USS George Washington parte para o Japão, encerrando estadia problemática no estaleiro que incluiu uma série de suicídios

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USS George Washington (CVN-73) - Foto: Poder Naval

O porta-aviões USS George Washington finalmente partiu para seu novo porto-base no Japão, após seis longos anos em um estaleiro na Virgínia que incluíram relatos de condições de vida difíceis e uma série de suicídios entre a tripulação.

Na quinta-feira, o navio partiu da Estação Naval de Norfolk, Virgínia, e fará paradas na Flórida, América do Sul e San Diego para trocar parte da tripulação com o USS Ronald Reagan antes de seguir para o Japão até o outono. O navio substituirá o Reagan como o porta-aviões de vigilância da costa japonesa.

“O Team Warfighter está pronto para partir”, disse o capitão Tim Waits de Anniston, Alabama, comandante do George Washington, em um comunicado à imprensa. “Não apenas pela aventura que nos espera na América do Sul, mas pronto para servir como o porta-aviões de forças navais desdobradas para a frente da nação em Yokosuka.”

O porta-aviões da classe Nimitz começou uma grande reforma e reabastecimento em Newport News em 2017, um processo que normalmente leva apenas quatro anos. Até 2020, a conclusão foi adiada para 2022 devido aos impactos da COVID-19 e outros atrasos. O porta-aviões finalmente deixou o estaleiro em maio de 2023 para testes no mar.

A partida marca um momento notável para o navio. Durante esses anos em Newport News, uma investigação do Military.com revelou que a qualidade de vida da tripulação havia se deteriorado e que uma série de suicídios ocorreu sob essas condições difíceis.

Em 2022, o Military.com foi o primeiro a relatar que o Washington havia sofrido mais de meia dúzia de suicídios desde novembro de 2019. Investigações subsequentes da Marinha identificaram problemas de qualidade de vida, liderança abaixo do padrão e falha em cuidar dos marinheiros como fatores contribuintes.

No relatório de 2023 da Marinha sobre a qualidade de vida a bordo do porta-aviões, investigadores descobriram que o navio teve o maior número de comportamentos relacionados ao suicídio, incluindo ideação suicida e tentativas de suicídio, de 2017 a 2019, quando comparado a todos os porta-aviões da Costa Leste.

Em uma pesquisa de clima de comando de 2019, os resultados do George Washington ficaram abaixo das médias de porta-aviões e da Marinha em todas as categorias de avaliação. Uma pesquisa de 2020 mostrou os mesmos resultados.

Essas mesmas pesquisas mostraram que a “consciência de ideações suicidas” entre os marinheiros do navio aumentou de 31% para 56% em um único ano. O relatório observa que o navio “não abordou essa descoberta”.

“É seguro dizer que gerações de líderes da Marinha se acostumaram com a qualidade de vida reduzida no estaleiro e aceitaram o status quo como parte do curso da vida no estaleiro”, disse o contra-almirante John Meier, agora comandante aposentado da Força Aérea Naval do Atlântico, em uma das investigações sobre o navio. “Como marinheiros seniores, é fácil esquecer nossa vida na Marinha no início.”

Os dados da Marinha mostraram que 57% de todos os suicídios em porta-aviões de 2017 até o presente ocorreram enquanto o navio estava no estaleiro.

“O ambiente do estaleiro é sempre um desafio”, disse a comandante Dawn Stankus, porta-voz da Força Aérea Naval do Atlântico, ao Military.com em uma entrevista na sexta-feira. “Quando você está em um estaleiro, você não necessariamente consegue fazer o que se inscreveu para fazer nas forças armadas.”

No entanto, os oficiais da Marinha estão confiantes de que a tripulação será melhor apoiada após sair do estaleiro.

Em um esforço para melhorar a qualidade de vida a bordo do George Washington, em fevereiro, um novo espaço de descanso e recreação criado pela USO foi inaugurado para oferecer aos marinheiros a bordo do navio uma biblioteca, TVs e videogames, bem como computadores e telefones, para que eles possam se entreter e contatar suas famílias, detalhou um comunicado à imprensa de fevereiro do navio.

Após o reabastecimento e atualizações em Norfolk no ano passado, a tripulação passou por várias certificações pré-desdobramento, incluindo a Inspeção e Pesquisa do Conselho, ou INSURV, disse Stankus, referindo-se a uma inspeção maciça e mandatada pelo Congresso de todo o navio.

“De todas as indicações que recebi da sede, para usar uma expressão, eles arrasaram completamente no seu INSURV”, disse Stankus.

Enquanto isso, o navio que o George Washington está substituindo no Japão, o Ronald Reagan, está programado para ir ao estaleiro de Bremerton, em Washington, para manutenção.

FONTE: military.com

RELEMBRE:

Porta-aviões USS George Washington (CVN-73) em passagem pelo Brasil

 

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Burgos

Trabalho para as Assistentes Social/Serviços Religioso a bordo.
Talvez melhore com o navio operando, pois o salário entra junto com algumas Gratificações/ compensações por afastamento.
O custo de vida nos EUA não tá fácil também 👀⚓️

Camargoer.

então.. esta questão das taxas de suicídio e de ideia suicida são extremamente graves e acabam passando desapercebidas. Ainda que seja possível obter dados sobre suicídios, as taxas de “percepção de ideia suicida” são subnotificadas. Como a ideia suicida é o primeiro passo para a efetivação do suicídio, a sua subnotificação acaba sendo um dos fatores que elevam as taxas de suicídio. Infelizmente, o suicídio ainda é tabu em vários setores. Um dos alertas é quando a pessoa passa a ter “fixação suicida”, que é pensar no suicídio como ideia contínua. O segundo passo de maior gravidade é a emulação… Read more »

Last edited 14 dias atrás by Camargoer.
Willber Rodrigues

FA’s e polícias, de modo geral, jogam esse tema pra debaixo do tapete e fingem que isso simpleemente náo existe. Tenho 2 tios policiais, um da polícia penal e outro da PM de BH. Cada um deles tiveram, em uma década de profisão, por baixo, 20 colegas que se sabe que foi suicídio, e o dobro disso que morreu de “forma suspeita”, como dirigir sozinho em alta velocidade e bater num poste. Suicídio, no Brasil, é MUITO subnotificado. Mas é mais fácil falar que isso é frescura, de problema de geração movido a leite com pêra, e continuar do jeito… Read more »

Camargoer.

Ola Wilber. Eu sempre menciono que a experiência pessoal não tem significância estatística, mas um único caso de suicídio é um drama pessoal que merece acolhimento. Sinto muito por estas perdas. Muito mesmo Dentro da acadêmica também há muitos casos de suicídio (eu também perdi colegas e familiares de colegas) e principalmente tentativas. É muito grande. Temos tido sucessivos casos de suicídios e muitas tentativas entre os estudantes, na maioria, de pós-graduação. Entre professores e pesquisadores o índice de depressão aguda é extremamente alto. Ao “levantar o tapete”, a gente começa a ver como as condições de trabalho estão degradadas.… Read more »

Last edited 14 dias atrás by Camargoer.
Joao

Não sei como é em outras forças, mas no EB o programa de combate ao suicidio é muito sério.
Não é posto pra baixo do pano.
Esse programa tem apresentado excelentes resultados.
Mas, os rapazes e as moças tem uma percepção de vida dura diferente de antigamente.
Cresceu muito o número de suicidios e ideação suicida.
Com o programa, tem havido muito tratamento e diminuição dos números.

Camargoer.

Olá João. Alguns especialistas defendem que o aumento na ideação é apenas que se tornou mais comum a busca por tratamento. Há certo paralelo com a questão do aumento de casos de câncer. O que aconteceu foi a redução de mortes por outras doenças infectocontagiosas e aumento dos diagnósticos precoces. Até há algum tempo, câncer era uma doença tabu e depressão era considerado uma vergonha ou fraqueza. A conscientização sobre a depressão como uma doença abriu caminho para o diagnóstico, coisa que antes nem a pessoa doente cuidava. Muitos enveredavam pelo alcoolismo (que também passou de “vagabundagem” ou “falta de… Read more »

Alex Barreto Cypriano

Mestre Camargoer, encontrei reportagem que nos traz mais perto dos três marinheiros que se mataram: me deu uma tristeza ler porque era gente comum e a organização de alguma forma falhou com eles. Aqui:
https://www.navytimes.com/news/your-navy/2022/12/21/uss-george-washington-suicides-investigation-reveals-systemic-issues/

Cássio Silva

Será que ganhará a fama de Navio de Guerra mais Mal Assombrado da história da US Navy?

Camargoer.

Um dia, se tiver um G,BushJr, creio que será mal-assombrado.

Só os incheridos do Scooby-Doo para resolver o mistério.

comment image

Denis

EDITADO:
COMENTARISTA BLOQUEADO.

Alex Barreto Cypriano

https://abc11.com/uss-george-washington-suicide-suicides-deaths/11813701/
Tem nuances a história que a matéria não conta. Melhor tomar conhecimento.

Fernando Vieira

“O ambiente do estaleiro é sempre um desafio” (…)“Quando você está em um estaleiro, você não necessariamente consegue fazer o que se inscreveu para fazer nas forças armadas.”

Por quê? O que a tripulação fica fazendo quando o navio está no estaleiro? Imagino que todas as reformas, modernizações e reparos sejam feitos pelo pessoal do estaleiro. A tripulação fica lá por quê? Não seria melhor desmobilizar parte dessa tripulação, manter apenas um número mínimo necessário enquanto o navio está no estaleiro? Essa tripulação poderia tirar férias ou servir em outro navio.

Piassarollo

Posso estar errado, mas que eu me lembre a tripulação também participa nos trabalhos de manutenção do navio.

Franz A. Neeracher

Exato Piassarollo!

Uma parte da tripulação, fica a bordo ajudando nos trabalhos.

Além disso, o pessoal do departamento dos reatores, uma grande parte, tem que ficar a bordo….fora o pessoal encarregado pela segurança.

Certas áreas do navio, os trabalhadores do estaleiro só tem acesso com tripulantes estando juntos.

Last edited 13 dias atrás by Franz A. Neeracher
Alex Barreto Cypriano

É assim desde sempre. Houve época em que a USNavy tinha que encontrar onde pôr a tripulação dos navios em ROH ou RCOH; usavam outros navios, barcas e acomodações em terra. Pra um destróier de 300 homens é fácil, mas pra um CV ou CVN de 2500 a 3200 tripulantes (membros da ala aérea estão de fora) já é mais difícil. Imagine estar acomodado em terra e ter que se deslocar até o estaleiro pra fazer a sua parte… Uma vez na doca os tripulantes são responsáveis por vários serviços que os civis não fazem, como raspagens, pinturas, limpeza de… Read more »

Fernando XO

Prezado Xara, não há como desmobilizar todo o navio… lembro da leitura do livro sobre o Samuel B. Roberts, no qual é descrito como o pessoal de estaleiro precisa ser supervisionado pela Tripulação… no entanto, é comum conceder férias no período de reparos, mas também intensificar o adestramento, visto que a depender do tempo de imobilização, há que haver uma recertificação para operar no mar de maneira segura… abraço…

Franz A. Neeracher

E tem mais outro detalhe…..numa tripulação tão numerosa como num PA, sempre tem gente entrando e saindo da Marinha…..muitos são transferidos para outros navios ou para uma função em terra….fora os casos de gravidez, férias e etc..

Fernando XO

Prezado Franz, bem, observado… essa rotação acaba aumentando o número de “novatos”, o que demanda qualificá-los para os serviços e, mais importante, integrá-los à equipe… abraço…

Fernando Vieira

Ah sim, eu não sugeri deixar o navio vazio mas com tripulação bem reduzida. Mas pelo que vocês estão dizendo, ela já é reduzida só não dá pra reduzir tanto quanto eu achava.

Sobre arranjar acomodações para tripulantes, vou mandar a Petrobrás apresentar para a US Navy o conceito de Flotel.

Dalton

A US Navy tem seus “Barrack Ships” e mais estão sendo construídos, ano passado a US Navy recebeu o APL-67 que pode acomodar 600 pessoas e alimentar mais de 1000 com 3 refeições ao dia.

Alex Barreto Cypriano

Encontrei um corte transversal do APL-67 num PDF da Crowley. Parece tudo muito bom.
https://www.crowley.com/wp-content/uploads/sites/7/2021/02/CP-25068.pdf

Dalton

Tinha visto apenas fotos das “APLs”, interessante o corte Alex, obrigado !

Alex Barreto Cypriano

Mestre Dalton, costumamos estudar os navios principais, que são as estrelas do assunto, mas gostei (apesar de paralelo a assunto seríssimo como suicídio) de conhecer algo sobre essas barcaças de acomodação – é um assunto interessante (e a USNavy está substituindo várias delas com mais de 40 anos de uso) e com história desde a WWII.

BIGLIAZZI

Sou obrigado a pensar mais sobre o tema de “agenda positiva” e “agenda negativa” nos meios de mídia… Vamos pensar… vamos pensar…