Equipamento deve ser instalado em Aramar

Técnicos do governo federal estão detalhando o projeto daquele que será o maior reator nuclear de pesquisa da América Latina. Orçado inicialmente em US$ 500 milhões, o Reator Multipropósito Brasileiro tem o objetivo de tornar o país independente na produção de isótopos radioativos para medicina.

O reator, de 20 megawatts (quatro vezes a potência do principal instrumento do gênero em operação no Brasil), deverá começar a ser montado em 2010. Segundo seu coordenador, José Augusto Perrotta, do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), o sítio mais provável é Aramar (SP), onde a Marinha constrói seu submarino nuclear.(*)

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse estar inclinado a bancar o projeto. “US$ 500 milhões distribuídos em 6 ou 7 anos não é um número despropositado para o MCT. Já foi um dia, hoje não é mais”, disse Rezende à Folha. “Mas é importante ter outros parceiros, e o governo de São Paulo já manifestou interesse.”

São Paulo abriga hoje, no campus da USP, dois dos quatro reatores de pesquisa do Brasil. O maior deles é usado para produzir radioisótopos (versões radioativas de elementos químicos).

Na medicina, são usados em radiofármacos, que têm diversas aplicações. A maioria é usada como marcador em exames diagnósticos. Mas também, podem atacar tumores.

Hoje, no Brasil, são feitas todo ano 3,5 milhões de aplicações de radiofármacos. Os dois isótopos mais utilizados são o iodo-131, para diagnóstico de distúrbios de tireoide, e o tecnécio-99. Este último é polivalente: pode ser usado em fármacos para diagnóstico de cânceres e outras doenças no coração, cérebro, fígado e nos ossos. O tecnécio é derivado do molibdênio-99, que é importado. E aqui mora o problema.

Primeiro, o de custo. Segundo Perrotta, o país importa R$ 32 milhões por ano em molibdênio (e R$ 40 milhões por ano em outros isótopos). Com o reator multipropósito em funcionamento, a estimativa do Ipen é passar a faturar até R$ 37 milhões por ano só com molibdênio, e até R$ 25 milhões por ano com iodo-131. Além de dobrar o número de atendimentos em medicina nuclear.

Mas há um fator que a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) diz considerar mais premente para motivar a construção do novo reator: o fornecimento de molibdênio é incerto. Só o Canadá, a Holanda e a África do Sul produzem o elemento em quantidade significativa. E, no último dia 19, a empresa canadense MDS Nordion, que fornece a maioria do molibdênio ao Ipen, anunciou a parada do reator que responde por 40% do fornecimento mundial do isótopo.

Programa nuclear

O novo reator também teria uma aplicação um pouco menos bem vista: ele deverá ser parte integrante do programa brasileiro de energia nuclear.

Após Angra 3, o governo planeja fazer mais quatro usinas. Hoje o Brasil fabrica o próprio combustível nuclear e importa uma série de materiais, mas a expansão do programa demandará investimentos em mais tecnologia nacional. “A tecnologia de combustível nuclear depende de um reator desses”, afirma Perrotta.

O dirigente, também, afasta as preocupações com proliferação atômica. O combustível para o novo reator terá 20% de urânio enriquecido, limite além do qual qual é possível fabricar uma bomba.

“Todas as instalações nucleares do Brasil estão sob inspeção internacional da AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica]. Não há dúvida quanto às intenções do país”, diz.

FONTE: Folha de São Paulo / FOTO: Agência Brasil

(*)NOTA DO BLOG: A Marinha não iniciou a construção do submarino nuclear e o mesmo não será construído em Aramar. Ali estão as instalações que desenvolvem pesquisas nucleares.

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Marco

Se o nosso é o mais potente da AL como os argentinos estão para construir um de 25MW?

“En simultáneo con el anuncio -hecho en agosto de 2006- del Plan Nuclear Argentino, la CNEA creó la Gerencia CAREM, dando un nuevo impulso al proyecto con una potencia de 25 MW eléctricos, con el objetivo futuro de ganar en conocimiento para poder diseñar y construir de una central con capacidad de producción de 300 MW.”

http://desarrolloydefensa.blogspot.com/

gaspar

boa, o pessoal resolveu “ouvir” o falecido Eneas…
esse eh o primeiro passo para a nossa bomba… enriquecimento ate 20%, interessante…
pra quem enriquece ate 20, pode enriquecer ate 90 sem problema algum…
ate mesmo o Mangabeira disse que precisavamos dominar TODA TECNOLOGIA NUCLEAR…

Sopa

Bomba Atômica não é o cominho, o caminho sim é SNB pelo menos 6, uma marinha bem equipada e preparada e com recursos sempre !

Isso sim precisamos !

Sds.

Robson Br

Marco,
Foi boa sua colocação. Mas será que a Argentina teria mais de US$ 500 milhões para construir esta usina. Será também que ela dinheiro para continuar a investir no desenvolvimento. Gostaria de saber até onde eles dominam a tecnologia.

gaspar

sera que nao teremos uma cooperacao dos argentinos nesse projeto ??
o Brasil assinou um acordo que envolve a construcao de um reator com a Argentina no ano passado…
sabe-se que os hermanos, pelo menos nessa area, sao melhores que nos, por enqunto…

uma usina de dessalinizacao necessita de um reator de qual potencia ??

RodrigoBR

Os argentinos já exportam “há anos” pequenos reatores nucleares! Quando acabaram os regimes militares e houve uma reaproximação Brasil-Argentina, verificou-se que os hermanos estavam bem mais avançados que nós em tecnologia nuclear, talvez mais especificamente no desenvolvimento de reatores, ao contrário do que muitos disseram e achavam que nós éramos superiores a eles na área nuclear! Muitos brasileiros acham que os argentinos são muitos atrasados em tecnologia! Colossal engano! Acho que o que faltou a eles foi capacidade de investimento devido aos problemas econômicos que a muitos anos estão mergulhados, pois seu PIB a muito tempo eh muito inferior ao… Read more »

Mauricio R.

Pô a parte dificil a MB desenvolveu in house, sozinha sem parceria c/ outros paises e agora inventaram essa parceria c/ a França p/ que???

Pq não termina de desenvolver o resto???

Aurélio

Marco, realmente a reportagem está puxando a brasa para a nossa sardinha, ao falar que o nosso reator de 20MW é o maior reator de pesquisa da AL. Também não diz se os 20MW são térmicos ou elétricos pois exite diferença entre rendimento térmico e elétrico. Já o reator argentino tem 25MW elétricos o que dá 33.557 Hp de potência.
Com uma potencia destas dá para movimentar um submarino de 6000/8000ton., de deslocamento a 26 nós. Não entendo porque os argentinos ainda não construiram submarinos nucleares, pois aparentemente eles tem tecnologia para isto.

TENENTE

Sou totalmente a favor de, pelo menos tres, SNB para a MB. Já , em se tratando de sub´s equipados com o sistema AIP, tenho uma duvida: Segundo uma noticia divulgada recentemente,o Brasil esta entre o “seleto grupos de paises” que produzem onibus com celulas de combustivel(hidrogenio). Na mesma “noticia” é divulgado a produção de 230 kva pelas celulas brasileiras. Posto que as celulas alemãs (simens ?) conseguem 300 kva nos U-212, o que será que estão esperando ?

http://movv.org/2008/10/06/submarinos-aip-sistemas-vantagens-e-desvantagens/

http://www.inovacaotecnologica.com.br/…/noticia.php?

WLADIMIR PEREIRA

Tenho sempre o receio (justificado) de que o submarino nuclear brasileiro seja mais um “SONHO” que não se realizará !.. Como outros “sonhos” pregados desde os anos 70 como o Trem-Bala Brasileiro, o MBT-OSÓRIO e a ENGESA (empresa estratégica para o país ), destruídos tanto por Forças Externas quanto por Forças Internas – o que é pior…E, mais recentemente, o “ATAQUE”, em 2003, que destruiu tanto o Programa Espacial Brasileiro, quanto o foguete VLS e de uma vez só assassinou a dezenas de Cientistas Brasileiros !!! Então Se, mais somente “SE”, essas forças Invisíveis forem caçadas e eliminadas de nossa… Read more »