Contratorpedeiro Marcílio Dias (D-25) da Marinha do Brasil, da classe Gearing, ex-USS Henry W.Tucker (DD-875)

A classe Gearing representa uma das séries de destróieres (contratorpedeiros) mais icônicas produzidas pelos Estados Unidos no século XX. Lançados pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial e servindo ao longo da Guerra Fria, estes navios foram parte integrante da expansão e modernização naval dos EUA durante um período crítico da história.

Com um comprimento total de cerca de 119 metros e um deslocamento padrão de aproximadamente 2.425 toneladas, os destróieres da classe Gearing eram um pouco maiores do que os seus predecessores da classe Fletcher/Allen M.Sumner. Eles foram equipados com uma variedade de armas, incluindo canhões de 127 mm, torpedos e uma série de armas antiaéreas.

Gearing na configuração da Segunda Guerra Mundial

Modernização FRAM (Fleet Rehabilitation and Modernization)

À medida que a Guerra Fria avançava e a natureza das ameaças navais mudava, ficou evidente que os destróieres da classe Gearing, assim como muitos outros navios da época, precisavam ser modernizados para enfrentar novos desafios, principalmente a ameaça de submarinos soviéticos mais avançados e silenciosos.

Neste contexto, o programa FRAM foi concebido. Iniciado no final dos anos 1950, o programa tinha como objetivo estender a vida operacional dos destróieres da Segunda Guerra Mundial e melhorar suas capacidades ASW (anti-submarino). O FRAM não se restringiu apenas à classe Gearing, mas ela foi uma das classes mais significativamente afetadas.

 

Gearing FRAM I: além da superestrutura modificada, à meia nau foi instalado um lançador óctuplo de foguetes antissubmarino ASROC e na proa dois lançadores triplos de torpedos antissubmarino no lugar da segunda torre de canhões de 127 mm / 5 pol. Observar o grande domo do sonar AN/SQS-23

A modernização FRAM para os destróieres da Classe Gearing incluiu:

  1. Remoção e substituição de armamentos: Muitos dos canhões antigos foram removidos e substituídos por novos sistemas de armas, incluindo lançadores de torpedos anti-submarino e lançadores de foguetes ASROC (Anti-Submarine Rocket).
  2. Incorporação de helicópteros: Para ampliar a capacidade anti-submarina, alguns destróieres foram equipados com plataformas de pouso e facilidades para operar helicópteros DASH (Drone Anti-Submarine Helicopter), um tipo de helicóptero não tripulado.
  3. Melhoria dos sonares: Os sonares foram atualizados para versões mais modernas, permitindo uma detecção e rastreamento de submarinos mais eficaz.
  4. Refinamentos estruturais: Algumas mudanças foram feitas na superestrutura e casco para melhorar a habitabilidade e o desempenho do navio.
  5. Sistemas eletrônicos atualizados: A modernização incluiu a instalação de novos radares, sistemas de comunicação e outros equipamentos eletrônicos.
Na foto acima, o destróier USS Myles C. Fox (DD-829) em 1948. Na foto abaixo, o mesmo navio após modernização FRAM I, durante exercícios combinados de guerra antissubmarino da UNITAS XI com a Marinha do Brasil na costa brasileira, em 1970
Aeronave de patrulha P-3 Orion da Marinha dos EUA passa sobre o destróier USS Myles C. Fox (DD-829) durante exercícios combinados de guerra antissubmarino da UNITAS XI com a Marinha do Brasil na costa brasileira, 1970

O programa FRAM foi uma resposta direta à evolução das ameaças navais durante a Guerra Fria e representou um esforço significativo para manter os destróieres da Segunda Guerra Mundial relevantes em um novo cenário de conflito. Através desta modernização, muitos navios da Classe Gearing serviram até a década de 1970, e alguns continuaram em serviço em marinhas estrangeiras muito depois disso. A combinação da robustez original da classe Gearing com as atualizações do FRAM assegurou que estes navios tivessem um dos mais longos períodos de serviço na história naval dos EUA.

SAIBA MAIS:

Os contratorpedeiros ‘Gearing’ da Marinha do Brasil

IMAGENS: Contratorpedeiro Marcílio Dias – D25 em operações aéreas com helicóptero Wasp, em 1988

Contratorpedeiros classe ‘Gearing’ modernizados da Marinha de Taiwan

Contratorpedeiros classe ‘Gearing’ da Marinha do Paquistão

O programa FRAM da Marinha dos EUA

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Willber Rodrigues

Aposto que o pessoal da MB sente saudade de quando tinha essas “fontes” abundantes de navios semi-usados em bom estado e baratos, a pronta-entrega….

Renato

Marinha não precisa de saudade de nada usado de ninguém. Precisamos mesmo é criar e liberar recursos para construirmos novos aqui .

Willber Rodrigues

Considerando-se a quantidade de meios usados que ainda compõe a frota, e considerando-se a quantidade de meios que dão baixa versus a qua tidade de meios novos comissionados, acredito que a MB sente SIM muita falta desses meios da WWII e Guerra-Fria….
Ou você acha que 4 FCT’s + 4 Riachuelos resolvem todos os problemas da MB?

Inhotep

Morei uns anos em Santos à trabalho nos anos 80 e levei meu filho nessa visitação. Ele pirou e eu também. Bons tempos.

Burgos

Quando servi no D26 “O Bruxo” o Asroc já estava inoperante Ja não conteirava e não elevava mais. Isso em 1985.
Mas o resto funcionava.
E até aperfeiçoou o projeto do Siconta na época era o Mini Siconta idos dos anos 90 que logo depois foi aplicado no Nael Minas Gerais e Fragatas Classe Niterói

Piassarollo

Olá Burgos, sabe se a Marinha chegou a operar o ASROC nestes navios ou os dois já chegaram inoperantes?

Alexandre Galante

Já chegaram inoperantes.

Piassarollo

Grato

Jagder#44

Interessante que, pelo jeito, a função da nossa marinha era ASW no atlântico ocidental.
E na costa africana, quem fazia esse “tampão” ASW (russo)?

Dalton

Não é que o Atlântico Sul não fosse importante e sim que os soviéticos tinham outras
prioridades como o Atlântico Norte, Mediterrâneo e Pacífico e apesar da robustez da força submarina soviética na década de 1970 já na década seguinte começou sua deterioração
de qualquer forma não havia significativas forças navais soviéticas e da OTAN na costa africana o que poderia ter mudado caso a “Guerra Fria” esquentasse.

Jagder#44

Entendi. De qualquer forma, o caso é que fomos beneficiados (talvez a Argentina também) pelo envio destes DDs norte-americanos. Penso que foi uma precaução “extra” dos EUA/Otan.

Clemente HIGINO

F-45 União fui varias vezes pra lá varrendo todo Atlântico junto com mais um Sub e mais dois CTs.

Portugal

Servi nesta belonave de meados de 90 até começo de 94, desembarquei para cursa para cabo, nesta época tínhamos navios que forjavam marujos, hoje a marinha não passa de um faz de conta, aonde se faz um cenário que não existe, muita gente para quase nenhuma embarcação e poucos prédios