Por Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)


“Eu não vou deixar ninguém roubar meus sonhos”.
Carl Brashear

Homens de honra é uma emocionante história, baseada em fatos reais, que retrata a difícil e brilhante trajetória de superação do jovem negro de origem humilde, Carl Maxie Brashear. Ele é filho de um agricultor e deixa a casa dos pais, no Estado de Kentucky, para se alistar na Marinha dos Estados Unidos da América (EUA), aos dezessete anos, em 1948.

Na sua despedida de casa, o pai diz a ele: “Nunca desista e não volte mais para cá”. “Entre na Marinha e lute”. “Não aceite promessas”. “Quebre velhas regras se for preciso”. Desde cedo, Carl demonstrou muita tenacidade ao ingressar na Marinha, apesar de todo preconceito racial vigente. Ele tinha o sonho de se tornar um mergulhador de resgate, mesmo sabendo de todas dificuldades que iria enfrentar.

Este é um filme inspirador que foi dirigido por George Tillman Jr, cujo elenco foi estrelado por Cuba Gooding Jr. (Carl Brashear), Robert De Niro (Leslie Sunday) e Charlize Theron (Gwen Sunday).

Inicialmente, ele está embarcado num navio de guerra como cozinheiro. Em 1954, após fazer vários pedidos para realizar o curso de mergulho, a Marinha o autorizou a frequentar a escola de mergulho em Bayonne, New Jersey. Ao chegar na escola, ele encontra Billy Sunday (Robert De Niro), um exigente e problemático instrutor de mergulho, que o desafia permanentemente.

Durante o curso, como Carl era negro, ele foi mais exigido por Billy Sunday do que os demais alunos, pois seu objetivo era fazê-lo fracassar para que abandonasse a escola. Carl era determinado, persistente e resiliente. Naquele período, a segregação racial era muito forte nos EUA e também existiam dois mundos bem distintos na marinha norte-americana.

Vale mencionar que no mesmo curso de mergulho, realizado por Carl Brashear, em 1954, o sargento Alberto José do Nascimento, da Marinha do Brasil, juntamente com o sargento Luiz Oliveira se formaram na mesma turma. No filme, não é mencionada a presença dos brasileiros.

O filme histórico é a narrativa de um fato passado, que pode ser considerado um documento histórico. Porém, o cinema é arte e entretenimento, e mesmo aqueles filmes com fidelidade histórica, podem se afastar, em menor ou maior grau, da verdade documental.

Desta forma, possui liberdade artística para narrar um fato histórico, que nem sempre estará plenamente em acordo com a realidade.

Diz um antigo ditado: “Se quiser a verdade, assista documentários”! A narrativa de um fato no cinema nem sempre estará plenamente em consonância com o que aconteceu na vida real.

Nesse sentido, consta que na cena em que ocorre a apresentação de Carl Brashear aos demais alunos no alojamento da escola, o único que não se retirou foi o sargento Alberto José do Nascimento, que no filme foi substituído pelo personagem Snowhill (Michael Rappaport).

Em 1954, Carl Brashear foi o  primeiro negro a se formar como mergulhador na “US Navy Diving & Salvage School” – Centro de Treinamento de Mergulho e Salvamento Naval.

Cabe ainda ressaltar que, em 1966, durante uma operação de salvamento, Brashear sofre um acidente na perna esquerda que o levou a fazer uma cirurugia de amputação. Após um longo período de tratamento e treinamento físico, ele se prepara para realizar um teste para voltar ao serviço ativo.

Carl Brashear é obrigado a dar doze passos na sala de um tribunal de avaliação com um escafandro de 129 Kg e com uma prótese em uma das pernas.

Por fim, de cozinheiro a mergulhador chefe, Carl Brashear, por toda sua trajetória, se tornou uma referência na marinha norte-americana. A força de vontade, a coragem e a determinação de um único homem podem inspirar a vida de muitas pessoas na busca pelos seus ideais. Carl Brashear faleceu em 2006. Em 2008, ele foi homenageado com o seu nome na popa do navio de apoio logístico USNS Carl Brashear T-AKE 7.

USNS Carl Brashear T-AKE 7
Carl Brashear e Cuba Gooding Jr

Referências Bibliográficas e  Sites Consultados

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O brasileiro no filme ‘Homens de Honra’

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Fábio CDC

Um dos melhores filmes militares que já vi, especialmente da safra “Pós Guerra Fria”. Uma obra excelente em todos os parâmetros realmente! E destaco a ótima atuação de Cuba Gooding Junior em uma de suas melhores performances.

Camargoer.

Pois é…. Robert de Niro está muito bom como o “anti-vilão”. Eu sei que o mocinho tem que ser mocinho, só que Robert de Niro representa uma personagem bem mais complexo. Ele é claramente racista, mas também tem o lado da meritocracia que o coloca em um conflito. Sei lá, gosto do Cuba Jr, mas neste filme De Niro supera. Robert DeNiro já fez filmes ótimos (Taxi Driver.. em CopLand ele está óitmo.. Ronin é sensacional. Em Jack Brown é muito bom….) e fez muita coisa ruim (Entrando numa fria….credo). Acho que em Homens de Honra ele está ótimo. A… Read more »

Ten Murphy

Assisti na escola e tiraram perto do final. Demorou uns 15 ou mais anos para conseguir assistir inteiro. De toda forma, influenciou grande parte da minha vida. E conheci Cuba Gooding Jr. Anos depois a escola passou Meu nome é Rádio, que é outro excelente filme com ele.

Camargoer.
Ten Murphy

Interessante, não sabia. Fui pesquisar e acabei encontrando isso: https://www.naval.com.br/blog/2019/11/03/o-brasileiro-no-filme-homens-de-honra/

Sugiro aos editores anexarem o link na matéria.

Camargoer.

Que fotos legais. Obrigado T.M.

Dalton

Cuba viria a interpretar subsequentemente no filme “Pearl Harbor” o marinheiro Doris Miller que distinguiu-se a bordo do encouraçado West Virginia, falecendo em 1943 quando o novo navio para o qual havia sido designado um NAe de Escolta foi afundado.
.
Miller não avançou na carreira continuando como cozinheiro, eram outros tempos, mas
surpreendentemente haverá um NAe com seu nome o quarto da classe Gerald Ford cuja incorporação está prevista para 2032.

Cássio

na época, achei até que a história dele era a continuação de um filme em outro. Mas depois vi que eram dois personagens que existiram de fato e tem caminhos totalmente diferentes dentro daquela Marinha.

Zorann

Filme excelente!

Alex Barreto Cypriano

Por quê se chama Men of Honor se o único honrado, entre os nativos, ali, era Brashear? A falsificação histórica, minorando os horrores do racismo nas armas americanas (e em marinhas de guerra se encontram os mais encarnecidos racistas e autoritários do mundo) mesmo depois do banimento do segregacionismo pela ordem executiva 9981 de Truman, transformando um sádico racista num superior durão, não se confunde com liberdade criativa. É propaganda racista pura, autoelogiosa, pra consumo de desnorteados. Como viático, o wokeismo, outro engano em si, destruiu SW, branca e machista, fazendo de Luke Skywalker um misantropo bebedor de leite -verde-.

Last edited 3 meses atrás by Alex Barreto Cypriano
Dalton

O “outro” é justamente o personagem de Robert De Niro, fictício, baseado em outros homens da marinha, um dos quais teria incentivado Brashear a prosseguir. . Uma coisa tem que ser dita/escrita: a US Navy cooperou para a realização desse filme nada foi varrido para debaixo do tapete e mesmo considerou o filme como uma espécie de vitrine para estimular alistamentos. . O racismo não foi completamente eliminado mas diminuiu muito inclusive graças a homens como Brashear e Thomas Hudner que pousou seu avião propositalmente para resgatar seu colega afroamericano Jesse Brown abatido durante a guerra da Coreia. . Brashear,… Read more »

Alex Barreto Cypriano

O racismo foi encoberto sob formalismo antisegregacionista. Muito negro veterano de guerra voltava da wwii era impedido de usar uniforme em público pra não exibir ‘inapropriado’ orgulho e dignidade. Aliás, veteranos de guerra se engajaram nos movimentos de direitos civis justamente porque não se assustavam facilmente (a tática racista, fora a violência direta, era a intimidação). Querer ser reconhecido pelo seu valor numa corporação coalhada de racistas, que escondeu Dorie Miller sob um vergonhoso ‘unnamed negro messman’, pois negros na USN só serviam pra ‘menial works’ como cozinheiros e copeiros, era quase um tipo de loucura suicida, loucura muito ao… Read more »

Last edited 3 meses atrás by Alex Barreto Cypriano
Dalton

Alex procure ver também o lado “bom” das coisas, os avanços que vieram, para que ficar relembrando o que Doris Miller passou, isso não existe mais, brancos hoje também são “cozinheiros” eu mesmo conheci um do USS D.Eisenhower !
.
Pense no que Brashear conquistou e ensinou a toda uma nova geração de marinheiros amarelos, brancos, pretos, rosas, etc 🙂

Alex Barreto Cypriano

Verdade, mestre Dalton. Perdoe minha tristeza com o assunto. Branco cozinheiro e bom de briga? Under Siege (A Força em Alerta), 1992: chefe Ryback (Steven Seagal). 🙂

Camargoer.

Nico acima da lei.. riso, Já se tornou um clássico. É daqueles filmes nos quais a versão dublada é superior a versão original. A cena de briga no mercadinho é muito boa.

Nino

Para que curte o “lavador de dinheiro” tem esse canal que eu curto muito: https://www.youtube.com/@omelhorpiorfilme

Alex Barreto Cypriano

Corrigindo: onde se lê encarnecidos leia-se encarniçados. Encarnecido nem existe em português, é palavra do espanhol, que li muito e acabei trocando as bolas.

Carlos Eduardo Oliveira

Racismo na U.S Navy, não é caso isolado.
Já vi aqui na MB tbm (no ex-NTrT Barroso Pereira).