois as
unidades a serem enviadas são comunicadas com antecedência”.

Ou não, poderiam ser enviados intencionalmente…

Talvez até para testar os meios de superfície e ver se a própria tripulação do submarino está afiada.

Dalton

O “problema” Adriano é a baixa disponibilidade de submarinos. A US Navy nunca teve tão “poucos” e o número irá cair ainda mais. Os britânicos tem um requerimento para 7 unidades, mas, no momento apenas 6 estão comissionados e os franceses que tem um requerimento para 6 unidades, no momento estão com apenas 5 já que um deu baixa recentemente e o “Suffren” será comissionado apenas ano que vem. . No caso da US Navy, há vários passando por manutenções, incluindo o mais novo o USS South Dakota que está passando por uma “manutenção pós comissionamento” que será mais longa… Read more »