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A fragata INS Khukri (F149) era uma navio da classe “Type 14” britânica, de guerra anti-submarino, em serviço na Marinha da Índia. Ela foi afundada pelo submarino paquistanês da classe “Daphné”, de construção francesa, PNS Hangor (S131), na noite de 9 de dezembro, durante a Guerra Indo-Paquistanesa de 1971, ao largo de Diu Gujarat, Índia.
Esta foi a primeira vez que um navio foi afundado por um submarino depois da Segunda Guerra Mundial. A segunda vez ocorreu na Guerra das Malvinas, em 1982, quando o cruzador argentino ARA General Belgrano, foi afundado pelo submarino nuclear britânico HMS Conqueror.
Após o início das hostilidades em 3 de dezembro 1971, a Marinha da Índia detectou emissões de rádio de um submarino oculto nas imediações, a cerca de 35 km a sudoeste do porto de Diu.
O Esquadrão 14 da Frota Ocidental, formado pelo Khukri e seus navios irmãos Kirpan e Kuthar (nomes de tipos de punhal), foram enviados para uma missão “Hunter-Killer”, a fim de destruir o submarino. Existe alguma controvérsia quanto à razão pela qual estes antigos navios foram enviados na missão, ao invés de navios mais novos, porque o sonar destas fragatas tinha um alcance bem inferior ao do sonar do novo submarino inimigo.
O Khukri era o mais lento dos navios, porque estava testando uma versão melhorada do seu sonar 170/174, que exigia uma marcha lenta para aumentar o alcance de detecção.

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O PNS Hangor

O submarino paquistanês Hangor zarpou no dia 22 de novembro de 1971, para uma patrulha ao largo da costa indiana em Kathiawar, sob o comando de Ahmad Tasnim. Neste mesmo dia, o Exército Indiano havia lançado uma invasão em grande escala no Leste do Paquistão.
Em 23 de novembro, quando o estado de emergência foi declarado pelo Paquistão, o Hangor estava ao largo de Porbandar, perto da costa do Índico e na manhã do dia 24 de novembro, o submarino detectou em seus sensores, considerável atividade de aeronaves civis e militares, a até 100 milhas da costa indiana. Em 1 de dezembro, ele recebeu ordens para dirigir-se ao largo de Bombaim, substituindo o submarino Mangro na patrulha daquela área.
O Hangor estava navegando na superfície, na noite de 2 de dezembro, quando às 23:40h uma grande formação de navios foi detectada em seu radar a leste, a cerca de 35 milhas de distância. Esse grande alcance de detecção anormal é freqüentemente obtido nesta área nos meses de inverno, devido à propagação anômala das ondas radioelétricas, um fenômeno que resulta do aprisionamento de ondas de rádio, em dutos formados devido à  inversões de temperatura na atmosfera. O Hangor aproximou-se desta formação, a uma distância de 26 milhas, às 00:49h de 3 de dezembro, quando mergulhou a uma profundidade de 40 metros, e seguiu os navios com seu sonar até as primeiras horas da manhã. Uma rápida varredura por radar na profundidade de periscópio revelou que a formação consistia de 6 escoltas e um corpo principal de quatro navios. Esta era, sem dúvida, a Frota Ocidental indiana, compreendendo o cruzador INS Mysore, navios de apoio e escoltas que tinham deixado Bombaim, em 2 de dezembro.
Mas o Hangor não tinha recebido autorização ainda para atacar navios indianos, o que só aconteceria na mensagem recebida por rádio no dia 4 de dezembro. Houve frustração no comando do Hangor pela perda desta oportunidade de ataque, por tão pouco tempo.

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Mas nem tudo foi perdido nesta oportunidade: a força-tarefa indiana, suspeitando que havia sido detectada por um submarino (talvez pelo ESM/MAGE), cancelou um ataque com míssil que estava programado contra Karachi, na noite de 5 de dezembro. A frota indiana dividiu-se e foi para o sul, não estando mais em condições de executar o seu plano de ataque.
O Hangor continuou sua patrulha. Algumas vezes, aproximou-se do porto de Bombaim e detectou alguns navios de guerra que operavam em águas muito rasas para o submarino fazer uma abordagem e lançar seus torpedos. Em outras ocasiões, sua velocidade submersa limitada (a principal desvantagem dos submarinos convencionais), impediu a intercepção de bons alvos. Mas os oficiais e praças do Hangor não ficaram desanimados.

Novos alvos

Em novo esforço para localizar o inimigo evasivo, o Hangor prolongou sua patrulha em direção ao norte para investigar algumas transmissões de rádio que tinha interceptado em seus sensores. Nas primeiras horas da manhã do dia 9 de dezembro, quando estava ao largo da costa de Kathiawar, dois contatos foram apanhados pelo seu sonar passivo a nordeste. Eles foram facilmente identificados como navios de guerra por suas emissões sonar; uma varredura rápida do radar indicou uma distância de 6 a 8 milhas. A perseguição ao inimigo começou.
Deve-se entender que embora o submarino goze da vantagem “stealth”, suas restrições operativas são muito grandes. Ele tem uma velocidade submersa muito menor quando comparado às velocidades de navios de superfície. Portanto, um ataque só é viável se o submarino estiver num setor à frente de seu alvo. Velocidades submersas mais altas para interceptar o alvo significam redução da capacidade das baterias, que deve ser preservada para fugir após o ataque ao inimigo. A potência motriz de um submarino submerso é dependente das baterias, que devem ser freqüentemente recarregadas navegando na superfície de tempos em tempos ou usando o snorkel. Um submarino também é extremamente vulnerável quando se desloca em alta velocidade em águas rasas. Não só ele pode ser facilmente detectado, devido ao maior nível de ruído, mas suas chances de escapar ao inimigo são drasticamente reduzidas se este for detectado, devido à falta de espaço de manobra no plano vertical. Esses fatores foram analisados cuidadosamente e pesados pelo comandante do submarino e sua equipe de controle,  manobrando para ocupar uma posição à frente das fragatas inimigas.

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O ataque

Quando a primeira tentativa de interceptar os navios inimigos falhou, o submarino usou o snorkel para ganhar velocidade. O Hangor, no entanto, não conseguiu aproximar-se dos navios e o contato foi perdido com o o aumento da distância. No início da noite de 9 de dezembro, o submarino foi capaz de descobrir o padrão de movimento dos alvos com a ajuda de seus sensores. Os navios estavam realizando uma busca anti-submarino retangular.
Prevendo seu movimento ao longo deste padrão de busca, o submarino conseguiu às 19:00h, assumir uma posição vantajosa taticamente, na rota das fragatas. A distância dos alvos, que estavam movendo-se a uma velocidade de 12 nós, começou a diminuir. O momento crucial que o submarino tinha trabalhado pacientemente, desde as primeiras horas da manhã, havia chegado. O Hangor estava finalmente em condições de lançar um ataque.
Às 19:15h, o submarino assumiu postos de combate. Quinze minutos mais tarde o Hangor veio até a profundidade de periscópio, mas não podia ver nada no escuro à noite, quando a distância dos navios indicados pelo radar era de apenas 9.800 metros. Os navios estavam completamente às escuras. O comandante decidiu ir para baixo, a 55 metros de profundidade, para fazer uma aproximaçao por sonar na fase final do ataque. Desconhecendo a presença do submarino, as fragatas continuavam no seu rumo. Às 19:57h, o Hangor lançou um torpedo no navio mais ao norte, a uma profundidade de 40 metros. O torpedo foi monitorado, entretanto nenhuma explosão foi ouvida. Mas não era o momento para meditar sobre o ocorrido. A equipe de combate disparou um segundo torpedo logo em seguida. Após cinco minutos tensos, uma tremenda explosão foi ouvida às 20:19h. O torpedo tinha encontrado seu alvo. A outra fragata inimiga veio direto rumo ao submarino. O Hangor disparou o terceiro torpedo e desviou-se à velocidade máxima. Uma explosão distante foi ouvida posteriormente.
Movendo-se para oeste em busca de águas mais profundas, onde estaria menos vulnerável, o Hangor passou muito perto da cena de ação e ouviu distintamente o barulho de explosões que emanavam dos destroços queimando. Mais tarde, o submarino veio até a profundidade de periscópio para um último olhar. No escuro, nada podia ser visto, exceto uma pequena iluminação resplandecente no horizonte próximo ao cenário de ação.
Numa posição extremamente vulnerável em águas rasas controladas pelo inimigo, e sem qualquer ajuda, a tarefa do Hangor era escapar dos seus perseguidores, pois a caçada já havia começado.

O contra-ataque indiano

Os primeiros sinais da perseguição foram uma série de explosões ouvidas pelo submarino cerca de meia hora após o ataque aos navios indianos. Nos quatro dias seguintes, o Hangor enfrentou a fúria do poder da Frota Ocidental indiana. Todos os seus ativos anti-submarino – fragatas, helicópteros Sea King, aviões Alizé -, foram lançados na perseguição ao Hangor. Uma operação “Hunter-Killer” anti-submarino, totalmente apoiada pelos aviões de reconhecimento baseados em terra da IAF, foi posta em prática.
Para um submarino, o problema de conseguir escapar após um ataque é muitas vezes mais complicado e desafiador que o ataque em si. Todas as limitações precisam ser conciliadas quando a posição do submarino é conhecida pelo inimigo, num ambiente hostil. Velocidades maiores abaixo d’água aumentam a descarga das baterias, o que requer o uso do snorkel. Mas ao usar o snorkel, o submarino fica exposto à detecção. Velocidades mais baixas sob a água, significam mais tempo em águas hostis, aumentando a possibilidade de detecção e ataque inimigo.
Durante quatro dias e noites o Hangor foi assediado por unidades inimigas. Mais de 150 artefatos foram lançados contra o ele, mas somente em uma ocasião, as explosões chegaram perto o suficiente para agitar o submarino.
O comandante Ahmad Tasnim estava naturalmente interessado em passar a informação do ataque bem-sucedido à Sede do Comando Naval. O submarino teve que vir à tona, para poder transmitir a mensagem de rádio. Ele aceitou o risco de ser fixado pelas estações do inimigo em terra, durante a transmissão da mensagem. Aeronaves indianas saturaram a área logo após o envio da mensagem. Intensa atividade aérea durante todo o dia obrigou o submarino a navegar silenciosamente em águas profundas, reduzindo sua velocidade de avanço a 1,5 nós.
A Marinha Indiana cancelou a caçada infrutífera na noite de 13 de dezembro. Houve alegações de que suas unidades teriam afundado o submarino, mas o Hangor chegou são e salvo a Karachi, em 18 de dezembro.
Cerca de 18 oficiais e 176 marinheiros morreram no afundamento do INS Khukri. O capitão, Mahendra Nath Mulla, optou por afundar com seu navio, recusando-se a abandoná-lo, e passou seu colete salva-vidas a um oficial subalterno. Mahendra Nath Mulla recebeu postumamente a segunda maior honra militar da Índia, o Maha Vir Chakra.
Um memorial aos marinheiros mortos existe em Diu. O memorial tem um modelo em escala do INS Khukri integrado numa casa de vidro, colocado em cima de um montículo, de frente para o mar.
O submarino Hangor está preservado no Museu Marítimo do Paquistão, como mostra a foto abaixo.

 

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Fonte: http://www.pakdef.info/

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BVR

Parabéns ao Blog,e em especial ao Galante, pelo excelente post histórico.
Estou “aproveitando” a insônia provocada por esse “bendito” horário de verão e visitando os blogs.
Mas voltando ao post, espero que em breve apareçam outras relíquias como essa postada.
Sds.

Joaca

Caro Galante
Vamos elucubrar, se o submarino fosse um AGOSTA 90 com MESMA, qual seria o resultado? Provavelmente a destruição da frota oriental indiana.
At
Joaca

Wilson Johann

Esta fragata tá mais para corveta, mas cada um denomina seus navios como bem entebder.

Abraços!!

André

Que navio feio essa fragata indiana!!!
Bela postagem. Desconhecia esse acontecimento da história naval.
Sds a todos.

Ozawa

Mais uma história que a ratifica a consciência geral que se tem dos submarinos. Como um único deles mobiliza tantos meios para caçá-lo.

Permitindo-me uma repetição reconhecidamente enfadonha, como parece-me estúpido, dada a limitação de nossos recursos financeiros e, por decorrência, materiais, falarmos na MB, ainda, em remotorização de Trackers…, up-grade de A4…, manutenção e operação do Navio-Museu, vulgo Nae, São Paulo…, sangrando preciosos recursos que poderiam se destinar à poderosa arma submarina…, como se lê nessa e em outras histórias do gênero.

Otimização de recursos, sistêmica, impassional, objetiva, e eficaz, é o quê primeiro falta nas FFAA brasileiras.

AMX

Joaca.
A MESMA, digamos, não “existia comercialmente” nessa época, ainda mais para países do terceiro mundo.
Na página http://www.bharat-rakshak.com, indiana (em inglês), está contada esta história, dentre tantas outras.
Fala das FAs indianas. É ótima e com muita informação sobre as 3 FAs. E demonstra claramente a postura daquele país na busca de tornar-se uma potência militar de fato, dependendo o mínimo possível de outros.
Abraços.

moyses

post foi de qualidade excepcional!!!!!!!!!!!!
com ritmo certo, e com muitas infos técnicas.
ab
abraços.

[…] NOTA DO BLOG: O primeiro afundamento de navio de guerra por um submarino, depois da Segunda Guerra Mundial, foi realizado por um submarino paquistanês. Veja a história aqui. […]

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