Na disputa contra os australianos pelo mercado chinês, a mineradora brasileira monta uma frota com 35 dos maiores navios do mundo

David Friedlander

O maior navio de guerra do mundo é um porta-aviões americano chamado Enterprise (sic), que mede 342 metros de uma ponta a outra e pode carregar 85 caças. Os dois maiores transatlânticos em atividade no mundo, da Royal Caribbean, têm 360 metros de comprimento e transportam mais de 5 mil pessoas cada. Em breve, uma empresa brasileira vai estrear nesse clube: é a mineradora Vale, maior companhia privada do País, que está construindo sua própria frota de supernavios.

São 35 navios que, uma vez prontos, serão os maiores em operação no mundo. Iguais a eles, só haverá os outros dois da Royal Caribbean. Eles vão custar US$ 4 bilhões. Com 360 metros de comprimento, cada navio terá capacidade para 400 mil toneladas, o equivalente ao peso de 470 mil carros Fiat Uno. Um cargueiro comum não chega à metade disso. No passado, até havia algumas embarcações maiores, mas foram desativadas e viraram sucata ou tanques para estocar petróleo em alto mar.

A frota da Vale está sendo montada para brigar com as mineradoras australianas na Ásia, principalmente no mercado chinês. A Vale deve vender este ano 140 milhões de toneladas de minério de ferro para a China, quase metade da produção total da empresa, mas quer ampliar esse volume. Para isso, os brasileiros precisam anular a vantagem geográfica dos australianos, que estão bem mais perto da Ásia.

O minério brasileiro demora 45 dias para chegar à China, enquanto os australianos precisam de apenas 15 dias de navegação. “Cada tonelada que mandamos para a China paga 30 dias de frete a mais do que o minério da Austrália. Os novos navios farão nosso produto chegar mais barato”, afirma José Carlos Martins, diretor executivo de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale.

Dependência

A missão da frota gigante será entregar grandes quantidades de minério com maior rapidez e, principalmente, acabar com a dependência dos armadores internacionais. A Vale está construindo seus navios na China e na Coreia do Sul. Os primeiros ficam prontos no ano que vem e os outros serão entregues aos poucos até o fim de 2014.

Nem todos serão propriedade da mineradora. Das 35 embarcações, 19 foram encomendadas diretamente pela Vale e as demais por armadores que irão trabalhar com exclusividade para ela durante 25 anos – a vida útil desses navios.

Eles são tão grandes que só conseguem atracar nos portos da própria Vale, no Maranhão e no Espírito Santo, e nos principais portos da China. O detalhe é que a empresa tem projetos prontos para fazer navios ainda maiores, com capacidade para 500 mil e 600 mil toneladas, mas desistiu de fazê-los agora porque não haveria portos com capacidade de recebê-los. “Seria preciso investir muito em dragagem e em equipamentos. Mas no futuro eles serão feitos”, afirma Martins, da Vale.

Os supercargueiros chamam a atenção, mas eles são parte de uma empreitada mais ambiciosa. Desde o ano passado, a Vale vem montando, discretamente, uma das maiores frotas privadas do mundo. Entre navios novos, usados e petroleiros convertidos para graneleiros, o mercado estima que a mineradora brasileira tenha comprado cerca de 100 embarcações de 2009 para cá. A Vale não confirma esse número. Mesmo no caso dos supernavios, até agora a companhia só tinha falado das primeiras 12 encomendas. Os outros 23 só estão aparecendo agora.

Espionagem

Dois motivos levam a empresa a ser discreta. O primeiro é a concorrência. A Vale atua num mercado de poucas empresas, que fica mais concorrido a cada ano. Maior mineradora de ferro do mundo, a Vale e suas rivais ficam se espionando o tempo todo, uma tentando atrapalhar o caminho da outra.

Por isso, a companhia não quer que os concorrentes conheçam todos os seus passos. “A Vale já tem o melhor produto do mundo (o minério de Carajás, no Pará)”, diz o consultor Sérgio Alves, que trabalha para mineradoras asiáticas no Brasil.”Quando ela passa a controlar também o transporte marítimo, ganha enorme competitividade, já que o frete é tão importante quanto o preço do minério. Os australianos devem estar preocupados.” De acordo com a mineradora, só com os navios já comprados houve uma economia de US$ 3 bilhões em relação ao que teria sido pago em fretes a terceiros.

O outro motivo é político. O governo e os fabricantes nacionais de navios e equipamentos fizeram pressão para que a Vale construísse seus navios no Brasil. Antes de fazer as encomendas, a mineradora fez uma tomada de preços junto aos estaleiros locais.

A maioria já estava comprometida com encomendas para a Petrobrás, além de embarcações menores para a própria Vale. Os únicos dois estaleiros com agenda disponível para atender ao pedido cobravam, segundo a mineradora, quase o dobro do preço dos fabricantes da Ásia. “Seria interessante fazer esses navios no Brasil, mas não havia como”, diz o consultor Sérgio Alves. “Além disso, não tinham preço competitivo. Não era uma questão de querer ou não.”

FONTE: Estadão

Subscribe
Notify of
guest

33 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Fabio

Sendo verdadeiro este valor dos navios, tendo em vista a espionagem, poderia ser falso, podemos ver o quão caros são os sensores, armamentos, blindagens, etc dos navios de guerra.

dario avalos filho

Precisamos parar de exporta minério. Temos que exporta produtos com maior valor agregado. Estratégia Brasil!

eduardo

Dario, Lamento dizer, mas dentro de 15, 20 anos o Brasil vai se consolidar como um grande produtor de commodities para os países desenvolvidos. Nesse período nossa pauta de exportações estará concentrada em proteína animal (gado), proteína vegetal (soja), minério de ferro, álcool e petróleo. Alguma coisa deve escapar, mas o grosso será disso aí. E com a grana dessas exportações poderemos comprar os bens de consumo e capital necessários para a uma população que estará envelhecendo rapidamente e com uma população em idade ativa (entre 16 e 60 anos) em declínio. Repare que nenhum dos produtos mencionados é intensivo… Read more »

Wellington Góes

Eduardo, quando foi que isso foi diferente?

Hoje se exportamos mais commodities em comparação de outros tempos, igualmente exportamos mais manufaturados, a diferença está que houve um aumento mais acentuado na procura/oferta dos nossos commodities, do que o de outros produtos industrializados.

Mas nos dois setores, primário e secundário, houve aumento das exportações, ou seja, a relação de exportação de commodities frente a manufaturados pode até ter aumentado (mais primários do que secundários), mas há um aumento nominal pra lá de significativo na pauta de exportação desses dois setores, é só procurar nos indicadores mais detalhados.

Até mais!!!

th98

cade o GF e seus subcideos?

Paulo

O dia que houver uma ferrovia ligando o Brasil ao pacífico via Peru ou Chile, daí sim nossas commodities terão uma preço supercompetitivo, inclusive no frete. Com redução substancial no tempo também.

luciano

problema e vender minerio de ferro a preço de banana e comprar a producao dele cara

Edu Nicácio

“O dia que houver uma ferrovia ligando o Brasil ao pacífico via Peru ou Chile, daí sim nossas commodities terão uma preço supercompetitivo, inclusive no frete. Com redução substancial no tempo também.”

Paulo, isso já está ocorrendo… Só falta maior integração e maior envolvimento (leia-se aporte de $$$) estatal para outros projetos sairem do papel (gasodutos, oleodutos, ferrovias, etc)…

Precisamos urgentemente investir em infra-estrutura, senão o país para…

BRASIL POTÊNCIA

Fabio ASC

Paulo, mas com o Chile teria que passar por outras “paradas”.

Se a Norte – Sul fosse uma realidade já ajudaria muiiiiito.

Hidrovias tbemn, apesar que, para minério acho inviável, devido ao calado dol transporte, mas para grãos, aí sim.

Athos

eduardo disse:
4 de outubro de 2010 às 14:20

Acho que estão em situação pior que a do Brasil os compradores…pelo menos temos para vender.

Mahan

Quem disse? Qual o tempo, o custo e os problemas políticos do transporte comparando a rota do cabo com rota transcontinental/pacífico? Até pouco tempo nossas exportações de produtos manufaturados tinham maior valor, antes de virarmos abastecedores de matérias primas dos chinas.

eduardo

Não fiz nenhum juízo de valor sobre o fato de ficarmos cada vez mais especializados na exportação de commodities. Afinal, alguém tem de produzir comida e matéria-prima para o mundo.
O Chile exporta cobre, pescado e vinho e está indo bem.

Cor Tau

“luciano disse: 4 de outubro de 2010 às 15:49 problema e vender minerio de ferro a preço de banana e comprar a producao dele cara” “É um pais desejoso de ser reconhecido como igual no concerto das nações mas que tropeça sucessivamente em sua baixa auto-estima…………O trabalhador brasileiro é sinônimo de garçom ou peão de construção civil….Nossa única profissão exportável mesmo assim não qualificada pela educação formal é como todos sabem a de jogador de futebol…………Nelson Rodrigues…………” Sem falar que minério “não cresce em árvores”……..Não estamos vendendo…..Estamos dando………Porque é exatamente isto que esta gente faz……………….Transforme as pedras que você tropeça… Read more »

Paulo Cezar

A Vale, diferentemente da Petrobras , não esta comprometida com o Brasil, e sim com a China.

Os navios deveriam ter sido feitos aqui !

Marcos T.

Vai minério de Ferro sem valor agregado nenhum>>>vem produtos manufaturados com alto valor agregado. Podiamos ao menos vender o ferro, o aço, a gasolina, o oleo de cozinha, a lecitina de soja… Para mim só estamos ” engordando uma fera insaciavel, e quando a comida acaba a fera engole o tratador” . Desculpa o trocadilho infame, más eu acho que a gente pode ser muito mais do que o país da matéria-prima e sempre fui contra ao gigantismo empresarial, afinal petroleo e minério de ferro são recursos finitos e quando essas “gigantes” resolvem ir mal arrastam tudo com elas. Exemplos… Read more »

Cor Tau

“antes de virarmos abastecedores de matérias primas dos chinas.”

TIC……TAC……TIC…..TAC……..TIC……….TAC…………

Cor Tau

O pobre prefere um copo de vinho a um pão porque o estômago da miséria necessita mais de ilusões que de alimento….

Cor Tau

“eduardo disse:
4 de outubro de 2010 às 17:39 ”

Como diz o ditado………..Existem os que servem…….E os que são servidos…………

Fabio

Paulo Cezar, discordo do Sr., pois a Vale, como dito no próprio testo é a maior empresa privada do País. O Sr. sabe quantos Navios, de vários modelos a Vale está construindo no Brasil? O próprio texto menciona que a Vale pesquisou por aqui e apenas 2 estaleiros podiam fazer, pois estavemn sem trabalho, mas cobraram quase o dobro. A Petrobras, até bem pouco tempo atrás trazia TODAS sua plataformas e TODOS seus navios do exterior. A Petrobras tem uma das maiores dívidas do Mundo, esta capitalização, excelente por sinal, não rendeu METADE do que ela precisa investir no PRÉ-SAL.… Read more »

Ricardo

Boa noite a todos

Porque sera que me veio a cabeça uma questão, aprendendo-se a fazer navios deste porte, um casco para um futuro porta-aviões feito aqui seria dificil ?

defourt

Cor Tau disse:
4 de outubro de 2010 às 18:03

“O pobre prefere um copo de vinho a um pão porque o estômago da miséria necessita mais de ilusões que de alimento….”

Olá Mestre Cor Tau! Aquele abraço!

Paulo Cezar disse:
4 de outubro de 2010 às 17:50

“A Vale, diferentemente da Petrobras , não esta comprometida com o Brasil, e sim com a China.

Os navios deveriam ter sido feitos aqui !”

É uma decisão política.
Os navios, a frota, da Vale ficam com os “chinas” no esforço de “agradá-los”. É Política!

Moriah

nossa…toda essa frota teria que fazer 10 viagens só para atender ao pedido atual da China!!!

são verdadeiros monstros dos mares!!! show!!

Cor Tau

“defourt disse:
4 de outubro de 2010 às 21:52 ”

Olá Mestre Defourt…..Muitos Abraços a Ti……Alias……Vc é Vc mesmo não é?……….Porque eu não sei mais quem é quem neste blog………. 🙂

Zorann

Esses navios são os maiores do mundo para transporte de minério. Segundo reportagem recente do Nat Geo, somente podem aportar em dois portos em todo o mundo. Aqui e na Holanda

Zorann

Inclusive, estes navios excedem em muito as dimensões do Canal do Panamá.

Não sei se realmente serão usados para transportar minério para a China, pois até onde eu sei, nenhum porto daquele país tem condições de receber estes supercargueiros

SCintra

Os novos tamanhos dos cargueiros começarão a ser definidos quando o novo Canal do Panamá estiver concluido. Uma das rotas mais ecônomicas será via ferrovia Norte-Sul, porto no Maranhão e saída pela “esquerda”. Estratégicamente a 2ª Esquadra não ficará por aquelas bandas à toa, só tem no caminho entre o porto e o canal, a Venezuela, Colômbia e outros nervosos. Começamos a pensar como gente grande, também protegendo nossos interêsses.

rodrigo ds

Que beleza essa noticia é a cara do Brasil,sil, sil, sil !!!! A VALE vende minerio de ferro para a China e depois compra os seus supernavios contruidos pelo seu proprio minerio, quantas toneladas de minerio a VALE teve que vender para poder comprar esses belos supernavios. O Brasil do futuro que nunca vai ser do presente, será que sempre vai ser assim, fornecedores de materia prima e consumidores de produtos acabados, isso tem que acabar.

defourt

Cor Tau disse:
5 de outubro de 2010 às 5:46

Olá Mestre Defourt…..Muitos Abraços a Ti……Alias……Vc é Vc mesmo não é?……….Porque eu não sei mais quem é quem neste blog……….

EU sou eu mesmo, espero…
O que se passa por aqui? Invasores de corpos? 🙂 🙂 🙂

Mas não so mestre não. Sou apenas um simples discípulo 🙂
Abraço Mestre! 🙂

Alex Mendes

É lamentável ver jornalistas e a pseudo-grande-imprensa ainda elogiar a privataria da Vale.

Estamos exportando nossa riqueza mineral para os chineses fabricarem produtos lá e depois exportarem para trodo o mundo, acabando com empregos aqui.

É traição ao Brasil o que a Vale vem fazendo. Triste!

Sopa

“Seria interessante fazer esses navios no Brasil, mas não havia como”, diz o consultor Sérgio Alves. “Além disso, não tinham preço competitivo. Não era uma questão de querer ou não.”

Que lastima, a fazenda vendendo Horti-fruti pro Hipermecadão !!

Que lastima, precisamos mas não podemos fazer !

Cor Tau

“defourt disse: 5 de outubro de 2010 às 17:15 Cor Tau disse: 5 de outubro de 2010 às 5:46 Olá Mestre Defourt…..Muitos Abraços a Ti……Alias……Vc é Vc mesmo não é?……….Porque eu não sei mais quem é quem neste blog………. EU sou eu mesmo, espero… O que se passa por aqui? Invasores de corpos? 🙂 🙂 🙂 Mas não so mestre não. Sou apenas um simples discípulo 🙂 Abraço Mestre! 🙂 ” Não Meu Amigo Defourt…..Todos nós somos simples discípulos……….Disto tenha certeza…………O que somos nós diante do Infinito e do Eterno…………………Do Mistério da Existência…….Quanto maiores somos em humildade tanto mais próximos… Read more »

MO

Segundo consta (QUASE 100% DE CERTESA) nenhum navio da recem ampliada frota (incorporada) da Vale são brasileiros e pior nenhum deles apesar de bandeira estrangeira tem guarnição brasileira

MO

Segue a frota da Vale entre incorporados, encomendados e rebocadores, tirando os rebocadores, nenhum incorporado tem bandeira nacional, todos liberianos e quase 100% de certeza com guarnição estrangeira Na relação abaixo estão faltando navios como o Ore Brucutu, o Docebay e possivelmente outros (ambos liberianos, e o Docebay possuia guarnição brasileira, no momento eu temho duvdas …) IMO – Vessel – Built – DWT – Shiptype – Operator – Status 9555993 – ALEGRIA – 2011 – 366 – Tug – Vale SA – Keel Laid 9488918 DAEWOO 1201 2011 400,000 Ore Carrier Vale SA Under Construction 9572329 DAEWOO 1202 2011… Read more »