gigante-de-costas-para-o-mar

A sociedade brasileira está de costas para o mar. Fomos colonizados por Portugal, que tem uma sólida tradição marítima, mas nossa mentalidade continua continental, ao longo dos séculos.
A vocação natural do Brasil é negada, pois não temos uma governança costeira e as ações governamentais para o mar são fragmentadas.

As duas Guerras Mundiais do século passado mostraram ao Brasil sua vulnerabilidade, com o afundamento na última, por submarinos do Eixo, de pelo menos 35 navios brasileiros e a morte de mais de 1.400 brasileiros. A Marinha do Brasil perdeu três navios e 486 homens.
A dependência do Brasil em relação ao mar cresceu exponencialmente desde então, com a exploração do petróleo em alto mar e o imenso avanço no comércio marítimo de exportação.

No entanto, a cada ano vemos o declínio do Poder Naval brasileiro e a inércia dos governos democráticos para reverter a situação de precariedade da Marinha do Brasil.
O gigantismo nos lucros da Petrobras e os investimentos na área do Pré-Sal não redundaram em investimentos na Esquadra, que continua com seus royalties do Petróleo bloqueados pela União, desde o Governo FHC.

Os últimos anos de crescimento da economia brasileira também não foram suficientes para que o Governo se sensibilizasse e liberasse os royalties para aliviar a situação de penúria das forças navais brasileiras.
Desde o Comando da Marinha anterior que se aguarda uma decisão do Governo sobre a aprovação do Plano de Reaparelhamento de apenas R$ 6 bilhões, para ser empregado ao longo de 20 anos pela Força Naval.

Agora que se sabe que crise econômica e financeira mundial não é apenas uma “marolinha”, os planos de reequipamento da Marinha e a recém-divulgada Estratégia Nacional de Defesa estão no “paredão”.
O acordo sobre os submarinos assinado com a França está sob ameaça, pela dificuldade de se encontrar financiamento para o negócio, de R$ 8,5 bilhões.

Mas, como diz o adágio popular, “há males que vêm para bem”. A Estratégia Nacional de Defesa, primeiro documento do tipo no Brasil, prioriza na parte naval a negação do uso mar, através dos submarinos, em detrimento do controle do mar.
Seria uma versão brasileira das estratégias da Marinha Alemã na Segunda Guerra e da Marinha Soviética, na Guerra Fria, que investiram pesadamente em submarinos, em detrimento de navios-aeródromo e escoltas.

Adotar essa estratégia naval significa abrir mão do controle do mar no Atlântico Sul, deixando para outras potências navais essa tarefa (4ª Frota?).
Essa estratégia vai contra todo o esforço de administrações navais anteriores que queriam o Brasil dotado de uma “Marinha de Águas Azuis”, apta a realizar ações de controle do mar.

Talvez a atual crise forneça tempo para que a Estratégia Nacional de Defesa seja melhor discutida pela sociedade e que alguns pontos sejam revistos.
O Brasil não pode continuar de costas para o mar e ainda, quando começa a voltar-se para ele, pensar em apenas ficar sob as ondas. O Brasil precisa de uma Marinha que seja capaz também de garantir nossa segurança sobre o mar, pois as crises mundiais, econômicas e energéticas, sempre existirão e, conseqüentemente, os conflitos também.

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Jack Fisher

Imaginem se o atual governo adquirisse vinte e quatro A-4 e resolvesse distribuí-los entre os servidores do Palácio do Planalto, imagine que algum tempo depois um repórter descobrisse que dos 24 somente um estava em condição de uso! Isto seria corrupção ou incompetência? Senhores, quantos Skyhwks da Marinha estão operacionais (voando mesmo)?

Roberto

Essa posição do Brasil de costas para o Oceano Atlântico é um forte candidato para um bloqueio naval de cabo à rabo!

Parthenon

Eu prefiro creditar que estamos de costas para a América Latina e de frente para o mar. Eu não sei da onde a maioria de vcs são, eu sou baiano, e aqui o colegio nós ensina, que estamos de frente para o oceano atlantico, e para o mundo, poís o mar é o nosso verdadeiro caminho para o nosso crescimento, nossa grandeza e nossa riqueza, estes países atras do Brasil, não passa de meros pequenitos paises pobres, com um povo em conflito até hoje pelo colonizaçao forçada dos Espanhois, um povo que se debate entre suas raizes indigenas e a… Read more »

Robson Bandeira

Prezados amigos, nossa sociedade é corruptível, é difícil aceitar tal realidade, então o que esperar dos políticos que representam esta mesma sociedade, gostemos ou não eles são os representantes do “povo”. Covardia, corrupção, negligência, desleixo, descuido, não existem palavras suficientes para classificar a falta de responsabilidade destes políticos, pelo que vejo aqui postado os homens de bem que se preocupam com a situação da defesa deste país são completamente ignorados na hora de se decidir as politicas públicas relacionadas a defesa. Este assunto é muito mais amplo do que apenas o reaparelhamente puro e simples das FAs é uma questão… Read more »

Mahan

Sem contar a posição territorial da ALEMANHA nacional-SOCIALISTA e da UR SOCIALISTAS SOVIÉTICAS e suas estratégias eminentemente TERRESTRES. Situação totalmente diversa do BRASIL, que depende muitissímo do MAR para geração de riquezas e comércio, desde seu surgimento no Séc XVI.

Virtualxi

O Brasil, como governo, pois acho mais apropriado quando alguém fala em Brasil adicionar a palavra Governo, haja vista que existem no Brasil o povo e o “povo”, este último representado pela classe fétida de políticos. Garanto que o povo nunca deu as costas para o mar. Muito pelo contrário. As duras penas e com pequenas empresas, desenvolve programas e constróe barcos de pesca embora ultrapassados no seu tempo, muito úteis ainda mais se olharmos o quesito valores investidos x quantidade de pesado. Quem dá as costas para o mar é o governo. Ele e seu braço para tal, que… Read more »

Dunga

A unica prioridade no Brasil é o aumento dos salarios dos Deputados federais, Senadores, juises federais, e ministros ou seja os “TRES PODRES” são hoje a verdadeira DRENAGEM DE TODO O DINHEIRO DO PAIS, O RESTO É APENAS UM MONTE DE TROUXAS QUE PAGAM E PERMANECEM CALADOS…

arcalado

É porque os políticos brasileiros ficam de costas para o Brasil.

Azevedo

Trecho de ensaio da Samuel Huntington na Proceedings de maio de 1954, que muitos acreditam ainda válido:
“Se uma FA não tem um conceito estratégico bem definido, o público e os líderes políticos ficarão confusos sobre o papel da FA… e apáticos ou hostis aos pedidos da FA.”

E especificamente sobre a US Navy:
“Qual tarefa que você desempenha obriga a sociedade a assumir sua manutenção?”

Ulisses

O EC725 não é ultrapassado não,seu projeto pode ser antigo mas tem melhorias.O UH-60 Black Hawk também é antigo e o MI-8 e MI-17 também são,mas não são obsoletos,assim como os nossos.

joao terba

QUE TAL OS ADIDOS MILITARES,ESTÃO EM VÁRIOS PAÍSES GASTANDO UMA FURTUNA SEM FAZER NADA.

Radical_Nato

É, realmente! o Brasil é um País de costas largas…

SDS.

Douglas

O Comandante da MB meses atrás disse que a prioridade é subs e patrulhas. ponto final. Tudo depende de capital. apesar de longo, a Est. Nac. de defesa é mais um dessas declarações cheias de idéias mas sem comprometimento orçamentário nenhum. e a questão dos subs franceses está muito controvertida. não sei se foi boa escolha e muitos acham o mesmo. ademais, gastar 4,5 bi com helos de projeto antigo, enquanto o comandante da FAB diz que está preocupado com o orçamento do FX 2 demonstra o descontrole de gastos e a falta de priorização. No curto prazo, FX 2… Read more »

Douglas

Mas parece que prioridade UM foi a compra de Pumas atualizados, do modelo EC 725.

alias ao que parece também o Brasil será o ÚNICO grande operador desse aparelho.

Compramos 51. ao preço de quase R$ 100 milhoes a unidade….

Jacubão

A culpa é nossa mesmo, pois votamos nos mesmos caras de sempre, que nunca fazem nada, e ainda cantam de galo inventando leis ridículas que só atrasam o país e adianta o bolso deles. Nós cidadões brasileiros, deveriamos tirar os emprêgos deles e dar uma chance a nova geração.

Bonifácio

E pensar que no Império, quando a população ainda era escassa e a nossa economia muito menor em relação aos países mais poderosos, tinhamos a quarta frota do mundo, fabricávamos navios e torpedos, os impostos eram baixos e as ameaças à nossa soberania eram muito menores.

Vassili Zaitsev

Nimitz,

“quando vai à praia”………… e mija na água mesmo.

abraços.

André

Yoda,
A MB podia começar acabando com o CEFAN, aquele elefante branco que, a meu ver, não serve efetivamente para nada!
Sds a todos.

Nimitz

Bosco, o brasileiro só fica de frente para o mar quando vai à praia.

Yoda

Por falar em produtividade… que tal uma reorganização espacial das FFAA brasileiras com a venda ou doação de bens imóveis inúteis e de elevado gasto em vigilância e segurança patrimoniais. As FFAA estão recheadas de terrenos e OMs ociosos e que poderiam dar lugar a um melhor aproveitamento social, colaborando com a redução dos gastos de custeio da máquina pública da Defesa. Este é o momento de cortar as OMs ociosas, anacrônicas e inúteis que continuam nos organogramas das FFAA por décadas, sem nenhuma avaliação de custo-benefício.

Bosco

Muitos acreditam que estamos de costas para a América Latina e de frente para o mar.

Yoda

Neste momento é que devemos pensar e trabalhar com responsabilidade, priorizando a aquisição de meios (mesmo que por compra de ocasião) e não em delírios de “desenvolvimento” tecnológico de meios sem escala de produção local e de custo proibitivo. Para submarinos teríamos escala, mas para navios aeródromos não. Para aeronaves e blindados de combate vale a mesma sugestão: desenvolver e produzir localmente com REALISMO e RESPONSABILIDADE, sem devaneios ineptos.

Iuri Korolev

Pois é Galante
O Brasil ainda é sudesenvolvido economicamente por falta de lideranças empresariais de peso.
Infelizmente só temos empresários de matéria prima e commodities.
Com essa economia (ainda relativamente) pequena para um país de 200 milhões de habitantes fica dificil financiar projetos de defesa.

Quando surgir uma geração de empresários que desenvolva economicamente o Brasil e ajude inclusive a incluir essa massa excluída e miserável do país penso que o cenário melhorará.

Abs